Redemption escrita por Marimachan, Ginko13, Fujisaki D Nina


Capítulo 22
XX - Curious Stories




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— Oooooe, me esperem! — Uma voz longíqua gritava; a voz de alguém que vinha correndo pela estação, em direção ao trem no qual embarcavam. — Gin-saaaan!

— O que ele ‘tá fazendo aqui? — Souichiro foi quem perguntou muito admirado, com um pé no trem e outro ainda no chão da estação, Dango estava à sua frente e a fila atrás dele seguia-se por sua mãe e Gintoki.

— Talvez veio se despedir — A albina deu de ombros, não dando tanta importância ao fato.

— Por que está correndo como um rato fugindo de um gato, Madao? — Kagura questionara, rolando os olhos quando o homem alcançou-os, apoiando-se sobre seus joelhos e arfando profundamente.

— Está atrasado — informou o Sakata, com a voz levemente entediada.

— Desculpe! Eu quis me despedir de Hatsu antes — pediu, erguendo-se e recompondo-se.

— Será que dá pra irem mais depressa?! — Um homem mal-humorado gritou colocando a cabeça pra fora de uma das janelas.

Logo então, os que faltavam entrar seguiram seu caminho e o trem fechou as portas para finalmente partir. Os cinco seguiam o corredor em direção ao mini-vagão dianteiro, reservado para primeira classe, e mais especificamente ainda, naquele caso, para Gintoki e todo o resto do povo. Dadas as características peculiares das pessoas que o cercavam — e a quantidade também —, ele achou por melhor reservar aquele mini-vagão somente para eles, assim poderia viajar em paz, sem ter que se preocupar com quantas pessoas estariam incomodando durante a viagem.

— Eh?! Então o Madao vai trabalhar pra você agora? — Souichiro questionou assim que adentraram o local, após perguntarem novamente o que Hasegawa fazia ali.

— Se ele conseguir, sim — respondeu em um tom que não demonstrava colocar muita fé naquilo.

— Gin-san! Finja acreditar um pouco mais em mim! — pediu indignado. — E você é meu amigo de longa data! Tem que ajudar os amigos falidos e menos favorecidos!

— Eu só decido quem sai da Shinikayou, Hasegawa-san — comentou sentando-se ao lado da esposa, colocando o braço direito por trás dela, sobre o encosto do estofado, despreocupadamente. — Quem entra não é comigo.

— Eh?! Como assim? Você é quem manda lá, não é?! — O desespero tornou sua voz um pouco mais aguda.

— Sim, mas eu não sou o responsável por isso. — Deu de ombros.

— O único responsável por entrar na Tenshouin Shinikayou é você mesmo. — Surpreendentemente, a voz de Sayuri ecoou, chamando a atenção de todos pra ela, inclusive daqueles que não participavam da conversa, mas prestavam atenção.

— Como assim, garotinha? O que quer dizer com isso? — O desespero aumentava um tico mais.

A pequena apenas suspirou resignada a ter que explicar isso pra alguém que pretendia entrar na organização e, na opinião dela, já deveria ter pesquisado isso antes.

— Você não entra na organização por querer apenas ou por ser amigo do papai — incriminou o homem com rigorosidade. — Você tem que fazer uma série de provas, pra depois estudar e treinar por dois anos na organização como aprendiz, ou até completar 18 anos, e só então, se você passar em todas, absolutamente todas as avaliações, com uma média acima de 8, é que você se torna um membro oficial — concluiu, fazendo o ânimo do ex-agente do Bakufu despencar ainda mais.

— E o que acontece se a pessoa não passar nessas avaliações? — Shinpachi questionara, curioso.

— Você vai continuar estudando e treinando, e tentar no próximo ano — informou prestativa mais uma vez. — Mas o máximo que você pode continuar em treinamento, a não ser em casos de menores de idade, é 4 anos. E também, é difícil alguém não passar.

— Por quê? — Um fio de esperança surgiu no coração de Hasegawa. — O instrutor é bonzinho?

Ouviu-se Satoshi rindo.

— O dia que o Kasai ficar bonzinho, eu me torno um anjo — brincou.

— Quem?

— Kasai-sensei — Sayuri respondeu à Souichiro. — Ele é o responsável por toda essa parte. Ele que aplica as avaliações e ele que instrui os membros em treinamento. E ele também é responsável pela disciplina e treinamento dos membros oficiais. — Era visível que era um homem bastante admirado pela pequena, porque seus olhinhos brilhavam ao falar dele.

— A Sayuri é “mó” fã do Kasai — o gêmeo debochou, rindo, fazendo-a olhá-lo feio.

Logo ela cruzou os braços e virou o rosto, fechando os olhos e empinando o nariz, porém.

— O Kasai-san é legal, — A vozinha sonhadora de Mayume apareceu. — eu tmb gosto dele. — Sorriu grande. — Mas às vezes ele é bem assustador também. — Fez careta de medo.

— Ele é o principal responsável pela taxa de aprovação ser quase máxima. — Sayuri voltou a mencionar. — Porque, pra começar, só os melhores ou aqueles que têm grande potencial é que ele deixa entrar na fase do treinamento! — alertou ao velho amigo do pai.

— Oe, Gin-san — chamou em lamento. — Você não me disse que seria tão difícil — choramingou. — Você bem que podia dar uma ajudinha, não é?

Gintoki rolou os olhos, enquanto permanecia observando a janela.

— Eu já disse que isso não depende de mim. — Ajeitou-se no pequeno sofá. — Mas você deve chegar lá em algum momento. — Fez um joinha com a mão, mesmo que sua expressão não tivesse nada entusiasmada, o que fez Taizou afundar-se no estofado.

— Aposto 500 iene que ele não aguenta uma semana no novo emprego, se conseguir passar — Souichiro voltou-se para Dango, sentada ao seu lado.

— Aposto em duas semanas. — Estendeu a mão para o amigo.

— Fechado — ele concordou, ignorando o Madao chorando atrás de si.

— De qualquer maneira — Shinpachi voltou a pronunciar-se, deixando que uma gota de suor escorresse por sua testa —, você parece saber muito sobre a organização, Sayuri-chan. — Sorriu.

A pequena ruborizou de leve, mas acenou positivamente.

— Eu tenho que saber. — Assumiu então um olhar orgulhoso e determinado. — Eu vou suceder o papai!

— Hooo, é uma afirmação bem presunçosa — gozou Souichiro, mesmo que, assim como os outros, surpreso pela afirmação.

— Não é presunção! — devolveu contrariada. — É a verdade! Não é, tou-chan?

— Hai, hai — afirmou, com a sombra de um sorriso nos lábios. Sua atenção, porém, logo se voltou à filha mais velha, que, olhando concentrada para as paisagens correndo lá fora, foi chamada por Mayah.

— E você, Dango-chan? — Sorriu. Soujirou encontrava-se brincando com Mayume, em seu colo. Dango encarou a morena ao ouvir seu nome. — Já sabe o que quer ser quando crescer?

Levou alguns segundos para que a albina pensasse sobre a pergunta, mas nada além disso, já que examinando todas as profissões que passaram por sua cabeça no decorrer dos anos, aquela era a única que permanecia em seu coração.

— Quero ser professora. — Sorriu de volta para a mais velha.

— Hoo, tem certeza? — comentou Gintoki, sorrindo divertido. — Você tem a paciência necessária pra isso? — brincou ao se lembrar das inúmeras vezes que assistira ela ralhando com Souichiro e Satoshi naquela semana.

— Ela vai matar os alunos no primeiro dia de aula — Satoshi pronunciou-se, fazendo cara de lamento pelas crianças assassinadas.

— Você e o Souichiro são os únicos que conseguem me tirar do sério! — exclamou, com uma mínima veia saltando em sua mão fechada. Logo suspirou, entretanto. — Mas sim, tenho certeza. Eu amo estudar. E ensinar também. — Tornou a encarar o pai. — Desde pequena eu vejo o Shouyou-sensei dando aula, e sempre quis fazer igual ele. — Sorriu mais uma vez, seus pensamentos suavemente a levando para aquelas lembranças.

— Afinal, sempre foi minha melhor aluna — comentou Shouyou no outro banco, sorrindo num misto de doçura e orgulho, fazendo Dango ruborizar pelo elogio, mas ainda assim continuar sorrindo consigo mesma.

Gintoki sorriu. Falar de Shouyou e aulas com certeza o remetia às próprias lembranças.

— Então tenho certeza de que será uma excelente professora — respondeu, fazendo-a voltar a ruborizar.

Após o comentário, a conversa voltou-se para as profissões das outras crianças, que bem diferente de Dango e Sayuri, ainda não faziam ideia sobre exatamente o que seriam, o que acabava arrancando algumas boas risadas com um comentário estranho aqui ou lá. Enquanto isso, em seu próprio canto, a gêmea de Satoshi observava a cena sem demonstrar qualquer tipo de sentimento, embora em seu interior, as coisas não estivessem tão simples e pacíficas quanto suas feições.

(...)

A noite começou a substituir o dia no acompanhamento do trem até Aokigahara, mas surpreendentemente o único a já ter se rendido ao sono, quando eles chegaram na estação às oito da noite, foi o pequeno Soujirou. Nem mesmo as horas de papo, com as crianças brincando para lá e para cá (com Dango e Souichiro empolgadíssimos uma vez que nunca haviam andado de trem antes), fizeram os outros dormirem; todos estavam animados demais, nervosos demais.

Assim que chegaram à estação, não demoraram a descer e a primeira coisa que os visitantes puderam perceber de diferença, é que era tudo muito menos barulhento e “bagunçado”. Não havia ambulantes espalhados pelo amplo ambiente, e as pessoas, mesmo que centenas, transitavam de forma rigidamente organizada.

Seguindo Mayah e Gintoki, que iam à frente, todos caminhavam com suas bagagens para o que parecia ser a saída da estação. Não demoraram muito a alcançar o ambiente externo e então se admirarem com o que viam.

— Sejam bem-vindos à Aokigahara! — Mayah sorriu animada e virou-se para encará-los, logo satisfeita por parecerem estar admirados e empolgados, especialmente Dango e Souichiro.

As duas crianças, assim como todos os outros companheiros, olhavam para a mesma direção. Logo de cara, a primeira coisa que chamava atenção quando você chegasse à calçada externa era o enorme castelo ao longe, no alto da cidade, cercado de vegetação. Como estavam no verão as árvores exibiam vários tons de verde vivo, embora fosse noite, deixando a paisagem muito agradável.

— Quando estamos na primavera fica ainda mais belo — a morena voltou a se pronunciar, também encarando o castelo. — A maior parte daquelas árvores são Sakuras.

— Imagino como deve ficar... — comentou Otae encantada.

Outro ponto que observaram foi o fato de que qualquer pessoa que passava por eles cumprimentava à Gintoki, fosse com saudações de “Boa noite, Comandante.” ou fosse apenas acenando com a cabeça. Devia ser cansativo lidar com aquilo todos os dias, ainda assim o prateado tentava responder a todos com educação.

Após andarem mais um pouco, chegaram ao estacionamento, aonde dois homens vestidos de terno já aguardavam por eles, um em cada SUV preta.

— Vocês preferem ir a pé? — Mayah perguntou aos visitantes, após colocarem suas bagagens nos porta-malas dos dois carros. — Nossa casa fica à uns 20 minutos daqui andando.

— Eu gostaria de ir caminhando — Shouyou respondeu, distraidamente. — Quero ver como a cidade está depois de tanto tempo. — Sorriu a seu modo.

— Já esteve aqui antes, Shouyou-sensei? — Kondou surpreendeu-se.

— Um século atrás, sim — respondeu naturalmente, olhando em volta.

— Por que a surpresa? — Gintoki foi quem questionara ao olhar para as expressões dos antigos companheiros. — Eu já lhes disse que a Shinikayou foi fundada como uma extensão da Naraku — completou ao colocar uma última bolsa no porta-malas e então um de seus motoristas fechá-lo.

Então ele viu a expressões se transformarem em “Oh, é verdade.” e rolou os olhos, fazendo seu mestre rir contidamente.

— Bem, vamos andando então? — Shinpachi olhou em volta pra ver se todos concordavam e viu um aceno positivo de todas as cabeças.

A partir de então apenas esperaram Gintoki dispensar os motoristas e começaram a caminhar pelas ruas da cidade, com ele sempre à frente, indicando as direções. Todos conversavam alegremente, uma vez ou outra fazendo comentários sobre as coisas que encontravam pelo caminho.

De fato, eram duas realidades totalmente diferentes. Raramente encontravam algum amanto pela rua, não existiam naves espaciais voando pra todo lado, era apenas um céu relativamente estrelado para uma zona urbana. Ainda assim, sendo uma cidade com cara de muito mais “pacata” que Edo, possuía ruas extremamente movimentadas por toda a parte, talvez por estarem passeando por avenidas principais e não ruas de bairros, ainda assim era surpreendente para uma cidade que parecia ter parado no tempo.

Ainda que tivessem essa impressão, percebiam que não era de todo certa. A tecnologia estava presente por toda parte, bem como certas características próprias do tempo em que viviam. O que acontecia era que havia uma mistura equilibrada de passado e presente. O que parecia, na verdade, era que os habitantes da cidade decidiram-se por aderir aos costumes e coisas que lhes eram úteis e acreditavam serem benéficas, e simplesmente ignoraram qualquer mudança que não agradava a maioria.

Eles continuaram a andar, os habitantes de Edo admirando tudo ao redor deles enquanto a família Sakata se divertia com seu fascínio. Não muito à frente, Mayah estava pronta para apontar a sorveteria favorita deles — e na opinião dela a melhor da cidade — aos convidados quando, aparentemente do nada, Satoshi exclamou:

— Misha! Kari! — E saiu correndo sem sequer olhar para trás, fazendo todos olharem curiosos para a direção em que corria.

— Finalmente voltou, cara! — um garoto que parecia ter a mesma idade dele sorria animado, se aproximando deles mais rápido porque dos patins que usava.

Sua pele era morena e bronzeada, seus cabelos castanhos escuros eram penteados para trás e seus olhos verdes combinavam com o grande sorriso que dava.

— Achei que tinha resolvido morar lá de vez — “reclamou” a garota que acompanhava Misha, embora também estivesse completamente animada.

A pequena tinha os cabelos longos e levemente cacheados presos num rabo de cavalo lateral. Eram do mesmo tom de roxo que seus olhos, os quais pareciam verdadeiras ametistas. Embora tivesse um rosto de princesa, o modo com que se vestia mostrava que ela era tudo, menos uma princesa; estava mais para menina moleca.

Satoshi os cumprimentou com gestos aparentemente característicos deles, enquanto ria.

— Só se eu pudesse te carregar de volta pra sua cidade natal — gozou ele, fazendo-a também rir.

— Boa noite, meninos — Mayah cumprimentou sorrindo gentil. — Como vão vocês?

— Boa noite, tia Mayah — os dois devolveram o cumprimento.

— Estamos legais — Misha respondeu. — E agora agradecidos por devolverem o Satoshi. Obrigada. — Riu divertido, fazendo Mayah também rir brevemente.

— Por nada.

— E aí? Como as coisas por aqui ficaram? — o albino menor questionou.

Kari e Misha olharam finalmente para todo aquele povo que os acompanhavam e os observavam curiosos.

— Primeiro... quem é esse povo todo? — Kari admirou-se, parecia que prestava atenção neles pela primeira vez.

O dito povo nada disse, apenas encarando de volta as duas crianças, um grupo sem ter ideia de quem o outro era. Ou quase. Dango, Souichiro e Shouyou não precisaram pensar muito para reconhecer os nomes e perceberem que aquelas crianças eram os melhores amigos de Satoshi, os quais o albino mencionava toda vez que abria a boca para contar uma de suas traquinagens em Aokigahara.

— Estes são nossos novos hóspedes! Todos de Edo — o pequeno respondeu prontamente. — São amigos do papai. — E virou-se para as visitas. — Pessoal, esses são o Misha e a Kari, meus mais fieis parceiros de crime.

— Yo — os dois apenas cumprimentaram e então focaram na garota de cabelos prateados.

— Então... É verdade? — Misha questionou ao amigo, deixando o resto da pergunta por entrelinhas, ele entenderia.

— Ah, sim. — Virando-se brevemente, pegou Dango pela mão para puxá-la pra frente. — Essa é a Dango, minha irmã mais velha — apresentou sem mais delongas.

— E eu sou o Souichiro, o melhor amigo dela, que vem junto no pacote — o Okita se apresentou bruscamente, indo mais para perto de Dango e segurando o braço da amiga.

A albina não sabia se revirava os olhos pelo comportamento do amigo ou se o agradecia, pois sua atitude pelo menos fez sumir o pequeno nervosismo que sentia em conhecer os amigos de seu irmão. Dando um discreto beliscão na mão que Souichiro colocara em seu braço para repreendê-lo, Dango ignorou o "ai!" que ele soltou, sorrindo para Misha e Kari.

— Prazer em conhecer vocês. — Ela fez uma breve reverência. — Satoshi falou bastante de vocês.

As outras duas crianças seguraram uma risada quando assistiram a cena, mas logo acenaram em um rápido cumprimento.

— O prazer é nosso — Misha mais uma vez respondeu.

— Então a cidade inteira já sabe sobre isso? — Mayah questionou aos pequenos, levemente irônica.

Os dois deram de ombros em seguida concordando com a cabeça, o que fez a morena rolar os olhos. Já devia imaginar que chegariam com a fofoca já correndo solta.

— Mas e aí, caras? Como foram esses dias sem minha ilustre presença? — se gabou.

— Conversem enquanto vamos caminhando — Gintoki se pronunciou. — Já está tarde, vamos levar os dois em casa.

Os pequenos deram de ombros novamente, concordando. Afinal de contas, não valeria a pena contrariar a ordem indireta.

— Então, cara — Misha chamou Satoshi, enquanto eles já andavam com o grupo. — Você perdeu!

— O que eu perdi? — o albino perguntou, já demonstrando desânimo. Provavelmente os dois deveriam ter feito alguma coisa realmente divertida, e ele ficara de fora.

— Nós íamos ao zoológico no último dia de aula, lembra? — Kari deu continuidade.

— Lembro — respondeu um pouco mais animado.

Se o que aconteceu, fosse lá o que tenha sido, havia sido nesse passeio, então ele perderia mesmo que estivesse na cidade, já que ele não ia à escola com os amigos.

— O Kako, aquele retardado da outra sala, lembra dele? — a roxeada continuou.

— Claro que lembro. — Riu lembrando-se de um episódio específico em que haviam causado um apagão geral em Aokigahara só pra dar uma lição no dito cujo, quando foram ao maior Parque de Diversões da cidade, no ano anterior.

— Então, ele estava também, pra variar — Misha reclamou entediado. — E tava enchendo o saco de uma menina da sala dele lá.

— E nós resolvemos dar uma nova lição nele. — Kari sorriu quase demoniacamente.

— Oh, céus, por favor, me digam que não causaram outro apagão na cidade por causa desse garoto — Mayah pediu quase em tom suplicante.

Os acompanhantes de Edo arregalaram os olhos com a informação da morena.

— Apagão? Como assim essas crianças causaram um apagão na cidade inteira? — Kondou fora quem expressara o que todos sentiam.

Satoshi riu com gosto.

— Foi uma vez em que fomos no parque e resolvemos fazer esse idiota ficar preso na Roda-Gigante, lá no alto... — contava com uma expressão nostálgica, relembrando o momento. — Só queríamos parar a Roda-Gigante, mas acabamos causando um curto-circuito geral, e aí a cidade sofreu um apagão. — Ele riu mais uma vez.

Parou de rir assim que xingou ao sentir sua cabeça latejar. Olhou pra cima, vendo o pai recolhendo o braço que usou para lhe dar um cascudo.

— Se os castigos daquela vez não foram o suficiente, eu posso continuar te com eles. — Sorriu sinistramente, de forma irônica.

Um arrepio perpassou a espinha do pequeno. Ele sorriu num misto de ironia e medo.

— Não, muito obrigada — ironizou.

Recebeu mais um olhar mortífero do pai e então esse voltou a caminhar, de costas para os outros, o que fez o albino menor suspirar aliviado.

— Mas e então? O que fizeram dessa vez? — Logo voltou ao seu estado inicial de animação, fazendo seus pais rolarem os olhos e Shouyou rir contidamente.

E então seguiram-se alguns minutos com os amigos de Satoshi contando sobre como haviam surrupiado uma cobra enorme da área de répteis, no horário de almoço, e soltado ela no jardim aonde a turma fazia um piquenique, no exato momento em que o dito valentão perturbava a menina vítima num canto mais afastado. Eles riam alto, junto do gêmeo Sakata, ao lembrarem-se de como o garoto havia esperneado e ficado assustado, o que acabou fazendo-o virar piada entre os colegas.

— Pelo céus... — Mayah comentara ao mesmo tempo admirada e repreensiva. — Vocês roubaram uma cobra duas vezes maior que vocês para assustar um garoto!

Kari riu.

— Relaxa, tia Mayah. Nem era venenosa. — Deu de ombros, ainda rindo.

— Esse não é ponto... — Mas logo ela desistira de continuar, suspirando cansada. — Vocês são impossíveis.

— Seus pais ficaram sabendo sobre isso? — Gintoki encarou-os de cima abaixo.

— Bem... a professora não acreditou no idiota quando nos dedurou, então... — Misha dessa vez que dera de ombros.

— Ótimo, chegamos então — ele anunciou em frente ao que parecia um bar. Mesmo que ainda não fosse muito tarde, já estava lotado e agitado.

— Bom, até amanhã! — Virou-se para Satoshi, já pronta para despedir-se do amigo.

— Ainda não — o comandante chamou sua atenção. — Chame o Kanaka-san aqui.

— Eh? Ah... Não vamos incomodar o papai agora, não é? Ele deve estar ocupado... — Ela sorriu sem graça, dando passos para trás.

— Agora, Kari. — Seu tom era claramente uma ordem, o que fez a roxeada soltar um apressado “Sim, senhor” e sair correndo em direção a muvuca de homens e mulheres.

— Qual é, pai?! — reclamou o albino menor.

— E fique quieto você caso não queira ter o mesmo destino. — Olhou para baixo, encarando-o ameaçador.

O pequeno apenas cruzou os braços, emburrado. Misha ao seu lado suspirou conformado.

— Nós fomos bem burros, não é não? De contar isso na frente do titio... — comentou com o amigo, o que acabou fazendo-o rir.

— Sim, fomos. — Os dois deram de ombros, e logo passaram a encarar, junto com todo o grupo, o homem barbudo de cabelos pretos deixar o bar, com o olhar um tanto preocupado.

— Comandante, boa noite — cumprimentou agradável, porém. — Aconteceu alguma coisa?

Ele olhou para as pessoas desconhecidas, registrando o foco dos boatos pela cidade quando passou os olhos por Dango, até chegar em Misha e Satoshi, juntos. Ele suspirou, também cansado, e olhou pra filha.

— Pelos deuses! O que vocês aprontaram agora?

Gintoki então contou brevemente a história que ouvira para o barman, que a cada palavra dita arregalava mais seus olhos em surpresa, de vez em quando lançando um olhar mortífero para a filha.

Quando terminou de contar tudo, Gintoki observou por alguns instantes Kanaka ir em direção à sua casa, sobre o estabelecimento, enquanto ele ralhava com a mais nova, já ditando sobre todos os castigos que teria daquela vez.

— Agora, vamos até sua casa — declarou o comandante, olhando para o outro amigo de seu filho, o que fez o moreninho se arrepiar. — Mayah, continue indo para casa. Eu levo o Misha — pediu à esposa, que apenas acenou em confirmação e chamou todos a voltarem a caminhar.

— Até mais, cara. Vejo você no seu funeral — Satoshi despediu-se do irmão de consideração, fingindo tristeza e desânimo.

Misha riu.

— Vai se ferrar, seu mané. — Deu um tapa na cabeleira do Sakata, fazendo-o rir também, e então despediu-se dos outros. — Até mais! Foi legal conhecer vocês. — Sorriu para todos, em especial para Dango e Souichiro, enquanto acenava e seguia Gintoki.

O grande grupo, por sua vez, voltou a caminhar. Eles ainda absorviam as informações recém-adquiridas sobre Satoshi e seus dois amigos. Se eles achavam que Dango e Souichiro aprontavam muito, é porque nunca tinham conhecido aquele trio.

Ouviu-se uma risada contida, vindo de Shouyou mais uma vez.

— Interessante saber que Gintoki está sendo obrigado a viver tudo o que eu vivi com ele — divertiu-se, fazendo alguns dos presentes rirem.

— Você não faz nem ideia... — Mayah respondera ao comentário, ainda com ar de cansada, o que fê-lo rir novamente.

Depois de mais alguns minutos andando e conversando, eles chegaram a uma bifurcação e notaram que estavam próximos ao Castelo. Automaticamente, alguns deles viravam à esquerda, observando que era aquela estrada que levava a imensa construção. Logo foram impedidos por Mayah, contudo.

— Nós vamos por aqui. — Ela apontou para o caminho à direita.

— Vocês não moram no castelo? — Hasegawa estranhou.

— Não — respondeu simples. — Assim que nos casamos viemos para nossa própria casa. Gintoki nunca gostou de morar lá. — Indicou o castelo ao longe, em seguida dando de ombros. — E eu até preferi que fosse assim. — Ela sorriu.

Não demoraram muito a alcançar um portão constituído por barras de ferro. Havia uma pequena cabine no canto direito, de onde saíram dois soldados fardados da Shinikayou. Eles deram as boas-vindas a Mayah, e então pediram que os visitantes lhes respondessem algumas perguntas. Eram dados pessoais, os quais precisavam informar para ficarem armazenados no banco de dados das pessoas que entravam e saíam da propriedade.

Quando questionaram a necessidade disso, Mayah desculpou-se brevemente, mas explicou que era um processo de rotina feito em prol da segurança da família, que obviamente possuía muitos inimigos.

Assim que entregaram todas as informações pedidas, bem como suas digitais, o grupo seguiu adiante. A estrada era ladrilhada e cercada de imensos muros tomados por diversas trepadeiras e outras plantas. Eram muros de, no mínimo, uns 5 metros de altura, o que os impedia de ver o que existia do outro lado.

Após caminharem mais cinco minutos, chegaram a mais um portão, agora um feito de ferro maciço, aonde encontraram mais uma cabine e outros dois soldados.

— Boa noite, Mayah-sama. Sejam bem-vindos de volta. — Um deles, de cabelos curtos e azulados sorriu-lhe.

— Boa noite, Manaki. Obrigada. — Devolveu o sorriso de forma gentil.

— Quando voltarem para cá de algum lugar, só precisam usar a digital cadastrada lá no primeiro portão, aqui. — O outro rapaz, com um rabo de cavalo amarrando os cabelos negros, apontou para um pequeno dispositivo no canto esquerdo do portão. — O aparelho irá lê-las e o portão se abrirá. Assim vocês têm livre acesso à propriedade — concluiu.

Após a breve explicação, Mayah abriu o imenso portão com sua própria digital.

— Tenham uma boa noite. — Manaki sorrira novamente, de forma educada, sendo respondido por todos.

O grupo passou pela entrada, alcançando finalmente os jardins da casa da família Sakata. A única palavra que de imediato vinha na mente dos visitantes era “enormes”. Embora estivesse de noite e eles não pudessem enxergar muito além do que as luzes decorativas mostravam, dava pra perceber que a mansão era cercada de todos os lados por jardins imensos e bem cuidados. À esquerda — na direção da qual vinha a estrada, perceberam — havia um bosque. Supuseram que era o que dividia, além dos muros, a propriedade em que estavam da qual o castelo se encontrava. Seguiram os moradores da casa, entrando por uma porta na lateral esquerda, encontrando de cara o Hall.

— Lar doce lar. — Mayah suspirou, satisfeita por voltar. — Sejam bem-vindos ao nosso esconderijo. — Ela sorriu divertida, já saindo do Hall e adentrando um amplo cômodo que perceberam ser a sala de estar.

Observaram o ambiente por alguns instantes, pasmos com o tamanho e com toda a decoração, a qual mesclava harmoniosamente o estilo oriental japonês e o estilo ocidental.

Tinham que admitir: se não soubessem que era verdade, quando alguém lhes dissesse que aquela casa pertencia à Sakata Gintoki, o bêbado imprestável que conheciam, iam gargalhar escandalosamente na cara dessa pessoa.

Mais uma vez, tiveram que se obrigar a concordar: 10 anos muda muita coisa.


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Notas finais do capítulo

Jardins (não são idênticos, mas dá pra ter uma ideia. Duas imagens, porque existem vários ambientes que cercam a mansão, e dois deles são como esses): https://i.imgur.com/cAnifzv.jpg & https://i.imgur.com/9FZgL2s.jpg
Mansão, primeiro piso: https://i.imgur.com/3JUMobd.jpg
Mansão, segundo piso: https://i.imgur.com/rjWvx1s.jpg
A casa não é essa, mas o estilo de arquitetura é esse (embora também possua detalhes próprios da arquitetura japonesa, se algum dia eu conseguir desenhar do jeito que eu imagino, posto pra vocês kkkk): https://i.pinimg.com/originals/5b/13/e8/5b13e815071b51a22df083d67f112ee4.jpg



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