O sinal da hora da janta tocou atrapalhando nossas risadas. Após a minha história, Annabeth contou com maiores detalhes a luta entre Clarisse e Percy, o primo do Jason, ajudando a aliviar minha tensão e me deixando extremamente agradecida. Em um contra-ataque Clarisse contou sobre a antiga paixão desastrosa de Annabeth, um tal de Luke que acabou por se apaixonar pela melhor amiga dela e agora namorada dele, Thalia (isso mesmo, a irmã do Jason. Já estava me sentindo perseguida pelo seu nome).

Quase me senti mal por rir, mas ela se juntou as gargalhadas rapidamente então relaxei. No fim começamos uma pequena guerra sobre desastres alheios mostrando que Clarisse tinha realmente razão quando disse que nos uniria.

— Acho melhor colocar uma calça Piper. – Annabeth comentou, me fazendo notar que eu quase saira pra janta só de camiseta. – Eu vou indo na frente tudo bem?

— Vai encontrar o namorado? – Clarisse provocou. Annabeth revirou os olhos como se acostumada a ignorar aquele tipo de jogo e saiu. – Fala sério, tão na cara que se gostam, mas um fica enrolando o outro. – Ela completou baixinho.

— Então realmente tem um boy. – Falei lembrando-me da pessoa que também fazia caretas quando pensava.

— Percy Jackson.

— O primo do Jason? – Perguntei meio surpresa.

— Ele mesmo. Viviam discutindo quando se conheceram, mas agora quase não se largam. As pessoas já fazem apostas pra ver qual dos dois vai tomar uma atitude primeiro. – Ela riu pelo nariz.

— Em quem você apostou?

— Nela é óbvio. Percy é lento demais. – Ela deu de ombros. – Ahm Piper...sobre a história, você sabe que eu não contaria pra qualquer uma né? – Perguntou. Ela tinha percebido minha desconfiança. Suspirei.

— Eu posso ter pensado nisso por alguns segundos. Você sempre foi muito imprevisível.

— Eu sei, mas trair você já é demais. – Me deu um leve tapa no ombro, que provavelmente é o maior sinal de carinho que ela seria capaz de demonstrar naquele momento. – Eu sei que você queria fazer amigos novos aqui, que fossem de verdade, e por mais que não goste de admitir Annabeth é a melhor pessoa pra isso. Eu tava planejando contar sobre a vez que você foi trancada pra dentro de casa até que chegasse a hora do desfile que você não queria ir com a sua mãe e então você decidiu dar uma de Rapunzel com os lençóis do quarto e descer pela sua varanda pra fugir, mas acabou com o braço quebrado e um galo horrível. – Ela riu, eu bufei. – Mas quando vi que era ela, sabia que podia contar e ela saberia te aconselhar melhor do que eu. Sabe, se você precisar.

— Ta querendo tirar o seu da reta? Você é minha melhor amiga, não pode simplesmente deixar outra pessoa me aconselhar enquanto fica rindo de mim lidando com isso da plateia. – Dei uma bronca. Eu estava feliz demais pra conseguir continuar com minha cara séria. – Obrigada. Ela é incrível.

— Não tanto quanto eu. – Rebateu. Abracei-a enquanto ria, tornando aquela à segunda cena clichê que eu protagonizava no dia. – Agora vamos que eu estou com fome.

Saímos do quarto depois que eu terminei de colocar a calça e fui o caminho inteiro até o refeitório tentando me preparar psicologicamente para o caso de topar de cara com o Jason. Do jeito que minha sorte estava ultimamente tinha 99% de chances de acontecer, contrariando a matemática da probabilidade. Quer dizer, ele podia muito bem estar se sentindo indisposto para comparecer ao jantar, ou qualquer outro evento que aumentassem as minhas chances de sair dali sem passar por nenhum constrangimento.

Mas infelizmente foi dito e feito, logo que entramos Chris se manifestou chamando a atenção de Clarisse pra que nós duas nos juntássemos a ele depois que fizéssemos nosso prato, o problema é que foi tão alto que recebemos os olhares da escola inteira incluindo a mesa ao lado da de Chris. Nela estava incluso minha mais recente amiga Annabeth, que acenou para nós sorrindo, e contra minha esperança nos 1%, estava Jason que me encarava um tanto envergonhado, como eu tinha certeza que também estava.

— Ai senhor. – Soprei as palavras tentando controlar meus batimentos cardíacos. Eu tinha um sério problema de ansiedade que não me deixaria relaxar nunca em uma situação como essa.

— Isso vai ser divertido. – Clarisse puxou meu braço me levando para perto da comida onde nos serviríamos.

Tentei atrasar o máximo que pude aquela ação até que a paciência da minha amiga acabou e ela me arrastou, como tinha virado padrão, para a mesa do seu namorado.

— Oi de novo. – Disse sorrindo.

Na mesa estavam Travis, Connor, Katie e Chris, as mesmas pessoas que tinham me recebido calorosamente com risadas naquela bela manhã. A diferença era que dessa vez Travis e Katie estavam abraçados, o que me fez olhar pra Clarisse procurando uma resposta. Ela deu de ombros deixando clara que a resposta era óbvia demais para que merecesse a sua manifestação.

Ok, eu não deveria estar estranhando tanto o fato de que todo mundo ali parecia ser parte de um casal (ou futuro casal no caso de Percy e Annabeth). Clarisse mesmo disse, era um lugar muito pequeno onde todos se conheciam. Aquele era um colégio que abrigava um bando de adolescentes cheios de hormônios que frequentavam os mesmos lugares com as mesmas pessoas o tempo todo durante anos. Não era que nem na minha antiga cidade, onde você conhecia uma pessoa hoje e não tinha garantia de que algum dia voltariam a se ver novamente.

Embora isso não tenha acontecido comigo, como eu esperava.

— Hey Piper. Senta ai, nós precisamos muito conversar sobre essa nova amizade que está nascendo. – Chris comentou apontado para o lugar na sua frente, Clarisse o encarou com um olhar mortal ao se sentar do seu lado, do tipo “não vamos tocar naquele assunto (foto desastrosa) agora”.

O resto do pessoal me cumprimentou animadamente o que me fez sentir acolhida muito rápido, então larguei minha bandeja na mesa e me preparei para aquele show que eu mencionei antes que possivelmente não acabaria bem.

— Uma bela amizade. Deveríamos começar trocando nossos números? Eu tenho mais uma foto linda pra te mostrar. – Sorri o mais carinhosa que consegui, recebendo um chute nada discreto do mamute que chamo de amiga por baixo da mesa. – Porra Clarisse. Pra que tanta força sua macaca ogra. – Xinguei enquanto massageava o lugar atingido.

Agora imaginem a minha cara quando não só a nossa mesa, mas a do lado também explodiu em gargalhadas com a minha fala. Escondi o rosto constrangida enquanto Travis e Connor tentavam me parabenizar.

— Calma Clarissinha do meu coração... – Eu estava tão acostumada a nossa troca de elogios que deixei escapar aquilo na frente de toda aquela gente. Ninguém nunca esteve presente antes nas nossas conversas/brigas e minha fala não só expos a minha amiga, como expos o fato de que o pessoal da mesa ao lado (cujo único que importava naquele momento era Jason) estava prestando atenção na gente.

— Eu estou muito calma Rainha da Beleza, não se preocupe. – Ela rebateu sem perder uma batida. Não ouvi rosnados e nem houve novas agressões. Parecia realmente calma, o que me deixava nervosa. Todo mundo voltou a rir, ainda que algumas pessoas (cof cof intrometidos da mesa ao lado cof cof) não entendessem de onde tinha surgido nem a graça do apelido. Pareciam compelidos a entrar naquele mar de alegria.

Durante nossa troca de olhares assassinos, o diabo apareceu.

— Opa, eu quero receber meus direitos autorais em.

— Cala a boca Leo. – Eu e Clarisse dissemos ao mesmo tempo. Leo tinha dito aquilo ainda estando sentado ao lado de Jason na outra mesa. Já era impossível não reconhecer sua voz, mas a figura magricela com um sorriso gigante e travesso tinha ainda mais destaque.

Chris decidiu intervir.

— Pode anotar seu número aqui, eu te mando um whats pra você poder salvar o meu e me mandar as fotos depois. – Me entregou seu celular. Eu esperava que ele fosse apaziguar a situação, não jogar lenha na fogueira.

— Chris... – Antes que minha amiga terminasse a frase peguei o celular e anotei meu número em uma velocidade que impressionou até a mim, e entreguei antes que a mesma saltasse para tentar recupera-lo a tempo de apagar.

— Oh cara, isso vai ser divertido. – Connor comentou para a plateia. A semelhança de sua frase com a de Clarisse anteriormente já me fez sacar o tipo de garoto que era aquele...o que adorava ver o circo pegando fogo.

Eu e Clarisse reviramos os olhos. Eu estava realmente com fome e nossa briga poderia terminar outra hora então quando voltei a comer ela sorriu para o namorado e começou a fazer o mesmo, o que pareceu espantar as pessoas em volta.

— Só isso? Loucas. – Leo disse rindo. Talvez estivesse esperando que o refeitório virasse um ringue. 

Loucas era um exagero, nós sempre fazíamos as pazes muito rápido e sem precisar de palavras para isso, só chegava uma hora que nos acalmávamos e deixávamos pra depois.

— Ei, o que acham de juntarmos as nossas mesas e comermos juntos para conhecermos nossa nova companheira em? – Leo proclamou.