Mulheres Reais Possuem Asas escrita por TopsyKreets


Capítulo 1
Capítulo 1 de 2 - A Estrada Até Aqui


Notas iniciais do capítulo

História já completa em duas partes.



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Mulheres Reais Possuem Asas – A Estrada até Aqui

 

 

Na estrada

 

Seria uma longa viagem de Dakota do Sul até Massachusetts. Pelo menos dessa vez a informação era decente. Vindo direto da fonte.

Claire encostou na estrada, vazia. O sol se escondia entre as nuvens. Ela adorava esses momentos para uma boa tortura. Torturar suando era algo, no mínimo, desagradável, e suor era o que não faltava com essa viagem.

O demônio na forma de um enfermeiro de 44 anos não se mexeu. A bala com a Armadilha do Diabo ainda estava fazendo efeito. Isso facilita (e muito) as coisas.

— Hum, isso é uma espada, ou está feliz em me ver?

 

A espada na bainha da mulher fazia certo volume de um certo ângulo, ângulo este que favorecia, naquele momento, o demônio amarrado no porta – malas. Normalmente Claire não utilizava a espada dos anjos, era um item raro demais para se desperdiçar com um demônio qualquer de encruzilhada. Mas a ocasião valeria.

 

Ela tirou a arma da cintura e passou a ponta pelo rosto do prisioneiro. Ele estremeceu, agonizando de dor.

— Não vai arrancar nada mais de mim, moça – balbuciou o demônio – não importa o que faça.

Ela suspirou profundamente.

 

— Acredito em você. Então, se é o caso... Exorcizamus te, omnis immundus spiritus...

 

...

 

O demônio sentiu ser dilacerado, expurgado, de dentro para fora das entranhas do seu receptáculo atual. Era um evento ruidoso e perturbador, mas Claire adorava essa parte.

 

No final, ele desaparecera pelas entranhas no chão. Estava acabado.

Ela deu um longo suspiro, novamente. Teria que desovar o corpo.

Claire detestava essa parte.

Mas teria que ser feito, não poderia carregá – lo até Miskatonic. Ela colocou a espada de volta na bainha e se aproximou para pegar a pá no porta – malas.

 

...

 

O corpo liberou uma convulsão inesperada. Ela deu um salto inesperado para trás, um efeito em resposta natural.

 

Merda. Detesto ainda mais essa parte.

 

Na verdade, ela detestava o susto, não o fato de que o enfermeiro sobrevivera a possessão. Mesmo com a bala alojada no ombro, este se agarrara a vida.

Quando abriu os olhos, a primeira coisa que ele viu fora a mão de uma mulher loira o ajudando a sair de dentro do carro.

 

— E então – perguntou Claire – Tá com fome? Eu comeria um pedaço de torta agora.

 

***

 

Horas mais tarde, Claire já retomava à estrada. A passagem de ônibus e o tempo gasto com os cuidados de Frank Abott tinham compensado. Muitos dos indivíduos que eram possuídos mantinham lembranças do evento, e Frank passara fatos importantes a jovem Novak.

Era o que ela precisava para invadir o Hospital. Desde a falha de segurança que a levaria para dentro, até o quarto que ela precisava visitar.

 

***

 

Hospital Psiquiátrico Miskatonic – Essex County, Massachusetts

 

Depois de uma vida de caçadas, Dean Winchester sabia o que aquele barulho significava. Começava sempre da mesma forma, com um zumbido que ecoava por dentre os ouvidos e fazia as janelas tremerem. Tudo de eletrônico ligara de repente, e os barulhos dos gritos do lado de fora tinham cessado.

Ele estava, na verdade, muito bem para um homem na casa dos cinquenta.

O isolamento lhe fizera bem, apesar dos pesares. Ele estava em forma, com uma barba longa, e se você o conhecera tão bem como poucos que tiveram essa oportunidade, lhe diria que ele era a imagem escarrada de John, àquela altura.

 

Achou que fosse Castiel que cruzaria a porta do quarto. Mas isso não ocorreu.

Claire entrou porta a dentro, mas parou bem à frente de Dean. Ela reconheceu aquele olhar. De uma fera, enjaulada, forte, mas que lutava para se controlar.

Ela não.

O abraçou, e se pudesse, não o soltaria mais. Ela sentira sua falta, seu toque. Seu cheiro. Usar seus casacos não eram mais o suficiente. Queria estar com ele.

 

— Senti sua falta, coroa.

Dean retribuiu o abraço, mas apenas com um dos braços. Estava sério e inquieto. Não sabia se a ocasião era uma boa ideia.

— E eu a sua, garota.

Ela o largou e deu um tapa no peito dele.

— Não me chame de garota. Não sou mais criança.

Ele aproveitou a oportunidade e deu uma olhadela para fora do quarto. Todos os que estavam do lado de fora estavam caídos no chão.

 

— Notei – disse.

 

Na verdade, era a primeira que Dean notara que o tempo não passara só para ele. De fato, Claire era uma mulher agora. Forte, graciosa, o tipo de pessoa que sabia arrancar corações.

 

E ela os fazia, no sentido literal da palavra.

— Como fez?

— Não se preocupe, coroa. Eles estão bem. Eu tive que matar uns demônios do lado de fora, mas não podia matar os pacientes. Nem deixar que eles alertassem a polícia.

Mas Dean não levou fé nas palavras da caçadora. Sabia quando ela mentia, ou quando escondia as coisas dele.

— Não perguntei o que você fez. Perguntei como você fez.

Claire passou a mãos pelos cabelos desgrenhados e colocou uma mecha por detrás das orelhas.

— Ué, usei o meu charme. Eu só...

 

O escárnio das palavras foi interrompido abruptamente pelo brilho intenso que tomou o quarto, acompanhado dos olhos azuis e da sombra de asas danificadas no chão.

 

— Teve que ser feito – Castiel argumentou. Estamos com pouco tempo.

— Droga Cas! – Bradou Dean – Ela não! Já havíamos conversado sobre isso! Que merda!

Ele socaria o anjo se não soubesse que faria mais mal a ele do que a Castiel. Além do mais, isso não o tiraria de dentro dela.

— Foi necessário –  argumentou o anjo – Levaram meu outro receptáculo. Eles...

O brilho desapareceu, mas a chama nos olhos de Claire estava só esquentando.

— Droga Cas, deixa que eu falo.

Ela se recompôs e continuou. Cada vez estava mais difícil ter que carrega o anjo dentro de si.

 

— As coisas mudaram. Precisamos de você. Jody está reunindo tomo mundo que pode...

— Espero que não seja para a campanha de reeleição. A prefeita pode se virar bem sem que eu...

 – Vamos abrir um dos portões do inferno. E vamos entrar, no estilo “ quebra – geral”.

 

Não era muita coisa que fazia Dean Winchester perder a voz. Mas até para a estupidez humana, havia limite.

 

— É, isso não ocorre todos os dias, não é? Posso pelo menos saber o porquê?

— Não foi ideia nossa. Amara está fraca, e precisa de nossa ajuda, não pode ir lá sozinha.

 

O braço, na altura onde um dia já esteve a marca de Cain, começou a latejar.

Já fazia muito tempo que não ouvira esse nome.

 

Pela primeira vez, Dean tirara o olhar sério do rosto e demonstrava um sorriso, ainda que austero.

— Parece que a Rowena está dando muito trabalho no comando, não é?

— Ela prendeu Chuck. Vamos busca – lo. Queremos que você lidere a equipe.

 

...

 

Fantástico, ele pensou, simplesmente fantástico.

 

***

 

Do lado de fora, ele ia esquentando o motor do Impala. O carro agora fedia a suor e Mocaccino barato.

 

— Tudo certo lá dentro – afirmou Cas, enquanto se sentava no banco do ao lado – Eles não vão se lembrar de nada quando acordarem.

— Demônios te trancaram num hospital psiquiátrico? Sério?

 

Não era mais Cas que estava mais falando. O tom de voz sarcástico pertencia única e exclusivamente a Claire.

— Eles não me queriam morto. Daria muito trabalho lá em cima. Ou pior, lá em baixo.

— Precisava ter deixado?

— Tanto faz. Sinceramente, não dou a mínima.

 

Depois desse incrível levante de moral, Claire deu um tapa nele. Não por raiva. Mas apenas para que ele cortasse aquela ladainha. Ela o agarrou mais uma vez, aconchegando seu corpo no dele.

—  Não podia ter feito isso. Não comigo.

—  Garota, eu sou muito velho pra você, e ...

—  Cala a boca! E Não me chama de garota.

— Como é que é? Cala a boca você! Respeita o professor.

—  Babaca.

—  Vadia.

—  Te amo.

 

Quando deu por si, já havia sido dito. O silêncio tomou conta do carro. Claire se desvencilhou dele e pôs se de coluna ereta no assento.

A reponsabilidade de quebrar o silêncio mortal fora a de Dean.

 

— Só para constar, foi você que disse, o Cas ou é um sentimento compartilhado?

Claire ligou o celular e deixou que Paradise City invadisse seus pensamentos.

— Você nunca vai saber.

 

Ele riu e colocou o carro na estrada. Eles rodaram e rodaram. O sol se pôs, e mais uma vez, ressurgiu. E quando isso ocorreu, eles rodaram ainda mais.

 

FIM DA PARTE 1/2


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