A Guerra pelo Graal...

Desde quando essa minha grande jornada post mortem começara, meu único anseio era revê-lo a cada edição. Mesmo que, ao fim, tivéssemos que lutar um contra o outro, ainda assim valia a pena. Em batalha, nossas armas se colidiam e o soar dos metais cantavam nossa honra; na calada da noite, longe dos olhos dos mestres, nossos lábios selavam a saudade de outrora, e nossas almas, cúmplices das juras eternas. Ainda que tão breve, como sempre o fora, vivemos cada segundo, cada toque, cada palavra...

Por longo tempo, adiamos nossa felicidade por conta de nossas obrigações; por longos anos, eu o esperei, nem que fosse tão somente para vê-lo cavalgar ao longe. Todavia, esse dia nunca chegou, pois, a morte foi muito mais rápida do que ele e, sem poder lhe dizer um último adeus, eu o havia deixado.

Quando nos reencontramos, bem longe de nosso tempo, não havia Gráinne nem Camelot para nos separar.

Inúmeros duelos já travamos, mais de uma Guerra Santa participamos. Ainda que estivesse feliz de revê-lo por várias vezes, meu desejo sempre havia sido exatamente o mesmo – não queria alterar o passado como muitos; apenas queria poder viver uma nova vida com ele para que, juntos, pudéssemos escrever nosso felizes para sempre.

Agora, recostado sobre meu peito, ele mostra seu semblante calmo e sereno, adormecido. Sua graciosidade é tamanha que, quando me pego, já estou esboçando um terno sorriso. Os dias sombrios e sangrentos agora faziam parte tão somente do passado. Tão surreal para ser real, mas tão maravilhoso para não querer que isso seja apenas um sonho – nossos dias agora eram todos assim, como a calmaria dos campos da Irlanda. Foi nesse mundo agitado e ansioso que havia se transformado os dias de hoje, que nós encontramos a paz e a tranquilidade que tanto procurávamos; sem amarras, sem servidão, sem Graal— tão somente por nós mesmos.

Suavemente, levei meus lábios aos dele, ainda que ele não estivesse acordado, e então os selei enquanto acariciava sua face com delicadeza. Ouvi-o grunhir, sonolento, mas não tardou muito a sentir reciprocidade naquele ato tão sublime. Mesmo com os olhos fechados, eu pude sentir seus afagos em meus cabelos. Com cuidado, eu o trazia mais para mim, passando a acariciar a pele marcada de suas costas, as quais denunciavam as tantas batalhas que ele havia passado. Senti-o estremecer, tão frágil, como somente era comigo e então, ao fim do ósculo, entreabri meus olhos para poder encontrar com os dele. Sorri para o mesmo quando ele assim o fez para mim, tão amável. Acariciei seus lábios com o polegar enquanto o segurava nos braços. Sem dizer nada, eu apenas permaneci a contemplar sua beleza, os traços com os quais tanto sonhei.

— É maravilhoso poder acordar com você ao meu lado.

Disse ele ao levar sua mão sobre a minha, acariciando-a. Em seu sorriso, eu podia ver felicidade e isso era tudo para mim. Com ternura, eu continuava a acariciar seu rosto, agora levando meus lábios à testa dele em um sutil e delicado beijo protetor. Em seguida, então, eu o abracei forte, como se, assim, eu pudesse me unir a ele.

— É maravilhoso poder viver com você, Arthur Pendragon... Meu rei e eterno amor.