White Angel escrita por Malina Endou


Capítulo 26
Capítulo 26- Egoismo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725921/chapter/26

Meiko

Despedi-me da minha família, correndo porta a fora. O meu tio ainda me chamou, pedindo que esperasse mas preferia ir sozinha do que chegar com o treinador à escola. Já tinha falado sobre isso com ele; dentro da escola somos jogadora e treinadora, fora dela somos sobrinha e tio! Além do mais ele tinha de levar o meu irmão à escola. Não precisava de mim para isso.

Parei de correr assim que me distanciei o suficiente da casa, continuando a caminhar até chegar ao campo junto ao rio.

—Meiko!- voltei-me para trás e sorri ao ver o Tenma correr até mim. Sorri- Bom dia!

—Bom dia.

—Tenma! Meiko!- olhamos para trás do Tenma vendo o Shinzuke aproximar-se a correr. E assim que se aproximou, aqueles dois chocaram os punhos, mostrando um grande sorriso um para o outro. Claro que aqueles dois ficam logo cheios de energia e boa disposição pela manhã. Não os censuro, depois de ontem.

—Vamos fazer uma corrida até ao instituto?

—O quê?- logo de manhã?

—Está bem!- o Shinzuke apenas concordou com ele e começaram os dois a correr.

—Ei! Esperem aí!- não tinha outra alternativa se não correr também.

Acabamos por fazer mesmo a corrida e eu tive de participar se não queria ficar para trás. Não que me importasse com o facto de ir para a escola sozinha, apenas já estava tão habituada àqueles dois que era até estranho não os ter a meu lado. E apesar de inicialmente não querer participar, acabei por vencer a corrida. Os rapazes ficaram um pouco chocados, e eu só me conseguia rir, pelo menos até à ao balneário da equipa, onde já lá estavam os jogadores um pouco... Divididos. As ajudantes e a Haruna estavam sentadas nos sofás em frente à televisão. O capitão e o goleiro estavam sentados num banco junto aos cacifos enquanto os restantes estavam junto a umas das mesas da sala. E o ambiente, esse, não era o melhor.

—Que chatos que vocês são. Parem de tentar impôr-nos o vosso futebol.- Claro que só podia ser o Minamisawa-senpai a ser tão frio. O capitão levantou-se.

—Mas Minamisawa-san, foi a primeira vez desde que entrei na Raimon que num jogo desfrutei de verdade a jogar futebol.

—Isso eu entendo, mas uma coisa não a outra. Achas que o Quinto Setor não irá dizer nada quando vir que desobedecemos às suas ordens? Ou não te importas que fechem o clube de futebol?- ele não estava a exagerar um bocado?

—Fecha-lo?

—Já fecharam clubes de outras escolas por se oporem ao Quinto Setor.- Ok, o que o Kirino-senpai disse assustou-me um pouco. E deixou-me com alguma raiva.

—Vocês não sabiam disso?- neguei com a cabeça para o Kurama-senpai. Realmente não fazia ideia.

—Que medo me dá o isto.- O Hayami-senpai levantou a cabeça só para dizer aquilo?

—Eu queria poder jogar de forma limpa, mas se isso significa deixar de jogar, então não.- Entendi-a que o Kurumada-senpai queria proteger o futebol, mas aquela maneira era errada.

—Além disso, não recebemos ordens escritas para todos os jogos. Há vezes em que podemos jogar a sério.- E o Amagi-senpai contentava-se com isso? Queria perguntar-lhe, mas num momento assim era melhor estar calada do que arranjar confusão.

—Shindou, eu entendo como te sentes, a sério, mas percebe o que dizem o Minamisawa-san, o Kurumada-san e o Amagi-san e todos os outros.- Não era que nenhum de nós percebesse, apenas nós também queríamos jogar futebol à nossa maneira, e o Kirino-senpai e os outros veteranos estavam a recusar-se a isso.

—Só podemos continuar com o que estávamos a fazer.- Pensei que o Hamano-senpai fosse mais positivo.

—Não podemos continuar com vocês se pusermos em risco o nosso futuro.

Aquela palavras do Minamisawa-senpai bastaram para mim. Se eles se queriam acobarda, ótimo! Continuassem. Eu simplesmente fui até ao meu cacifo e retirei o equipamento, antes de dar meia volta e sair da sala.

Não demorei muito até vestir o equipamento do clube. Sai do wc feminino sobre vários olhares das raparigas que lá estavam. Será que nunca tinham visto uma mulher de equipamento de futebol? Suspirei e pressionei as torneiras dos lavatórios para sair água, antes de a direcionar para elas. Sorri. Como era bom ter telequinesia. Ser um anjo tinha as suas vantagens.

No campo já estavam alguns dos veteranos, mas claro que já se encontrava o Tenma e o Shinzuke. Todos foram chegando aos poucos, sendo o último o nosso treinador, que nos cumprimentou antes de nos chamar para junto dele, dando o plano de treino para o Shindo-senpai.

—Então o plano para de treino para hoje é...- assim que parou olhei para trás, ouvindo, também, passos. Os veteranos estavam a ir embora.

—Tens de compreender, Shindou, nós queremos proteger o nosso próprio futebol.- O Hamano-senpai apenas sorriu antes de os sorrir.

—Próprio futebol? Que piada. Vocês estão a proteger um futebol de fantochada!

—Meiko, chega.- Virei a cara ao meu tio. Porque simplesmente não podia deixar dizer-lhes as verdades?

—Não vai detê-los, capitão?- nem respondeu ao Tenma, limitou-se a baixar a cabeça e voltar-lhe as costas- Capitão?- e foi-se sentar num dos bancos, escrevendo nos papeis que o treinador lhe deu.

—Pensem que não podemos atuar como se não importasse o que eles fazem.- Olhei para baliza mais perto do prédio escolar onde estavam todos os outros veteranos. Pelo menos ainda ficaram em campo- Lembrem-se que até há pouco tempo eu estava na mesma posição.

—Eu entendo, mas... Eu só quero jogar futebol... Com todos.

Porque tinha de ser tão difícil fazê-lo?

Começamos a alongar-nos antes do treinamento de verdade. A Aoi e a Midori-senpai ajudaram com Tenma e o Shinzuke enquanto eu preferi fazê-lo sozinha. O capitão continua a escrever, e dos outros veteranos, o único que não ficara de fora foi o Kirino-senpai que estava a fazer passes com o Sangoku-senpai. Os de mais limitava-se a estar sentados, correr, exercitar, ou a jogar um pouco com a bola.

De repente, ouvi algo a deslizar, quando fui a ver, o Tsurugi tinha descido pela grama até ao campo de futebol e estava ali de pé, imponente. O que queria? Simplesmente dirigiu-se ao treinador, sem dizer uma só palavra, mas com uma cara de poucos amigos... Como sempre.

—Eu vou entrar no próximo jogo.- Fiquei estupefacta. Era assim? Chegava ali e decidia aquilo? Ele nem queria saber da equipa. Além do mais, era um SEED, um dos cachorrinhos do Quinto Setor.

—Tu, num jogo?

—Exato.

—Por fim aconteceu! Ordenaram-lhe acabar com a equipa da Raimon!- o Hayami-senpai só sabia fazer drama?

—Já se puseram em marcha.- Infelizmente tinha de concordar com o Sangoku-senpai.

—Mas tenha a certeza que de que o treinador Endou sabe que o Tsurugi é um SEED do Quinto Setor.- Só esperava que o capitão tivesse razão Por vezes o bom senso do meu tio falha.

—Ok!- como neste caso- Está bem!- mas desta vez ultrapassou os limites- Pois então contarei contigo.- Ficamos todos pasmados. Como assim?!

—Não sei nem me interessa o que quer, só que me deixe fazer o que eu quero.

—De acordo.- E ainda dizia aquilo com um sorriso?!

—Espera ti... Treinador! Trata-se de um SEED! Ele só quer atrapalhar de alguma forma.

—Sim, pode ser.- Ele tinha mesmo de estar a sorrir numa hora daquelas?!

—Então porquê? Não disse que o nosso objetivo era sempre vencer?

—Por isso mesmo. O Tsurugi entrará na equipa porque queremos ganhar.

—Então não entendo!- apontei- Mas porquê ele?

—É verdade.- Encarei-o, vendo o sorrir. Só a sua voz já me tirava dos nervos- Vou já avisando. O próximo oponente será a Escola Mannozaka, e o resultado será de um a zero, com a derrota da Raimon.- Tinha de ser. Era bom de mais para sermos nós a vencer- Perceberam?- virou-nos as costas e saiu do campo. Só queria bater nele.

—Fala como se tivesse a intenção de que o jogo saísse com as ordens escritas.- O Sangoku-senpai tinha razão, mas aquele maldito estava muito enganado se pensava que isso ia acontecer.

—Ou seja, se lhe fizermos caso, e fazemos o que nos dizem pode ser que depois de tudo não fechem o clube, não é?- como raios o Hayami-senpai ainda podia pensar assim?

—Tu achas?- olhei para o Kirino-senpai— O Quinto Setor não vai continuar a deixar passar todos os nossos desafios, porque seria um mau exemplo para os outros.

—Ou seja que já...- revirei os olhos. O Hayami-senpai cansava-me a paciência.

—Sim. O clube de futebol já está acabado.- O Minamisawa-senpai não era pior.

—Ou não...

—Mas isto é muito injusto!- antes o Tenma que eu- Porque não podemos jogar ao autêntico futebol? É injusto! Isto tudo está muito mal. De certeza que o futebol pensa o mesmo.

—O problema não é não poder...- encarei os veteranos. Já estava farta de fazer de novata simpática. Tentei, mas a minha paciência tinha limites- É não querer, não é assim, senpais?

—Para começar vocês são os culpados de tudo isto.- Agora o Kurama-senpai acusava-nos? Se não nos escondemos é por alguma razão- Se não tivessem entrado no clube de futebol, não disto tinha acontecido.- Era a primeira vez que o via tão irritado- Que o sistema atual é injusto? Que somos uns cobardes? Isso já nós sabíamos desde o principio. Mas seguimos em frente apesar de tudo para podermos continuar a jogar futebol.- Encarou-nos- Por isso parem de tentar tirar-nos os futebol!

—Nunca foi isso que quisemos fazer!

—Tirar? Eu só quero que o autêntico futebol...

—E olhem só qual foi o resultado! Tiraram-nos o futebol a todos. É culpa vossa!

Jamais fora aquela a minha intenção. Nunca tinha pensado sequer nisso. Muito pelo contrário, o meu objetivo foi sempre devolver o futebol para todos, que a Raimon e todos os clubes de futebol do país deixassem de ser controlados pelo Quinto Setor. Creio que estava... Muito enganada. Olhei para o Tenma. Estava cabisbaixo e bastante infeliz. Não que eu não estivesse. Tinha a cabeça a mil e o sentimento de culpa era enorme naquele momento.

—Desculpe, treinador.- Olhei para o Minamisawa-senpai. Estava frente a frente com o meu tio.

—O que se passa?

—Quero deixar o clube.- Ficamos todos chocados.

—Como assim deixa-lo? A sério?- os do terceiro ano pareciam os mais chocados.

—Sim. Já não posso continuar com isto.

—A sério que queres ir?- era só isso que ele tinha para dizer?! Não ia tentar para-lo? Nada?!

—Sim.- Curvou-se antes de começar a ir embora.

—Treinador!- corri até ele- Não pensa fazer nada?- limitou-se a sorrir e a encolher os ombros.

—A decisão cabe apenas ao Minamisawa.

—Mas tio Endou...

—Os únicos que estão a destruir o clube de futebol da Raimon não é o Quinto Setor nem o Tsurugi Kyousuke. Os únicos culpados são vocês!

*

As palavras do Kurama-senpai não me saíram da cabeça o resto da tarde. O meu treino foi uma miséria e quase não serviu nem como aquecimento. A minha concentração era simplesmente zero. Sentia-me muito culpada. Talvez só estivesse a pensar em mim. Creio que só estava a pensar que tinha de fazer com que todos jogassem o autêntico futebol só para que eu pudesse jogar também. Estive a ser egoísta este tempo todo e não pensei no que os outros podiam sentir, apenas naquilo que eu queria e acabei por magoar toda a gente.

Acabei por sair da escola tarde. Não queria ir para casa tão cedo nem estar com ninguém, acabei por ficar na biblioteca a estudar após o treino. Pensei que não iria encontrar pessoas na escola, mas ao passar pelo antigo clube de futebol, vi em frente a ele, a sorrir, o meu tio. Suspirei e aproximei-me. Agora entendia porque razão tentava evitar que eu falasse mais do que devia.

—Os nossos rivais desta vez são bastante fortes.- Estava a falar sozinho?- O farias tu no meu lugar, Malina?- a minha... Mãe?

—Tio Endou?- voltou-se para trás e sorriu-me- Sou uma pessoa bastante por ter nascido e crescido numa família que ama tanto o futebol e joga-lo é o que realmente me faz mais feliz, ainda mais quando entrei na Raimon onde sempre quis estar.- Aproximei-me- Não me importa o que me aconteça se continuarmos a jogar assim durante as partidas, mas estou preocupada com os outros.- Parei diante dele. Nem lhe conseguia olhar nos olhos, só sentia as lágrimas a quererem sair- Como mais um membro, também devo cuidar dos meus companheiros, mas... Talvez só estive a pensar em mim mesma. O que devo fazer?- vi-o andar e quando levantei a cabeça estava voltado para o barracão, com a mão em cima da placa de madeira que dizia "Clube de Futebol". Fora ali o seu próprio clube.

—Sabes porque razão voltei à Raimon?- encarou-me seriamente- Para poder acabar com o Quinto Setor.- Fiquei boquiaberta. Honestamente aquilo não me surpreendia, mas a honestidade no seu olhar e nas suas palavras, bem como a convicção de ambos, era assustador.

—Isso é... A sério?

—O futebol usado para definir o valor das pessoas, não é futebol. Que o Quinto Setor decida o resultado dos jogos é errado.

—Sim.

—Mas todos aqui são muito fortes, por essa mesma razão, voltei à Raimon, para encontrar companheiros que lutassem a meu lado.

—Encontrar companheiros?- sorriu, assentindo. Olhou para a palma da mão, satisfeito.

—O que um não pode conseguir sozinho, pode acontecer se todos juntarmos as nossas forças.- E fechou-a num punho, convicto nas suas palavras- E quero mudar o mundo do futebol juvenil com vocês a meu lado.

—Tio...

—Eu já estou decidido. Agora só resta que vocês tomem uma decisão. O que vão escolher? O autêntico futebol ou continuaram a inclinar-se perante o Quinto Setor?

—Não! Claro que não! Eu quero jogar futebol, quero jogar o verdadeiro futebol aqui, na Raimon, com os companheiros que tenho. Sem resultados definidos, sem ordens do Quinto Setor. Quero poder recuperar o futebol que tu, os meus pais e os vossos companheiros mostraram naquela altura, mas... Não sei se isso é o melhor para todos.- Caminhou até mim e pousou-me a mão sobre o ombro.

—Dentro de pouco tempo saberás a resposta, Meiko.- Levantei a cabeça e voltei-me para ele, vendo-o ir embora. O que queria dizer com aquilo?- Não precisas de ir buscar o teu irmão. Ele hoje não tem consulta.- Acenou- Vemo-nos em casa.

Fiquei uns minutos diante do velho barracão sem saber o que pensar. Não sabia o que fazer. Tinha noção do que queria, mas talvez não fosse o melhor para todos. Fui egoísta e agora via isso. Estava cega por aquilo que eu queria que não tentava ver o que era melhor para todos. Saí pela rua fora com esses mesmos pensamentos, dirigindo-me ao hospital. Talvez junto da minha mãe tivesse um pouco de paz. Porém, estava a ver que seria impossível isso mesmo antes de lá chegar ao dar de cara com o Tsurugi a sair de lá.

—Tsurugi!- não me viu, mas não resisti a chama-lo. Olhou-me lado junto à passadeira. Corri até ele- Tsurugi, a sério que não queres jogar ao autêntico futebol? Porque tu também...- não respondeu e atravessou a rua assim que o sinal para os peões ficou verde- Tu também sentiste a emoção, a alegria de correr como um louco atrás da bola, não é verdade? Tu também já jogaste a este futebol.- Continuou a andar- Responde-me!- mas não me fez caso.

Voltei-lhe as costas também, aborrecida. Corri para o interior do hospital e fui rapidamente para o quarto da minha mãe sem cumprimentar ninguém, nem mesmo pelo elevador esperei, preferindo subir as escadas a correr. Cheguei ao quarto dela, observando-a, como sempre, calma e serena no seu profundo sono. Agarrei na sua mão - era impressionante como estava sempre quente apesar de passar os dias quieta - e apertei-a entre as minhas. Não consegui evitar que as lágrimas saíssem.

—O que farias se estivesses aqui, mãe?- senti-a os joelhos ceder- Preciso de ti.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews?!
Kissus!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "White Angel" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.