Sonhos de uma noite de verão escrita por Maria


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, desculpas. Por vários motivos.
Pela demora, pelo tamanho do capítulo... Não sei se terei palavras para me explicar.

Tem sido dias sombrios. tenho vivido momentos de completo desespero e então.... momentos de eternos nadas.
Tem acontecido coisas que me roubaram a capacidade de me concentrar e escrever, bem como de até mesmo vir aqui e ler uma história SQ que tanto amo.

Esse capítulo está escrito desde de dezembro, mas cada vez que o revidava para postar eu o mudava completamente. Tenho praticamente 8 versões da mesma coisa. E nada me agradava.

Mas eu percebi que tenho que lutar contra isso, que eu não posso me deixar abater.

Estou bem? Nem de longe isso. Mas eu vou melhorar. Tive que tirar a segunda parte do capítulo porque ainda não me convenci de que era isso que queria escrever.

Aqui verão uma parte mais focada em Regina e espero que gostem!



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Narrado pela autora

A fumaça tomava o ambiente amplo da sala do apartamento da família Mills destoando totalmente do lugar quase estéril de moveis milimetricamente planejados. Regina se quer se importava com o quanto sua mãe reclamaria disso se por acaso largasse a mansão e fizesse uma desagradável visita surpresa. A tensão em seu corpo fazia seus nervos quase explodirem e somente a nicotina conseguia de alguma forma fazê-la relaxar.

O cheiro deixara de incomodar Ariel há alguns anos quando a ruiva percebeu que o vício foi a forma que Regina encontrou para compensar algumas áreas defasadas de sua vida. Por isso, enquanto a morena andava de um lado para o outro fumando aquele cigarro Ariel ignorava completamente o odor e tentava se concentrar em ficar acordada. Os turnos estavam cada vez mais puxados e intensos. Os cochilos nos intervalos eram mais escassos a cada dia e no fim de plantão a mulher estava praticamente morta. Ficar deitada não estava ajudando, por isso sentou-se recostando as costas na traseira do sofá. Estava ignorando Regina e suas perguntas há algum tempo e não podia mais fazer isso.

—Swan sempre foi lésbica, Ariel. Não faz sentido ela ter um filho. – Disse tragando logo em seguida em seu cigarro já quase no fim. – Não faz sentido, que droga. – Extravasou completamente frustrada.

—Acho que deveria esquecer isso Regina. Ou vai ficar louca. Além do mais há inúmeras possibilidades para Swan ter um filho. Ela pode ter adotado a criança. Pode ter casado com alguém e esse filho ser da outra pessoa. Como eu já falei se você se esforçar consegue imaginar mais um monte de possibilidades.– Disse jogando a cabeça para trás e fechando os olhos novamente sentindo o sono e o cansaço a dominar mais uma vez. Se ela pudesse dormir só por alguns minutos talvez conseguisse sair melhor daquela situação.  

—Ele se parece tanto com ela Ariel, eu não vejo qualquer outra possibilidade. Esse menino é filho biológico da Emma. – Suspirou afundando o cotoco no cinzeiro mais frustrada do que antes. Ariel resolveu ignorar que Swan já estava se tornando Emma na boca da amiga outra vez. – E ela guarda a nossa foto. – Roeu o canto da unha como fazia há muitas primaveras atrás, quando era uma adolescente completamente insegura de si mesma.

—Você também guarda essa foto Regina. Uma marcou a vida da outra de alguma forma. Esquece isso. Viva sua vida daqui pra frente da mesma forma que Swan parece estar vivendo a dela. – Ariel disse suplicante. Regina não podia ir a fundo nisso ou iria acabar descobrindo os planos da mãe. Planos esses que a ruiva estava envolvida até o último fio de cabelo ondulado e ruivo. Plano esse que a cada dia que passava estava mais perto de ser descoberto. A ruiva sabia que Regina odiava a advocacia, mas ela possuía um tino investigativo que era só dela e se continuasse nesse pé descobriria tudo. Cedo ou tarde. A informação que Swan ainda guarda a foto das duas em uma gaveta que aquele menininho inocentemente soltou constrangendo a mãe plantara uma pulga na orelha de Regina. E pulgas costumam fazer coçar.

Por diversas vezes Ariel ponderou se não poderia ter feito tudo diferente. Não ter contado nada a Cora e ter se virado para fazer sua vida entrar no rumo depois que a mulher cumprisse com sua ameaça. Ela acompanhou os últimos seis anos de sua amiga. Seu cabelo longo foi reduzido aos ombros que a deixavam com ar intimidante. A menina tímida deu lugar a mulher impetuosa que passava por cima de qualquer um. Os sorrisos deram lugar às respostas afiadas e às tragadas de cigarro. Nesse exato momento Regina não aparentava ter apenas vinte três anos.

Por muitas ocasiões iguais no decorrer dos anos Ariel sentia como se tivesse roubado a juventude da melhor amiga. Nos poucos encontros de lazer que mantinham ela via cada vez mais a pessoa de Regina definhando dentro de um poço de amargura, como estava acontecendo agora. Esses eram os piores dias para a culpa latente em seu peito.

—Eu não sei Ariel. Algo está me incomodando. Tem alguma coisa errada eu posso sentir. – sentou na poltrona menor ao lado da outra. - Você conseguiu descobrir por que ela estava no hospital? – Regina perguntou receosa de uma forma que a outra não via há anos. Sim. Ela havia descoberto porque Emma estava no hospital e não poderia esconder essa informação por muito tempo.

—Não era Emma que estava naquela hospital Regina, era Henry. – A ruiva disse à amiga que arregalou os olhos surpresa. – Aliás, o hospital é quase a morada dele. Ele está lá novamente.

—Mas ele é só uma criança Ariel, por que o hospital seria a morada dele? O que ele tem de errado? – Suas mãos rolavam uma na outra em claro sinal de ansiedade.

—São informações sigilosas de um pacientes Regina. Eu não posso falar nada. – Apelou para o juramento que fizera no dia de sua colação de grau ansiando para que a outra se compadecesse. Em vão.

—Se fossem tão sigilosas assim não deveria ter me dito que ele praticamente mora lá e que inclusive está lá. Bastava ter me dito que era a criança que eu acreditaria que qualquer dor de barriga pudesse ter feito ele ficar internado. – Sua voz aumentou um pouco à medida que era tomada pela impaciência – Mas agora vai me dizer por que o menininho praticamente mora no hospital se não serei frequentadora assídua daquele lugar até ver Swan novamente e perguntá-la eu mesma. – A ruiva suspirou se odiando por ter dado esse vacilo e agora teria que contar o que o menino tinha e ela sabia que Regina jamais iria esquecer essa história.

—O pequeno Henry tem leucemia em um estágio bem avançado da doença, ele faz tratamentos paliativos desde que era um bebê, mas seu caso só se resolverá com um transplante de medula. – Soltou por fim sentindo suas forças drenadas.

—E porque será que Emma não doa a medula para o filho?

—Eu tenho certeza que ela já deve ter feito todos os testes, mas a questão de compatibilidade é muito rara, até mesmo entre mãe e filho. Enquanto isso ele fica na espera e no tratamento. – A ruiva parou – Que não é nada fácil.

—Mas ele é tão pequeno. – Regina disse mais para si mesma – É muito ruim o tratamento?

—A cada vez que ele vai lá, Regina, uma agulha é enfiada em sua medula para fazer um exame... Eu não diria que ruim expressa bem o que é. – Regina estremeceu. Lembrava do quanto odiava fazer qualquer exame de sangue, imagine ter uma agulha enfiada em sua coluna.

—Não me parece justo ele sofrer desse jeito sendo tão pequeno. – Ariel olhava para a morena a sua frente estarrecida. Não saberia dizer como um menino que ela nem conhecia poderia transformar a mulher que é chamada de Evil Queen pelos corredores da empresa nisso que ela estava vendo agora. Algo dentro dela se aqueceu. Como se a antiga Regina estivesse por aparecer. Aquela que mesmo contra tudo sorria. Que confabulava às escondidas. Apesar de tudo, a ruiva sabia que Regina possuía um coração batendo no peito e nada melhor para amolecer corações do que uma criança doente. – Um hospital não é um ambiente para uma criança.

—Não é mesmo. E é pensando nisso que tantas pessoas são voluntárias lá.

—O que quer dizer com voluntárias?

—Algumas pessoas desprendem um pouco do seu tempo para alegrar as crianças, os idosos ou qualquer outra pessoa nos hospitais. Chamam de terapia do riso. Contam histórias, cantam, vestem-se de personagens, colocam nariz de palhaço, tudo no intuito de levar um pouco de alegria a quem sente dor. – Disse deixando o sorriso tomar conta de seu rosto. Era um trabalho que ela muito apreciava.

Regina levantou do sofá sem dizer uma só palavra e começou a caminhar pela sala do apartamento em profundo silêncio. Cogitou a hipótese de acender mais um cigarro, mas desistiu da ideia. Precisava pensar claramente sem a influência da nicotina em seu cérebro. Swan tinha um filho. Um menino. Henry. Os olhos da morena se encheram de lágrimas com a lembrança daquela noite em cima daquela pedra quando a loira havia dito como o filho delas chamaria.

Respirou pesadamente engolindo o choro. Não estava sozinha, não podia cair agora. Nada fazia sentido. Se era tudo mentira, se ela tinha um romance com Ruby por que colocar o nome dele de Henry? Por que Dot é quem está noiva da morena? Por que todas as garotas (ao menos Dot ela tinha visto) a odiavam? Regina detestava perguntas sem respostas. Desistiu de lutar contra a ansiedade que corria por suas veias e pegou mais um cigarro acendendo em seguida. Seus nervos gritavam por um alívio, antes, porém, de dar a primeira tragada uma ideia lhe surgiu à mente e de repente ela não precisava mais de fumar, não naquele momento.

 

2 meses depois

 

Narrado por Regina

Quando Ariel me disse sobre a terapia do riso eu senti que deveria fazer parte disso e eu não precisava nem gastar muito tempo imaginando o porquê.  Obviamente que nada era tão simples quanto eu imaginava. Ao buscar os grupos atuantes no hospital descobri que para fazer parte integrante do grupo precisaria passar por uma pequena formação.

Ao contrário do que eu imaginava o curso me motivou ainda mais a fazer parte disso porque deixou claro para mim que aquilo não era brincadeira, que aquilo era muito mais que colocar um nariz de palhaço e sair pelos corredores do hospital. Faz um mês que eu venho todas sextas feiras fazer visitas nesse ambiente que não é nem um pouco hostil.

Eu tinha plena certeza, na minha eterna soberba, que traria mudanças à vida das pessoas internadas aqui, como eu estava errada. A cada sala visitada, quem mudava, era eu.

Eu sentia a diferença dentro de mim, era como se aqueles dias de sol na areia branca e água cristalina de Santa Monica tivessem retornado. Eu sei que as pessoas ao meu redor também sentiam e eu tinha que me controlar demasiadamente para não sorrir na hora errada. Eu era a Evil Queen e devia continuar sendo, ao menos na empresa.

Ou em casa.

Eu sei que estou depositando muita esperança em algo que eu nem sei como será, sei ainda que uma nova queda me destruiria completamente, mas nada nesse mundo me faria parar; nada nesse mundo me faria desistir de entender o que aconteceu. Não quando o destino quis que eu encontrasse Emma novamente.

Desde que eu começara não tinha visto Henry nem uma única vez, mesmo tendo participado várias vezes do grupo de oncologia infantil. Fiquei um pouco frustrada, mas saber que a criança não estava ali me dava um alívio imenso porque isso significava que tudo estava bem. Que ele estava bem. E eu não fazia ideia porque isso me alegrava tanto. Claro, ele era uma criança e não merecia estar ali. Mas ainda assim, o alivio que sentia era fora do normal.

As fantasias não eram meu forte, mas não havia ninguém para ser a assistente do mágico hoje, então aqui estou eu com um jogo de terninho roxo brilhante tentando auxiliar o mágico mais atrapalhado desse planeta com minha total falta de habilidade para a assistência que ele necessitaria. Ao menos as risadas estavam garantidas. Foi em meio a mais uma leva de gargalhadas que eu o vi. Pálido, ressaltando a cor amendoada de seus cabelos, mas sorrindo para a senhora baixinha que saía do quarto nesse minuto. Meu coração batia acelerado e ao mesmo tempo apertado. Sentia-me culpada por estar feliz de ver aquele menino ali.

—Regina – fui despertada dos meus devaneios por meu companheiro o Sr mágico que me chamava. – Esses quartos teremos que dividir, essas crianças não podem ter muita agitação. – Eu somente balancei minha cabeça em concordância e um pouco de medo por ter que fazer aquilo sozinha.

—Façamos o seguinte, eu fico com aquele lado e você com esse. – Sugeri inocentemente para ele que assentiu sorrindo e parti para minha saga deixando o quarto de Henry por último de propósito. Do meu lado, três crianças dormiam profundamente e outras duas estavam fazendo exames, o que me restava uma garotinha de quatro anos que queria brincar de Barbie e o filho de Swan. Depois de fazer compras no shopping, ir ao salão, passear com o cachorro e até mesmo preparar o casamento da Barbie com o Ken eu parti para o destino que esperava há dois meses. Eu finalmente iria ver Henry.

Sentia meu coração retumbar em meu peito e dar eco em meus ouvidos, minhas pernas tremiam e eu temia fazer qualquer besteira, mas o sorriso que Henry me deu e as batidas entusiasmadas de suas palmas me fizeram esquecer qualquer coisa que eu estava sentindo, ou até mesmo esquecer as roupas estúpidas que estava vestindo. Ali naquela cama, muito mais pálido do que uma pessoa poderia estar, aquela criança ainda tinha forças para a felicidade.

Sua avó já havia voltado e ficou conosco durante a leitura de alguns gibis e livros infantis. Fui informada pela sorridente senhora que sua história favorita era Branca de Neve, mas ele nos surpreendeu dizendo que não queria ouvi-la porque não queria ver a rainha má sofrer outra vez. Aquela senhora correspondia certinho com a descrição que Emma um dia fizera. Não só fisicamente. A mulher exalava afeição e simpatia e em qualquer outra situação eu teria enfiado o dedo na garganta e vomitado, mas ela se encaixava perfeitamente ali. E eu desejei só por um instante ter um pouco daquela energia boa em mim.

O tempo passou voando e quando vi mais de uma hora havia passado e comecei a me levantar e me despedir dos dois. Antes que eu pudesse sair, Henry pediu que a avó fosse buscar algo para ele na lanchonete e antes mesmo de eu passar pela porta Mary Margareth perguntou se eu podia esperar ela voltar, tendo minha confirmação, ela se foi.

—Você é a mulher do outro dia. E também a garota da foto da minha mãe. – ele disse antes mesmo que eu pudesse me sentar novamente.


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Notas finais do capítulo

Beijos me perdoem!



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