Who You Are escrita por anonimo403998


Capítulo 15
Capítulo 15 – Primeiro jogo da temporada




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O resto da semana transcorreu calmo, apesar de notar os olhares assassinos dirigidos a minha pessoa por metade do time de futebol nos corredores. Eu e Jill nos tornamos ainda mais próximos, conversávamos muito, trocávamos mensagens quando ela estava nos intervalos do trabalho. Falávamos sobre absolutamente tudo, exceto a família dela. Eu comecei a ser arrastado para a mesa onde ela e seus outros amigos sentavam-se durante o almoço.

No começo fiquei muito desconfortável. Nos dois primeiros dias fui até James antes do almoço acabar para não ficar tanto tempo com eles. Eu nunca fui muito sociável com pessoas desconhecidas em grupos, sempre fui quieto e tentava ficar longe de aglomerações. Um grupo conversando comigo era uma coisa quase inédita porque eu evitava insistentemente essas ocasiões por receio de dizer algo que os fizesse questionar quem eu realmente era.

Mas tenho que admitir que aquele grupo de pessoas era discreto, apesar de animado. Nunca tentaram forçar a conversa comigo e mantinham-se sempre o respeito ao fato de eu não falar muito de mim. Talvez já estivessem acostumados com a forma reclusa de Jill e por isso não me questionavam nada. Com tempo eu acabei gostando de estar com eles, mesmo que ainda permanecesse um tanto a margem do grupo. Passei a conhece-los melhor e descobrir particularidades que antes me passavam despercebidas.

Carlos era irmão mais velho de Lillian, os pais de ambos haviam se mudado do México quando ela criança. Mesmo um ano mais velho Carlos estava na mesma sala que Lillian porque perdeu seu primeiro ano de estudos quando a família se mudou. Os dois eram pessoas simples, não eram pobres, mas também não conseguiam morar em um lugar melhor então continuavam em um dos bairros mais pobres que era conhecidamente cheio de latinos.

Frederick um ano mais velho que eu e estava para terminar o ensino médio, ele era ótimo em matemática e pretendia cursar algo relacionado a computação. Sua família era de classe média e seus pais trabalhavam incansavelmente para manterem um padrão de vida melhor do que a maioria, mas Frederick não parecia preferir o tipo de coisa que seus pais almejavam. Um pouco mais para o fim da semana entendi que toda a reclusão dele para com o resto das pessoas era devido ao fato de que achavam que ele fosse gay. Não poderia dizer se os boatos dos veteranos sobre ele eram verdadeiros ou não, mas o fato é que isso não me importava muito.

Lillian e Carlos estavam em um ano anterior ao meu, aparentemente haviam sido incluídos no grupo por conta de um ex-aluno que morava no mesmo bairro que eles e havia se formado no ano anterior. Havia também uma outra garota chamada Georgia no grupo. Ela tinha a minha idade, mas nuca tivemos uma aula juntos, era inteligente, mas se vestia de um modo um tanto menos “feminino” do que as outras garotas aceitariam. Motivo pelo qual ela não conseguiu se encaixar no grupo dos mais inteligentes que geralmente faziam parte dos clubes de matemática, física, química ou outros do mesmo estilo.

Havia também um rapaz, ele era menor do que eu e bem magro também. Estava no ultimo ano e era assumidamente gay. Seu nome era Louis e ele tinha praticamente todas as aulas com Frederick o que aumentava a desconfiança dos ignorantes a respeito da sexualidade do mais alto; mas os dois eram realmente apenas amigos. Louis se vestia de forma um tanto mais extravagante, sempre com roupas combinando e acessórios que ele dizia estarem na moda.

Depois dessa semana de observações acabei por compreender que a proximidade deles com certos elementos duvidosos que frequentavam nossa instituição de ensino era apenas uma questão de coincidência. Carlos e Lillian acabavam tendo que manter uma relação cordial com alguns alunos latinos que moravam no mesmo bairro que eles. Eram um grupo que todos os alunos sabiam ser problemáticos e não muito confiáveis.

Esse grupo e o grupo dos amigos de Jill acabavam um tanto misturados pelo fato de estarem sempre próximos o que gerava uma confusão entre eles que fazia, aos que viam de fora, parecer que eram uma coisa só. Como a escola não tinha muitos alunos homossexuais, ao menos não assumidos, os que acabavam sendo taxados dessa forma eram empurrados para esse pequeno grupo; que foi o que havia acontecido com Louis e Frederick.

Estávamos sentados numa mesa, hoje um pouco mais afastados do grupo de latinos que parecia beber algo ilegal pois escondiam uma garrafa térmica. Era sexta e às 20h o primeiro jogo da temporada aconteceria. James era o capitão do time e eu já havia sido intimado a comparecer. Estávamos discutindo os prós e contras de se ir numa sexta a noite assistir a um jogo de futebol. Jill não poderia ir porque trabalhava até as 21h30 naquela noite, mas havia prometido a James no dia anterior que passaria para ver o final do jogo ou apenas para conferir quem havia ganhado.

Carlos opinou dizendo que seria interessante ver, ao menos uma vez, como eram assistir a um jogo de futebol do time da escola. Lillian me perguntou se eu já havia assistido a muitos e confirmei que sim por conta de James ser meu melhor amigo desde a infância. Ela então me perguntou se era divertido e o que eu achava de ir. Respondi que sempre ia sozinho e por isso achava um pouco desanimador os intervalos. Falei que a melhor parte para mim eram as comidas, mas que também gostava de apoiar meu amigo porque ele jogava muito bem.

Carlos pareceu muito interessado em futebol, dizendo que apesar de gostar de esportes não conhecia muito sobre o futebol americano, já que preferia o baseball. Explicava por alto as regras a ele quando o primeiro sinal tocou. Começamos a nos levantar e eu convidei novamente para que eles comparecessem ao jogo. Frederick não parecia interessado, Louis disse que iria pensar e Carlos afirmou que tentaria ir com Lillian.

Nos levantamos e seguimos para dentro da escola. A maioria deles iria passar em seus armários, apenas eu, Carlos e Lillian não precisávamos e seguimos direto para nossas aulas. Carlos se separou de nós um e segui com Lillian porque sua classe era ao lado da minha. Os corredores das salas estavam relativamente vazios ainda por conta da maioria dos estudantes estarem em seus armários. Caminhávamos na direção do fim do corredor quando uma porta de uma sala que não seria usada hoje se abriu.

Mattheus Corbb saiu da sala rindo animado junto com sua namorada que terminava de arrumar sua saia do uniforme de líder de torcida. Eles pararam assim que nos viram, ela tinha os olhos arregalados de susto, mas ele passou de surpresa para raiva muito rápido. Ele sinalizou para que ela fosse embora e se aproximou de nós com um olhar de superioridade como se fosse muito melhor que nós dois. Senti Lillian ficando tensa, mas em minha visão periférica percebi que era de raiva.

— Ora ora, o que temos aqui – falou ele parando perto de nós em nossa frente para impedir que continuássemos nosso caminho – Agora entendi o porque você resolveu se meter em assuntos que não eram seus. Confesso que não imaginava que você fosse um desses viadinhos, mas agora está tudo explicado.

— Se esse seu tipo de insulto fosse um insulto realmente pessoas inteligentes o usariam também, sabia? – falei com um sorriso calmo, não importa o que ele me falasse, nada iria me afetar.

— Todo mundo sabe que ser uma bicha como você é algo completamente nojento e incorreto – ele falou sem entender que eu o havia chamado de burro – Deveria sentir vergonha.

— Pessoas ignorantes e com pensamento ultrapassado e completamente ilógico é que deveriam ter vergonha de se meter na vida alheia – respondi calmamente segurando de leve no cotovelo direito de Lillian e a puxando para passarmos por Mattheus.

A mão dele no meu peito me jogando para trás nos impediu de continuar e eu, imediatamente, tentei me posicionar entre ele e Lillian. Para nosso azar o corredor continuava vazio e ele sorria com divertimento.

— Você só sai daqui quando eu deixar, viadinho – ele falou com um tom tão repugnante que tive vontade de passar por cima dele, literalmente.

— Deixa a gente passar, Corbb – falou Lillian com raiva e se colocando ao meu lado.

— Ah, então a outra sapatão resolveu puxar a briga hoje é? – ele falou com certa raiva misturada ao tom de deboche – Deve ser coisa de vocês mesmo essa necessidade de bater de frente com homens. Talvez eu deva te mostrar o lado certo das coisas.

— Você tem tanta necessidade de se mostrar como homem que provavelmente não deve ser nem metade do que aparenta – falou ela usando uma expressão cínica e irônica – Aposto que o Arthur deve ser muito melhor do que você seu escroto.

A mão dele subiu em direção ao rosto de Lilly e eu tive que agir rápido. Não me importava que ele falasse o que fosse de mim, não me importava que ele continuasse falando as besteiras que saiam daquela mente perturbada dele, mas eu não iria admitir que ele erguesse a mão para alguém. Principalmente para uma garota muito menor do que ele e que não teria como se defender.

Segurei com meu braço esquerdo a cintura de Lillian a puxando contra mim e tirando-a do alcance de Mattheus e ergui minha mão direita segurando o pulso dele que vinha na direção dela. Aproveitei que o corredor continuava vazio e torci o pulso dele fazendo-o dobrar os joelhos na tentativa de aliviar a dor.

— Fale o que quiser sobre mim, fale o que quiser sobre qualquer um – falei num tom sério, nunca tive tanta raiva de alguém na vida – Mas encoste um desses seus dedos imundos nos meus amigos e eu vou garantir que a sua vida vá para o ralo tão rápido que você teria mais sorte de escapar pulando de um avião sem paraquedas – disse em tom baixo, mas encarando os olhos dele que me olhavam assustados e surpresos – Estamos entendidos, Senhor Corbb?

Ele não fez nada mais que acenar uma vez e eu soltei seu pulso que foi logo puxado para perto dele enquanto Mattheus se erguia devagar. Notei que ainda segurava Lillian contra meu corpo e a puxei junto comigo para sair de perto dele. Assim que o deixamos a nossas costas eu me dei conta de que tinha que soltar o aperto de meu braço em volta da cintura dela e foi o que fiz. Lilly ainda demorou um instante para se recompor e se afastar de mim. Quando me olhou tinha o rosto levemente corado e os olhos arregalados.

— Me desculpe por isso – falei suavemente, toda a minha raiva tendo se dissipado no momento em que soltei Matt – Não quis te assustar, mas não podia deixar ele acertar você.

— Eu...eu não sei...não sei o que.. – ela tentou dizer, mas estava claramente sem palavras e completamente sem graça.

— Está tudo bem – falei tentando dar um pequeno sorriso para tranquiliza-la, o corredor começou a encher e o sinal do início da aula tocou – É melhor você entrar na sua sala. Eu preciso ir para a minha.

Ela apenas acenou com a cabeça e se virou para a porta entrando logo antes de um pequeno grupo se aproximar para entrar também. Notei Carlos num grupo um pouco mais atrás, mas ele estava distraído com seu celular. Aproveitei para ir logo para a sala ao lado e sair do meio do tumulto de alunos. No caminho me recriminava por ter me deixado exaltar, ao menos poderia ficar tranquilo pois meu auto controle me impediu de realmente machucar Mattheus, afinal, ele ainda era um bom zagueiro e o time precisaria dele essa noite.


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Notas finais do capítulo

Bom dia pessoas,

Perdão só aparecer hoje, era para esse capítulo ter saído ontem.

Infelizmente aconteceram coisas, são problemas que não estão direatamente relacionados a mim, mas que me afetam muito. Eu peço o entendimento de vocês com a possibilidade de atrasos. Tentarei estar de volta com novo capítulo na quarta feira ou, no mais tardar, na sexta. Espero que compreendam.



Resultado parcial da votação:

Zumbis: 6 votos

The100: 4 votos

5H: 1 voto



Até a próxima