Narrador

— Vou sentir sua falta! – Disse a menina de onze anos de idade com os olhos marejados.

— Eu também vou! – O garoto, um pouco mais velho do que ela, falou, mantendo-se forte diante da menina.

Ela o envolveu num abraço forte. Algumas poucas lágrimas escorriam por seu rosto sem permissão, não queria chorar, mas não conseguiu evitar.

O garoto de treze anos devolveu o abraço. Eles haviam se apegado bastante durante o pouco tempo em que estiveram juntos. Não sabiam o que sentiam, eram crianças, porém ele tinha uma leve noção do sentimento que possuía pela menina. Ela, por outro lado, sentia-se confusa e triste por ter que deixá-lo para trás.

Depois de um longo abraço, eles se olharam fixamente, como se estivessem se despedindo apenas pelo olhar, sem palavras. Após um tempo em silêncio, ela o quebrou perguntando:

— Vamos nos encontrar novamente um dia, certo?

— Claro! – Respondeu simples com um leve sorriso.

— Promete que nunca irá se esquecer de mim? – Questionou a garotinha o olhando esperançosa. – E mesmo que demore anos para nos encontrarmos, promete também que vai me reconhecer? – Finalizou.

— Prometo! – Ele respondeu firme, ainda com um leve sorriso.

Ela retribuiu o sorriso, só que mais aberto mostrando os seus dentes brancos e perfeitos.

***

Dez Anos Depois...

Trafalgar Law caminhava com alguns dos seus aliados pelas ruas daquele vilarejo. Ele andava calados e quieto, diferente dos outros que conversavam animadamente.

Dez anos haviam se passado. E mesmo assim, nunca esqueceu aquela garotinha pequena, de pele alva, olhos claros e cabelos curtos, lisos e extremamente escuros.

O homem de agora vinte e três anos ainda si perguntava se ela estava bem, como ela estava, se ela havia mudado tanto quanto ele em questão de aparência e personalidade. É claro que sua aparência mudaria com o tempo, mas seria tanto assim?

Suspirou pesado e sacudiu um pouco a cabeça na tentativa de dispersar seus pensamentos. Vez ou outra acabava por pensar na menina e começar a fazer questionamentos sem respostas. Passou os olhos acinzentados em volta da rua, até parar em uma figura feminina conversando com um feirante animadamente enquanto fazia suas compras.

Era ela! Tinha certeza absoluta daquilo. Depois de tantos anos sem vê-la, estava achando que realmente nunca mais a veria de novo.

Ali, apenas a alguns metros a sua frente, suas perguntas que tanto fazia a si mesmo eram em parte respondidas. Ela parecia estar perfeitamente bem; e estava linda, tornou-se uma bela mulher. Seu corpo agora cheio de curvas, sua pele continuava tão branca quanto a neve, seu rosto havia mudado um pouco – agora estava um pouco mais longo, mas continuava delicado –, boca rosada com lábios finos, olhos redondos e extremamente claros, magníficos e brilhantes. Cabelos negros e lisos que antes eram curtos e retos, agora iam até a altura de seu quadril e com uma franja curta na testa.

Law tinha receio de ela não reconhecê-lo. Afinal, ele também havia mudado bastante. Estava bem alto; corpo magro, porém musculoso e pele morena. Cabelos negros/azulados, desgrenhados e curtos cobertos por um boné branco, felpudo e com manchinhas pretas quase sempre. Costeletas e um pequeno cavanhaque no queixo. Olhos cinza/dourado e com olheiras fracas abaixo. Possuía também brincos em ambas as orelhas e várias tatuagens tribais em suas costas, seu tórax, ambos os ombros, braços, costas das mãos e todos os dedos.

Law não sabia se ia até a mulher a sua frente ou não. Afinal, dez anos se passaram. No entanto, enquanto estava confuso em ir ou não até ela, a mulher de, agora, vinte e um anos virou e acabou o olhando nos olhos. Law sentiu seu corpo estremecer, sua respiração e coração acelerar e ele não conseguia se mexer.

O olhar inicial dela era de confusão. Ele chegou a pensar que ela o havia esquecido ou não o tinha reconhecido. Uma tristeza enorme estava quase lhe invadindo. Até que ela sorriu! Um sorriso aberto, mostrando seus dentes brancos e perfeitamente alinhados. O coração do rapaz agora acelerou ainda mais. Ela começou a caminhar em direção a ele. Law continuou imóvel, esperando até que ela chegasse até ele. Ela parou em sua frente, ainda sorrindo abertamente e o olhando nos olhos.

— Há quanto tempo, Law! Senti sua falta!

Fim!