Sonhos de uma noite de verão escrita por Maria


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Hey, obrigada pelos comentários. Voltei hoje porque vou ficar sem internet ao menos até segunda, espero que gostem.



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Narrado pela autora

Regina só foi ver suas companheiras de quarto de novo quando entrou no refeitório para o jantar. Emma e Belle estavam em uma mesa pequena, uma das poucas desse tipo no local, com mais três meninas que conversavam e riam na mesma intensidade, Regina não queria ficar encarando então seguiu em frente. Uma fila se formava para pegar o jantar e a morena entrou nela.

Não havia ninguém para servi-los, mas isso não parecia estranho às outras pessoas então Regina fingia que não era estranho para ela também. Assim que terminou de fazer seu prato, que consistia em poucas coisas que ela sabia o que eram a morena se viu perdida no lugar abarrotado de gente e sem lugar aparente para sentar.

Virava de um lado para o outro procurando um lugar vago quando seus olhos pousaram na mesa de certa loira que estava de costas para ela, sua blusa xadrez ainda pousava em sua cintura como a tinha colocado quando a ajudou com as malas. Seus cabelos, entretanto, estavam amarados em um rabo de cavalo. Alguém chamou a atenção de Emma que se virou para trás e seus olhares se encontraram. A loira se levantou e passou a caminhar em direção à Regina.

—Sente lá na mesa. – Disse quando chegou perto da morena.

—Acho melhor eu procurar outro lugar. – A morena disse como quem não se importava e Emma revirou os olhos para a Regina.

—Eu sou uma pessoa calma, às vezes engraçada, muitas vezes petulante e até irritante, mas não sou nunca uma pessoa que implora para os outros fazerem as coisas – era a primeira vez que ela via a loira séria – estou te chamando numa boa, vamos dividir o quarto por oito semanas e acho que podemos fazer isso ser legal – passou a mão por seu longo rabo de cavalo – se quiser vir, venha, no instante em que eu me virar e você não me seguir eu não vou me importar de te ver comendo de pé.

Então a loira virou para sua mesa novamente e Regina a seguiu antes mesmo de perceber o que fazia, como se seus pés tivessem vida própria. Emma sorriu internamente vitoriosa. Ninguém nunca havia falado com Regina dessa maneira, desafiado-a desse jeito, e incrivelmente ela adorou. Emma empurrou Belle para o lado dando espaço para a morena se sentar que assim o fez.

—Essa é Regina. – ela apresentou e a morena exibiu um sorriso apertado para as outras meninas, se segurando para não completar a loira com um Mills. – Regina essas são Dot, Ana e Elsa.

—Mu.. – ela começou, mas depois pensou melhor - Olá. – Disse simplesmente e todas acenaram com a cabeça e voltaram para suas conversas. Regina começou a comer silenciosamente a sua comida. Ela não pode deixar de reparar que todas as outras tinham seus pratos cheios de batata frita, lanche, e outras coisas que a morena não conseguia identificar, mas somente ela tinha legumes e verduras bem arrumados e quase nenhuma massa ou carboidrato. Ótimo, pensou. Mais um motivo para ela ser considerada a estanha.

A menina comia devagar mastigando demoradamente e completamente alheia a conversa efusiva das outras que se misturava a cacofonia do restante do salão. Estava acostumada com sua escola onde silêncio na hora das refeições era mortal, ouvia-se somente o tintilar dos talheres de prata nos pratos de porcelana.

—Isso não parece estar gostoso. – Ana falou para Regina após ver como a menina comia devagar e sem esboçar reação alguma. A garota não percebeu que falavam com ela até Emma lhe cutucar com seu cotovelo.

—Perdão? – Disse gentilmente, fazendo as outras arquearem as sobrancelhas pela forma polida como falava.

—Eu disse – repetiu Ana – que isso não parece estar muito apetitoso. – Apontou para o prato da outra com o próprio garfo.

—Ha, está aceitável. Falta um tempero a mais que anda não consegui descobrir qual é...- Parou de falar assim que viu as expressões nos rostos a sua frente – É bom. – Finalizou sentindo as bochechas esquentarem.

—Não me parece bom. – Disse Elsa – Como nunca está, quando mamãe nos obriga a comer em casa. Por isso amo comer na escola. – Ana concordou.

—Vocês comem isso todos os dias? – Perguntou a morena visivelmente chocada.

—Não isso, mas basicamente, variamos com algum queijo derretido ou bacon. – Foi Belle quem respondeu – Você como assim todos os dias?

—Não só isso, mas basicamente. – Regina respondeu analisando as meninas que olhavam para ela. Sua alimentação era só mais uma parte regrada de sua vida. Ela não podia engordar, sua mãe tinha pavor de gente gorda. Então açúcar branco, farinha branca eram terminantemente proibido em sua casa, e bem controlado em sua escola.

—Jesus Cristo, de que prisão maluca você veio menina? – Foi Dot quem perguntou – Depois vocês dizem que as pessoas do Texas que são estranhas. – As meninas riram.

—Não é prisão. É colégio. – Emma se manifestou pela primeira vez e Belle revirou os olhos como se dissesse qual a diferença? – E nesse colégio não ensinam as pessoas a ter bom humor, então peguem leve. - A morena não sabia se Emma a estava defendendo ou debochando de sua cara e preferiu não se manifestar ao perceber as outras darem de ombro, não antes de trocarem um olhar preocupado.

—Bem, eu lamento pela brincadeira Regina. – A morena balançou a cabeça dando de ombros também. Ela queria gostar dessas garotas, só que para estar com elas ela precisaria aguentar esse gênio brincalhão delas e ela não tinha habilidade social nenhuma fora e sua zona de conforto. Tentou voltar à atenção para a comida, mas de repente ela não tinha a menor graça. Ficou se perguntando se seria muito rude levantar da mesa antes de todas. Suas boas maneiras falaram mais alto e decidiu por fim, ficar. – Eu não acredito que Granys carregou Ruby para o Canadá. São nossas últimas férias juntas.

—Cruzes Dot. – Ana jogou uma batata na menina – Nós vamos para a faculdade, não morrer. – Todas riram.

—Haa Ana. Dot tem razão. Ruby deveria estar aqui. A melhor sexóloga de todos os tempos. – Belle disse rindo.

—Regina – Elsa chamou sua atenção – Qual o seu conhecimento sobre o assunto? – A morena quase engasgou com um legume e sentiu todo seu rosto esquentar.

—Te... temo que não seja extenso. – sua voz falhou miseravelmente saindo quase como um miado, na verdade ela não tinha conhecimento algum.

—Eu sabia. – Belle apontava para Regina e falava com as outras. – Ruby é insubstituível. – Regina pôde notar que Dot suspirou emburrada enquanto as outras riam.

—Vocês sabem que todo o conhecimento dela vem do Google, não sabem? – Emma ria sem mostrar os dentes.

—Não importa, ela ainda é a melhor. – Belle finalizou. – Ela tem o drama certo nas explanações. – Todas riram parecendo se recordar dos bons momentos de outrora.

—Vocês já classificaram a novata? – Elsa perguntou mudando de assunto e chamando a atenção de Regina mais uma vez.

—Emma Acha que ela é a Mione antes do trasgo, mas eu tenho minhas dúvidas. – Belle comentou. Regina olhava para elas tentando entender e pôde ver quando a loira abaixou os olhos para o seu prato corando suavemente enquanto espetava uma batata frita. – Vocês conhecem a Emma e seu coração de verdadeiro crédulo, mesmo que ela negue.

—Belle acha que ela é Malfoy. – Deu de ombros – Só acho que todos merecem uma chance.

—Então Regina, o que você é? Mione ou Malfoy? – Ana perguntou a ela. Regina olhava para aqueles cinco pares de olhos a encarando e a morena passou a se perguntar em qual momento do jantar ela havia entrado nesse universo paralelo. Era para ela, supostamente, saber do que as outras estavam falando?

—Eu não tenho ideia do que vocês estão falando. – Regina se arrependeu de ter decidido ficar na mesa ao notar as expressões estarrecidas das outras. – Eu não sei o que vem a ser Mione ou Malfoy.

—Você nunca leu Harry Potter? – Ana perguntou abismada.

—Não! – Respondeu simplesmente.

—Inacreditável. – Elsa disse.

—O que você lê? – Perguntou Dot.

—Geralmente lemos o melhor da literatura americana, inglesa, francesa, russa. – Endireitou os ombros ao falar como se estivesse pronta para dar uma palestra sobre o assunto.

—Mas Harry Potter é para todo mundo, tipo, sei lá, a Cristina Yang para a Meredith Grey. – Elsa disse abismada.

—Continuo não entendendo do que vocês estão falando. Eu nunca li esses livros. – Disse Regina já um tanto quanto irritada. Qual era o problema dela nunca ter lido o maldito livro? Ou se quer saber do que elas estavam falando? Ela não tinha tempo para isso.

—Greys é uma série. – Belle respondeu seca.

—Bom, eu também não assisto série. – A morena levantou – com licença. – dizendo isso saiu a passos firmes sob os olhares abismados das outras.

—Eu disse. – Emma se manifestou – Sem nenhum senso de humor.

—Nós estamos com um sério problema. – Dot completou e todas se olharam concordando.

—-**--

Regina

Quando cheguei ao quarto não encontrei ninguém a vista. Tinha passado um tempo andando pela praia após sair do refeitório. Parando agora para considerar, talvez essa não tenha sido uma ideia muito boa. Olho para as paredes do chalé de madeira. Eu claramente não me encaixo aqui, esse não é meu ambiente. No meu ambiente as pessoas não querem puxar conversa só por conversar, elas preferem não ser incomodadas.

De onde venho as pessoas não tem tempo para diversão. Se vamos ler um livro esse livro te que servir como um direcionamento para o futuro. Filmes? Nem pensar. E alguém ter lido Harry Potter que era considerado estranho, e não o contrário.

Parabéns Regina, mais uma vez Cora estava certa sobre você. Você não sobreviveria um dia fora de sua zona de conforto. Peguei um livro em minha mala e sentei na minha cama. Alguém estava no banheiro. Só quero tomar um banho e dormir para encarar o dia seguinte. O dia que iria voltar para o meu desafortunado destino de onde não deveria ter fugido. Mal tinha passado duas páginas e a porta do banheiro abriu saindo de lá uma loira vestindo uma calça de moletom cinza e um top preto secando seus longos cabelos loiros. Devo ter feito algum barulho porque ela se virou para mim assustada. Senti todo meu rosto corar.

—Jesus! – Ela arfou. - Desculpe, não sabia que tinha alguém aqui. – Disse jogando a toalha na frente de seu corpo, que pelo amor de Deus parecia ter sido esculpido por um artista. Para onde toda aquela batata frita ia? Balancei minha cabeça para espantar esses pensamentos.

—Tudo bem. – Eu respondi me recompondo. Emma andou até sua cama e colocou uma blusa larga por cima do top ainda de costas para mim. Fechei o livro no meu colo e o silêncio pairou entre a gente.

—Todas as famílias felizes são parecidas, as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira. – Emma disse sem me olhar e ergui minhas sobrancelhas em surpresa por ela citar Tolstoi, e reconhecer Ana Karenina pela capa sem ter nem olhado para ele direito. – Não precisa ficar tão surpresa. – como ela sabia que eu estava surpresa se nem ao menos me encarava?

—Não estou surpresa. – Respondi muito rápido disfarçando minha voz e ouvi Emma rir suavemente antes de se virar para mim e sentar em minha cama penteando os cabelos. Por reflexo me afastei dela. Eu não a conhecia o suficiente para ela se convidar a sentar na minha cama, e mesmo assim ela o fez. Outro ponto que corrobora com o fato de que eu não pertenço a esse lugar. Jamais sentaria na cama de alguém sem essa pessoa me convidar.

—Sim, você está. Provavelmente está pensando que somos todas selvagens que lemos e vemos coisas sem importância enquanto a grande Regina Mills trata de assuntos que influenciarão o próximo milênio. – Emma disse, não para me ofender, mas como quem constata um fato. E ela não estava de todo errada. Para variar.

—Ok. Eu fiquei surpresa. Mas eu não penso assim de vocês. – rebati.

—Não pensa? – Ela não estava convencida.

—Não. Ao menos não dessa forma pejorativa em que colocou. Só penso que tivemos diferentes enfoques quanto na criação que nos foi destinada.

—Por isso que quer embora? – Ela me perguntou e se eu não estivesse bem sentada em minha cama eu tinha caído no chão. – Acha que não se encaixa aqui?

—Eu não quero ir embora. – Disse olhando para qualquer lugar que não fosse aquelas orbes verdes. Emma rolou os olhos e suspirou balançando a cabeça como se eu fosse uma criança e ela estivesse cansada da minha malcriação. Ela fez menção de se levantar da minha cama, mas eu a segurei. E sinceramente, não sei o que me faz querer contrariar essa menina sendo que ela sempre me vence. Da mesma forma que não sei por que passei mais tempo que o necessário segurando o seu braço. – Ok. Eu estou pensando em ir embora amanhã. – Disse derrotada – Como percebeu?

—Seu livro. Foi a única coisa que tirou da mala, além da roupa que está vestindo. – Olhei em torno de mim mesma reparando que o que ela disse era verdade. Minha mala estava intacta ao lado da cama como sempre deixamos quando estamos prestes a partir.

—Faz sentido. Cheguei a achar que tinha algum tipo de superpoder. – Disse esboçando um pequeno e contido sorriso.

—Ha, mas eu tenho um sim. – ela me falou zombeteira – eu geralmente sei quando as pessoas estão mentindo. – Ela disse olhando no fundo dos meus olhos e bem, eu tenho certeza que ela falava a verdade. Sorri constrangida e senti o rubor subir pelo meu pescoço.

—Certo. – Disse desamassando algo invisível na capa do livro fazendo o silêncio estagnar entre a gente e novo. Ouvi Emma suspirar antes de começar a falar de novo, como se ela tivesse acabado de tomar essa decisão.

—Olha, - ela me disse – não nos leve a mal, nós somos assim sabe. Ana e Elsa são irmãs e são de Seattle. Eu e Ruby crescemos juntas no Maine, Dot já disse que veio do Texas e as pessoas de lá são realmente loucas – tive que rir – Belle é francesa, ela realmente faz uma longa viagem até aqui. Nós nos conectamos instantaneamente quando nos conhecemos há quatro anos. Tornamos-nos inseparáveis desde então, foi coisa de sintonia. – eu ouvia atentamente a loira - Estávamos todas em chalés espalhados e fizemos um fuzuê até que nos colocassem juntas. – ri junto com ela - Posso dizer que temos boas histórias para contar as futuras gerações.

—Eu imagino. – Ela assentiu antes de continuar.

—Somos meio maluquinhas. Um pouco pra frente. E somos piadistas excepcionais. É assim que levamos a vida, com humor em casa, na escola. Elsa por exemplo é líder de torcida, Ana é do clube de teatro. Dot joga futebol como ninguém, Belle é uma grande artista e fará biblioteconomia, tenho certeza que teriam muito que conversar sobre literatura, e mesmo gostando de coisas tão diferentes conseguimos manter nossas personalidades, mas estamos acostumadas a isso e sei que você não. Essa é a nossa realidade. – Não pude deixar de reparar que em nenhum momento Emma disse do que gostava - Então, se quiser pedir para trocar de chalé porque somos insuportáveis não ficaremos chateadas ou coisa do tipo, mas dê uma chance para esse lugar, ele é realmente maravilhoso. – Ela disse gentilmente e eu fiz a pergunta mais idiota que eu poderia fazer.

—Você quer que eu troque? – Perguntei prendendo a respiração e percebi que ela ficou genuinamente surpresa e me encarava me analisando como se ponderasse dentro de sua cabeça sua resposta.


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Notas finais do capítulo

E comentem.



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