Completude escrita por Deusa Nariko


Capítulo 1
Capítulo Único: Completude


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá e olá :)

Eu já tinha essa one-shot escrita há um tempo, mas acabei esquecendo de postá-la. Resolvi escrevê-la depois de assistir aos OVAs que contam a história do Zeno (e de chorar horrores com eles também). E também porque percebi que não há nenhuma Fanfic ZenoxKaya aqui, então estou estreando com Completude Hahaha

Boa leitura!



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Completude

Por Deusa Nariko

Caiu a noite do lado de fora da cabana, na floresta densa de folhagens farfalhantes e de odores adocicados. Uma noite luminosa, apesar de tudo, com uma lua oblonga num céu pontilhado por milhares de estrelas; não era uma noite ventosa, mas abafada.

Para Zeno, era a noite ideal que sucedia, por fim, um entardecer ideal: há poucas horas, havia desposado Kaya numa cerimônia simples cujas únicas testemunhas haviam sido o sacerdote no fim das contas e o velho ancião que também vivia nas redondezas e para quem Zeno vinha trabalhando nos últimos meses para conseguir comida e remédios para a doença dela.

Ela estava linda e, para a ocasião, havia escolhido o seu quimono mais bonito, com um bordado bem elaborado e cores vivas. Como adereço no cabelo curto e negro que havia sido arrumado, usava apenas orquídeas rosa dispostas de forma a lembrar um arranjo. Zeno também havia vestido suas melhores túnicas para a cerimônia e levava sob elas o único bem precioso que possuía, o colar que recebeu do seu Rei.

Agora, ali estavam eles, apreciando uma refeição modesta e quente enquanto trocavam olhares discretos e embaraçados. Eram marido e mulher. O casamento havia sido apressado para que acontecesse ainda naquele verão uma vez que Zeno estava a par de que as próximas estações, mais frias e menos úmidas, eram as mais dificultosas para Kaya.

Eles terminaram a refeição em silêncio e, assim que cruzaram o olhar, enrubesceram os dois. Kaya num gesto abrupto tomou a tigela das mãos dele e empilhou-a sobre a dela, fazendo menção de levantar para levá-las para fora e lavá-las. Foi impedida, entretanto, pelo agarre de Zeno no seu pulso que gentilmente a persuadiu a se sentar de novo de frente para ele, joelho contra joelho, deixando a louça suja de lado.

Ele suspirou profundamente e então olhou nos olhos dela, não havia embaraço dessa vez. Kaya se viu incapaz de desviar o olhar de olhos tão azuis e tão lindos. Quando se conheceram, ela lembrou, havia apenas sombras e dor ali. Não sabia que tipos de fardos alguém tão jovem quanto ele carregava, mas tinha a sensação de que eram pesados demais para serem suportados por costas tão pequenas e frágeis.

Zeno era absurdamente bonito, mas de uma forma fofa e não intimidante. O rosto de traços ainda meio infantis, delicados até, era um contraste interessante com a sua juba de cabelo dourada como o sol e o sorriso dele era mais resplandecente do que uma centena de estrelas.

— Z-Zeno — ela sussurrou seu nome, insegura de repente, e em resposta ele apanhou as suas mãos, segurando-as com firmeza.

— Sim?

Kaya suspirou demoradamente, postergando o assunto doloroso.

— Você não precisava ter feito tanto por mim. Ter a sua companhia já era o bastante.

— Eu quis fazer, Kaya — ele a lembrou e inclinou-se na direção dela até haver encostado as testas. — Eu quis ser seu marido e eu quis te ter como minha esposa.

Ao ouvi-lo proferir palavras tão sinceras, lágrimas silenciosas deslizaram pelo rosto dela, gotejando nas mãos que ele mantinha tão firmemente unidas. Kaya soluçou apenas uma vez antes de decidir se acalmar. Era uma noite especial demais para se permitir chorar.

— Mas eu não vou viver muito — queixou-se. — Não vamos nem mesmo poder ter uma família. Eu vou ser apenas um fardo para você. — Mais um fardo para você carregar, acrescentou nos seus pensamentos, odiando o fato de que sua partida (o que aconteceria a qualquer momento) feriria Zeno de alguma forma.

Diante do silêncio resignado dele, ela procurou se acalmar, cessando o choro. E antes que percebesse as suas intenções, sentiu lábios moverem-se pelas suas bochechas, secando cada lágrima com beijos castos.

— Kaya — ele murmurou seu nome pausadamente ainda roçando a boca na pele quente dela.

— Sim? — respondeu num fiapo de voz.

Zeno voltou a encostar a testa na sua e também entrelaçou seus dedos ao dela.

— Você permite que eu te faça feliz pelo tempo que os céus nos concederem?

A pergunta dele pegou-a de surpresa. Ali estava ela, considerando os sentimentos dele, tentando poupá-lo de um futuro sombrio que se concretizaria tão cedo, enquanto ele mesmo apenas procurava querer fazê-la feliz, pelo tempo que vivesse.

Kaya não chorou dessa vez, mas sorriu, assentindo. Também faria Zeno feliz pelo tempo que os deuses permitissem. Ele pareceu satisfeito com sua resposta positiva, pois desencostou as testas e soltou uma das mãos dela só para envolvê-la no seu rosto, acariciando sua bochecha com o dedão.

Então, finalmente, ele a beijou. Um beijo tímido a princípio, que Kaya correspondeu da melhor forma que encontrou. Ela não tinha experiências com aquilo e duvidava de que ele estivesse numa situação muito diferente, mas, ainda assim, foi algo mágico e encantador que fez a boca do seu estômago se contorcer e seu coração disparar loucamente no peito.

Zeno se inclinou para encontrar um ângulo mais favorável e, seguindo um instinto que até então desconhecera, experimentou percorrer o lábio inferior dela com a língua. Kaya estremeceu e deixou escapar um gemido de aprovação. Segurando-a pelo ombro, trouxe-a para mais perto, sentindo seu calor delicado e seu suave perfume floral.

Em séculos de existência, Zeno não podia afirmar que havia amado muitas pessoas. É claro que houve sua família e ele teve alguns poucos amigos durante a infância e a adolescência. Mas as pessoas que mais haviam marcado sua vida até então tinham sido seu Rei e seus irmãos Dragões.

Zeno não se lembrava de haver experimentado semelhante desespero como quando Hiryuu ascendeu em direção aos céus ou quando as fracas chamas das vidas de Guen, Abi e Shuten se apagaram uma a uma, deixando-o completamente sozinho para uma existência que perdera o seu significado.

Mas ali, agora, com Kaya em seus braços, ele sentia que sua existência voltava a fazer sentido. Ele era necessário para alguém de novo. Alguém o amava e ele a amava de volta. Kaya precisava dele, então por ela ele viveria — pelo tempo que lhes fosse concedido.

Ela quebrou o beijo primeiro, sem fôlego, e sussurrou o nome dele de forma apaixonada. Os olhos escuros brilhavam tal como uma noite estrelada e os lábios ainda estavam úmidos pelos seus beijos.

— Zeno.

Tímida, ela circundou seu pescoço com os braços.

— Eu amo você, Zeno — sussurrou, então completou depois de uma pausa: — Obrigada.

Não, era ele quem deveria agradecê-la. Kaya devolveu a um homem que suportava o peso da imortalidade por tempo demais a vontade de viver um dia de cada vez. Ela o lembrou do valor da vida e como ela costumava ser preciosa aos seus olhos.

Ao invés de dizê-la tudo isso, entretanto, ele se pegou sussurrando palavras completamente diferentes.

— Eu também amo você, Kaya.

Naquela noite — e por mais outras noites —, fizeram amor lenta e docemente.

Numa cabana no meio de uma floresta. Exilados do restante do mundo e com o tempo como seus maiores adversários.

Ele era imortal, viveria ainda por séculos e mais séculos; estava acorrentado à eternidade indefinidamente. Era um barco sem destino algum. Já ela contava cada dia como se fosse o seu último. E os vivia como se assim o fossem.

Ainda assim, amaram-se e viveram uma felicidade efêmera, porém etérea. Até que num dia, que ele buscou esquecer por centenas de anos, ela se foi. Partiu sem ele. Ascendeu em direção aos céus como o Rei que ele serviu e os Dragões que ele amou.

Mas a Zeno não foi dado o direito de segui-la. E talvez jamais viesse a ser dado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e nos vemos nos reviews :*