Les Marcheé escrita por Marurishi


Capítulo 14
Durante a viagem




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Durante a viagem de Lorde Shaido para sua cidade natal, Boandis, algumas coisas interessantes aconteceram. Uma dessas foi quando ficaram parados por algumas horas na estação e ele desceu para comprar um café, já que o servido no trem não era bem do seu gosto.

Havia uma cafeteria de cheiro agradável na estação e muitos dos passageiros estavam indo até lá. Era a primeira vez que estava saindo do trem, e muitas pessoas pareciam curiosas em vê-lo.

Diferente de toda a viagem, que ficou completamente sozinho em sua cabine privada, ali na cafeteria muitas pessoas se aglomeravam ao seu redor, muitas queriam demonstrar seu afeto e condolência, lhe dizendo palavras bonitas e demonstrando seus sentimentos. Outras queriam saciar a curiosidade sobre o tão famoso Lorde Shaido e entre exclamações e sorrisos, se contentavam apenas em se aproximar e cumprimenta-lo. Nada disso o incomodava, pelo contrário, lhe pareciam amostras legítimas de carinho que ele recebia de bom grado.

Muitos rostos ali lhe eram familiares, eram pessoas de Imperah que também estavam indo a Boandis, mas ele não tinha nenhuma relação de amizade com qualquer uma delas, por isso apenas agradecia educadamente e não dava oportunidades para desenvolver uma conversa.

Na verdade não estava com ânimo para conversar e, enquanto esperava seu café ser preparado, manteve a cabeça baixa, olhando para suas mãos entrelaçadas no seu colo.

Quando alguém sentou ao seu lado, pode perceber que era uma moça de vestes modesta. Imediatamente ela colocou em suas mãos uma pequena caixa quadrada, de veludo em cor marsala e isso lhe tomou a atenção. Desentrelaçou as mãos para segurar a caixa que ameaça cair, sem saber se deveria aceitar ou não.

Pensou que, provavelmente, fosse uma das tantas moças que costumavam lhe presentear com coisas bonitas e delicadas na tentativa de ganhar alguma atenção. Lorde Shaido achou estranho porque elas não entregavam pessoalmente e quando o faziam, não ficavam esperando por uma reação ou resposta. Olhou para a moça intrigado.

Ela estava séria, diferente das outras que sempre estavam sorrindo e demonstrando algum tipo de entusiasmo. Talvez fosse uma moça com mais juízo, que soubesse se comportar em um momento como aquele. Lorde Shaido achou ela respeitosa, de olhar calmo mas também misterioso, e tinha incríveis olhos castanhos, raridades em Les Marcheé.

Não poderia dizer qual a idade, mas com certeza não era uma menina tola, era uma mulher bonita, tinha longos cabelos pretos presos em uma trança, não usava maquiagem e se vestia com simplicidade.

— O que é isso? — perguntou segurando a caixa.

— Um presente para o futuro, quando tiver dúvidas em seu coração — falou briosa, desviando o olhar para os cafés que eram entregues.

Lorde Shaido fez menção de abrir a caixa, mas foi impedido pela moça, que segurou delicadamente sua mão.

— É um presente para o futuro, quando tiver dúvidas em seu coração — repetiu.

— Eu entendi, grato pela gentileza.

O toque da moça lhe causou uma sensação estranha, não podia dizer se foi prazer ou pavor, mas sentiu um arrepio percorrer seu corpo.

Por isso, pegou rapidamente o seu café, guardou a caixa no bolso do casaco redingote e se levantando, saiu da cafeteria voltando para o trem, sem olhar para trás.

A moça permaneceu mais algum tempo ali, bebericando seu café em silêncio, discreta, quase imperceptível no meio de tantas outras pessoas que entravam e saiam da cafeteria. Todavia, nenhuma delas tinha aquele sorriso de canto e quando todos voltaram para o trem e seguiram viagem, ela permaneceu na plataforma.

Ao entardecer, como previsto, Lorde Shaido chegou em Boandis. Além da tristeza e prantos derramados, havia mais que dor e condolências pela morte de Lorde Levi, havia preocupação e incerteza.

O príncipe Thon Levi foi, sem dúvidas, uma personalidade de suma importância para o progresso e harmonia de Boandis, e também, era o poder de maior afronta contra todo o mal que exercia influência maléfica vindo pelo mar. A falsa ilusão de que nada acontecia no litoral se dava graças a Lorde Levi, o principal combatente das fúrias e sombras que inúmeras vezes tentaram entrar pelo litoral, ainda que pequenas e sem necessidade de guerras ou derramamentos de sangue, sempre foram repelidas por ele e seu exército de maneira rápida, quase imperceptível pelo povo.

A família Protheroi de Boandis era também influente no que diz respeito a harmonia e manutenção da paz. Amigos de muitos anos e mesmo com sua magia restrita, ainda sim, sua aliança de amizade era forte e ambas as famílias tinham a simpatia das Musas. Essa amizade entre famílias era tamanha que compartilhavam bons e maus momentos assim como também segredos.

Na juventude, Thon Levi foi escolhido pelas Musas entre todos os Levis. Ele e seus descendentes trariam grandes esperanças e proteção a Boandis, sempre tão ameaçada pela escuridão.

Foi o antigo governador que recebeu a profecia. Na primeira oportunidade convidou a família Levi para a festa de celebração do aniversário de dezesseis anos da jovem filha Shaliah, e foi nesse encontro que a revelação foi exposta. Uma proposta, de acordo com a profecia para o príncipe Levi, ele deveria assumir o governo e ter como esposa a jovem Shaliah, pois para os dias atuais, as Musas reservaram para o jovem casal a mais poderosa descendência de Boandis.

De acordo e respeito, Lorde Thon Levi aceitou. Não apenas por ordem, mas também por amor, pois Shaliah era linda e foi amor à primeira vista.

Por causa da profecia das Musas, Lorde Levi depositou toda sua confiança nos seus filhos, dedicando sua vida ao compromisso que lhe foi conferido e, também, instruindo seus filhos para o futuro que lhes era esperado.

Fortificou sua amizade com o Império e os nobres de Bellephorte, entre os quais, haviam alguns Protherois, pelos quais Lorde Thon e Lady Shaliah tinham muito apreço. E quando o filho favorito de Lorde Levi, Thores Levi se casou, foi grande a festa e grande a expectativa para a nova geração que estava por vir: os netos.

Lorde Thores Levi era o sucessor ao governo, escolheu como noiva a princesa Benara de Boadicra, cidade irmã de Boandis. E foi nessa época que os filhos de uma das famílias nobres de Imperah fez residência em Boandis.

Comprando muitas terras e construindo palácios e castelos, Lorde Rowah e Lady Nilla Protheroi chegaram no litoral no mesmo ano em que Lady Benara deu à luz a Shaido Levi.

O governador Lorde Levi teve naquele ano muitas felicidades, um esperado neto e herdeiro, assim como também, a alegria de receber em sua cidade tão nobre e venturosa família Protheroi, cujos pais eram seus amigos de longa data. Agora essa amizade se estenderia aos seus filhos e netos, e essa amizade era forte e grande, principalmente, entre Lady Benara e Lady Nilla.

Com o nascimento de Shaido, Lady Nilla contou a princesa Benara sobre suas tristezas, das quais mais lhe pesava o fato de não poder ter filhos e esse foi o motivo de procurar outro lugar para morar. Um lugar onde pudesse adotar uma criança e ter como sua, sem que ninguém soubesse de seu segredo. Para isso pediu ajuda da amiga e também que isso ficasse somente entre elas.

Lady Benara motivada pela alegria de ser mãe, desejava o mesmo para a amiga e dispôs a fazer contatos em cidades mais distantes que não pudessem gerar rumores. Sempre havia mães dispostas a doar seus filhos, fosse por já terem filhos suficiente ou por não poderem criá-los adequadamente.

Foi em uma viagem de visita a familiares em Imperah que surgiu uma oportunidade para Lady Nilla, um inesperado encontro com uma moça, muito jovem e bela, envolta num esplendoroso brilho radiante, que se assemelhava a uma fada.

Era um entardecer após o chá, Lady Nilla saiu dar um passeio pelos jardins do palácio da família, e desceu até o lago que fazia divisa com o pomar. Ali avistou a moça. Julgou ser uma veilana da família, porém, estranhou nunca tê-la visto na casa e mais estranho era o fato de ter uma aura tão diferente.

Quando se aproximou viu que não podia se tratar de uma veilana, pois suas vestes eram tão requintadas e diferentes de tudo o que já havia visto, era como se fosse um ser mágico. Sentada a beira do lago, com os pés descalços com os peixes a lhe rodear, o vestido com muitas camadas de algo semelhante a tule, mas poderia ser também vento e brisa, com um brilho que parecia conter as estrelas nele.

A moça notou sua presença, olhou e sorriu, chamando-a pelo nome de forma simples e clara. Nilla se aproximou e a moça se levantou, escondendo o rosto com uma das mãos.

— Dos Protherois dos dias antigos não quero ver nenhum — disse a moça. — Dos mais poderosos foi tirada a capacidade de gerar filhos, pois para os dias futuros não haverá mais descendentes daquela raiz que amaldiçoou nossas terras. Mas tu, Nilla, és diferente, como de outra raiz teu sangue nobre enaltece as Musas, e de ti é retirada a penitência, com a única clausura de que negues para sempre a magia, e de ti nenhum ser seja gerado para ela. Pois, ainda que tenhas a bondade no coração e pensamentos de amor, ainda sim, no teu sangue tens os dias antigos, como fogo e fúria. Renuncie a magia e poderás ter não apenas um, mas dois filhos. Porém, se me trair, também teus filhos te trairão e eu os tomarei para mim, sendo então meus e não mais teus.

E sem que Lady Nilla pudesse responder, o céu escureceu e a noite parecia cair sobre si. Sentiu um breve sacudir em seu ombro, com um sussurro de seu nome. Era Lorde Rowah.

— Nilla, está dormindo na relva, que descuido meu em te deixar andar sozinha — parecia apreensivo.

— Rowah? — Nilla se levantou olhando para o riacho, onde estava anteriormente a moça. — Rowah, estava ali uma moça, que me disse algo, julgo não ser tolice, pois eram palavras fortes, dignas de uma Musa.

— Nilla, você sonhou, pois está aqui faz bom tempo, senti sua falta e vim procurar-lhe, preocupei-me, mas por sorte estava apenas dormindo.

Lady Nilla contou seu sonho a Lorde Rowah e retornando ao palácio, contou também aos seus pais, que pareceriam acreditar ter sido um sonho profético. Mas só poderiam confirmar se realmente havia sido abençoada pelas Musas caso houvesse o milagre de engravidar. O que aconteceu alguns meses após seu retorno a Boandis.

E no ano seguinte, deu à luz não apenas um, mas dois filhos, gêmeos, exatamente com a Musa lhe prometeu em sonho. E daquele dia em diante, toda e qualquer magia, mesmo a mais pequena e inofensiva, foi terminantemente banida da sua casa. Até dezessete anos seguintes, quando Codhe lhes contou no jantar sobre o despertar de seus poderes.

 

Aquele era um dia triste em Boandis, onde não se via sorrisos. Durante o velório e despedidas para Lorde Thon Levi, três poderosas damas, lado a lado compartilhavam as mesmas emoções de perda e saudades.

A viúva, Lady Shaliah Levi era uma mulher austera, de conduta rígida e reta. Por ser a fonte de inspiração para muitos, naquele momento ocultava seu pranto e demonstrava a força que todos precisavam no momento. Lady Benara Levi, sua nora, já viúva há vários anos, era menos influente, mas não menos notória. Tida como uma mulher que pensava mais com o coração do que com a razão, preferiu que seu único filho, Shaido, agora poderoso lorde e sucessor ao governo, fosse educado pelos avós e esse fato influenciou direto nos seus sentimentos ao perder seu sogro, Lorde Thon Levi era-lhe como um pai. Entre todas as mulheres, era a que mais chorava.

Lady Nilla Protheroi, melhor amiga e confidente de Lady Benara, chorava em silencio uma perda irreparável e lembrava do seus dias passados. Pensava em como a amizade que fizera ao chegar em Boandis lhe foi importante e boa, pois muito devia à família Levi. Perder mais um ente querido lhe era tão doloroso quanto perder um membro de sua própria família.

Agora que Lorde Levi se fora, além da dor e pranto, havia apreensão por inúmeras coisas. Lady Nilla depositava suas esperanças em Lorde Shaido e sentia um peso maior que o mundo em seu coração, sabendo que o jovem, que já tinha a ausência do pai desde a infância, agora perdera também o avó.

O casal Protheroi sentiam saudades de seus filhos, queriam eles ali naquele momento. Todas as notícias que recebiam de Imperah e as cartas escritas pelos próprios filhos eram motivo de grande alegria, mas não suficiente para acalmar a saudade de seus corações e, principalmente, suas preocupações.

Nada era mais doloroso que ficar longe. Na medida que o tempo passava, mais se convenciam que cometeram um grande erro ao terem permitido que ambos fossem terminar seus estudos na capital. Ficaram tão horrorizados com o fato de Codhe ter despertado a magia que pensaram somente na solução mais rápida e eficiente no momento. Pensavam que seus filhos concluiriam os estudos e se dedicariam ao Coirlem onde estariam seguros ocupados com a vida rotineira da corte. Ou ainda, que não teriam tanto êxito e seriam considerados fracos, não sendo aceitos na corte retornando à Boandis, voltaria a viver em família como sempre haviam sido.

Acreditavam que quando eles retornassem, seria fácil convencê-los a abandonarem a mágica, afinal, não era necessário tal poder em Boandis, pois tinham os Levis. Todavia, agora que os anos haviam se passado, se davam conta de que as notícias cada vez mais comprovavam o inevitável progresso dos gêmeos e que possivelmente não retornariam para Boandis, muito menos abandonariam a magia.

Além de que, Lorde Thon Levi se fora.

Poderiam estar contentes e orgulhosos por seus filhos progredirem e se tornarem tão notáveis quanto os Levis, se o grande segredo da sua raiz, aliada a profecia não pesasse sobre suas cabeças.

Desde os dias antigos, após a reconstrução do Império, a família Protheroi havia sido dividida em duas raízes, sendo a primeira daqueles que jamais apoiaram a loucura do Imperador e a segunda daqueles que concordaram e foram castigados diretamente pelas Musas. Entre os Protherois da segunda raiz, havia aqueles que, por vergonha e arrependimento, juraram fidelidade as Musas e foram perdoados, mas privados de sua magia em parcialidade.

Por isso, não tinham o mérito de despertar seus poderes, por condenação das Musas que lhe permitiram continuar vivos, sem mágica e  com outras restrições — como a de morte precoce ou até de não gerarem filhos, quando manifestassem alguma tendencia à mágica, já que isso era natural ocorrer devido sua descendência.

A família dos gêmeos era desta segunda raiz. De geração em geração, o despertar natural da magia estava ficando mais raro, e sinceramente, os Protherois renunciavam. Esta era a forma de gratidão às Musas e com essa atitude mantinham sua nobreza e sabedoria tendo seus dias em Les Marcheé prósperos e benéficos.

No caso de Lady Nilla, havia algo além, que lhe roubava o sono noite após noite: o medo de que os poderes despertos de seus filhos causassem a ira da Musas, como lhe foi avisado no passado através daquele sonho. Ela queria que os filhos retornassem, para lhe revelar toda a verdade e assim poder, quem sabe, evitar um futuro sombrio e até mesmo perder seus filhos.

Ficou decepcionada ao saber que eles não viriam a Boandis para se despedir de Lorde Levi. Achou, inclusive, ofensivo. Mas sabia que, provavelmente, havia força maior que os impedia de vir. Portanto, resignou-se e guardou para si seu pranto e medo.

Passados os dias após a chegada de Lorde Shaido, Lady Shaliah Levi foi ter com o neto para tratar um assunto delicado.

— Tens feito silêncio sobre o último pedido de seu avô — falou brandamente. — Quando pretende dar início aos preparativos do casamento?

— Do que a Senhora está falando? — nitidamente Lorde Shaido não tinha ideia do que se tratava.

— Do último pedido do seu avô, ele enviou-lhe uma carta no mesmo dia em que faleceu — notou a surpresa no rosto do neto. — Não a recebeu?

— Não, do que se trata esse pedido?

— Do seu casamento, com Lady Mclin.

— O quê? — levantou-se da cadeira bruscamente. — Com todo respeito minha avó, mas não é hora para brincadeiras.

— Eu não estou para brincadeiras — alterou-se. — Por que me tomas? Pensas que eu tocaria em tal assunto se não fosse urgente!?

— Por que eu deveria me casar com Lady Mclin, eu nem a conheço. Ela nem mesmo se deu o trabalho de apresentar-se formalmente ao meu retorno, mesmo eu próprio lhe solicitando. Nem sequer veio prestar homenagens à memória de meu avô! — gritou enfurecido. — Por que eu me casaria com uma estranha, insolente e estúpida. Não teve serventia para curar meu avô, quem dirá para ser esposa!

— Seu avô nela confiava, ela não é como você diz! Foi seu último pedido antes da morte e é uma exigência feita por ele para que você possa assumir o governo em absoluto.

— Isso é ridículo! Nunca ouvi dizer que fosse exigido um casamento pra assumir uma liderança de governo.

— Mostre maior respeito por Lorde Levi — falou alterada. — Não ouse chamar de ridículo os desejos de seu avô. Ele tinha uma ampla visão do futuro, ele sabe que um casamento é necessário ou o seu governo não será benéfico! Existem coisas que você ainda não pode compreender mas deve respeitar e, em absoluto, obedecer!

Lorde Shaido conteve sua indignação e percebeu que estava agindo de maneira tola e desrespeitosa. Respirou profundo e depois de acalmar seu espírito se pronunciou:

— Que seja providenciado um encontro com essa Lady Mclin, vou conhecer essa infeliz, então decidirei sobre o meu futuro.

— Hoje mesmo farei com que ela venha visitá-lo — retirou-se da sala, deixando Lorde Shaido com seus pensamentos turbulentos.

Ele começou a imaginar como seria Lady Mclin, sua possível noiva. No entanto, sempre que tentava formar uma imagem ou um tipo de personalidade, a única que lhe vinha a mente era a nobre Belle, cujo esplendor e carisma não deixava seus pensamentos sequer um momento.

Belle era o parâmetro de comparação para todas as outras moças, e assim, ele não conseguia imaginar alguém que pudesse querer ter ao seu lado, além de Belle. E por não querer ninguém mais que a bela bibliotecária, fazia as piores imagens possíveis de Lady Mclin.

Mesmo sem conhecê-la, muitas coisas nela o irritava. Sabia que deveria ver com bons olhos a futura noiva escolhida por seu avô, mas não estava preparado para seguir padrões tão rígidos, como o de casamentos arranjados. Afinal, seu coração já tinha encontrado alguém e não era justo aceitar sem contestar. Tentaria, ao menos, deixar Belle saber sobre suas intenções e sentimentos.

No fim do dia, Lady Shaliah, a avó e Lady Benara, a mãe de Lorde Shaido, prepararam um jantar e convidaram Lady Mclin para estar presente. A jovem não poderia recusar, mas queria muito não ir, pois estava com medo.

Temia pelo que esperar de Lorde Shaido, tantos anos se passaram sem nunca mais terem se visto, sem notícias, sem amizade, um profundo e incógnito silêncio que, de repente, é quebrado com uma promessa de casamento.

Além de que ela havia feito o nome "Loren" desaparecer de Boandis e somente Lady Mclin vivia ali. Era provável que Lorde Shaido não soubesse que se tratava da mesma pessoa e isso fazia com que seu coração disparasse, em ansiedade e medo.

Sua coragem havia falhado inúmeras vezes, já não suportava mais andar nas ruas sendo apontada e julgada. Esse foi o principal motivo que preferiu não ir as despedidas de Lorde Levi. Acompanhou de longe, com seu coração entristecido e injuriado.

Agora tinha expectativas de como seria esse reencontro com Lorde Shaido, o que ela sentiria ao rever seu amor depois de tantos anos? Como ele estaria? Muito tempo de passou e tudo estava diferente, eles estavam diferentes e isso era preocupante.

Vestiu seus melhores trajes, em tons de verde musgo e prata. Gostava de roupas em tons de verde, prendeu o cabelo em tranças e colocou apenas uma pluma simples, não gostava de grandes volumes ou exageros. Não queria parecer alguém que está querendo se exibir ou conquistar. Queria mostrar que era modesta mas que também era respeitável e poderosa o suficiente para ser aceita como a noiva de Lorde Shaido. No fundo, ela desejava ser a noiva, desejava que ele a aceitasse por vontade própria.

Quando Mclin chegou na cidade, ouviu comentários maldoso, aqueles que ouvia sempre a seu respeito. Muitos a seguiam curiosos em saber onde ela ia ou o que pretendia fazer, e foi assim que quando chegou ao Palácio que era a residência da família Levi, muitos se admiraram e trataram de espalhar a notícia.

Um pensamento lhe ocorreu, que se pudesse faria com que todos os que falavam injúrias tivessem suas línguas travadas para sempre, mas isso seria um pensamento extremamente maligno e trancou esse desejo nos porões escuros de seu coração, junto com tantos outros pensamentos que lhe assombravam quando ouvia tantas ofensas e injustiças.

Entrou no Palácio e foi bem recebida, exceto alguns olhares tortos de algumas veilanas que colaboraram para sua tensão aumentar. Foi conduzida até a sala principal onde era aguardada por Lorde Shaido e seus familiares. Quando foi anunciada, entrou na sala, sob os olhares atentos das matriarcas da família Levi, sabia que Lorde Shaido estava ali, diante de si, mas não conseguia olhar para ele tamanho era seu nervosismo.

Deveria ter reverenciado, deveria ter dito palavras educadas de cumprimentos, deveria ter seguido a etiqueta e todas as banalidades formais que se faz em encontros desse tipo, mas era como seu corpo congelasse ao saber que Shaido estava ali, e a única coisa que podia fazer ao encontrá-lo depois de tantos e tantos anos, foi encarar o chão em absoluto desespero.

Quando Lady Mclin foi anunciada, imediatamente Lorde Shaido se levantou e caminhou em direção oposta a porta, parando defronte uma janela lateral mais afastada. Poderia ser interpretado como um gesto descortês, de fato foi espontâneo, pois estava perturbado com aquela situação e ainda muito consternado. Não que esquecesse de desempenhar seu papel ou quisesse ser rebelde, apenas não queria ter que encaram tão rapidamente aquela mulher que ele julgava e criticava.

Queria um momento para acalmar seu orgulho e ser capaz de dialogar com Lady Mclin sem preconceitos. Por isso, em momento algum, a olhou e esperou que ela se pronunciasse primeiro. Porém, nenhuma palavra veio e ele estranhou.

Incomodado pelo silêncio, uma curiosidade foi se formando no seu íntimo e, mesmo relutante, virou-se e seu olhar foi em direção a Lady que estava parada no meio da sala, como uma árvore plantada.


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Notas finais do capítulo

Obrigada e até o próximo.



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