I Give It A Year. escrita por Julia Brito


Capítulo 1
I. Me Before You.




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Batuquei a mesa na minha frente, impossibilitada de conter minha ansiedade perante a situação. Mark, meu terapeuta há dois anos, tentava despertar algo em minha mente que me motivasse á escrever novamente. Uma tarefa árdua, mas que ele parecia bem empenhado em cumprir.

Movi meus olhos pela sala, estalando meus lábios, pensando em algo para começar o assunto daquele dia. Mark se mostrava paciente, como sempre fora, mesmo com os meus bloqueios e minha dificuldade de seguir uma só linha de raciocínio. Quando o procurei fora a pedido da editora em que eu trabalhava e, ocasionalmente, tentava lançar meus livros. Mas agora, dois anos depois e com meu segundo livro incompleto, Mark parecia-me mais com um melhor amigo gentil, do que com um terapeuta.

— Então, Emily. - Murmurou, cruzando seus braços frente ao joelho, como sempre fazia. Eu sabia que não demoraria muito para ele notar que eu não estava com facilidade para me comunicar naquele dia, o que o faria encontrar algo para estimular meu lado extrovertido. - Não há nada que queira me contar sobre essa última semana?

Mirei meus olhos nos seus, franzindo minha testa, me esforçando á pensar em algo. Nada.

— Não. - Dei de ombros, meneando a cabeça. - Nada importante.

— Nada sobre seu novo trabalho em andamento? - Perguntou, puxando um papel de dentro da pasta que continha meu nome. Mark poderia ser considerado um amigo por mim, mas eu não o culpava de se esquecer das coisas que eu dizia; sabe-se lá quantas pessoas o visitavam por dia. - Como se chama mesmo, "Little White Lies"?

Suspirei, impaciente. Como uma pessoa apaixonada por palavras, que passou parte da pré-adolescência e puberdade lendo e escrevendo histórias, era quase um insulto á mim mesma pensar em quanto tempo havia que eu não conseguia escrever uma única palavra com coerência.

— Não é um "trabalho em andamento", Mark. - Rodei meus olhos, sentando-me corretamente. - Esse "andamento" ficou lá pra trás, há dois anos, quando eu ainda era capaz de escrever algo.

Mark riu baixinho, fazendo com que a careta de descontentamento do meu rosto, ficasse ainda maior. Sua paciência era algo irritante. Mamãe sempre dizia que as pessoas nascem destinadas á fazer algo na vida, se isso for verdade, Mark deveria ter sido o terapeuta de seus coleguinhas no tempo de colégio.

— Ems, olhe para mim. - Pediu gentilmente, sendo atendido prontamente por mim. - Você precisa de um estimulo, qualquer coisa. Uma canção, um livro, um filme...

— Eu já tentei tudo isso, Mark. - Joguei minha cabeça para trás, repleta de frustração. - Até ouvi as histórias extravagantes da minha irmã, que agora, por incrível que pareça, está noiva! - Ri sem humor. Sempre soube que Sophia se casaria antes de mim - se é que eu me casaria um dia - mas não esperava que seria tão cedo. - Nem aquela felicidade toda lá, ativa algo dentro do meu cérebro!

E era verdade. Sophia era como eu, quando éramos mais novas; passávamos horas escrevendo sobre mundo fantasiosos e lendo histórias ainda mais surrealistas, mas de repente algo mudou. Talvez tenha sido na nossa adolescência ou talvez eu estivesse no mundo da lua para não ter notado antes. O que importava era: da garota de mente fértil, com o mundo nas mãos e milhares de sonhos para realizar, ela se transformou na garota apaixonada de dezoito anos que se permitia apenas o que lhe era palpável. Eu não a julgava, existe um momento em nossa vida que devemos fixar nossos pés no chão e parar de sonhar alto.

Será que eu perdi esse momento?

— Então vamos tentar algo diferente. - Mark insistiu, parecendo se divertir com toda a situação. Passou seus dedos longos pela barba rala e então me olhou sorrindo. - Quando você começou a vir aqui, aos dezenove anos, me contou uma coisa interessante.

— Nem começa. - Grunhiu, erguendo minha cabeça e o fuzilando. Sabendo exatamente ao que ele estava se referindo. - Eu não vou escrever uma palavra se quer sobre... isso.

— Você disse, com todos seus hormônios ainda em ebulição, - Continuou, como se eu não tivesse falado nada. Revirei meus olhos, esperando para ver onde ele queria chegar. - Que não conseguia manter um relacionamento sério com ninguém, porque o homem da sua vida estava ocupado demais com outras e sendo famoso...

— Eu era uma pré-adulta, Mark! - Saltei da poltrona, inconformada. Eu sabia que Mark estava fazendo seu trabalho - e sabia que aquilo até podia ajudar - mas a forma com a qual ele se divertia com a minha incredulidade, me deixava... puta. - E as coisas são diferentes, tá? Eu... Eu tive dois namorados daquele tempo para cá e fui feliz!

— Seus namoros não duraram mais de um mês, Emily. - Mais uma vez, pude ver seu rosto se contorcendo em um sorriso, antes de que ele se colocasse de pé na minha frente, segurando-me pelos ombros, amigavelmente. - Não estou falando como seu terapeuta, porque sei que você odeia isso. Quem está na sua frente é seu velho amigo Mark, que se importa com você.

— Minha Vênus é em capricórnio. - Choraminguei, baixando meus olhos brevemente, mas depois encarando-o há tempo de ver sua testa se franzir em diversão. - O que você quer que eu faça, Mark?

E ali estava! O sorriso que ele vinha tentando conter todo esse tempo, um sorriso convencido porém satisfeito. Eu sabia que iria me arrepender daquilo, mas como dizer não para a pessoa que está tentando te ajudar - de todas as formas possíveis - há anos? Mark parecia realmente se importar comigo, talvez fosse pelo fato de ser um velho amigo do meu pai e também, claro, por ser seu trabalho.

— Quero que escreva algo para mim. - Soltou-me, caminhando até sua mesa, enquanto eu me jogava dramaticamente de volta na poltrona. - Algo sobre ele, qualquer coisa, uma descrição, um poema.

— Isso é ridículo. - Apertei meus olhos, reprimindo uma bufada. - Não consigo escrever.

— Vamos lá, Ems! É só uma página. - Ouvi seu incentivo, relutante em abrir meus olhos, mas quase o fazendo. - Faria isso por mim?

Suspirei em rendição, semicerrando meus olhos para encará-lo.

— Posso ser má?

Mark riu novamente, dessa vez como se dissesse de forma silenciosa: "trabalho concluído".

— Quero que seja muito má.

Mas eu sabia muito bem, que se tinha uma coisa que aquilo tudo não estava, essa coisa era concluído.


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