Annabeth wants peace. escrita por Thalia Martins


Capítulo 1
Capítulo 1




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Era como um precipício sem fim, no qual eu caía e apenas caía, angustiando pelo final.

Eu via tudo a minha volta mudar, mas era tão ridículo o modo que as pessoas mudavam apenas para agradar aos outros, agradar a mesquinha sociedade.

Talvez eu fosse a errada em querer seguir meu próprio caminho, seguir minha própria onda, sentir minha própria brisa.

Sem muitos amigos, na verdade apenas três: Thalia, Nico e Frank, amigos desde o primário. Quem sabe, muito antes disso.

Já passamos por tantas coisas juntos... Me sinto culpada por fazê-los passar pelo que passarão, eles não merecem, mas é o melhor... Eu realmente espero que seja o melhor.

Eu sentei em um banco qualquer em uma praça perto do quarteirão da minha escola, a pracinha era estranhamente reconfortante, tinha três balanços, sendo que um estava quebrado e o outro estava servindo de repouso para uma garotinha sorridente... Sorrir... Há muito eu não sabia o que era sorrir de verdade, sorrir sem escárnio ou deboche.

 Havia no pequenino parque, um escorrega com uma caixa de areia no final de sua descida, ao lado, uma gangorra muito suspeita. A grama alta, já com pequenas plantinhas desconhecidas, a rua vazia e o tempo fechado daria para aquele lugar um pequeno cenário de terror, isso se não houvesse as pequenas gargalhadas da pequenina garota loirinha em seu mundinho colorido que existia apenas por ela estar desfrutando de um brinquedo.

Eu olhei para o prédio alto que ficava á esquerda da pracinha, ele seria perfeito para o que eu iria fazer, e por um momento, um milésimo de segundo, permiti-me sorrir de meu pensamento.

Eu ouvia atentamente o rangido do balanço, agora vazio, olhei ao redor para ver se a garotinha estava perto, mas nada eu encontrava. Não havia percebido que ela havia saído.

Deixei de lado isso, e voltei a pensar nos meus amigos, um por vez, primeiramente na minha querida e nada meiga Thalia.

Lembro detalhadamente de suas características: cabelos negros com mechas azuis, pretos e reluzentes, contrastando com seus olhos azuis elétricos, magra e esguia, pele pálida  e com pequeninas sardas no nariz, que de tão pequenas, quase sempre passavam despercebidas por todos. Ama Slipknot e NickelBack, e acima de tudo Green Day. Usava sempre o mesmo tênis All star vermelho e calças rasgadas nos joelhos, confecção feita por ela mesma e uma pequena ajuda de seu irmão Jason, quando os dois brincavam de “lutinha”. Sempre com seu humor despojado e às vezes meio irritante.

Lembrei-me do dia em que contei-lhe sobre algumas garotas que conheci, Zoe e Hazel, ela pirou, deu o maior chilique dizendo que eu não poderia esquecê-la e   ficar com umas “quengas” que eu nunca tinha visto em minha vida. Depois de um mês carrancuda, ela voltou ao normal, e as meninas que conheci, nunca mais vi e nem tive noticias.

Após os pensamentos de minha amiga, venho-me a mente o sorriso do meu grande e tímido Frank, ou Fray como carinhosamente nosso pequenino grupinho o chama.

Quando eu digo grande, é literalmente grande, com seus 16 anos, é... Como ele gosta de dizer... Excepcionalmente incorporado. Tem cabelos pretos meio curtos, mas grande o suficiente para escorregar do boné Nike que sempre usa com a aba reta virada para trás. Não é de muitas palavras, mas tem um bom papo quando quer. Seus olhos puxados e seu nariz redondo o deixavam com uma carinha de bebê.

Sempre trabalhou, desde cedo ajudando os pais em casa, orgulho da família e dos amigos.

Por ultimo, lembrei-me de Nico, o gótico da turma. Ele e Thalia já namoraram uma vez, mas mesmo depois do término, continuaram se pegando e sendo grandes amigos. Desejo que no futuro se casem, mesmo que eu não possa ver a felicidade deles no altar.

Nico é diferente de todos nós, os cabelos pretos não têm o brilho reluzente dos de Thalia, e sua pele pálida lhe dá a impressão de estar sempre doente, os olhos são negros, como carvão. Ele é magro, mas não muito. É o mais alto de todos nós. E o que mais dá conselhos também.

Um complementa o outro na nossa amizade, me pergunto se não vou acabar com o equilíbrio deles depois que... Uma lágrima cai. A primeira do dia demorou até.

Pensei em meus pais, sempre brigando, sempre estressados com o trabalho. Nunca tendo tempo para mim ou para Malcom.

Eu não sei mais o porquê que não fiz isso logo.

Olhei para a rua, alguém de capuz  estava andando devagar na calçada, pelo físico, era um garoto, ele falava no celular e fazia gestos exagerados com a mão. Parecia nervoso.

Entrou na pracinha precária e se sentou no muro suspeito, tirou o capuz me dando uma visão não muito clara de seu rosto. Eu o conhecia. E tenho uma breve ideia do porque esteja tão nervoso.

Percy Jackson, meu colega desde o quinto ano, mas não sabe nem meu nome. Ele é o típico popular, pena que sei muito sobre ele para dizer que o odeio. Seus pais morreram em um acidente de carro a um ano, desde então mora com seu irmão Tritão e sua tia Afrodite, a convivência não é das melhores. Vive brigando com o irmão mais velho, e se metendo em confusões por causa da namorada.

Eu tenho pena dele, pois apesar de tudo, ele os ama muito, sei que morreria para salvá-los. Infelizmente eles não sentem o mesmo. Já que irmão e cunhada têm um caso.

Eu sei disso porque os vi perto da minha casa uma vez, eu havia chegado tarde em casa depois de um encontro com meus amigos, eles estavam em um carro, apenas se esqueceram de que os vidros eram claros. Eu vi a cena e me senti enjoada, ponderei contar para o Jackson menor, mas não queria me meter nos problemas deles. Os meus já eram o suficientes.

Olhei novamente para o céu, eu já tinha a coragem que faltava, agora falta aquele garoto sair dali. Eu não iria me jogar de um prédio com uma plateia.

Os rostos de Malcom, Thalia, Nico e Frank passaram em minha mente como um flash, eu conseguia visualizar seus olhos tristes e decepcionados ao saberem que fui fraca. Isso doeu.

Já decepcionei gente de mais, mas seria melhor assim, pelo menos a probabilidade de os machucarem mais vezes do que o necessário seria nula.

A segunda lágrima deu o ar da graça, mais dolorosa e firme.

—Acha que é a melhor opção?

Não sei como nem quando, mas a garotinha loira estava ao meu lado, o susto que levei foi tão grande, que meu coração parecia estar apostando corrida com um caminhão.

—Como diabos você... Do quê você... Quem é você? –Eu estava confusa sobre o que falar primeiro. A garota me encarava serena, com um misto de compaixão e incredulidade muito incomum para a sua aparente idade.

—Não importa. Mas e você, moça, acha que pular desse prédio vai ser o suficiente para melhorar os teus problemas? –Eu estava surpresa, como ela sabia disso? Como ela entendia isso?

Eram perguntas de mais e respostas de menos, eu não conseguia fazer nada além de encará-la e abrir a boca sem dizer nada. A garotinha loira parou de encarar, seu foco agora era o moreno sentado no muro, ela o encarava com tristeza, parecia que o conhecia.

Quem é você?— Resaltei a pergunta novamente, ela não me olhou, estava ocupada de mais assistindo o garoto brigar com alguém no celular.

—Você não entenderia. Diga-me, vale a pena?

—O que vale apena? –Eu estava com medo, medo de uma garotinha.

—Morrer? Sabe o que muitas pessoas dariam para ter uma vida? E você aí, querendo jogá-la no lixo com uma casca de banana. Esperava mais de você, Annabeth.

Então ela me conhece, mas da onde?

Olhei para os lados, como se procurasse alguma câmera, talvez fosse uma pegadinha. Quando voltei o olhar para a garotinha, ela não estava mais lá.

Isso só pode ser um delírio quando se está perto da morte. Algo da minha cabeça.

Será mesmo que vale a pena morrer? Esta pergunta vagou novamente em meus pensamentos, e por um momento, pensei que não. Mas foi breve.

Olhei novamente para o muro, o Jackson continuava lá, eu fiquei ansiosa, queria que ele saísse de lá de uma vez, antes que o pouco de coragem que me restava esvaísse de vez.

Suas mãos estavam na cabeça, ele não falava mais ao telefone. Eu podia notar seus ombros tremerem, estava chorando. Eu quis descer e perguntar se ele estava bem, mas que lógica isso teria?

Desviei o olhar para o céu, nublado. Será que a natureza me entende?

Estava ficando tarde, logo Thalia irá me ligar, não quero que ela me ligue. Isso seria o estopim para desistir da minha ideia. Fiquei mais nervosa, e o garoto não saía dali, continuava chorando, mas dessa vez dava chutes no muro, tão fortes que com certeza lhe causariam uma dor absurda.

Não adiantava, eu não poderia esperar, se ele não quer sair dali, então que aprecie o show.

Respirei fundo e coloquei as duas pernas para fora da laje, deixando-as soltas, fechei os olhos e lembrei mais uma vez dos rostos sorridentes de quem eu amo. A terceira lágrima caiu.

Faltava pouco para o fim, olhei para o moreno, torcendo para que ele não estivesse mais ali, infelizmente estava. E não estava sozinho.

A garotinha loira falava algo para ele, e apontava em minha direção. Seus olhos verdes estavam vermelhos e mostravam pânico ao me verem. Logo ele correu na direção do prédio em que eu estava. Respirei fundo novamente, tinha que ser agora.

Um... Thalia eu sinto muito... Dois... Sentirei sua falta Nico... Três... Perdoe-me Fray... Quatro... Eu te amo Malcom... Cinco.

Assim que tomei impulso para me libertar, alguém me puxou de volta, olhos verdes me encaravam aflitos, braços fortes me seguravam em abraço. Uma mão delicada e pequena estava em meu rosto.

—O que você pensa que está fazendo? – Sua voz rouca e brava estava me causando medo. Eu não conseguia falar nada, no fundo eu o agradecia por me impedir de acabar com todos ao meu redor.

—Eu agradeço pela ajuda, Percy. –A menina loira disse, enquanto me olhava com aquele olhar de compaixão.

—Agradeça a sua irmã que me pediu ajuda, ela estava desesperada ao ver que você iria cometer uma loucura! –Ele ainda me segurava perto, como se estivesse com medo de me soltar.

Eu encarei os dois com pavor, quer dizer que ele também a via?

Procurei a menina, ela não estava mais ali. Percy pareceu não perceber.

—Você não deveria tentar fazer essas coisas, têm gente que te ama, sabia disso? –Sua voz não estava mais brava, e ele me olhava triste. Eu queria entender tudo, mas não havia nenhuma peça para encaixar. O que foi que acabou de acontecer?

—Quem ela era? –Foi a única coisa que consegui pronunciar, antes de apagar.

                                                  ***

—Você acha que ela ficara bem?

Gabriel olhou para Annabeth, ela estava perturbada de mais.

—Ange, você a salvou da morte. É o que importa.

Meus olhos vagaram na cena, o garoto Percy tinha um brilho diferente de quando falei com ele. Agora ele parecia feliz ao ver a menina Annabeth.

—Ele irá ajudá-la?

—Ele será o único que poderá. Você completou sua missão, criança.

Seus olhos azuis e dóceis me passavam a tranquilidade necessária.

—Antes me diga, eles se lembrarão de mim?

—Sim, mas no futuro, eles não só lembrarão como terão você ao lado deles. Para sempre.

Olhei sem entender para o anjo. O que ele queria dizer com aquilo?

—Vamos Ange, o senhor quer lhe ver.

Olhei novamente para os dois jovens, algo me dizia que eu os veria em breve, e eu gostava dessa sensação.

As asas brancas e bonitas do anjo ao meu lado me chamaram a atenção. Era tudo lindo onde eu estava.

—Você não me respondeu.

—Sim, ela ficará bem. Enfim terá a paz que procurava.

Gabriel estendeu-me a mão, eu olhei para cima encarando seus olhos azuis. Ele é alto. Segurei sua mão.

O anjo sorriu e então uma luz branca apareceu ao nosso lado, eu conseguia ouvir as vozes suaves cantando uma música bonita.

—Logo voltará para seus pais.

Pais?

 


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Notas finais do capítulo

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