Still escrita por Esthellar


Capítulo 1
Quando eu me perdi nos teus olhos...


Notas iniciais do capítulo

Hey, pessoal! Tudo bom? :B
Não vou me demorar muito por aqui, então, já aviso de antemão que esta é a minha primeira fanfic Jeongcheol, viu? Espero de coração que cês gostem! ♥

Música: Trust Me - The Fray



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Quantas vezes você já passou pelo amor de sua vida, sem nem ao menos saber?

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A escada rangeu. Os pés cobertos pelos tênis brancos desceram-na com extrema velocidade, fugindo. Fugindo de tudo o que aquele apartamento trazia, das boas e más lembranças, das palavras, da angústia. As lágrimas corriam em demasia pelo rosto alvo do rapaz e por mais que ele tentasse enxugá-lo, o pranto não cessava.

Chegou à garagem e procurou com uma das mãos a chave do carro, em um dos bolsos da calça jeans. Estava tremendo. Por fim, encontrou-a e com muito esforço conseguiu colocá-la na fechadura, abrindo, assim, a porta do veículo.

Entrou. E ao se sentir naquele ambiente quente e aconchegante o choro se tornou mais intenso. Estava tudo acabado. O namoro de cinco anos de pura entrega, de amor, havia terminado. E, por mais que Jeonghan soubesse que tinha sido melhor para os dois, uma vez que Joshua voltaria a morar em seu país de origem e um namoro à distância só os desgastaria ainda mais, aquilo não fazia sua dor ser nem um pouco menor.

— O que eu vou fazer agora? — perguntou a si mesmo, inclinando a cabeça para trás e deixando que as lágrimas corressem livremente por suas bochechas rosadas, molhando seus cabelos castanhos.

Respirou pesadamente. Precisava sair dali, sair daquele lugar que fazia com que viessem à tona as suas memórias. Ligou o carro e partiu, sem rumo, para sabe lá onde.

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Procurando por algo que eu nunca tenha visto

Sozinho e entre

O lugar do qual vim e o lugar no qual estou

Uma cidade em que eu nunca estive

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O volante estremeceu. O soco que o homem lhe havia dado expressava toda a raiva que esse sentia, naquele momento.

— Rejeitada?! — murmurou incrédulo.

Ele e Jihoon haviam dado tudo de si naquela empresa, tinham sempre feito os melhores projetos e dado as melhores ideias, haviam passado noites acordados para suprir as necessidades dos superiores… para terem sua grande ideia rejeitada? Aquela era sua sacada final, sua proposta brilhante, seu projeto mais bem elaborado e tudo aquilo tinha ido para o ralo? Seungcheol não conseguia acreditar.

Não que fosse um cara petulante e cheio de si, mas o sorriso cínico de seu chefe ao final da reunião não saía de sua cabeça. Toda aquela soberba, aquele ar de superioridade, aquele olhar de quem os enxergava como meros capachos… Ah, como ele odiava aquilo tudo.

Seungcheol passou a mãos por entre os cabelos negros, irritado. Há quantos anos trabalhava naquela agência publicitária? Nem ele se lembrava mais. Havia praticamente fundado a empresa e dado todo o seu suor pelo crescimento dela. Talvez tivesse perdido tempo? Talvez tivesse desperdiçado vários anos de seus preciosos vinte e quatro? Sim, talvez. Mas ele não se daria por vencido, não daquela maneira. Por mais que estivesse com raiva, não desistiria, nem por ele nem por Jihoon, seu melhor amigo de infância e parceiro para toda a vida. Eles ainda dariam a volta por cima e fundariam sua própria agência, como sócios.

Ou então, ele não seria Choi Seungcheol.

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Jeonghan dirigiu pelas ruas, agora úmidas pela chuva que começara a cair, sem destino. Não sabia para onde estava indo, contanto que fosse para bem longe de onde o ex-namorado pudesse estar. No caminho, pensou em todos os momentos que ambos haviam passado juntos. Tantas felicidades... E de uma hora para outra, tudo estava acabado. Olhou para o anel de prata que reluzia na mão direita e, num movimento rápido, arrancou-o e o jogou pela janela do carro.

Será que as coisas teriam sido diferentes se Jeonghan tivesse resolvido largar tudo e aceitado ir embora com Joshua? Será que eles ainda estariam juntos? O pranto veio com ainda mais força ao pensar naquilo, porque ele sabia a resposta para aquelas perguntas.

Já fazia algum tempo desde que o relacionamento dos dois havia esfriado e se tornado apenas uma boa amizade, mas ambos preferiram fechar os olhos para a situação e apenas continuar com aquilo. O problema é que as brigas começaram a surgir e ficar cada vez mais intensas, até que Joshua decidiu que seria melhor para ambos que o namoro tivesse um fim. Mas mesmo que Jeonghan soubesse que aquela talvez tivesse sido a decisão mais sensata, não podia evitar a dor que sentia. O passado, o tempo... Tudo aquilo poderia ser destruidor.

Quando entrou numa rua, percebeu que o trânsito estava parado. E não soube ao certo se deveria ficar irritado com o acontecimento ou se deveria agradecer por poder chorar em paz, por algum tempo.

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Quando Seungcheol virou a esquina, viu os vários carros parados, um atrás do outro, presos num engarrafamento que parecia não ter fim.

— Só me faltava essa… — ele disse, não querendo acreditar que aquilo estava acontecendo. Como se já não bastasse todos os problemas daquele dia, ainda teria que enfrentar o maldito trânsito? Teve vontade de sair socando qualquer coisa que estivesse ao seu alcance e realmente quase o fez, mas desistiu. O volante poderia fazer esse trabalho, mas o barulho da buzina irritaria até mesmo ele.

Respirou fundo. E se contasse até mil? Tentou. Não deu certo. Então, simplesmente apoiou a cabeça sobre os braços e fechou os olhos. Demoraria muito para aquele dia acabar? Com mais um suspiro, levantou a mirada e olhou para o lado. Carros, carros e mais carros. Buzinas, pessoas reclamando, alguns saindo de seus veículos, nervosos.

Olhou para o outro lado. Então, viu algo que não esperava ver naquele dia tão cinzento, mas ainda assim, quente: um montinho de tecido acolchoado, jogado sobre o volante do veículo que jazia ao lado do seu. Quem, em sã consciência vestiria um casaco tão grosso e se tamparia dos pés a cabeça com um calor daqueles? Tudo bem que havia chovido, mas definitivamente não estava frio e se não fosse pelas janelas abertas de seu veículo — uma vez que seu ar-condicionado havia quebrado —, Seungcheol provavelmente estaria suando em bicas.

Ficou olhando para aquela pessoa, ali, curvada sobre os próprios braços, o rosto até então desconhecido, e notou que, de vez em quando, seu corpo se contraía. Parecia um soluço. Estaria chorando?

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Ele arfou, cansado de chorar. Olhou para as coxas cobertas pela calça jeans e pôde ver inúmeros pingos ali, indicando os locais onde suas lágrimas haviam caído. Levantou a cabeça e olhou para frente. Nenhum sinal de que o trânsito iria andar. Então, sentiu uma sensação estranha, como se algo tivesse queimando do seu lado esquerdo. E quando virou o rosto para olhar, uma coisa aconteceu.

Ele se perdeu nos olhos de alguém que nunca tinha visto na vida.

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O tráfego está perfeitamente parado...

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Quando Seungcheol viu aquele rosto se mover em sua direção, seu coração parou de bater por alguns milésimos de segundo. Aquela face pálida como uma porcelana, mas que trazia, ao mesmo tempo, as bochechas e o nariz pincelados de um rubor muito vivo. Os lábios, também rosados, entreabertos, eram tão bem delineados, que pareciam pedir por um beijo a qualquer momento. E os olhos... Ah, os olhos eram de marrom muito profundo, quase pretos, mas Seungcheol podia jurar que seu tom clarearia sob o sol. Eram olhos oblíquos, secretos, felinos e pareciam emaranhar toda a sua beleza ao redor dele, prendendo-o naquela eterna mirada.

Jeonghan, por sua vez, não conseguia tirar os olhos daquele homem que parecia tão próximo a ele. Era como se quase pudesse sentir sua respiração quente, como se quase pudesse sentir seu tato, como se quase pudesse  senti-lo por inteiro.

Não existia mais coração partido. Na verdade, ainda existia, mas, por alguns segundos, tudo parecia totalmente diferente. As lágrimas há muito haviam secado, porque ele já não via mais motivos para chorar. Estava absorto demais naquelas duas hematitas que o encaravam, como se fossem devorá-lo. Absorto demais naqueles cabelos tão negros quanto madrugada, bagunçados, como se tivesse acabado de acordar. E ele pôde ver, mesmo que o próprio homem talvez não tivesse percebido tal feito, ele dizer um “Não chore”.

Ele desejou, por um segundo, cravar seus pálidos dedos naqueles cabelos tão escuros, permitir que esses fossem enredados, presos, permitir que o contraste entre o preto e o branco fosse feito. Quis tomá-lo de assalto, abraçá-lo, e olhar mais de perto aquele rosto afiado, os olhos dissimulados, o nariz afilado e os lábios como se ele pudesse beijar a qualquer hora do dia.

E naquele momento, naquele segundo, ou minuto, ou hora, ou eternidade, o mundo parou para os dois. Porque o mundo sempre para quando dois corpos, tão desconhecidamente conhecidos, se encontram pela primeira vez.

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Estamos apenas nos revezando

Segurando este mundo

É como sempre foi

Quando for mais velho, você entenderá.

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Então, uma buzina estridente soou. O transe se quebrara e ambos pularam em seus respectivos bancos, alarmados. Ficaram daquele jeito por quanto tempo? Seungcheol ajeitou-se dentro do carro, sem tirar os olhos daquele homem. Qual seria seu nome? Quantos anos ele tinha? O que fazia da vida? Jeonghan se fazia as mesmas perguntas.

A pessoa atrás dele continuou a buzinar, afinal, o trânsito finalmente tinha voltado a andar, mas, por mais incrível que aquilo parecesse, ele não havia ficado feliz . Lançou uma última mirada àquele rapaz, àqueles olhos, àquele Jeonghan, que ele jamais veria novamente. Lançou uma última mirada e desejou não ser mais ele mesmo e sim alguém que o conhecia de verdade, alguém que estaria ao lado dele todos os dias.

Jeonghan desejou o mesmo. Então, deu partida e seus olhos castanhos foram seguindo o veículo prata, como se sua vida dependesse daquilo. E sorriu, o coração repleto de um sentimento quente e gostoso, o choro de outrora, esquecido.

Seguiu seu rumo também e quando olhou para o céu, percebeu que já não chovia, o dia estava claro novamente.

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Na metade daquele caminho para lugar nenhum, o celular de Jeonghan tocou. Parou o carro no acostamento, ainda sem conseguir tirar da cabeça aqueles olhos tão negros em que havia se perdido minutos atrás.

Olhou para a tela do aparelho e viu piscando raivosamente o nome Aegi. Atendeu.

— Hey, Chan.

Hey? Como assim “hey”, hyung? Onde você está? — ele perguntou, parecendo aflito. Ah, Chan era tão jovem, mas costumava se desesperar tão fácil… Jeonghan sorriu.

— Estou na rua — respondeu o homem, torcendo para que o mais novo não perguntasse com exatidão onde ele estava, porque, àquela altura, nem ele sabia. E agora, parando para pensar, não poderia voltar para casa, não a mesma casa em que Joshua morava. Até o dia em que ele fosse viajar, uma vez que o apartamento era de Jeonghan, ele teria que arrumar algum lugar para ficar, porque ambos estavam doídos demais para terem que se enfrentar novamente. Pensou em ficar no apartamento que o garoto do outro lado da linha dividia com Soonyoung, também um de seus amigos, mas aquela já era outra história.

Hyung, você não imagina o caos que está este restaurante! Mingyu hyung machucou um pouco a mão enquanto fazia um prato e, como Seungkwan hyung precisou faltar hoje, Seokmin hyung disse que assumiria seu posto, mas foi um pandemônio! Ele vai tacar fogo na cozinha, eu juro para você! — o outro contou, quase gritando, e Jeonghan abafou uma risada. Era incrível como ele conseguia fazê-lo rir com seu jeito de relatar as coisas. “Fofo”, ele pensou.

Depois de algum tempo de falatório unilateral, Chan suspirou pesadamente.

Ei, hyung, você está aí ainda?

— Sim, estou — ele respondeu.

Olha só, lembra que você me falou sobre fazer uma propaganda para o restaurante? — Jeonghan murmurou que sim. Ele prosseguiu. — Então, eu liguei para algumas agências de publicidade e encontrei uma que parece fazer um trabalho bem legal, sabe? Me disseram para falar com um tal de… Como era o nome dele mesmo? Era Choi alguma coisa… — Chan pareceu procurar algo do outro lado da linha, provavelmente um papel onde ele tinha escrito o nome da pessoa, enquanto Jeonghan apenas aguardava pacientemente. — Achei! Choi Seungcheol. É esse o nome. Mas ele tinha saído mais cedo, então, me pediram para ligar amanhã de novo.

— Tudo bem, quando eu chegar aí, você me passa as informações sobre a agência e eu vou pessoalmente até lá, amanhã.

Ok. Agora, por favor, venha pra cá logo, hyung! Este restaurante não funciona sem você aqui e eu ainda sou muito jovem para morrer queimado, tá? — Jeonghan riu, enquanto o mais novo continuava resmungando. — Eu ainda preciso me casar!

— Você não pode se casar enquanto ainda for um bebê. — Chan se preparou para objetar, mas desistiu ao escutar a risada de Jeonghan novamente. — Me espere, chego em alguns minutos — ele respondeu e, depois de se despedir do outro, desligou o celular e voltou a dirigir, dessa vez, rumo ao restaurante do qual era dono. — Choi Seungcheol… — murmurou. Olhou mais uma vez para o céu, notando o belíssimo arco-íris que se formara e sorriu. — Seungcheol é um bom nome.

Então, o carro azul-marinho sumiu na amplitude daquela estrada, levando-o de volta à realidade. E ele, assim como Seungcheol, não sabia, mas naquele fatídico dia, havia passado pelo amor de sua vida, num trânsito congestionado. E passaria, quem sabe, muitas outras vezes mais.

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Estamos apenas nos revezando

Segurando este mundo

É como sempre foi

Quando for mais velho, você entenderá.

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FIM


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Notas finais do capítulo

Pessoal, espero que cês tenham curtido! Por favor, deixem comentários com o feedback de vocês, positivo ou negativo, pra que eu possa mudar da próxima vez.
Ah, mais uma coisa: essa fanfic JÁ FOI POSTADA ANTES AQUI, mas com outro nome ("Stopped") e com os personagens diferentes, de outro fandom. De qualquer forma, a história É MINHA, eu só reescrevi porque achei que JeongCheol super se encaixaria :'))
Por isso, também, apesar de o final ter ficado em aberto, não vai rolar uma sequência, porque eu originalmente escrevi essa história em 2013 e a criatividade, pra ela, não vem mais. Desculpa por isso D: Mas eu com certeza escreverei mais JeongCheol, então, me aguardem!
Au revoir ♥



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