Vollfeit - Diellors e ihenes escrita por Kaonashi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Hey, galera c: Espero que gostem e se divirtam. Tenham uma boa leitura e me avisem sobre qualquer erro/dúvida, (•͈ •`/

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Capítulo 1

 Pães de chocolate

 

Neri se lembrava claramente de quando fizera o teste para descobrir a sua habilidade. Escondida pelas sombras que as árvores projetavam naquele morro quieto, via à distância a fila criada nos portões do castelo de Ihene, com dezenas de crianças esperando animadas pelos seus nomes serem chamados para dentro da construção.

Tinha acabado de completar seus dez anos quando passara por uma prova fisicamente pesada, tendo seu reflexo, força, agilidade e velocidade testados por quase duas horas. O objetivo de tudo aquilo era chegar aos limites do candidato até que este despertasse seu poder. Parecia maldoso, mas Neri compreendia e respeitava aquela tradição de seu reino presente nas vidas de seus moradores há séculos. Queria ir até as crianças menos entusiasmadas, que possuíam uma expressão de receio e tristeza, e dizer que a prova poderia dar, a eles, um presente incrível – ainda mais se fossem íntimos do elemento ar, como ela. Todavia, passara a vida sendo ensinada a se manter na escuridão, analisando tudo e todos enquanto não a percebessem – e costumavam dizer que fora treinada o suficiente para não perceberem.

Dando uma última olhada nas crianças e em suas famílias ao redor, que pareciam esperar ainda mais ansiosamente, girou o corpo sem pressa e saiu dali, descendo a inclinação gramada até uma via de pedras brutas e largas, circundada por casas pequenas e grandes, bem cuidadas e mais sujas. Os raios de sol a atingiram rapidamente, fazendo-a querer voltar até a sombra das árvores frescas. Era uma pena ter que, ainda, concluir sua última missão. Tinha acabado de chegar a Vollfeit após quase três meses reunindo informações sobre um reino ao norte, de nome Okarios. Era o décimo quinto lugar que visitava e o segundo mais distante. Agora, só queria descansar e recuperar todo aquele tempo perto de seus amigos.

Suspirou mentalmente e puxou o capuz de seu manto marrom, escondendo as madeixas longas dentro da roupa. Com metade de seu rosto oculto, deixou que suas pernas a guiassem através das ruas, que iam se alargando ou diminuindo, até o reino vizinho. Fechou os olhos e, por mera diversão, deixou a camada de ar em volta de seu corpo, num raio de dez metros, trabalhar por ela. A bolha que criara com seu elemento a avisaria de qualquer obstáculo durante o trajeto, além de protegê-la dos mesmos instantaneamente. Sorriu, pensando em como fora destinada e sortuda em controlar o ar, e após poucos minutos chegava ao grande castelo alaranjado de Diellor. Foi recebida pela rainha Onola, que vagava pelos jardins da frente. A mulher tinha quase cinco décadas, mas seus olhos azuis emanavam tanta pureza que não parecia que vira e sentira as coisas ruins da vida.

— Pequena Neri, seu olhar está radiante hoje – olhou para a face encoberta da garota.

— Como viu, senhora? E isso é bom? – indagou um tanto confusa.

— Ah, mas é claro! E é visível para mim – riu carinhosamente. – Não percebestes, não é? Uma hora entenderá, querida – entrelaçou o braço com o da garota e a acompanhou até as escadas do primeiro andar, dentro do castelo. - Passe na cozinha, ok? Aldith sabia que você estava de volta de uma missão e preparou aqueles pães de chocolate.

— Sim, muito obrigada – Neri sorriu e observou-a se afastar antes de continuar o caminho.

Andou distraída até os andares mais elevados da construção, chegando a um corredor tranquilo, apesar de lotado de guardas. A sensação familiar de andar por aqueles corredores... Era reconfortante.

— Bom dia, senhorita Arkan.

— Bom dia, senhor Ulaf – Neri retribuiu o cumprimento enquanto passava na frente do guarda, estático ao lado de uma larga porta de madeira, a maior e mais imponente do corredor.

Sem ser parada, bateu duas vezes na tábua e, com passos leves e rápidos, adentrou o cômodo de estreitas janelas. Seguiu até o fundo da sala, onde uma plataforma carregava o peso de uma grande cadeira – pela aparência simples, não achava que aquilo fosse um trono – com o rei Anorus descansando. Ao vê-la, largou no colo os papéis que segurava e levantou as mãos, exclamando sorridente:

— Minha querida! Como está?

 Aproximou-se da plataforma e se ajoelhou com a perna esquerda após fazer uma reverência e retirar o capuz.

— Estou bem, e o senhor?

— Ah, estou ótimo! Estamos organizando os expositores e artistas do Festival Anual, certo, Amara? – olhou com entusiasmo para a mulher em pé ao lado do trono.

— Estamos, vossa majestade – a mulher, braço direito do rei, assentiu rapidamente e com um sorriso fechado que logo desapareceu. Neri sabia que era um tanto constrangedor para a trabalhadora ter um companheiro tão animado e caloroso, diferente dela. Para a garota, era difícil não rir nessas situações.

— E o que me traz, querida? – o velho fitou o envelope que a visitante retirava de dentro de seu manto.

— A análise das últimas terras, senhor – estendeu o braço, entregando o relatório de sua missão.

— Obrigado – recolheu o fino pacote pardo e, com a mão livre, abafou os cabelos à sua frente, bagunçando-os. – Não saberia no que confiar se não tivesse a melhor espiã de todos os reinos em Vollfeit.

Neri sorriu.

— Senhor, já sou profissional em arrumar cabelos depois de tanto tempo entregando-lhe relatórios – disse enquanto ajeitava seus fios castanhos.

— Ah, minha cara pequenina – o rei riu. – Suas filhas serão as mais bem arrumadas do reino então. Eu deveria dizer minhas netas? – questionou com um brilho nos olhos.

— O senhor sabe que não quero seguir esse lado da vida... – respondeu lentamente, sorrindo no final.

— Eu sei, eu sei! – riu e abanou as mãos. - Mas ainda irá mudar de ideia, por favor. Você já faz parte da família, mas ficarei ainda mais feliz se casar com um de meus filhos. Sabe, os diellors se maravilhariam em ter uma rainha assim!

— Deixarei a opção em aberto – sorriu e abaixou a cabeça em respeito, levantando-se em seguida. – Retirar-me-ei agora, senhor. Fiquem em paz – olhou para o rei e para Amara antes de voltar-se de costas.

— Cuide-se, querida! E não se esqueça de vir à reunião de hoje!

De volta ao corredor, caminhou até o fim da mesma, onde uma escada a aguardava. Descendo-a, topou com um garoto de cabelos claros e olhos pequenos e calmos.

— Ah, senhorita Neri – parou no penúltimo degrau e disse com surpresa, abaixando a cabeça em saudação.

— Olá, senhor Asfield – imitou-o e sorriu rapidamente.

— Já disse, não precisa me chamar assim – desviou o olhar. - Meu pai está no salão?

— Está sim, e desculpe – sorriu com culpa.

O rapaz fitou a garota de vestuário quase completamente marrom, camuflando-se com seus cabelos ondulados. As roupas pareciam ser as únicas coisas que lhe davam volume, já que Neri era surpreendentemente magra e pequena.

— Algo errado, senhor?

— Não – ele pareceu perceber que se demorara observando-a. – Ainda não me acostumo em ver um rosto jovem trabalhando com espionagem.

Neri sorriu com diversão. Estava acostumada a ouvir coisas como “parece uma criança no lugar de um espião” e “você não é feminina demais para isso?”. Ingênuos, não sabiam como aquilo era vantajoso para sua função.

— Tudo bem, você sempre diz isso – disse inocentemente.

— De qualquer forma, obrigado. Falarei com meu pai agora – começou a andar novamente, passando a escada. - Tenha um bom dia, senhorita.

A espiã de Ihene o saudou outra vez antes de terminar a escada. A ideia do rei voltou-lhe à cabeça, fazendo-a rir internamente. Se não engraçado, era insano imaginar governar Diellor – ou Ihene, já que o rei deste pensava da mesma forma. 

Com o trajeto até a cozinha real em sua mente, deixou-se observar o cenário através das janelas nos corredores enquanto imaginava o que contaria, em breve, aos seus amigos. Chegando ao andar térreo, pouco andou até que um aroma magnético a atingiu. Sorriu mentalmente e se apressou para dentro da cozinha.

— Sua comida tem o melhor cheiro de todos os reinos que já visitei – falou após se aproximar silenciosamente de uma mulher tão baixa quanto ela, porém com o dobro de peso.

— Ah, Neri-Neri! – a cozinheira se sobressaltou e farinha voou para os lados. – Nunca me lembro dessas suas entradas! – suspirou enquanto limpava as mãos brancas no avental. – Venha cá, garota.

Aldith cercou a jovem com os braços e sorriu.

— Sabe que só vim pelos pães, certo? – retornou o abraço, sorrindo e abaixando o capuz, que colocara novamente apenas para assustar a amiga.

— E eu não saberia? – bufou, separando-se e pegando um embrulho de toalha branca.

— Não são de feijão, certo? – encarou o pacote com desconfiança.

— Prometi que nunca mais faria essa pegadinha! – rebateu e riu com uma perversidade quase oculta.

— Tudo bem – desviou o olhar receoso para a mulher. – Obrigada, Aldith! – abraçou-a rapidamente outra vez e correu até a porta do outro lado do local, com visão de parte dos jardins dos fundos.

— É para dividir com ele, Neri! – gritou, mas ela já estava quase fora de alcance.

A garota atravessou a área de descanso do quintal, indo em direção aos arbustos médios que formavam espirais se vistos do último andar. No centro do parterre, árvores finas cercavam um quiosque arredondado branco e de colunas altas. Dentro, bancos de pedra clara acompanhavam o formato da construção. O campo de visão de Neri logo captou a imagem de um garoto alto e de cabelos castanhos concentrado em tosar um dos arbustos ao redor. Aproximou-se do rapaz, que segurava uma grande tesoura de bronze e que se virou no mesmo instante.

— Olá – a espiã sorriu.

— Olá – abaixou o objeto cortante e voltou o sorriso. – O que tem aí? – lançou um olhar para o embrulho.

— Pães de chocolate. Na verdade, é melhor você provar primeiro pra ter certeza disso – alarmada, sugeriu.

O garoto riu e pegou o pacote, retirando um pão dos vários que ali existiam.

— Chocolate? – Neri questionou com olhar ansioso enquanto o observava mastigar.

— Sim – disse após terminar o pedaço. – Esse pão é incrível – disse com satisfação.

— Valeu, Belch – sorriu e andou até o quiosque, sendo seguida pelo amigo.

Sentou-se em um dos bancos altos enquanto Belchior pousava o pote ao lado para que ambos pudessem pegar mais pães.

— Qual foi o reino da vez? – o rapaz perguntou entre mordidas.

— Chama-se Okarios - flexionou o braço para coletar o alimento. – Eles vivem bastante de comércio com outros reinos. Consegui a localização de mais lugares dessa forma.

— Entendi. E o que comprou?

— Isso – enfiou a mão livre no bolso interior da capa e puxou dois fios. – Um colar e uma pulseira das estrelas. Qual prefere?

— Ambos são femininos, Neri... – suspirou.

— Escolha um logo! – disse falsamente frustrada, mas logo sorriu com a expressão de decepção do rapaz.

— Fico com a pulseira então, assim você não se enrosca se ficar com ela – apanhou o acessório da mão esticada da menina.

O rosto da espiã se iluminou com um sorriso. Depois de uma viagem de três meses, finalmente estava de volta ao lar, com direito à sua refeição preferida, em seu segundo lugar favorito e com o garoto que era considerado seu herói desde a infância.


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