Une Misère Dorée escrita por Morgana Flamel


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi povo!

Gostaria de agradecer as pessoas que estão acompanhando minha adaptação.
Devo lembrar também, que comentários sempre são bem vindos.

Bjs e Boa leitura!

Morgana Flamel



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Na mesma hora em que o conde falava com a irmã, Arthur Weasley chegava à casa do professor. Hermione estava só na sala, ocupada com alguns consertos de roupa. Seu pai e Alexis, para aproveitar o tempo magnífico desse dia quase fresco, tinham ido fazer um passeio pelo parque.

— Acho que eles não demoram a voltar — disse ela ao visitante — Logo vai começar a esfriar. Sente-se, Sr. Weasley. Por que Ginny e Nimue não o acompanharam?

— Devem chegar daqui a pouco. Mas eu precisava primeiro falar com seu pai e... Com você, Hermione.

— Comigo? — perguntou a moça surpresa.

— Com você, principalmente, e até lhe posso fazer desde já comunicação, porque não duvido do consentimento de seu pai. Não quer tornar-se minha filha, como esposa de meu querido Ron?

Hermione não pôde reprimir uma exclamação.

— Como?!... Foi o senhor quem pensou nisso? — balbuciou, tentando sorrir — Mas Ron pode pretender uma união bem mais alta...

— Mais rica, não é o que quer dizer? Ora, eis uma consideração que os Weasley, em geral, nunca se lembraram de fazer, e Ronald jamais a faria entrar em linha de conta quando se tratasse do seu casamento.

Hermione, nesse instante, reviu em pensamento o jovem Weasley, no salão da cônega, em pé, junto de Luna. Esta também era pobre, mais pobre talvez do que Hermione Granger... Mas havia outro impedimento interposto entre Hermione e Ronald.

— E então, minha querida filha? — perguntou Arthur, com certa ansiedade, vendo que ela ficava silenciosa, um pouco opressa pela emoção.

— Fico-lhe infinitamente reconhecida por ter pensado em mim, Sr. Weasley, mas não penso em me casar, por enquanto.

O rosto do administrador se contraiu ligeiramente.

— Receia não ser feliz junto de meu filho? Precisarei dizer-lhe que ele a tem na mais alta estima, que a rodeará de afeição e de devotamento?

— Oh! Eu jamais duvidaria das qualidades do seu coração, pode crê-lo. Eu própria tive várias ocasiões de as apreciar, mas, repito-o, não penso ainda em me casar.

Um lampejo de irritação brilhou no olhar de Arthur.

— Não contesto a sinceridade dessa afirmação — disse ele friamente — Mas permita a um pai de família, instruído pela experiência pessoal, que lhe dê um pequeno conselho: é preciso cortar bem curtos os sonhos irrealizáveis antes que eles nos causem grandes sofrimentos.

O rubor afogueou o semblante de Hermione, mas os seus olhos não se desviaram do olhar que a perscrutava, e Arthur pôde comprovar que não se enganara.

Tomou, pois, as mãos da jovem e disse com doçura, com o mesmo tom afetuoso e de paternal compaixão que havia empregado no outro dia quando falara ao filho:

— Minha filha, perdoe-me ter falado num sofrimento que, decerto, corajosamente ocultou no mais profundo de sua alma. Mas, em alguns casos, é necessário enfrentar e, mesmo, saber desvencilhar-se de certos sentimentos. Pode crer que o meio mais eficaz...

— É o meio que o senhor aconselhou ao seu filho para esquecer aquela cuja alta origem o separa dele?

— Ah! Também adivinhou? — disse Arthur, sem surpresa — Isto é preferível, porque poderemos proceder com toda a lealdade. Sim, Ron teve a loucura de olhar para muito alto, mas eu consegui torná-lo mais razoável, fazendo-o pensar em outro casamento...

— De razão — completou Hermione, com melancólico sorriso — Não duvido da prudência do meio que o senhor nos propõe, Sr. Arthur, mas lembre-se que sou ainda muito moça para um enlace desse gênero.

— Será talvez, romântica, Hermione?

Ela meneou a cabeça, replicando:

— Não o creio, mas em minha idade hesita-se muito antes de entrar nesse caminho da simples razão. Mais tarde, não digo que não, quando pudermos considerar com calma, sem amargura, os nossos sonhos, os nossos erros do passado.

— E até lá se alimentarão de pesares, e os dois sofrerão muito! — exclamou o administrador quase indignado — Eu a julgava mais razoável, Srta. Granger! Espera, porventura, que um dia se enfraqueça a arrogância dos Malfoy e que o Conde Draco desça do seu orgulho...

Ela o interrompeu com um gesto.

— Não espero nada — disse firmemente — Não procure outro motivo em minha recusa, além daquele que já lhe dei. Esta recusa, repito-o, talvez não seja definitiva, mas será preciso deixar passar alguns anos Sr. Weasley, não me quer mal por isso, não é verdade?

Ele passou a mão pela fronte descobrindo a cicatriz azulada, lembrança do dia em que salvara Ceres Malfoy.

— Não, certamente não, minha filha! Sei, por mim mesmo, o que isso custa, quanto nos dói a resolução de aceitar um casamento de razão, quando se sonhou... Uma coisa absurda. Mas afirmo-lhe que ainda se pode ser feliz se tiver a coragem de cumprir o dever e de nunca mais olhar para trás. Enfim, reflita.

Levantou-se, aproximando-se da janela.

— Estou vendo Adrian e Alexis. Seu irmão está bem melhor.

— Tem melhorado sensivelmente. O conde julga que ele ainda poderá andar. O Dr. Slughorn mostra-se mais pessimista, não ousando, entretanto, contradizer o seu nobre aluno.

— Esse bom homem vive em perpétua admiração do Conde Draco, e para que servem a este a sua grande inteligência e os seus dons? — acrescentou Arthur levantando os ombros.

— Tudo isso lhe servirá — disse Hermione alegremente — O conde, enfim, reconheceu o seu erro, decidiu-se a sair da ociosidade em que vivia e a ir aperfeiçoar os seus estudos médico. Depois, ganhará a sua vida e a dos seus.

O rosto de Arthur demonstrou grande satisfação.

— Ainda bem! Eu sentia tristeza, certa irritação mesmo, por ver essa natureza de elite sujeitar-se a levar uma tal vida! Ele imitará a corajosa iniciativa do tio-avô Cepheus. Entretanto, esperemos que não tenha a mesma sorte... E que dizem a condessa e a tia?

— Ignoram ainda o seu projeto. Ele vai encontrar uma terrível oposição.

— Sim, jamais lhe perdoarão. Entre os Malfoy, as mulheres põem ainda mais alto do que os homens o seu desmedido orgulho. Neste ponto são uns verdadeiros demônios.

Sua voz entristeceu ao proferir estas últimas palavras.

— Entretanto...

Uma chama iluminou-lhe o olhar e um sorriso de sarcasmo arregaçou um pouco os lábios.

— ... Entretanto, condessas Malfoy, esses plebeus que as senhoras consideram tão inferiores poderiam revelar certos fatos escabrosos, e lhes dizer com toda a razão: “A sua família é indigna de se aliar à nossa!”

Hermione estremeceu, perguntando numa voz sumida:

— O senhor sabe?...

— Sim... e a senhorita também?

— Gellert disse-me tudo. A mãe dele falou antes de morrer.

— Foi também por Bathilda que eu soube, ou antes, adivinhei.

— Há muitos anos?

— Há uns doze, mais ou menos.

Então ele possuía o meio de humilhar a orgulhosa, cujo desdém tanto o tinha flagelado outrora, e no entanto havia guardado silêncio! Conservara o segredo cuja revelação teria torturado Ceres Malfoy.

— A senhorita vê, pois, que nós é que faríamos uma grande honra aos Malfoy se entrássemos em sua família — acrescentou Arthur num tom sarcástico — Como, porém, por delicadeza e caridade, não podemos esclarecê-los a esse respeito, é inevitável deixá-los nessa ilusão de superioridade.

Interrompeu-se, porque o professor e Alexis chegavam à porta da casa. Enquanto Arthur erguia em seus braços vigorosos o rapazinho, para depô-lo no divã, Hermione saía do apartamento, dirigindo-se para a capela, pois sentia uma premente necessidade de silêncio, de reflexão, de prece. Ao virar um corredor, encontrou-se com Filch; fez, instintivamente, um movimento de recuo, reprimindo com dificuldade uma exclamação de susto.

— Causo-lhe medo, senhorita? — perguntou o velho com a sua voz grossa, na qual Hermione julgou descobrir uma entonação irônica.

— Um pouco... Aqui não está muito claro...

Dizendo isto, continuou o seu caminho com uma secreta ânsia de afastar-se daquele homem que lhe havia inspirado, desde o primeiro encontro, viva repulsa, agora bem justificada.

“Queira Deus que Gellert mantenha a sua promessa!” pensava ela com angústia. “Se ele soubesse!... Se eles soubessem!...”

*****

Um mês mais tarde, os restos mortais da Condessa Narcissa Malfoy eram levados para o túmulo dos senhores de Runsdorf. Ela se extinguira lentamente, resignada com a morte, como o havia sido toda a vida na luta contra a pobreza ameaçadora.

Nos últimos momentos, sem dúvida iluminada por uma luz sobrenatural que lhe mostrara as vaidades terrestres, havia murmurado para o filho, inclinado sobre ela:

— Draco, você talvez tenha razão. Proceda segundo sua consciência.

Estas palavras, esse supremo consentimento, foram uma consolação para o jovem senhor de Runsdorf, profundamente aflito pela perda dessa mãe ternamente amada.

Mas outras preocupações o esperavam. Necessitou estabelecer um balanço da situação pecuniária, com o auxílio de Arthur Weasley, que lhe foi, nessa circunstância, de inapreciável valia. Runsdorf estava coberto de hipotecas, a fortuna dos condes Malfoy se reduzia a algumas centenas de florins. Entretanto, não havia dívidas a pagar, fora as hipotecas. A Condessa Narcissa havia operado o prodígio de educar os filhos e de manter as aparências sem dever nada a ninguém.

— Agora, temos que fazer com que apareçam as pessoas que têm hipotecas sobre o domínio — disse Draco ao administrador — Só poderei pagá-las aos poucos, quando minha profissão estiver estabelecida. Daqui até lá quem sabe se não nos obrigarão a vender Runsdorf!

Arthur, sentado em frente do conde, considerava tristemente a fisionomia preocupada do moço. Logo, porém, replicou:

— Posso oferecer-lhe uma proposta, Conde Malfoy. Pagarei as hipotecas, constituindo-me, assim, seu único credor. Em troca, pedir-lhe-ei autorização para mandar beneficiar, segundo uma ideia minha, uma pequena parte do domínio, que se acha em bom estado para cultura, e mais esse grande terreno, limpo há pouco, situado junto à extremidade do parque. Imagine que, no último outono, quando eu passava por ali com um amigo viticultor, ele exclamou: “Veja, que pena! Deixar improdutivo um terreno admiravelmente exposto! Tudo aqui é favorável à cultura da vinha e ganhar-se-ia uma fortuna com a sua produção”. Desde essa época sempre tenho pensado na opinião desse homem autorizado e eu desejaria tentar essa cultura. Ronald, que aprecia tudo quanto se relaciona á agricultura, ocupar-se-ia da exploração. Ginevra também gostaria de auxiliar esse trabalho e julgo que a Srta. Granger ficaria encantada por encontrar nesse serviço um meio de empregar a sua atividade e inteligência. O trabalho de administração e fiscalização, naturalmente, dar-lhe-ia direito a uma parte dos lucros e, em caso de bom êxito, esses lucros lhe constituiriam um dote e para todos seria a abastança.

Uma sombra fugitiva passou pela fisionomia de Draco.

— A ideia é excelente — disse, depois de um curto instante de reflexão — Faça o que lhe aprouver desses terrenos, meu caro Sr. Weasley. E obrigado. Sei que o senhor é um verdadeiro amigo.

Suas mãos, calorosamente, apertaram as de Arthur.

— Sim, um amigo sincero que lhe pede para o considerar como tal e que sempre o ponha ao corrente de tudo o que lhe acontecer, seja de bom ou de mau.

— Prometo-o. Mais do que nunca necessito dessas verdadeiras amizades, agora que minha mãe já não existe e que minha tia me demonstra tanta frieza.

A cônega, efetivamente, havia de novo manifestado o seu grande descontentamento e a sua ameaça de ruptura de relações, diante da resolução inabalável do conde de ir completar em Viena os seus estudos, logo que regularizasse os negócios. Draco, porém, fechara-lhe a boca com estas palavras:

— A senhora quer então, titia, que eu deixe que vendam Runsdorf? E depois como viveremos? Não desejo acusar meu pai nem os meus ascendentes, mas, enfim, encontro-me atualmente numa situação criada por eles. Indique-me um meio leal de sair destes apuros e então poderemos discutir a minha resolução.

Ela havia guardado silêncio, porque o único meio possível seria um casamento rico e lembrava-se muito bem do vibrante protesto do sobrinho a esse respeito.

Entretanto, o seu orgulho estava profundamente ferido pela ideia de ir o Conde Malfoy trabalhar para ganhar dinheiro. Além disso, estava agora incitada pela Princesa Karkaroff, completamente exasperada contra o sobrinho-neto. Este, chamado pela princesa ao chalé, teve que sustentar uma penosa cena, depois da qual, pálido de irritação, o olhar brilhante de altivez, disse a Luna:

— Nunca mais porei os meus pés lá. Ela julgou que um conde Malfoy aceitaria a esmola que pretendeu oferecer-me e, diante da minha recusa, cobriu-me de censuras, acusando-me de desonrar toda a minha raça. Pois bem, essa princesa pode ficar tranquila, porque este Malfoy, do qual ela se envergonha, nunca mais aparecerá perante ela!

A cônega logo deixou Runsdorf, indo para o seu Cabido. Quis muito levar Luna em sua companhia. Esta, que o irmão deixara livre para resolver se ia ou não, hesitou algum tempo. De um lado, seria a vida calma, mas desprovida das alegrias familiares e também das consolações da verdadeira vocação religiosa; do outro, a existência em Runsdorf, cheia de trabalho em comum com Hermione, para a exploração das videiras de Arthur Weasley, com a certeza do dever cumprido e a esperança de um futuro feliz.

Enfim, os preconceitos foram vencidos. Quando o conde saiu de Runsdorf, deixou Luna com Ariadne e Maia, tendo Hermione se encarregado de continuar a instrução das meninas. Draco levou o irmão, para o internar em um colégio de Viena, onde poderia atender à sua inclinação para o estudo das ciências.

Uma manhã de setembro, os dois subiram para a carruagem, conduzida por Filch, mais rígido do que nunca. A despeito da cega admiração por todo aquele que usasse o nome Malfoy, o velho não podia dissimular a desaprovação que lhe inspirava o que decidira o jovem senhor. No entanto, se bem que a Princesa Karkaroff lhe tivesse oferecido abrigo no chalé, quis ficar em Runsdorf; esse homem parecia apaixonadamente apegado à velha moradia, como os liquens tenazes que cobriam a base das muralhas senhoriais.

Todos estavam no pátio na hora da partida; Luna e as meninas, os Granger, os Weasley e o Dr. Slughorn, comovidíssimo ao se despedir de seu nobre aluno, a quem devotava incondicional admiração.

Com um suspiro, disse apertando-lhe a mão:

— Vamos, já que está mesmo decidido, senhor conde, profetizo-lhe que se tornará um dos mais sábios médicos do mundo.

— E me curará completamente! — exclamou Alexis, cuja cadeira havia sido empurrada até o pátio por Ronald, para que ele também pudesse assistir à partida do amigo.

— Pelo menos o tentarei com todas as minhas forças, meu caro Alexis.

Draco tirou o chapéu para cumprimentar todos ao mesmo tempo, uma vez ainda. Enquanto a carruagem se afastava, ele se voltou, fitando Hermione. A jovem, um pouco pálida e muito comovida, ficara encostada na rampa de pedra da escadaria. Sua silhueta elegante, vestida de fazenda escura, se destacava na claridade do sol outonal que envolvia o velho Runsdorf.

Draco estremeceu, pensando:

“Quando eu lhe puder pedir para ser minha esposa, estará livre ainda?”


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