Allena se encontrava em frente ao portão enferrujado da sua nova “casa”. Como era o mais barato dos dormitórios da Universidade, ele também era o mais distante do mesmo que, pelos cálculos dela, eram doze quilômetros. Colocando um sorriso no rosto, adentrou pelo portão, encontrando uma pequena escadaria que dava acesso aos quartos. Com malas em mãos, a mesma subiu dando de cara com duas portas, meio desgastadas, com um buraco servindo como correio. As pinturas, assim como as portas, precisavam de uma boa reforma, aquilo parecia ser mais um local abandonado do que um dormitório. Como uma das portas estava entreaberta, pensando ser seu quarto, entrou.

— Até parece que estou indo morar com os ratos. — resmungou para si mesma ao notar algumas teias de aranha na entrada.

Como estava cansada demais para reparar em tudo, foi direto ao quarto. Deixou suas malas no chão e foi arrumar a roupa de cama para deitar, no entanto, o que viu foi um amontoado de cobertas, devia ter no mínimo umas sete cobertas se duvidar. Curiosa, foi até lá e puxou-as, o que a fez arregalar os olhos com o que viu.

— T-Tarado!! Pervertido!! Sem vergonha!! Doente!! — gritou enquanto pegava uma vassoura que havia no canto, para logo bater no homem que estava dormindo em sua frente. — Cai fora do meu quarto!

— Seu quarto? Esse quarto é meu! Quem é você? O que diabos está fazendo aqui, cabelo de caipora? — reclamava o homem alarmado, enquanto se defendia das vassouradas. — Dá para você parar de me espancar? Isso dói, sua maluca!

Assim que Allena parou, o mesmo acendeu a luz, revelando uma garota de estatura mediana, cabelos – se é assim que poderia ser chamado -- castanhos cheio de mechas bagunçadas, com um óculos sem lente e uma roupa tirada de algum circo. Parecia que ele estava pronto para ser assassinado pelo Chuck, o boneco assassino versão feminina.

— É sexta-feira 13 e não me contaram? — perguntou mais para si mesmo do que para a garota. — Aliás quem é você?

— Sou Allena “Raaawr” — respondeu fazendo gesto de garras com as mãos agora livres da vassoura. — E você?

— Alien o quê? — perguntou confuso, apesar de ter escutado bem o primeiro nome.

— Allena Lion. Leão, raaawr, entendeu? — explicava refazendo o gesto com as mãos novamente.

— É, você realmente tem um cabelo que parece uma juba. — provocou-a, fazendo a mesma ficar vermelha, só não sabia se era de vergonha ou de raiva.

— Ora seu...

— Willian Michels. — interrompeu antes que um palavrão fosse pronunciado. — Então, Allena Raaawr, se não se importa eu gostaria de voltar a dormir porque já são 23hrs da noite, ou seja, estou expulsando você daqui. Boa noite, apague a luz e feche a porta.

— N-Não pense em voltar para baixo das cobertas! — gritou impedindo a passagem de William até a cama. — Quero que me leve até meu quarto para caso tenha outro tarado na cama.

— Você só pode estar de brincadeira comigo. — choramingou puxando seus cabelos para baixo. — Tá, tá, então vamos logo, visão do inferno!

— Dá para você parar de criticar minha aparência? Você também não é nenhum Johnny Depp, seu gadeiudo. — Allena já estava com suas malas seguindo atrás de Willian pelo corredor. Assim que passou pela porta de entrada que ele abriu para ela, a mesma foi fechada bruscamente, fazendo-a ouvir um breve “Suma daqui.” — Deus me livre ter um humor desse. Há quem ature, eu hein.

                ~~

Willian acordou no meio da noite com barulhos, rapidamente já começou a amaldiçoar sua nova “vizinha”. Impaciente, saiu de sua confortável cama, indo em direção ao dormitório ao lado, socando a porta.

— Abra essa porcaria!! — sem demora, a garota já estava em sua frente. — Você sabe que horas são?

— Três e quarenta da manhã? — respondeu como se fosse óbvio.

— Aaaarg!! Só de olhar pra você eu fico irritado! Dá para você ser uma pessoa normal e dormir? O que você está fazendo aí pra causar tanto barulho? — se exaltou. Aquela garota o tirava do sério. Ela era tão... fora da casinha em todos os sentidos.    

— Estou limpando essa toca de rato. Sério, você já olhou o tamanho dessas teias de aranhas? Dá para usar como coberta!! — explicou fazendo caretas a cada palavra. Então ela parou, olhou para os lados e sussurrou — Sabia que esse horário os espíritos vagam por aí atormentar? Não deveria estar perambulando aí, vá dormir, Sr. Irritadinho.

— Sério? Acho que estou vendo um espírito me atormentando bem na minha frente agora!! Quer saber? Vou dormir, e se eu ouvir mais um barulho eu raspo isso que você chama de cabelo! Que saco! — saiu bufando de raiva. Realmente, aquela Allena era uma louca.

— Não duvido nada ele cortar meu lindo cabelinho, melhor eu dormir mesmo... Garoto chato. — então rindo, fechou a porta.

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— O que é que você está fazendo aqui? — perguntou incrédulo, enquanto encarava Allena parada em sua porta.

— Eu senti cheiro de café e torradas. — disse envergonhada.

— E eu com i-... O que foi esse barulho? Não me diga que é sua barriga roncando... — chocado com o som alto, ele riu. — Lion, realmente, combina com você, deve ter dois leões no seu estômago.

— Eu não sei cozinhar! Eu estou com muita fome, então por favor, me dá comida! — implorou grudando em uma das pernas de Will. — Não te solto se não me chamar pra comer com você!!

— Quem raios vem morar sozinha e não sabe cozinhar? O que você tem nessa cabeça de vento tirando essa juba? — como não recebeu nenhuma resposta, e a barriga da maluca não parava de roncar, ele se deu por vencido. — Eu devo ter sido Judas na vida passada pra estar sofrendo desse jeito agora. — lamentou suspirando. — Entre aí, encosto dos infernos.