It's just a trick escrita por KCWatson


Capítulo 25
Who?




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― Sherlock! John! John!

Sherlock ergueu os olhos, tirando sua atenção das anotações que estava lendo e John surgiu na sala com o casaco no ombro e descalço.

― O que aconteceu? ― John questionou agitado.

― É a Molly ― Lestrade respondeu sem fôlego. ― Ela sumiu.

John imediatamente se movimentou, procurando pelos sapatos, mas Sherlock ainda estava processando a informação.

― Como assim sumiu? Como chegou a essa conclusão?

― Isso importa agora?

― Claro que sim!

― Bem, certo... ela... ela não foi trabalhar, não atende o celular, também não está em casa. Foi o primeiro lugar em que procurei. O namorado disse que ela nem apareceu lá!

― Ela tem namorado?

― Sherlock! ― John gritou de algum lugar.

― O quê? Pode ser importante! ― Sherlock gritou de volta enquanto pegava o sobretudo. ― Pode ter sido ele!

― Claro que não ― John negou surgindo pronto na sala.

Sherlock maneou a cabeça e entregou a arma a ele.

― Vamos perguntar a ele, então.

John crispou os lábios, mas não falou mais nada. Sherlock compreendeu que o parceiro simplesmente não quis discutir ou lhe deu o direito da dúvida, mas se realmente o tivesse visto teria compreendido que havia muita informação no olhar de Watson, mas com certeza não havia dúvida.

Mas Sherlock chegou na casa de Molly Hooper sem prestar a devida atenção ao parceiro calado ao seu lado, mas quem poderia culpa-lo quando o nervosismo de Lestrade contaminava a atmosfera ao seu redor? Além disso, não era o desaparecimento de uma pessoa qualquer.

― Ninguém entrou ou saiu enquanto esteve aqui, senhor... Thompson?

Sherlock disse o nome com estranheza. Afinal, sequer sabia da existência daquele homem até alguns minutos atrás. O que, por si só, já era difícil de engolir.

― Não ― Thompson respondeu impaciente.

― Ela não entrou em contato em nenhum momento? Mesmo com suas ligações e mensagens? ― Lestrade questionou com o bloquinho de notas na mão.

― Não, não. Não recebi nada.

― Por que está tão inquieto, sr. Thompson? ― Sherlock quis saber ao observá-lo andar de um lado para o outro pela sala.

― Estou inquieto, sr. Holmes, porque isso é inútil! ― Thompson respondeu exasperado. ― Eu saí dessa casa apenas para ir ao mercado, que fica no final da rua. Além disso, ninguém entrou ou saiu dessa casa, temos câmeras!  Verifique todas elas se quiser, mas não vai encontrar nada. Mas se mexam, parem de fazer perguntas obvias! Nós sabemos que ela está em perigo!

― Sabemos? ― John questionou franzindo o cenho.

― Claro, Moriarty a pegou. Isso é mais que obvio ― Thompson respondeu sem hesitar.

Sherlock olhou para John e ambos olharam para Lestrade, as mesmas dúvidas e pensamentos sendo compartilhadas.

― Como tem tanta certeza que Moriarty está envolvido? ― foi Lestrade que perguntou, com toda a cautela que conseguiu.

― Por causa dele, claro ― Thompson respondeu apontando para Sherlock. ― Molly estava com ele, saiu da casa dele e agora ninguém a encontra. Moriarty o odeia.

Toda a atenção se voltou para Sherlock que quase revirou os olhos diante dos questionamentos silenciosos.

― Por que não contou que ela estava com você ontem? ― John perguntou com olhos acusatórios.

― Não pensei que faria diferença ― Sherlock respondeu com indiferença.

― Não pensou... arg! ― John esfregou o rosto com força e ficou em silêncio, tentando controlar a raiva.

Logo a indiferença de Sherlock foi substituída por inquietação. Ele e Molly não estavam sozinhos no apartamento. Com esse pensamento simplesmente deu as costas aos outros e saiu do apartamento sem se dar o trabalho de analisar o resto do lugar ou fazer mais perguntas, nem se quer parou para responder aos chamados que exigiam respostas. Apenas entrou no carro de Lestrade e esperou que fosse acompanhado.

― Holmes, o que inferno está acontecendo? ― John exigiu saber assim que sentou ao seu lado no banco de trás.

O detetive o lançou um olhar sério diante do modo como foi chamado, pensava que já tinham passado dessa fase.

― É melhor ir contando, Sherlock ― Lestrade insistiu ao sentar no banco de motorista.

Em vez de responder, Sherlock apenas pegou o celular e discou o número que nunca se preocupou em decorar, mas que jamais saia da sua cabeça.

Foi atendido na segunda chamada.

Que surpresa, irmãozinho.

― Não tenho tempo pra isso agora, Mycroft. Molly Hooper sumiu. Ela saiu de Baker Street ontem e não foi vista até agora ― Sherlock anunciou em um só folego. ― Acredito que Moriarty a pegou para me afetar.

Se esse é caso, acredito que John também tenha motivos para se preocupar.

― Por quê?

Afetá-lo seria afetar você, isso sempre foi fato.

 Sherlock pensou por um momento antes de responder:

― Acha que alguém da família Watson também corre perigo?

Os olhos de John se arregalaram ao ouvir a possibilidade, mas depois seu medo foi substituído pela confusão.

― Coloque no viva-voz ― pediu autoritário.

Sherlock obedeceu sem pestanejar e John continuou:

― Mycroft, por favor, diga que minha família está segura.

Eu prometi que os manteria em segurança e estou cumprindo. Todos estão onde deveriam estar, isso já foi verificado. Acho que Moriarty teve que pensar em um outro modo de afetar você... ou um outro alguém.

― Então ele está com Phillippe? Eu estava com ele ontem.

― Não tenho como confirmar isso.

Sherlock engoliu o bolo que se formou em sua garganta e se esforçou para não falar nada sobre o assunto. Não era o momento, mesmo que sua irritação e um sentimento a mais fizesse suas mãos tremerem levemente. Podia ser ciúmes, mas isso não era prioridade no momento.

― Mycroft ― se esforçou para falar novamente sem demonstrar tudo o que sentida, fingindo que não queria mandar Philippe se foder bem longe de John. ― Eu estou colocando isso em suas mãos. Verifique os celulares, manda olharem as câmeras, encontre-os.

Sherlock...

― Não temos tempo para uma competição agora, irmão.

Se Moriarty está fazendo isso para afetá-lo... você não acha que ele não deixaria um jeito de você encontra-los com facilidade? Que graça seria sem você assistindo?

― Concordo, mas não tenho tempo para esperar as maluquices de Moriarty. Isso já foi longe demais, eu só quero encontra-los.

Como queira...

― E Mycroft?

Sim?

― Adler também estava comigo ontem. Provavelmente também está entre os desaparecidos.

Oh sim, isso muda tudo, não é? ― Mycroft respondeu em tom divertido antes de desligar. 

O silêncio ganhou força quando Sherlock guardou o celular. Lestrade não ousava se mexer, talvez temendo piorar tudo ou liberar a bomba raivosa em que John parecia ter se transformado. O médico não estava com o rosto vermelho, o que era incomum, mas sua expressão estava petrificada e seus olhos estavam fixos em algum ponto não importante do carro. Estava deliberadamente ignorando o detetive que agradeceu por isso, provavelmente não teria argumentos para qualquer coisa que o parceiro falasse no momento.

Surpreendentemente o celular de Sherlock voltou a tocar a notificação de uma mensagem de Mycroft.

― O que houve? ― Lestrade perguntou ao ver a expressão estranha no rosto do outro.

― Mike Stamford também foi levado ― revelou chamando a atenção de John. ― E também temos a localização.

***

O local era um prédio abandonado. Típico. Parecia vazio, mas Sherlock confiava no irmão o suficiente para saber que não haveria erros em situações como aquela. Precisava confiar. Porque algo lá no fundo da sua mente, entre as paredes do seu Palácio Mental, gritava que estava sendo fácil demais.

Sherlock se esforçou para se manter agachado. Sua vontade era de bater sua própria cabeça em alguma parede até que sua mente despertasse com alguma ideia genial que o tirasse daquela situação, mas John e Lestrade estavam ao seu lado, então precisava manter o controle. Tudo estava bem e ninguém precisava saber que era mentira. Bastava de dúvidas e questionamentos, ele não precisava alimentar qualquer que fosse o monstro que os rodeava nas últimas semanas.

No entanto, a situação não era tão simples. Atrás do trio estava um prédio abandonado, mas recentemente ocupado pelos alvos que agora Sherlock almejava: Molly e Mike. Não havia nenhuma confirmação sobre Adler, então Sherlock tinha que se concentrar nas certezas.

Era impressionante como Mike tinha surgido do nada para ser jogado naquele momento. Seria cômico se isso não colocasse o homem diretamente em perigo. Na verdade, Sherlock ainda achava um pouco cômico, como se algum tipo de destino ou entidade estivessem brincando com ele e John. Ambos encontraram Mike pela última vez quando se conheceram no hospital e agora o responsável pela parceria estava no prédio, provavelmente amarrado e amordaçado.

Um segundo encontro memorável.

― Sherlock, será que... ― John tentou mais uma vez.

― Agora não ― Sherlock o interrompeu.

Não era a primeira vez que sentia a necessidade de interrompê-lo enquanto estavam aguardando o momento para invadir o prédio.

― Mas você-

― John... agora não.

O médico revirou os olhos e manteve a expressão fechada, contrariado com as interrupções. Sherlock não se importou, tinha outras prioridades no momento. A primeira delas era se manter racional, manter a mente limpa. Não importava se Molly e Mike foram sequestrados por sua culpa, para atingi-lo, a única coisa que importava era tirá-los do prédio. Sãos e salvos.

― Ainda acho que chamar reforços é a melhor opção ― Lestrade sussurrou com a arma em mãos.

― Desengonçados do jeito que são, só vão atrapalhar e não podemos arriscar ― Sherlock se limitou a responder, sem se importar com a expressão ofendida dele.

Mais uma olhada no prédio de cinco andares e um plano de formava na mente do detetive.

― Com certeza Moriarty nos espera com pessoas armadas, mas ainda temos uma vantagem. Ele não sabe que estamos indo agora e em pouco número.  De acordo com Mycroft, os celulares estão em pontos diferentes do prédio, então supomos que estão com seus donos ou ao menos no mesmo cômodo. Por isso, Lestrade, vá até o segundo andar e procure por Molly. John, Mike aparentemente está no mesmo andar, mas no lado oposto, pegue-o.

John lambeu os lábios, inquieto.

― Sherlock...

― Armas prontas ― Sherlock o interrompeu novamente. ― Se forem vistos, atirem nos homens de Moriarty ou eles vão atirar em vocês.

― E você? ― Lestrade perguntou.

― Eu vou atrás de Moriarty.

Antes que falassem algo ou o impedissem, Sherlock se levantou e se esgueirou pelo muro até a entrada do prédio. Sabia que era esperado por homens armados, então sacou sua arma e a deixou pronta. Não era hora de se ser discreto.

O primeiro tiro ecoou por todo o terreno e possivelmente além deles, seguido de outro do qual Sherlock escapou sem dificuldade. O barulho deve ter apressado John que logo estava ao seu lado, atirando sem hesitar. Nada precisou ser dito, logo que Lestrade se juntou a eles o trio se desfez. Cada um seguiu de acordo com o plano. O plano rapidamente criado por Sherlock, cheio de falhas onde muito poderia dar errado. Sherlock estava ciente da vulnerabilidade da situação e por isso a arma estava firme em suas mãos, mas sabia que nada podia fazer pelos outros. Não que achasse que John ou Lestrade fossem vacilar em algum momento, mas com certeza nenhum dele seguiria sua linha de pensamento.

Se necessário, mataria Moriarty.

E não se arrependeria por isso.

Os tiros disparados no andar de cima chamaram sua atenção. Lestrade e John não estavam lá, então qual era o motivo de tal ataque?

Desviou seu caminho para a escada e correu para a origem do som. No andar, o detetive parou para observar o corredor vazio.

― Sherlock... ― ouviu a voz de Moriarty ecoar, como um cantarolar debochado. ― Estou aqui. Venha rápido.

Sherlock começou a caminhar pelo corredor a passos largos, lançando um olhar rápido e atento a cada porta que passava até encontrar o alvo na quinta sala. Rapidamente ergueu a arma e mirou.

―Afaste-se da janela.

Moriarty não se moveu, limitou-se a rir e continuar sentado na janela. Havia homens caídos no chão, provavelmente mortos pelo próprio chefe, mas Sherlock não vacilou e engatilhou a arma, insistindo:

― Afaste-se da janela, agora.

― O quê? Vai me prender? ― Moriarty riu, provocando. ― Vamos! Quero ouvir sua voz de prisão!

― Não, só quero garantir sua morta. Cair de um prédio não é garantia, como eu já provei antes.

―Vai atirar em um homem desarmado? ― Moriarty fingiu indignação.

Sherlock soltou um riso debochado e colocou mais firmeza ao redor da arma.

― Com toda certeza.

― Certo, então ― Moriarty se afastou da janela, abrindo os braços com certa elegância. ― Vá em frente.

O detetive hesitou, como o esperado. Então fechou os olhos com força e abaixou a arma. Era obvio que havia algo a mais. Sempre havia algo a mais.

― O que você fez? ― perguntou.

― Essa pergunta está sendo feita para a pessoa errada, logo notará isso.

Sherlock rosnou com impaciência e voltou a erguer a arma, exigindo:

― Diga de uma vez! O que você fez?

― Não fiz nada, juro! Mas vou fazer... ― Moriarty questionou tirando algo do bolso e erguendo em sua mão na altura dos olhos. ― Reconhece isso?

Imediatamente Sherlock recuou um passo. Era um detonador.

― Calma, calma ― Moriarty ergueu os braços, como se anunciasse que vinha em paz. ― Você está a salvo. Está com a pessoa certa, no prédio certo.

As mãos de Sherlock vacilaram pela primeira vez.

― O que quer dizer com prédio certo?

Moriarty sorriu e voltou a se aproximar da janela, deixando um espaço sugestivo ao seu lado.

― Eu posso estar ficando oficialmente louco... ― comentou com sarcasmo. ― Mas acho que aquele pequeno homem correndo desesperadamente é John Watson! O bom e comum Doutor Watson...

Sherlock não pensou duas vezes antes de abaixar a arma e se aproximar da janela. Seus olhos, atentos a qualquer movimento, logo se arregalaram ao encontrar John correndo estacionamento vazio, então seguiu olhando na direção em que o parceiro corria, tentando premeditar seu destino final, então o viu e imediatamente compreendeu.

― O prédio certo... entendo.

Havia um prédio menor atrás do prédio que Sherlock pensou ser único e por algum motivo John corria até lá como se vidas dependessem disso.

― Ah... parece que ele descobriu o que você não viu... ou esqueceu. Aparentemente nem todas as vidas que importam estão aqui.

Sherlock ofegou. Philippe. John estava indo salvar Philippe.

Foi rápido e sem controle, Sherlock sentiu suas mãos tremerem e algo crescer dentro de si, então em um único movimentou virou e acertou um soco no rosto do outro, pouco se importando com os riscos. Como resposta Moriarty apenas riu e voltou a erguer o detonador.

― Você está ficando chato ― Sherlock lamentou com escarnio.

― Posso dizer o mesmo de você, Sherlock. Praticamente me forçou a tomar medidas mais... drásticas. Então, é com um grande desprazer que eu digo: você tem duas opções. Atire em mim e a pressão que meu dedo faz nesse botão desaparece, então aquele prédio explode. Ou... deixe-me ir e eu prometo que só haverá uma explosão em trinta minutos. O que acha? Tempo o suficiente para o Johnny sair do prédio?

Sherlock estava sendo consumido por um sentimento que desconhecia, mas se pudesse nomeá-lo seria isso: explosão. Ia explodir a qualquer momento, tinha certeza. Era a raiva misturada ao cansaço que o impedia de pensar logicamente, que o impedia de agir com calma e precisão. Mas como ele pensaria direito com John Watson correndo diretamente para o prédio que iria explodir em busca da salvação de sua cópia mal feita, também conhecido como Philippe. Como poderia pensar logicamente se as ações de Moriarty atingiam todos ao seu redor sem que notasse? Sem que pudesse ser esperto o suficiente o suficiente para prever aquelas malditas ameaças?

― Trinta minutos, nenhum minuto antes ― concordou rapidamente antes de sair correndo.

Precisava alcançar Watson.

***

Watson se esforçou para manter a velocidade enquanto seus pulmões ardiam, exigindo descanso. Com certeza não tinha mais o mesmo vigor de anos anteriores, mas precisava continuar correndo, precisava salvar quem estava naquele maldito prédio.

Não precisou de muito tempo para entender a situação. Depois que desamarrou Molly da cadeira e encontrou Lestrade no meio do caminho com Mike em seu encalço, soube o que deveria ser feito. Afinal, aquilo tudo nada mais era que uma tentativa desesperada de desestabilizar Sherlock e apenas ele. Sabia que Moriarty jogaria baixo e sabia que podia confiar em Philippe, nas informações que passava, mesmo que fossem informações não muito claras.

Parou diante da entrada do prédio quase derrapando e se jogou contra a parede ao lado da porta em busca de apoio, sacou a arma e se preparou para entrar.

Teria atirado se a primeira visão que teve do local não mostrasse um salão vazio, sem qualquer tipo de defesa. Não parou para pensar no perigo que isso poderia significar. Molly e Mike estavam bem, Lestrade cuidaria deles e Sherlock... bem, provavelmente Sherlock estaria ocupado demais com Moriarty para notar que havia alguém faltando na lista de pessoas a serem salvas.

― Estou aqui!

Virou-se para caminhar em direção a voz, subindo as escadas com passos precisos e cuidadosos. Revirou os olhos ainda desacreditando nos próprios atos e se encostou no batente da porta da primeira sala do corredor, encarando o alvo de seu resgate que o lançava um olhar quase surpreso.

 ― Oh querido... é você, interessante.


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