Who You Are escrita por anonimo403998


Capítulo 32
Capítulo 32 – Conversa com a Família Garcia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725449/chapter/32

Segundo meus amigos, a família Garcia tinha uma rotina muito bem estabelecida no período da noite. A mãe deles, Senhora Maria Lucia, iniciava os preparativos do jantar por volta das 18h30; perto das 19h10 o pai deles, Senhor Garcia, chegava do trabalho. As 19h30 em ponto o jantar era servido e todos se reuniam a mesa. Assim, até as 20h, Sr. Garcia se sentava em frente da televisão na sala enquanto Lillian ajudava a mãe a organizar a louça do jantar. Havíamos combinado de chegarmos depois das 20h30 para a conversa com os pais deles e Carlos decidiu que falaria sobre nossa chegada apenas quando ele e o pai se sentassem na sala.

Erika e eu jantamos em casa, uma refeição simples e rápida, antes de sairmos. Fomos no meu carro pelo simples motivo dele já ser “conhecido” nas redondezas e estacionamos em frente a pequena casa daquele característico bairro latino quando meu relógio marcou 20h13. Escolhemos descer e nos dirigir direto para a porta da casa; a rua estava completamente deserta. Não havia campainha, por isso ergui o punho direito dando pequenos toques na madeira da porta. Quem veio abrir foi Carlos, ele estava claramente ansioso e nervoso. Nos disse rapidamente que havia acabado de avisar ao pai sobre nossa chegada.

Entramos e, ao mesmo tempo, vimos Lillian e a mãe saírem da cozinha. Ela foi direto na direção do irmão tentando passar para ele algum apoio enquanto que a mão dos dois se dirigiu até o sofá com uma expressão confusa e curiosa. Nos conduziram para a sala e o Sr. Garcia se levantou de sua poltrona com uma expressão séria. Fomos apresentados e a Sra. Garcia nos convidou a sentar ainda sem entender o que estava acontecendo.

— Eu não sei até onde Carlos explicou nossa visita – minha mãe começou a falar, depois de cumprimentar os pais dos meus amigos eu preferi me sentar ao lado dela e deixa-la conduzir a conversa.

— Eu apenas disse que você e Arthur viriam para falarmos sobre uma proposta que a senhora tinha para mim – Carlos aclarou o assunto enquanto o pai dele nos olhava com uma das mãos alisando a grossa barba negra que recobria seu rosto; observei que ele se parecia muito com Carlos, apenas um pouco mais baixo.

— Eu vim para os Estados Unidos buscando um futuro melhor pra minha família e, desde sempre, tive consciência que esse era um país muito diferente do meu – Sr. Garcia começou a falar – Mas confesso que ainda não me acostumei a pessoas como a Senhora – ele admitiu, claramente se referindo a sexualidade da minha mãe.

— Sr. Garcia, isso é compreensível e totalmente aceitável – minha mãe respondeu calmamente – Se lhe for de interesse, minha mãe ainda não compreende isso apesar do meu casamento já ser longo. Havendo respeito entre nós garanto que nada além disso será necessário. Mas não foi para falar sobre isso que eu vim aqui essa noite.

— A senhora tem uma proposta ao meu filho – ele resmungou como se avaliando a informação que Carlos havia dado – Eu não gostaria que ele começasse a trabalhar ainda, o menino apenas agora vai conseguir organizar os estudos e nós não estamos passando por nenhuma necessidade para que ele se atrapalhe nos estudos para trabalhar.

Houve um pequeno silencio Senhora Maria Lucia concordava com o marido e seus filhos se entreolhavam com suspiros ansiosos. Minha mãe sorriu contente notando a preocupação que o casal tinha com a educação. Ela se recostou contra o estofado do sofá apoiando as costas e cruzando os dedos sobre o colo.

— Não é exatamente um emprego que eu vim propor – Erika começou de forma tranquila e olhou para Carlos que trocava seu peso entre suas pernas de forma ansiosa e nervosa – Carlos chegou a te explicar quem eu sou e com o que trabalho? – ela questionou antes de entrar realmente na proposta.

— É uma lutadora daquele esporte que todo mundo fala – o Sr. Garcia respondeu dando de ombros, mas era possível notar um certo brilho no olhar dele, como se não gostasse de admitir que ele próprio gostava do esporte – Eu já a vi na televisão. Carlos está sempre vendo essas coisas.

— O UFC feminino é um esporte em ascensão mundial, já vem se mantendo com altos contratos e patrocínios importantes nos últimos 10 anos – minha mãe começou dizendo – Estamos quase nos equilibrando ao masculino em questão de pagamento e investimento. Assim como qualquer esporte profissional ele exige uma grande dedicação, o que nem de longe signifique que eu o priorize acima dos estudos e da formação. Hoje eu estou pra me aposentar, graças ao apoio da minha família eu fui capaz de concluir uma graduação a distância na área de esportes e de treinamento físico. Então, além de outra profissão, eu também construí uma academia própria que me rende tanto quanto meus contratos com o UFC. A proposta que tenho pra Carlos está relacionada a isso – ela voltou a encarar meu amigo que estava com os braços cruzados e uma expressão angustiada, Sr. Garcia o olhou também o que o fez baixar os olhos – Eu dou aulas nessa academia, por conta do meu sucesso como lutadora minhas mensalidades são bem altas, mas existe algo que eu venho tentando a anos e ainda não consegui – ela falou se inclinando para frente e apoiando os cotovelos nos joelhos – Eu venho buscando um atleta pra ser treinado por mim. É um plano que tenho desde antes de me aposentar, mas que agora vem sendo uma vontade bem constante. Mas não é algo que eu vou fazer para qualquer um, venho buscado um lutador com potencial para chegar tão longe quanto cheguei.

— O que exatamente está propondo ao meu filho? – Sr. Garcia questionou também se inclinando com os cotovelos sobre os joelhos e uma expressão séria no rosto.

— A minha proposta é que ele se torne um lutador profissional treinado por mim – Erika disse de forma direta e objetiva – Que ele comece a treinar comigo todos os dias após as aulas para que, depois de se formar, ele possa começar a competir.

Outra vez tudo o que havia na sala era silencio, um silencio quase físico, perturbado apenas pelo volume baixo que saia da televisão ligada transmitindo o que parecia ser um jogo de basquete. Minha mãe encarava o pai de Carlos enquanto que meu amigo alternava olhares entre os dois e Lillian ainda dividia seus olhares entre Carlos e eu. Conforme o silencio se prolongava uma tensão crescia no ambiente fazendo com que todos ficassem apreensivos, exceto minha mãe que não parecia nada afetada pelo que acontecia ali. Até que aquela bolha prestes a estourar se rompeu com o pai de Carlos se levantando da poltrona.

— Isso é ridículo! Meu filho vai terminar os estudos para se tornar um homem trabalhador como eu! – Sr. Garcia falou alto, mas ainda não aparentemente alterado, eu diria que ele estava apenas surpreso e relutante – Eu já vi muita gente sonhar com essas coisas de ficar famoso e acabar na sarjeta sem ter nem o que comer. Carlos vai se formar e depois achar um trabalho digno e estável onde vai poder se sustentar e cuidar da família que ele com certeza irá formar. Isso, ser lutador, isso não é algo que vá dar futuro ao meu filho e eu percorri todo o caminho até esse país para garantir o futuro dele!

— Eu tinha 17 anos quando contei aos meus pais que queria ser lutadora profissional – minha mãe disse em tom baixo e calmo, ainda sem se mover e sem desviar os olhos do pai de meu amigo – Ouvi do meu pai quase essas mesmas palavras – ela continuou e soltou um suspiro – Mas meus pais não se importavam muito comigo, então eu terminei o High School e sai de casa. Eu tinha um carro caindo aos pedaços, um telefone velho, duas malas de roupas, um par de luvas de boxe e 1500 dólares no bolso pra sobreviver praticamente por minha própria conta sozinha buscando um sonho que, eu admito, muitos poucos conseguem alcançar. Eu cruzei estados tentando encontrar um treinador, perguntando em academias quem poderia me ajudar. Até que encontrei Micheal, meu treinador. Ele me fez uma proposta, me contratava para cuidar da academia dele, me alugava um pequeno espaço de dois cômodos e um banheiro nos fundos onde eu poderia morar e descontava o aluguel e a mensalidade dos treinos do meu pagamento. Não vou lhe dizer que meu trabalho é algo estável, ele não é. Mas é tão digno quanto qualquer outra profissão no mundo. Foi com essa profissão que, quando Arthur nasceu, eu nos sustentei. Foi com essa profissão que eu o criei e consegui praticamente tudo o que eu tenho hoje. E eu comecei com aqueles 1500 dólares e aquele velho par de luvas. Mas se cheguei onde estou foi porque meu treinador viu em mim o potencial para isso. O mesmo potencial que eu vejo em Carlos.

— Eu quero isso, pai – meu amigo falou com a voz firme, mas sua postura, com as mãos paralelas ao corpo, punhos fechados e cabeça baixa mostrava claramente a insegurança em estar se imponto frente ao pai – Eu quero tentar. E eu juro que não vou parar de estudar, mas não quero perder essa chance.

— Eu vejo que vocês se importam com seus filhos – minha mãe voltou a falar fazendo Sr. Garcia desviar os olhos do filho – E, como mãe, eu nunca permitiria que ele deixasse os estudos, tanto que uma das condições para que eu o treine é, exatamente, que ele mantenha as notas altas. Mas eu sei que ele vai ter todo o apoio dos amigos para ir atrás disso e terá o meu também, então, se for mesmo a vontade dele, assim como eu fiz, sei que Carlos também vai conseguir – ela se levantou e eu me levantei junto, mas continuou ainda sem sair do lugar – Resta saber se será com ou sem o seu apoio. Sr. Garcia, eu posso ver que tudo o que o senhor quer é o bem da sua família. Apoiar ou não Carlos é algo que sei que vai fazer pensando no melhor para ele – minha mão foi dizendo encarando o homem que continuou sentado – A minha proposta a ele continua valendo e vou aceitar treina-lo mesmo que isso não aconteça agora. Mas, se o senhor quiser saber os detalhes disso, Carlos sabe todos. Eu vi um grande potencial no seu filho, mas eu, mais que qualquer um, sei o quanto tudo fica mais difícil sem o apoio da família. Então, tudo o que peço, é que o senhor pense e ouça seu filho – Erika desviou seus olhos na direção do meu amigo que encarava a conversa apreensivo – Ele é um ótimo rapaz e fico imensamente grata e feliz por Arthur tê-lo como amigo e, assim como quero o bem do meu filho, quero o bem dos seus também – quando terminou ela estendeu a mão para o Sr. Garcia que se levantou aceitando o cumprimento um tanto desajeitado – Foi um prazer conhecê-los – ela disse cumprimentando também a Sra. Garcia e logo fiz o mesmo – Vamos indo filho. Tenham uma boa noite.

Ela colocou a mão sobre meu ombro me dando um sorriso e nós dois nos afastamos sendo seguidos pela mãe de meus amigos em direção a porta. Quando passou por Carlos e Lillian Erika lhes deu o mesmo sorriso afetuosos que havia dirigido a mim a pouco, deixou um beijo nos cabelos de minha amiga e depois colocou a mão sobre o ombro de Carlos da mesma forma que havia feito comigo. Sra. Garcia nos levou até a porta e se despediu de nós apenas com um aceno antes de fechar a porta. Caminhamos para meu carro, minha mão tinha o braço esquerdo em volta dos meus ombros e eu caminhava com as mãos nos bolsos dos jeans.

— Mãe? – a chamei um tanto incerto – Acha que eles vão apoiar o Carlos? Não parecia que iriam – disse soltando um suspiro.

— Não importa meu filho – ela me respondeu apertando o abraço a minha volta e fazendo com que eu colocasse a mão direita para fora do bolso e a abraçasse pela cintura – Os pais dos seus amigos os amam e só querem o bem deles dois. Se não apoiarem Carlos agora vão acabar fazendo-o mais a frente, basta que ele não desista do que quer.

Concordei com a cabeça deixando-a apoiada sobre o ombro de Erika de forma um pouco desajeitada por conta de sermos quase da mesma altura. Nos separamos quando chegamos ao carro e fui para o banco do passageiro deixando as chaves na mão dela que logo entrou pelo lado do motorista e voltamos para casa.

Espero realmente que a família Garcia decida apoiar Carlos independente de qualquer outra razão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Surpresa! Olha eu aqui de novo hehe

Acontece q eu sou uma autora muito boazinha kkk, e vim deixar esse pequeno presente de aniversário pra uma das leitoras.

Parabéns Ju, espero q tenha gostado do presente (mesmo que ele seja só 1 e não 4 hehe =P )

Bjs pessoinhas e até o fim do mês
;]



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Who You Are" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.