Slytherin Past escrita por Gaia


Capítulo 3
Rowle




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Jesse entrou no quarto com uma expressão de suicídio. Esse era o efeito que alguém tinha quando ficava com os meus pais por muito tempo, aposto que eles o encheram com fofocas de família e mandou ele repassar tudo para os pais. Ele estava com algumas coisas em mãos que me fez rir.

— Pára com isso. – ele soltou faíscas pelo olhar. – Já decidiram o que vamos fazer?

Eu fiquei o encarando sem saber o que fazer, quando CeCe se colocou na minha frente e disse:

— Vamos acampar.

Me segurei para não atacá-la e falar que aquela era a pior ideia do mundo. Primeiro porque a Travessa do Tranco ficava em Londres, segundo porque isso não explicava o porque iriamos trazer vampiros para minha casa e enfeitiçá-la.

Ela deve ter percebido a minha ansiedade, porque foi rápida ao completar:

— Mas antes temos que passar no Beco Diagonal para comprar algumas coisas.

Jesse a encarou com incredulidade.

— Você está louca? Pra que? O Beco Diagonal está cheio de Comensais da Morte.

— E eu sou uma Rowle, uma das Vinte e Oito Sagradas. – CeCe falou e eu fiquei a encarando esperando uma explicação. Eu não fazia ideia do que ela estava falando, mas Jesse pareceu entender.

— Mesmo assim, Ce. A sua família ainda não se posicionou na guerra, talvez isso seja ainda mais perigoso. E todos sabem que o Diretório Puro-Sangue é completamente batido à essa altura.

— Gente, por favor. Traduzam. Nascida trouxa, lembram? – apontei. Apesar de eu não ter sido nascida trouxa de verdade, eu não sabia de nada da história do mundo bruxo, a não ser o que eu tinha aprendido nas aulas, o que, convenhamos, não ajudou muito.

— O Diretório Puro-Sangue pode ser batido, mas a minha família nunca deplorou a nossa inclusão. Todos sabem que somos realmente puro-sangue, isso conta mais do que qualquer posicionamento. Que eu saiba, eles estão indo atrás de sangue-ruins e não de quem é contra o regime. – Beatrice retrucou, me ignorando completamente.

Jesse bufou.

— De qualquer jeito, não é um risco que vale a pena correr, só para comprarmos mantimentos para acampar!

— Mas...

— Gente! – interrompi.  – Alguém por favor me explica do que raios vocês estão falando?!

— Por Merlin, Liz, você já prestou alguma atenção nas nossas aulas de história? – CeCe perguntou e eu franzi a testa.

Neguei com a cabeça. Eu sabia do sobrenome das minhas amigas, só não os achava relevante o bastante para ficar lembrando toda hora. Eu aprendi tarde demais que sobrenomes eram realmente importantes. Quer dizer, eu era uma Riddle afinal e esse nome era o que me colocava em total perigo o tempo todo.

— Jesse, por favor. – ela pediu, impaciente. A culpa não era minha se eu não tinha crescido com uma família tradicional. Honestamente, CeCe conseguia ser tão arrogante às vezes... 

— Liz, o Diretório Sangue-Puro foi criado nos anos 30 e listava vinte e oito famílias que eram consideradas completamente de sangue-puro. Chamadas de Vinte Oito Sagradas. Muitas dessas famílias depois reclamaram o título, admitindo ter ancestrais trouxas, os Weasley, por exemplo. CeCe e Suzanna são parte das que nunca refutaram o título.

Imediatamente eu quis dizer: “E você? De que família você é?”, mas me mantive calada. Percebi o quanto eu não sabia da história bruxa e quantas coisas existiam além do meu umbigo. Não sabia nem da história da família de Rabastan e de minhas amigas, como podia ir atrás da minha?

— Isso é bom. – falei, sem acreditar nas minhas palavras. Se a família de CeCe estava em cima do muro, como a de Suzanna se portava? E o que isso significava para eles? Será que Voldemort estava reprimindo quem não estava do seu lado ou só nascidos trouxas, como ele tanto dizia?

Enojada com o meu próprio pensamento, olhei para o meu primo.

— Precisamos ir para o Beco Diagonal, Jesse. Não podemos acampar por ai sem uma tenda mágica e alguns artefatos úteis. – apelei.

— Vocês não podem estar falando sério. – ele retrucou.


Encarei CeCe, aquilo não estava dando certo.

— Ok, vou falar a verdade. – comecei, torcendo para que a minha mente brilhante pensasse em alguma coisa no improviso. Vi o olhar de pânico de CeCe me encarando de lado e tentei ignorar o mesmo sentimento subindo pela minha garganta. – Precisamos proteger meus pais, nós sabemos que Vol... Você-Sabe-Quem está indo atrás de trouxas. Acho que uma sonserina sangue-ruim vai chamar muita atenção.

Jesse piscou algumas vezes, intercalando seu olhar entre o meu e o de CeCe.

— Ah, então agora estão prontas para o realismo, né? Por que não falaram logo? Eu pensei a mesma coisa. Aliás, eu fiz algumas poções e trouxe alguns livros para nos preparamos para isso. Eu e Ce estamos imunes a caça de Você-Sabe-Quem, mas você não está. Eu estava achando estranho você não estar nem um pouco preocupada.

Ri de nervoso. Ele não fazia ideia do quão preocupada eu realmente estava.

— Você sempre foi boa em Feitiços, mas podemos praticar uns mais efetivos. – apontou e eu acenei com a cabeça, confusa com sua nova preocupação. Desde quando Jesse sabia da minha capacidade com feitiços e por que ele estava tão ansioso com tudo aquilo?

Ele sentou-se na minha cama e pegou um livro de feitiços de sua mochila que eu reconheci ser o do sétimo ano que não usaríamos. Por um instante, pensei que isso seria exatamente o que Suzanna iria fazer naquele momento, nos treinar para o pior.

— O que vocês pensaram em fazer com os seus pais? – ele perguntou, enquanto Beatrice sentava-se ao seu lado e folheava o livro.

— Pensei em manda-los ir viajar e colocar dois vampiros em seu lugar. – falei em voz alta, percebendo tarde demais o quão estúpida era essa ideia.

Jesse me encarou por alguns segundos e ignorou o que eu tinha acabado de falar.

— Vamos deixar seus pais na nossa casa de campo antiga abandonada e protegemos com alguns feitiços. – ele respondeu. – E se alguém vier aqui, vão acionar um mecanismo de confusão que vai fazer a pessoa ir para a casa ao lado.

— Você sabe fazer isso? – CeCe perguntou, surpresa, recebendo um aceno como resposta.

— E se não der certo? – pensei no pior. – Fora que meus vizinhos não merecem sofrer por minha causa!

— Vamos encantar a casa para parecer que ninguém morou aqui por um bom tempo e apagar a memória dos seus vizinhos. – Jesse explicou. Ele parecia ter pensado em tudo muito antes de ir para a minha casa naquela tarde. O encarei ainda mais desconfiada do que nunca. Qual era a de Jesse Bulffie?

Eu e Beatrice concordamos com o seu plano e começamos com as preparações. Primeiro, tive que convencer meus pais que o bruxo mais maléfico de todos os tempos estava solto e implantando um sistema neonazista que iria matar muita gente. Eles pareceram bem persuadidos quando eu mencionei que Dumbledore tinha morrido por causa disso.

Claro que eu não falei que não iria com eles, mas eles descobririam cedo o bastante. Prometi para eles que os encontraria no fim-de-semana depois que resolvesse alguns assuntos da minha vida escolar. Eles nunca questionavam nada sobre Hogwarts porque não entendiam nada e preferiam ficar longe das políticas brutais que achavam que adotávamos. O que era bem verdade.

Jesse era incrivelmente bom em feitiços de memórias, então enquanto ele encantava meus vizinhos, eu e CeCe nos encarregamos de tornar o meu lar em uma casa abandonada. Por causa daquele armário idiota, eu estava craque em fazer as coisas parecerem velhas e acabadas, então tirei aquela tarefa de letra.

Quando julgamos que estava tudo ok, eu encarei Jesse como se dissesse: “e agora?”.  Eu não entendia de onde tinha saído toda a preparação e meticulosidade de Jesse, mas estava vindo a calhar. Meus pais já estavam a caminho da casa de campo do meu primo e tudo parecia que ia dar certo naquele instante. Mas eu me conhecia o suficiente para saber como era a minha vida.

— Agora vamos todos para a sua casa, Ce. No fim de semana nós vamos para o campo e encantamos os arredores. Eu e Beatrice provavelmente não vamos ficar por lá para não dar tanta bandeira, mas acho que você ficará a salvo se treinarmos um pouco.

O encarei com apreensão, ele ainda não sabia que teríamos que ir em uma missão suicida para encontrar meus pais verdadeiros e que isso implicava em eu não ficar a salvo em uma casa de campo qualquer. Olhei para minha amiga com súplica no olhar e ela deu de ombros, como se não soubesse mais o que fazer.

De repente, ouvi um barulho bem alto de alguma coisa quebrando e percebi, me sobressaindo, que vinha da sala de estar. Nós três pegamos nossa varinhas automaticamente e nos encostamos em nós mesmos, mantendo-se de frente para a porta do meu quarto.

Jesse pegou a mão de CeCe e nos escondemos atrás de um - olhem a ironia - armário velho, conseguindo olhar a porta por dentro de uma falha na madeira. Em completo silêncio, começamos a ouvir passos que se aproximavam cada vez mais. Pensei rápido eles estavam atrás de mim, meus amigos estavam protegidos por seus sangues. Rapidamente, joguei um feitiço de transfiguração em mim mesma, um que passei algumas semanas aprendendo e que eu sabia que era complicado e difícil. Torcei para não dar errado. Feitiços e Transfiguração sempre foram as matérias que eu mais gostava e me dava bem, mas qualquer um pode errar sob pressão.

Vi meu campo de visão diminuir drasticamente e meus amigos crescendo, enquanto eu me aproximava do chão, perdendo a visão da porta. O olhar de surpresa de CeCe confirmou que tinha dado certo, eu era uma gata. 

Eu sai de trás do armário e o feitiço funcionou quase no mesmo instante que um homem loiro de olhos azuis com aspecto carrancudo apareceu na porta. Pegando-o de surpresa, Jesse estava prestes a soltar um feitiço de trás do móvel, quando Beatrice se sobressaiu.

— Thorfinn?! – ela exclamou, se mostrando para o homem. Tudo o que eu pude fazer foi miar em protesto.

— O que você está fazendo aqui, Beatrice?! Não deveria estar em Hogwarts? – ele exclamou, claramente irritado.

— E você? Está trabalhando para o Lorde das Trevas agora? – ela ralhou de volta e eu vi os olhos azuis do homem se semicerrarem. Quis falar para CeCe não provoca-lo, mas era óbvio que eles se conheciam.

— Você sabia que cedo ou tarde nossa família iria escolher um lado, não é mesmo, prima? Seus pais sempre foram covardes, mas o resto de nós sabemos o que é melhor para o mundo. Principalmente o resto dos Rowle.– Thorfinn respondeu, mantendo a varinha erguida.

— Meus pais não são covardes, Thorfinn, apenas sabem jogar com as peças certas. – ela afirmou calmamente, enquanto Jesse se mantinha a postos atrás do armário para qualquer emergência e eu circulava os pés da minha amiga.

O Comensal abriu um sorriso e eu notei seus dentes amarelados e desgastados.

— Então por que eles não tem a Marca? – ele insistiu e eu senti Beatrice hesitar.

— Eu não sei, isso não é problema meu, é? Ainda sou jovem demais para a Marca de qualquer forma. Você sabe que eu vou ser a primeira da lista quando for maior de idade. – era mentira, CeCe tinha feito 17 anos em agosto, mas eu esperava que o primo dela não lembrasse de seu aniversário. – Eu só andava com a Elizabeth porque sabia da sua importância para o Lorde das Trevas. Você está atrás dela, não está?

— O que você sabe sobre isso? – Thorfinn perguntou surpreso e eu senti meu corpo cansado, o feitiço se desgastaria em pouco tempo. Tentei mostrar isso para CeCe ao morder seu sapato, mas ela me ignorou, estava concentrada demais em criar uma mentira convincente.

— Eu não sou idiota, sei que o Lorde das Trevas está atrás dela. – ela respondeu, sendo o mais vaga possível. – Só não sei exatamente o motivo.

— Ora, porque ela é sangue-ruim, é claro! – o Comensal quase cuspiu as palavras, como se tivesse extremamente satisfeito com sua missão.

Fiquei de certo modo aliviada ao saber que Voldemort tinha mantido para si mesmo o meu verdadeiro sobrenome. Mas então pensei que é claro que tinha, ele era orgulhoso demais para admitir que ainda tinha uma parte de sua família trouxa viva. Pensei que talvez eu tivesse uma vantagem sobre ele, toda a sua ideologia seria descartada se soubessem que ele era parte trouxa.

Se Beatrice pareceu tão aliviada quanto eu, ela não demonstrou, apenas se manteve indiferente.

— Bom, ela não está aqui. Quando não a vi no Expresso, corri pra cá, mas parece que nós dois perdemos nosso tempo.

Thorfinn não parecia um cara muito esperto, porque acreditou imediatamente na minha prima, sem considerar que o trem já tinha saído há muito tempo e que CeCe já estaria muito tempo na minha casa abandonada se tivesse vindo imediatamente depois de não me encontrar.

— Então não vai pra Hogwarts esse ano? – ele perguntou e ela negou com a cabeça.

— Já aprendi tudo o que eu tinha que aprender naquele lugar medíocre, só o Lorde das Trevas pode me ensinar mais.

Quis vomitar com aquelas palavras, mas temi que se mexesse mais algum centímetro, eu voltaria a ser humana novamente. Eu nunca tinha me sentido mais desgastada com um feitiço de Transfiguração do que aquela hora. Então, o pior aconteceu.

— Ora, se é assim, vem comigo! Todos os novos aprendizes estão sendo iniciados na Mansão Malfoy, aposto que o Lorde das Trevas vai te aceitar, mesmo você sendo um ano mais nova. – ele exclamou e olhou sugestivamente para CeCe.

Eu percebi, pelo seu olhar, que era uma oferta irrecusável. Era uma prova na qual as duas respostas estavam erradas, ele estava testando a lealdade de Beatrice e ela não podia sucumbir.

Sem saber o que fazer, mordi a calça de Jesse, tentando fazer com que ele jogasse um feitiço no Comensal e saíssemos de lá. Mas ele também entendeu que se fizesse isso, era como se tivesse colocando toda a família de CeCe contra Voldemort, e não podia fazer isso.

Ficamos nos encarando sem saber o que fazer, enquanto Thorniff levava minha amiga para fora do quarto. Eu encarei os olhos verdes de CeCe uma última vez antes dela desaparecer pelas escadas, eles pareciam obstinados e determinados. Estavam me dizendo para continuar minha missão independente dela.

Mas como eu ia fazer qualquer coisa sem Beatrice? Já não tinha Suzanna para me dar ideias brilhante e ser sensata, agora tinha perdido a criatividade e talento de CeCe.

Percebi, no silêncio do quarto, que encontrar meus país biológicos parecia cada vez mais impossível.


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Notas finais do capítulo

Oie, novo cap pra vocês ♥
Espero que tenham gostado!

Beijocas :*



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