I Give It A Year. escrita por Julia Brito


Capítulo 3
III.




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— Como é que é?! - Sophia voltou a perguntar retoricamente, jogando-se no sofá de uma forma bem dramática. - Pode repetir, acho que perdi alguma parte.

Antes de abordar o assunto com minha irmã, me permiti alguns momentos de reflexão enquanto usava a desculpa que queria tirar o vestido para não estraga-lo. Fiquei uns dez minutos lá dentro, passando a mão pelo tecido, soltando alguns muxoxos e esperando pelo momento, que eu sabia que chegaria. Soph concordou facilmente com a minha súbita vontade de "cuidar" do vestido, mas eu sentia que ela sabia que tinha alguma coisa errada na minha mudança drástica de humor e confirmei isso quando voltei para o lado de fora e a encontrei olhando-me indagadora. Depois de encontrar as palavras certas, contei-lhe sobre o "bloqueio" que estava tendo e sobre a forma que Mark sugeriu para quebra-lo. Sua reação foi algo que me espantou, eu esperava risadas e sabia que elas viriam mais cedo ou mais tarde, mas pelo visto naquele momento tudo que eu ganharia era uma careta distorcida.

— É isso, sis. - Dei de ombros, sentando-me ao seu lado. - Se pararmos para analisar, é uma boa ideia, não é? Ele... Isso sempre me serviu de inspiração.

— Não, não, eu concordo. - Apressou-se a dizer, virando seu corpo para me olhar de frente. - É só que, sei lá Emily, você não acha que esse bloqueio possa ter vindo, porque seu cérebro já associou que você é uma mulher adulta e que deve sair desse mundo imaginário?

— Eu sei o que é real e o que não é. - Rodei meus olhos, rindo fraco. - Sou uma escritora, Soph, é o que eu amo fazer!

Sophia suspirou, enlaçando nossas mãos. 

— Eu preferia sua época de escritora de horror. - Sorriu, sendo acompanhada por mim. - Quero te ver feliz, mas também quero sobrinhos.

— Bob é seu sobrinho. - Brinquei, levantando-me e puxando-a comigo para fora da loja, sem nem ao menos encontrarmos Sasha, para puxar conversa com Sophia e me livrar do assunto, por um tempo.

— Ele é um cachorro, Emily e faz xixi como menina. - Pautou, enroscando seu braço no meu enquanto caminhávamos pela rua. - E o Bob é quase um ser inanimado, ele dorme tanto quanto você.

— Você exige demais do meu cachorro, sis. - Bati meu ombro no seu, brincando. - Por falar nisso, tem noticias da mamãe?

— Você muda muito rápido de assunto, não consigo acompanhar! - Forjou uma voz desesperada e depois riu, dando de ombros. - Ela me ligou ontem. Perguntou de você e se tinha parado de "comer cigarros", ai eu falei o que você já me fez decorar "sou uma escritora, fico muito ansiosa" e então ela mudou de assunto. - Soltei uma gargalhada ao ouvi-la imitando minha voz, atraindo atenção das pessoas que passavam por nós. Sophia soltou um muxoxo e continuo. - De qualquer forma, ela quer que passemos um final de semana com ela antes do meu casamento. E por falar nisso, sábado, Phil e eu vamos fazer um jantarzinho e eu amaria se você fosse! 

— Bleh! - Grunhi, tentando imitar um gesto de vômito ao mesmo tempo que equilibrava meus livros, no braço livre. - Sempre sobro nesses jantares. Você me perturba até eu aceitar e depois me enxota de lá para vocês "fazerem amor".

— Para de drama! - Decretou, parando em frente a entrada do meu prédio e jogando meus livros que estavam com ela, sobre os que eu já carregava. - Tem aquele amigo do Phil, o bonitinho. Acho que ele ficou interessado em você.

— Ah, nem vem, Sophia! - Balbuciei, achando a cena um tanto quanto familiar. - Você sempre quer que eu saia com os amigos do Phil, mas eles são idiotas que só pensam em sexo.

— Você é muito complicada. - Finalizou, aproximando-se para me dar um beijo no rosto. - Te espero ás oito, com um sorriso no rosto.

— Vai ser falso! - Gritei, vendo-a se afastar e ganhando um dedo do meio em resposta. 

Ri comigo mesma e entrei no saguão, cumprimentando o velho John com a cabeça antes de subir as escadas depressa e me trancar no meu, pequeno e confortável, lar.

Bob, meu atual colega de quarto, se jogou em cima de mim com todos seus 40 kg, derrubando todos meus livros no chão. Senti sua língua lambuzar minha bochecha, me fazendo sorrir e me sentir bem-vinda. Bob era um bom cachorro e apesar do lugar ser pequeno, ele se dava bem com os passeios diários que o detonavam, tornando-o extremamente silencioso.

Senti que poderia ficar ali com Bob o dia todo, mas haviam coisas que eu precisava fazer e tinha que fazer antes que pensasse demais e desistisse. Por isso, afaguei a cabeça do meu cão e caminhei até a velha máquina de escrever que papai me dera em meu aniversário de quinze anos. 

Olhei minuciosamente para minha velha companheira, vendo que estava tudo do jeito que eu havia deixado. Aquela máquina antiga, era como um porto seguro para mim e era bom voltar a senti-la sob meus dedos. Soltei um suspiro e ajeitei-me sob a cadeira, pondo-me a digitar lentamente.

"Pude sentir a brisa da manhã invadir meu rosto, como se não houvesse nenhuma cortina para barra-la. Pude sentir o lençol gélido acariciar meu corpo, dando-me uma sensação estranha de conforto. Haviam muitas coisas que eu podia sentir, internamente e externamente, naquele momento. Mas a mais arrebatadora de todas, era sua presença ao meu lado."

Afundei a tecla, totalmente frustrada. Aquilo não era uma novidade para mim - começar um parágrafo e não conseguir dar inicio á outro - mas eu realmente acreditava que depois da conversa com Mark, as coisas ficariam um pouco menos... complicadas. Mero engano.

Respirei fundo, voltando a cobrir a máquina enquanto me preparava para me afastar dela. Não havia muito á ser feito naquele dia; já passava das oito da noite e com o cansaço que dominava meu corpo, não iria ser fácil manter a concentração.

Dei-me por vencida, pelo menos por aquele dia, prometendo à mim mesma que tentaria na tarde seguinte. Espantei a frustração e me encaminhei para o banheiro, esperando que a água morna levasse os problemas para longe e na esperança de que derrubasse meu bloqueio criativo como brinde. Amanhã seria um longo dia...


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