Dois looooongos dias de viajem. Em uma palavra? Chato. Em nove palavras? Eu e Percy ficamos totalmente entediados e com ciúmes.

     Mas nós tínhamos muitos bons motivos, ok? O tal anão ruivo estava descaradamente roubando nossas namoradas! (Quer dizer, a namorada do Percy e a Anna, mas não vem ao caso no momento.) E ainda por cima quando tentávamos fazer alguma coisa elas diziam que estávamos sendo grossos! Da pra acreditar? É, eu sei que não.

     Segundo dia, após o almoço.

     Estávamos em nossa cabine, eu e Percy decidindo qual seria a maneira mais eficaz de fazer Robert (ou Rob, como as meninas chamavam) calar a boca. Sério, não dava para acreditar que ele era apenas quatro meses mais novo do que eu.

     As meninas e Robert tinham ido buscar alguma coisa para comerem de sobrimesa. Elas até perguntaram se queríamos ir, mas preferíamos ficar e fazer pirraça.

     -O que elas vêem de tão interessante no moleque? –Percy perguntava pela quadragésima nona vez.

     -Eu sei lá, Percy. Na verdade desde que ele veio falar conosco da primeira vez eu já não gostei dele. Como se tivesse alguma coisa nele que eu inconscientemente soubesse que era do mal nele.

     -Falou o filho de Hades. –Revirei os olhos.

     Não sei por que acham meu pai mal, ele só é um tanto estressado e irritante por que tem que controlar todo o mundo inferior, é um trabalho desgastante para se fazer por toda a eternidade... Mas voltando ao assunto...

     -É sério Percy, como se não fosse para termos encontrado ele. Além do que, faz alguma idéia de quem seja o pai dele?

     -É claro que não, mas não estou preocupado com isso, ele não me parece ser filho de nenhum dos doze.

     -Quem sabe ele não é filho de Hermes?

     -Acho que não, depois de Luck ele reconheceu todos os filhos.

     -É verdade. Muitos filhos, aliás.

     Ficamos em silêncio olhando para fora da janela, a paisagem era bonita com campos verdes de grandes fazendas, o céu cinza com uma chuva forte no lugar onde o Sol deveria se por.

     Depois de um tempo escutamos gritos de pessoas vindos do corredor. Saímos da nossa cabine e vimos uma multidão correndo para o lado direito, então fomos para o lado oposto.

     Chegamos ao bar e vimos à cena mais ridícula de todos os tempos. Anna e Annabeth lutando e o grande Robert escondido embaixo de uma das mesas segurando suas facas de olhos fechados. Só não pudemos rir por que haviam duas quimeras soltando fogo em cima das meninas.

     Peguei minha espada e Percy a Anakumus. Fomos para cima do leão com corpo de cabra e cauda de serpente.

     Os monstros eram extremamente rápidos e ainda soltavam fogo, foi um tanto difícil acabar com eles. Percebemos que queriam atacar menos Percy e mais a mim e Annabeth. Era Posseidon dando as caras. (Quando meu pai iria aparecer também?)

     Acabamos com os monstros mais facilmente quando meu priminho decidiu jogar toda a água de um lago próximo nos bichos, fazendo com que eles não pudessem soltar fogo.

     Nos reunimos próximo aonde estava Robert escondido.

     -Estão bem? –Perguntei ofegando um pouco.

     -Estamos, eu acho, não é? –Respondeu Anna, os outros fizeram que sim com a cabeça. –Acho que o pior seria pegarmos um resfriado.

     Ela se referia a estarmos todos molhados por conta da água do lago. Robert saiu de baixo da mesa também todo molhado e branco como um fantasma. Olhei para Percy e ele também estava se segurando para não rir.

     -É amiguinho, acho melhor se acostumar com isso. –Ele fez que sim com a cabeça e deixei escapar um riso pelo nariz.

     -Você percebeu que era o seu pai, não Percy?

     -É...

     -Já foram Zeus e os raios, e Posseidon com as quimeras, temos que nos preparar para Hades. –Disse Anna.

     Eu sinceramente tinha mais medo do que meu pai pudesse fazer, por que acho que mesmo querendo me matar meus titios não tiveram a intenção de atacar Robert ou Anna. Agora meu pai não estaria nem ai pra quem atingisse tentando acabar com Percy.

     Pergunto-me como estaria Thalia com as caçadoras. Será que elas ainda estariam em, ou pelo menos próximo, a Chicago.

     -Bom, parece que vamos ter que ir andando.

     Acabei por me dar conta de que o trem já havia parado e os passageiros haviam fugido.

     -É melhor mesmo sairmos daqui antes que tudo exploda!

     Já fora do trem percebemos que estávamos em um campo próximo a uma floresta. Mal dava para ver aonde terminava a linha do trem.

     -Acho que se formos pela floresta consigo levar vocês pelas sombras até uns 10 campos de futebol pra frente.

     -Me recuso a viajar pelas sombras e entrar nessa floresta!

     -Apoiada! –Annabeth concordou com Anna. –Pode haver aranhas.

     -Ok então podem se preparar para passar a noite no meio do nada.

     -Olhem, -Robert pegou de sua mochila um troço que parecia um iPone gordo e amarelo com antena. –Segundo meu GPS estamos exatamente na fronteira entre Ohio e Indiana. Se seguirmos naquela direção de carro em cinco horas chegamos a New Haven.

     -Como sabe do tempo que vai demorar?

     -Não sei, Percy, apenas me aparece. E a pé podemos demorar de doze à quatorze.

     -Então acho melhor andarmos logo, pois a única coisa que temos para comer é chocolate, não que seja ruim, mas tem pouco.

      -Sei disso Sr. Nico, -disse Anna sarcástica começando a andar. –O maior peso da sua mochila é chocolate.

     -Não é não!

     -Nico, você cheira a chocolate de longe.

     -É verdade. –Concordou Robert.

     -Seu beijo tem gosto de chocolate também.

     Anna falou sem pensar e quando se deu conta ficou super vermelha, assim como eu. Percy e Annabeth começaram a rir de mais.

     -As verdades mais profundas são ditas sem pensar. –Disse Annabeth.

     -É... –Anna riu de nervoso. –Mas então Annabeth diga-me sem pensar, o beijo do Percy tem gosto de que?

     -Bolo azul. –Ela riu e foi acompanhada por todos nós.

     Andamos por mais uma eternidade (o que equivale a três horas com umas duas paradas apenas). Se no inicio da tarde já não víamos muito bem o Sol, agora estava um breu completo. Anna andava agarrada em mim, percebi que ela tinha muito medo do escuro.

     Eu era o que enxergava melhor no escuro, então fui e Robert.

     -Vamos parar aqui, chocolate! Estou morto!

     -Anda bolinho azul, eu saberia se estivesse morto. –Respondi a Percy. –Acho que já consigo ver as luzes da cidade.

     -Impossível, nesse ritmo vamos chegar lá apenas um pouco antes do meio dia de amanhã se acordarmos bem cedo. –Falou Robert.

     -Ok, então dormimos cedo para podermos acordar cedo também. Eu começo vigiando. –Se ofereceu Annabeth

     Fizemos uma pequena fogueira e nos distribuímos em volta dela. Percy começou a babar em cinco minutos, logo depois adormeceu Robert. Então eu e Anna ficamos conversando enquanto Annabeth vigiava de cima de uma arvore.

     -Eu vi sabia?

     Eu e Anna estávamos observando as estrelas deitados lado a lado.

     -O que Anna?

     -Você e Percy morrendo de ciúmes.

     -O que? Nós? Com ciúmes? Do Robert? Imagina! Nós não somos assim.

     -É, ainda bem que você sabe que eu só sou apaixonada por um. –Ficamos em silêncio, aquele silêncio que é tão chato que dói.

     -Ah é?

     -Você é muito bobo sabia? Robert é engraçado, mas eu me divirto muito mais com você. Ele pode até ser bonito, mas não faz o meu tipo, prefiro os altos, morenos e gostosos. –Ela disse em meu ouvido.

     -Às vezes eu sinto que não te mereço. –Eu sorri.

     -Só às vezes?

     Ela riu e se jogou em cima de mim, nós nos beijamos intensamente. Rolei para cima dela e depois ela rolou para cima de mim. Sussurei em seu ouvido:

      -Espero que esteja sentindo o chocolate.