Doce Ingenuidade escrita por Sabonete


Capítulo 1
Segundo Conto


Notas iniciais do capítulo

Acho que fiz besteira com o primeiro conto, mas seja como for, da pra ver que um é a sequência do outro (eu espero xD).

Tem gente nova nesse fragmento de história, muito mais gente "importante" do que no primeiro.

Espero que você leitor - é você mesmo, que tá lendo (:v), se divirta com a leitura, e que possa comentar, caso tenha algum interesse na história, discutir sobre a história e sobre os personagens é sempre divertido!

Falando neles, torço para que gostem dos novos (pequeno spoiler, mas acho que cês não vão nem ligar).

Bem, é isso, boa leitura xente boa, bonita e cheirosa.



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[Tarde, Em uma cidade fria, França]

O trio de cavaleiros de bronze foi enviado em uma busca. Chamados pelo Patriarca do Santuário quatro dias antes, foram convocados para procurarem uma informação sobre o paradeiro do traidor do Santuário.

Percorreram um longo caminho seguindo até a fronteira da França com a Itália, guiando-se por um mapa muito mais avançado do que os que um mercador de sua época teria - algo que uma instituição como o Santuário, que contem em suas áreas mais protegidas conhecimentos acumulados por séculos, proveu a eles.

Viajaram por todo o caminho vestindo roupas comuns, na verdade, suas roupas eram muito bem feitas, com materiais de qualidade. Suas armaduras estavam em suas caixas de pandora, sempre sendo carregadas em suas costas.

O grupo de investigadores do Santuário é liderado por Sulinon, cavaleiro de Bronze da Constelação de Unicórnio, que foi pessoalmente indicado para essa posição pelo próprio Patriarca, seus companheiros são grandes amigos seus; Yamir, o cavaleiro de Bronze da constelação de Andrômeda e Kena, a amazona de Bronze da constelação de Cruzeiro do Sul.

Sulinon, o líder, tem 14 anos e é um rapaz de estatura comum, porém seu corpo é forte quando comparado à maioria de seus companheiros, sua pele é morena de sol, e seus cabelos tem uma tonalidade mais clara pelo mesmo motivo, seus olhos são escuros, e ele tem uma pinta que fica próxima ao olho esquerdo, como uma marca que o distingue dos demais. É um garoto impulsivo e com bastante confiança em si mesmo, o que geralmente o faz criar confusões desnecessárias, seu lema é "Bata primeiro e pergunte depois".

Yamir, o cavaleiro de Andrômeda, é o mais velho o trio, com 15 anos, ele é o mais alto também, com 1,70 de altura, contudo seu corpo é esguio e extremamente definido, graças a uma dieta rígida e exercícios diários muito puxados. Ele é um lemuriano, mas não sabe dizer se é puro ou não, mas como sua raça, tem a pele muito clara, assim como seus olhos - que no seu caso são quase azuis, enquanto seu cabelo varia de tonalidade variando da incidência solar; indo do louro claro até um prateado inumado, na sua testa as pintas características da raça são estranhamente menores, mas isso não afeta em nada seu relacionamento com os demais de sua raça - mas é algo que o distingue de outros cavaleiros. É o mais observador dos três, na verdade, está sempre maquinando motivos e buscando informações com seus olhos extremamente analíticos, é ele que geralmente leva a razão para o trio, apesar de não ser persuasivo o suficiente às vezes.

Kena, a amazona de Cruzeiro do Sul, tem a mesma altura de Sulinon, e de certos ângulos parece até maior, já que seu porte físico é imponente para uma garota de 14 anos. Os meninos não tem ideia de como é o seu rosto, mas sua voz controlada os leva a crer que seu semblante é a de uma pessoa mais velha - na verdade, os olhos cor de mel contrastam com a pele morena escura e com seus cabelos negros trançados impecavelmente. Sua máscara é completamente branca, não tem nenhuma feição esculpida sendo apenas pintada, com traços finos por baixo dos locais ondem os olhos, nariz e boca estariam. A amazona é centrada, um pilar de paz, está sempre calma, apenas aguardando ser necessária, ainda assim é uma lutadora feroz, que por muitas vezes é obrigada a agir por conta de seu companheiro impulsivo.

O trajeto até a cidade indicada no mapa foi muito tranquilo, apesar de viagens serem perigosas para pessoas comuns, mesmo para soldados dos diversos exércitos que existem, os três jovens se saíram muito bem, principalmente por carregarem um selo, que ao ser mostrado em qualquer cidade, posto de guarda ou castelo, fazia com que seus nobres os tratassem com muito respeito - mesmo que seus subordinados, e o trio, não compreendessem muito bem.

A cidade era grande para o padrão comum das cidades Europeias, cercada por uma muralha antiga, mas com várias construções além dela. Chama-se Berdoth, terra de senhores ricos, que a usavam como local para se passar o verão, por ter sido erguida em um serra próxima aos Alpes. A instrução que receberam antes de partirem foi a de que não deveriam se revelar caso não fosse necessário e, que possivelmente o indivíduo que deveria ser sondado estaria na parte mais antiga da cidade, no seu centro, uma área não muito grande.

— Maldito traidor, porque se escondeu tão longe? Não podia simplesmente..sei lá, morrer?— Resmungou o impaciente líder do trio, enquanto coçava sua cabeça, ao observar de uma colina próxima a cidade e seu "não muito grande" centro.

A amazona de braços cruzados continuava a caminhar mais a frente, tentando ignorar as reclamações constantes de Sulinon, que era seguido de perto por Yamir, este que por sua vez, investigava com seus olhos curiosos todas as novas formas que encontrava pelo caminho.

Os guardas no portão de entrada revistavam transeuntes suspeitos e ao perceber isso Yamir ficou incomodado, não por perguntas, mas por saber que possivelmente um deles seria parado e isso levaria seu líder ter a oportunidade de fazer besteira. Por sorte Kena teve a mesma impressão e tratou de ir à frente, com o selo, para evitar conflitos.

Agora dentro da cidade, de fato, se espantaram com o local. O ar era frio e isso incomodava os membros do grupo, a amazona por sua vez impressionava os morados, já que vestia apenas uma camiseta e uma saída média, que mais lembrava uma bermuda muito larga, além de portar sua máscara - o frio pouco importava para ela.

— O informante deve estar dentro de casa, logo a noite chegará e vai esfriar mais ainda, tenho certeza que ele não ficaria passeando pela rua..— Comenta a amazona que tentava observar por uma janela de um prédio que aparentemente servia de taverna.

— O Patriarca disse que ele é um estudioso, então deve estar ou em algum templo ou em um prédio grande com espaço para algum tipo de biblioteca.— Relembra o Lemuriano avaliando as construções a sua frente. Os outros dois concordaram e, dessa forma, se separaram procurando prédios com essas características.

Rapidamente encontraram um prédio que se assemelhava ao que tinham em mente - antes disso, porém cruzaram com um igreja, mas ao adentrarem ficou claro que não era o local. Próximos à construção antiga de quatro andares, mas com um primeiro andar visivelmente usado para algum tipo de comércio que já havia fechado, procuraram um ponto de entrada secundário, qualquer coisa que pudesse ser usado como um rota de fuga.

Ficaram observando o lugar por alguns minutos um pouco perdidos, apesar de serem cavaleiros, ainda eram jovens e não tinham muito ideia do que fazer a partir daquele momento. Kena e Yamir se entreolharam uma vez como quem diz "e ai, o que você acha?", mas foi Sulinon que movido por sua impulsividade quase destrutiva resolveu agir, foi até a porta e com agressividade forçou a maçaneta. Um som abafado de madeira e metal se quebrado foi emitido, mas apenas o trio pode ouvi-lo, a porta então cedeu à força sobre-humana do jovem Unicórnio que rapidamente adentrou a construção.

[Anoitece, em uma biblioteca cumprida com janelas feitas de vitrais históricos, França]

Um homem de meia idade atende a porta com alguma impaciência, cheirava a sopa, ou alguma coisa com galinha, o que fez o trio imaginar que ele estava cozinhando. Antes que o servente expulsasse os jovens um homem de cabelos longos presos em um tipo de coque nada comum naquela região, vestindo o longo robe de um tom de vinho raramente visto, apaziguou sua irá culinária.

— Desculpe-me pela má educação de Sr.Picardt, ele é muito dedicado em preparar sua sopa de faisão e.. tende a ficar irritado quando é atrapalhado.— Falou de forma tão cordial e jovial que encantou os ouvidos acostumados a grosserias de Yamir e fez o coração de Kena acelerar, por algum motivo que ela não compreendeu.

O líder do time rapidamente o encarou de forma incomodada, mesmo havendo uma diferença de quase 20 centímetros de altura, Sulinon não gostava de pessoas cordiais ou efusivas demais, cada palavra que ouviu o incomodou.

— O senhor que nos desculpe, e seu senhorio também— Falou Yamir curvando-se em respeito. Ao mesmo tempo em que avaliava o lugar. Apesar da noite as janelas com vitrais históricos chamaram sua atenção, assim como as várias estantes com diversos manuscritos, também notou que havia apenas um portal naquele cômodo, onde ele imaginou que ficava a cozinha, os aposentos do morador e de seu servo.

— Não se preocupe— Diz o homem muito bem vestido. — Mas, se não se importam em dizer, o que os traz aqui? E.. a porta lá embaixo estava aberta? Jurava que a havia trancado mais cedo!— Comenta, intrigado.

A amazona respira fundo e por um segundo fulmina Sulinon com seus olhos, que por sua vez começavam a se irritar com a pompa com que seu companheiro e o desconhecido conversavam, afinal de contas, aquele homem era a fonte que eles estavam procurando, eles não tinham que ser sutis, tinham que conseguir a informação e pronto, a vida de muitas pessoas incluindo a de Atena estava em risco.

— Desculpe a minha falta de educação..— Se intrometeu o Unicórnio de Bronze. — Mas, viemos aqui atrás de respostas, e é você quem às tem, então, seja gentil, para o seu próprio bem, e me responda, ok?— Grosseiramente ele se pôs a frente de Yamir que o fuzilou com seus olhos.

Kena cruzou os braços e com uma das mãos coçou sua têmpora, ela não estava muito interessada em ter que controlar seu amigo esquentadinho, ainda mais contra aquele homem que ela nem fazia ideia do nome, mas também não pensava em perguntar, apenas olhar para ele parecia o suficiente no momento.

— Hm.. Bem, certo, o que vocês precisam? Que respostas eu posso dar a vocês?— Falou, enquanto apontava para que eles se sentassem em cadeiras acolchoadas, que pareciam muito confortáveis, enquanto ele se dirigia para uma quarta, mais distante, próxima a uma mesa cheia de livros, todos deduzem que é onde ele costuma sentar-se para ler.

Como um bom anfitrião esperou que os visitantes sentassem para que então fizesse o mesmo.

— Bem, que tipos de perguntas vocês tem para mim?— Falou com um tom tão calmo e gentil que conseguiu desconsertar até mesmo Sulinon em meio ao seu ímpeto quase descontrolado.

O jovem cavaleiro de Andrômeda encarou seu "líder" sondando-o, para saber se ele não o interromperia assim que começasse a falar. Passado segundos, percebeu que a cordialidade do homem que os recebia sem mesmo nem saber o motivo era tamanha que o inibiu, "ótimo" ele pensou.

— Viemos de um lugar distante, procuramos um homem. — Ele falou sem muita certeza em suas palavra, pois acaba de notar o quão frágil era a verdade que podia contar. Apesar disso, ele se sentava ereto, como as aulas de etiqueta que seu povo diziam para fazer.

— Certo, quem é esse homem? Como ele é? E, se não for um pedido ultrajante que faço para vocês, o que ele fez?— Falou com pompa, ao perceber que haviam lacunas grandes nas questões feitas pelo rapaz de cabelos quase prateados.

— Nós não podemos falar muito..— Comentou Kena, que se sentava de pernas e braços cruzados. — Tudo o que podemos falar é que o paradeiro desse homem é muito importante para nós.— Ela finalizou de forma bem séria.

O homem vestido de vinho colocou sua mão no rosto, o alisando enquanto tentava pensar em algo para dar como resposta.

— Quer mesmo saber? Ele é um traidor, um assassino! E queremos saber onde ele está para prende-lo e leva-lo de volta ao Santuário!— Bradou o Unicórnio de Bronze causando espanto e desespero em seus colegas.

Espantado com a reação dos garotos o anfitrião se interessou pelo assunto.

— Ce..erto.— Comentou em um tom baixo, como se estivesse pensando nas suas próximas palavras. — Esse santuário de que fala, é o que? Não acho que eu saiba algo sobre isso. Pelo menos não sem saber o nome dele.— Fala gesticulando com suas mãos de forma contida, enquanto encara cada um dos jovens.

— Sulinon!— Exclama Yamir, já prevendo que seu companheiro não manteria a discrição e contaria mais do que deve.

— O que foi Yamir? Ele tem razão, além do mais, tudo o que eu falar não vai poder ser provado!— Exclama, dessa vez, o próprio Sulinon justificando suas ações.

Enquanto isso Kena apenas observa impassível à cena que se desenrola bem a sua frente.

— O Santuário é a morada de Atena, a própria, na terra..— Começou a contar uma longa história para o homem que os recebia em sua casa, este por sua vez, a cada palavra parecia mais interessado e encantado com a história.

Um período de tempo considerável se passou até que o anfitrião interrompeu o cavaleiro de Unicórnio.

— Certo, então.. vocês tem esse.. cosmo? Certo? Essa feitiçaria não é capaz de encontra o traidor?— Perguntou muito interessado na resposta.

Andrômeda e Cruzeiro do Sul se entre olharam como se perguntassem a mesma coisa - afinal, porque diabos mesmo com as capacidades dignas de lendas que os cavaleiros possuem, nunca encontraram o traidor?

Movido por uma prepotência comum nos mais jovens, principalmente jovens com tais capacidades lendárias como os cavaleiros Sulinon responde: — Porque ele é um maldito trapaceiro, que também conhece seu o cosmo. E não é feitiçaria, ouviu? É o cosmo! — Falou de certa forma se vangloriando.

Olhava para baixo enquanto coçava sua barba recém-feita, tentando absorver todas as palavras ditas.

— Mas tem algo que não entendo mesmo. Você disse que vocês são cavaleiros de bronze, certo?— Perguntou para Sulinon, que confirmou com um movimento de sua cabeça. — E esse traidor é um cavaleiro de ouro, certo?— Tornou perguntar para o mesmo cavaleiro, que novamente confirmou com um movimento de sua cabeça.

— Não acham perigoso? Afinal, segundo sua história fantástica ele é, ou era como você falou, parte da Elite dos protetores dessa Atena real..— Falou com uma dúvida profunda em seu olhar. Kena se matinha da mesma forma, impassível apenas ouvindo a conversa, Yamir a todo o momento pensava, absorvia as perguntas, procura compreender as respostas, já Sulinon rapidamente, sem pensar, toma a iniciativa da resposta.

— Não, nem um pouco! Ele é um traidor, nem mesmo sua armadura o aceita mais! Ele é fraco, um maldito assassino, fraco e covarde!— Esbravejou, demonstrando em rancor incomum para com alguém que ele só conhece de histórias.

Um silêncio tomou o salão por alguns segundos.

— Bom, para ser sincero não sei se consigo acreditar nisso tudo, mas sabendo disso, acredito que realmente eu possa saber de algo, sem mesmo saber que sei.— Ele comenta enquanto encara o Unicórnio.

— Vocês podem descreve-lo para mim? Sem essa informação temo que não serei capaz de ajuda-los.. — Pediu com a voz pesarosa, parecia tão genuinamente desconcertado por não ser capaz de ajudar que o semblante impassível de Kena foi quebrado sem que ela não percebesse.

Dessa vez foi o líder do trio que não soube responder, rapidamente ele olhou para seus companheiros esperando que algum deles intercedesse e respondesse a pergunta para o homem a frente deles. Yamir respirou fundo e levantou sua mão como se pedisse a palavra.

Um sorrio do anfitrião o fez sentir-se apto a falar.

— Desculpe senhor, mas não sei bem como faze-lo.— As palavras sinceras desapontaram o Cavaleiro de Unicórnio, mas ele não reclamou, pois também não sabia como fazer.

— Hm.. vejamos, me falem então, ele é um homem certo?— Perguntou para o grupo mais interessado que nunca.

A perguntou revigorou o animo dos dois rapazes.

— Sim! Ele é um homem.— Respondeu Yamir.

— Bem, então.. me respondam, ele era mais alto que os outros membros da Elite que você falou ou era mais baixo?— Questinou enquanto se levantava, colocando sua mão na horizontal na altura de sua própria cabeça.

Sulinon coçou a cabeça pensando e como responder isso, e Yamir o fez primeiro.

— Ele não era o mais alto, segundo o dizem, mas também não era o mais baixo..— Disse.

— Então, vocês acham que ele é mais ou menos da minha altura assim?— E moveu a própria mão enquanto fazia a pergunta para os meninos a sua frente.

— Sim! Ele não era o mais alto, mas também não é o mais baixo, acho que se encaixam bem na sua altura!— Falou o Santo de Andrômeda.

Kena observava a cena, e ainda sem perceber que sua pose séria já tinha caído, apenas olhava como aquele homem se movia e falava, era algo que ela via poucas vezes, uma elegância que poucas pessoas tinham, mas ela não sabia que pessoas eram.

— Isso! Er.. e a cor de sua pele? Ele é moreno como você Sulinon? Ou tem esse lindo tom de pele escura, como sua amiga calada ali? — Falou ao olhar de forma fixa, porém veloz para a amazona que por um instante sentiu seu coração acelerar como nunca antes. — Ou tem a pele muito clara, quase pálida diga-se de passagem.., como a nossa?— E apontou para ele mesmo e Yamir.

O líder do trio pensou, e olhou para o Andrômeda de Bronze. Sim, ele sabia essa resposta!

— Ele tem a sua cor de pele, bem branca! Como a de alguém que não sai de casa. Não atoa o chamavam de o Observador.— Ele falou com tom de escárnio. — Só ficava olhando as coisas por ai, não fazia nada, era um fraco! Como nós poderíamos temer alguém assim? — Complementou.

O anfitrião riu, a espontaneidade do comentário do guerreiro de Atena o atiçou o humor como há muito tempo não acontecia. Enquanto isso seus companheiros sentiam-se um pouco desconfortáveis com todos os insultos de graça ao homem que procuravam, afinal ele era um cavaleiro de Ouro, mesmo que fosse um traidor.

O homem de vermelho coloca a mão no queixo pensando na próxima perguntar.

— Certo, como era a aparência dele? Seu cabelo, como era?— Falou enquanto mexia no seu coque nada europeu.

Yamir bateu uma mão na outra como se tivesse lembrado-se da resposta.

— Ele tinha um cabelo comprido!— Disse. — Não era comprido Yamir, meu mestre me contou que seu cabelo era enorme!— Complementou Sulinon.

— Grande assim?— Falou o homem que desprendia seu cabelo revelando um tamanho verdadeiramente incomum.

— Isso!— Falaram os dois rapazes em uníssono.

"Isso", pensou Kena, ao conseguir fazer a ligação da sensação que tinha para com o homem. Aquela elegância, eloquência, aquele magnetismo tão desconcertante que a estava fazendo respirar fundo, ela só tinha sentido - que fosse algo próximo, na presença dos próprios Cavaleiros de Ouro.

— Acho que mais uma pergunta é o suficiente!— Falou animadamente o homem, que logo recebeu afirmativas também animadas dos dois jovens cavaleiros a sua frente.

— Qual era a cor dos olhos dele? Isso pode ajudar muito!— Ele perguntou olhando para os rapazes, estavam conectados naquele momento, Kena se não estivesse pensando em mil coisas, talvez achasse que estivessem até se divertindo juntos.

— Pretos, escuros, normais, eu acho.— O Lemuriano respondeu de impulso. Notando certa quebra da excitação entre os três.

— Só pretos? Não havia mais nada? Olhos pretos são muito comuns por aqui..— O anfitrião retrucou.

— É acho que sim..— Respondeu desapontado com sua falta de conhecimento.

— Bom, meus olhos são escuros, são como os meus?— Disse o homem do robe vinho se aproximando de Yamir para que ele pudesse olhar.

Sulinon parecia forçar sua mente para se lembrar de algo, até que num estalo ele se lembrou.

— Já sei! Meu mestre me falou disso! Os olhos dele são profundos e negros, e quem olhar de perto pode ver o próprio universo!— Bradou com uma animação raramente vista nele quando se trata de um teste de conhecimento.

Alguns segundos se passaram enquanto Yamir encarava o homem, que sorria de uma forma um tanto quanto estranha.

— O que foi Yamir? Por que você ficou calado?— Perguntou curioso o líder do trio.

O cavaleiro de Andrômeda lentamente virou sua cabeça para a direção de Sulinon e com uma semblante assustado falou de forma tremulante.

— É..é... é ele.— As palavras saíram baixas, e foram seguidas por um engolir seco.

— Como assim? Ele quem?— Retrucou o impulsivo cavaleiro de Unicórnio.

Ignorado pelos dois, Kena compreendeu as palavras de seu amigo e se levantou rapidamente. Agora tudo fazia sentido, cada palavra, cada atitude, até mesmo ele não ter feito questão de perguntar seus nomes ou mesmo se apresentar, nem ter estranhado ela estar usando uma máscara. Maldito, lindo, traidor, que a encantava como nunca ninguém tinha feito.

Então a ficha de Sulinon caiu, e seu interior foi tomado por raiva, mudando rapidamente seu semblante. Yamir deu três passos para trás se preparando para o pior naquele momento exato.

— Crianças, não temam, sou um traidor fraco, incapaz e covarde.. — Ele fala com um sorriso capcioso na face encarando o cavaleiro de Unicórnio. — O que eu poderia fazer contra três cavaleiros de Atena?— Perguntou de forma sarcástica. Seu cabelo tremulava em volta de seu corpo dando um aspecto exótico e assustador a sua presença.

— Seu desgraçado! Estava nos enganando!— Bradou o cavaleiro de Unicórnio fazendo sua cosmo energia esbranquiçada surgir a sua volta.

— Jovem cavaleiro, você não percebe que está sendo usado, e que está sendo introduzido em algo muito maior do que você, ou eu mesmo. - Diz o homem, em um tom sério, mas nada agressivo. A amazona e o Lemuriano percebem que apesar dele se revelar como o traidor, não sente nenhum cosmo vindo dele, é como se ele fosse um ser humano comum.

— Cala a sua boca imunda! Você vai comigo agora para o Santuário!— Grita colérico o líder do trio. Sua urna, coberta por panos começa a emitir uma luz como se estivesse entrando em ressonância com seu usuário.

— Me desculpe, mas não posso ir.— Comenta o cavaleiro traidor, com um sorriso no rosto. Sorriso este que provoca calafrios em Yamir, e uma sensação profunda, uma mistura de medo e excitação em Kena.

— VOCÊ NÂO TEM O DIREITO DE ESCOLHER!— Berra colérico Sulinon.

— hahaha então façamos um trato, jovem cavaleiro de Unicórnio. Ponha sua armadura e me vença, que irei com você, submisso. Mas, caso você e seus amigos, se desejarem lutar ao seu lado, sejam derrotados, vocês devem ouvir minha história e retornar para o Patriarca dizendo que não encontraram ninguém.— Ele fala com um tom desafiador, as palavras penetram os ouvidos dos três defensores de Atena, mas afetam profundamente Sulinon, seu ego era atacado, sua prepotência atingida.

— Eu aceito, e lutarei sozinho! Um traidor como você, renegado por Atena, não terá poder para me vencer!— Ele braba, visivelmente abalado pela situação. Seus companheiros tentam falar algo, mas seu cosmo se infla, os fazendo ficar quietos - Sulinon entrou em um estado onde não pode ser parado.

A luz fraca que era emana pela caixa de Pandora se expande, aumentando até que a urna se abra, rasgando o pano. Em um segundo o corpo do jovem está coberto pela Sagrada Armadura de Unicórnio.

— Venha cavaleiro, prove o seu valor! — Brada o guerreiro traidor, provocando Sulinon.

O cosmo do cavaleiro de bronze exala raiva e ele parte para cima do homem a sua frente. Mesmo havendo uma grande diferença de tamanho e porte físico o cavaleiro atinge um sequência de poderosos golpes atingindo no homem,  que se choca contra a parede logro atrás de si.

— Como falei, traidor! Você não é nada!— Ele brada orgulhoso de seus ataques.

Na parede, o cavaleiro renegado, limpa o filete de sangue que escorre de sua boca com seu manto cor de vinho. Ele vira sua cabeça lentamente para o Unicórnio, e um sorriso assustador estampa suas feições.

— Do que você ri seu maldito?!— Brada o Cavaleiro. — Você que tentou matar seus companheiros, você que traiu sua Deusa! Você que se aproveitou de Atena, de sua bondade para apunhala-la pelas costas! Vo.. — As palavras de Sulinon são interrompidas quando ele é arremessado por um simples movimentos de mão do cavaleiro traidor.

Sulinon não é apenas jogado para trás, mas sim, é arremessado indo parar na parede do outro lado da sala, ao se chocar duramente contra ela, a faz rachar no processo.

— Eu nunca ousaria me aproveitar de Ysra, ouviu criança prepotente!— Bradou alterado, mas rapidamente percebeu o que acabava de fazer, colocando a mão no rosto e tendo seu olhar perdido a sua frente.

Enquanto isso Kena se põem entre os dois, sua armadura também irrompe de sua urna e a cobre. Yamir corre até seu amigo, enquanto tem sua armadura cobrindo seu corpo. Sulinon começa a se levantar ainda descrente com o que acabará de acontecer.

— De..desculpe, eu não.. eu não queria feri-lo.— Fala de forma trêmula o traidor.

— Agora nós somos seu oponente, Assur de Virgem.— Fala Kena, com determinação nos olhos. Ela apesar de sentir algo estranho despertado por ele, acabava de deixar tudo de lado por seus amigos - como era de se esperar de um cavaleiro de Atena.

Ouvir seu título tira um sorriso simpático do transgressor, faziam alguns anos que ele não era chamado dessa forma. Já a sua frente, o trio se prepara para atacar em conjunto.

— Certo.. — Diz Assur olhando de uma forma que o grupo não compreendia. — Farei isso.— Ele complementa.

Os cavaleiros avançam e um instante antes de chegarem a atingir seu alvo, o mundo a volta deles para, tudo decaia de velocidade, até que.. não é o mundo que para, são eles mesmo.

— Agora, que vocês fora derrotados, insisto em cumprir o acordo.— Diz Assur passando entre os três que parados no ar, se esforçam, em vão, para se mexer, enquanto acompanham com seus olhos o deslocar do estranho cavaleiro traidor.

Tudo acabou tão rápido, que Sulinon não podia acreditar. Então essa era a diferença entre um cavaleiro de Bronze e um cavaleiro de Ouro? Como alguém tão poderoso poderia ser parado por eles? Por que alguém tão poderoso se rebelaria contra Atena?

— Ao contrário do que vocês ouviram por todos esses anos, não sou um traidor..— Começou um curto discurso, que explicava de forma resumida tudo o que aconteceu até aquele momento - pelo menos tudo o que ele julgava ser necessário e que não colocasse ainda mais aqueles jovens em perigo.

Ao terminar, seu controle psíquico sobre os corpos dos três já não existia mais, mas eles não se moviam, apenas ouviam desconcertados sem saberem se acreditavam naquelas palavras, nas revelações feitas, ou acreditavam em tudo o que sempre ouviram no Santuário.

— Bem, isso é tudo. Vocês podem ir. Também vou compreender se vocês mesmo sabendo de tudo isso, optarem por não acreditarem e contarem tudo o que aconteceu aqui para o Patriarca.— Diz com certo lamento em sua voz, enquanto parece arrumar algumas coisas na sua mesa, reunindo alguns livros, anotações entre outras coisas.

[Raiar do Sol, Em Deptas, uma das vilas que cercam o Santuário, próximo as Doze Casas]

O trio caminha calado, eles não se olham, estão visivelmente cansados da viagem, ainda nem sequer trocaram suas roupas, cortaram o alojamento onde costumavam ficar para irem direto ao encontro do Patriarca.

Os guardas logo os identificaram o deram passagem, estavam subindo as escadarias da primeira casa. Olhavam para frente, mas todos tinham o mesmo sentimento em seus peitos: a dúvida. Não sabiam em quem acreditar, ambas as histórias pareciam tão reais, tão verdadeiras, quem estaria mentido, quem estaria falando a verdade?

O protetor da primeira morada não estava, eles passaram sem serem incomodados. Faltavam pouco até chegarem à escadaria que ligava Áries a Touro.

— Vocês vão mentir para o grande mestre? — Perguntou Yamir consternado com o que seu coração dizia para fazer.

A expressão de Sulinon era um misto de raiva e dúvida. As palavras de Assur tinham tocado seu coração, e ele sentia raiva de si mesmo por estar acreditando em um traidor.

— O meu coração diz que a verdade está com ele, e que o Patriarca não está sendo totalmente sincero conosco. - Falou Kena com um ímpeto mais forte do que o costume. — Mentirei.— Ela finalizou, enquanto seus amigos olhavam para aquela máscara inexpressiva.

A Santa Amazona de Touro esperava o trio sob o portal que dava acesso a área de sua Morada. Neola os aguardava de braços cruzados e manto tremeluzente pelo vento.

— Vão a onde cavaleiros de Bronze?— Perguntou.

— Viemos relatar nosso missão ao Patriarca, Mestra Neola. - Respondeu firmemente a amazona de Cruzeiro do Sul.

— Certo, eu entendo. Podem passar.— Diz a protetora da segunda casa, abrindo caminho para que os cavaleiros passem.

A cena se repetiu de formas semelhantes em todas as casas, exceto Câncer, que estava vazia pela natureza da Cosmo Energia de seu protetor. O Câncer Dourado costumava dar passagem a todos que julgava merecedor simplesmente deixando livre o caminho.

Subiram mais, até chegarem à morada vazia de Virgem. Belamente construída e enfeitada com afrescos, estátuas, jardins e árvores. Seu chão era tão bem tratado pelos serventes locais que podia refletir qualquer imagem. Passaram pela morada com um sentimento confuso até se depararem com a própria armadura de Virgem, bem ao lado de sua urna, em um pedestal bem no centro da casa. Quando saíram do lugar, tinham a certeza das palavras de Assur, não o viam mais como traidor, e sim como um mártir.

O cosmo da armadura de Virgem os tinha cercado, confortando seus corações, provando a eles que a armadura nunca tinha abandonado aquele que ela escolhera para traja-la, aquele que tinha o dever de proteger Atena acima de tudo.

Em Libra lembraram-se do destino de seu protetor, Hamza. O último paradeiro dele era incerto, mas Assur dizia saber onde ele estava e que, conseguindo descobrir o que precisava, entraria em contato com o trio para que eles o resgatassem.

Em pouco tempo chegaram até o salão do Grande Mestre. Lá encontraram a Amazona de Aquário Umay, uma lemuriâna como Yamir - se cumprimentaram, mas ele jamais a veria da mesma forma novamente. Além dela, estavam no salão Rughoz, o Santo Cavaleiro de Prata de Cepheu, o mestre de Yamir, e Eullis, o Santo Cavaleiro de Prata de Auriga, os dois eram os servos diretos do Patriarca, mas segundo Assur não pareciam compactuar com nada, apesar do cavaleiro de Auriga seguir cegamente tudo o que o Grande Mestre dizia.

— E então cavaleiros, como foi à missão? — A voz do Grande Mestre os pegou de surpresa vindo de uma entrada lateral do Salão, atrás da posição em que se encontravam. Por um instante Yamir gelou, mas não deixou isso transparecer. Sulinon e Kena já demonstravam uma frieza muito mais apurada, mantendo a compostura.

Os três se viraram e se curvaram perante a presença do Segundo em comando.

— Viemos diretamente para cá, Grande Mestre, para relatar sobre nossa missão.— Falou o líder do trio.

— Muito bem cavaleiros, falem.— Falou o Patriarca enquanto pediu através de um gesto para que os três se levantassem.

— Não encontramos ninguém. — Falou o Unicórnio, com um semblante absolutamente normal. — Acreditamos que o informante errou ao nos dar a informação, ou nosso alvo se moveu antes mesmo de chegarmos. — Complementou com frieza absoluta.

Umay, o mestre de Yamir e o cavaleiro de Auriga os observavam enquanto o Cavaleiro de Unicórnio falava. O Grande mestre, com sua face oculta por sua máscara apenas aguardava o termino daquelas palavras.

—É uma pena.— Ele fala sem carga algum nas palavras. — Muito obrigado por terem cumprido a missão, podem se retirar, vão e descansem, tenho certeza que a viagem foi longa.— O Patriarca encerrava a missão, o tom de sua voz simplesmente não mostrava nada, tudo estava bem.

O trio levantou, fez outra reverência, virou-se e pôs-se em direção a porta.

Até que..

— Vocês não teriam coragem de mentir perante a face do Patriarca, não é mesmo cavaleiros?— Falou Umay com um tom desafiador.

O pavor quase tomou conta dos três, seus corpos quase desabaram ao ouvir tais palavras. Umay, teria lido suas mentes? Eles se entreolharam sem saber o que responder. Estavam apenas parados ali.

— Umay, não maltrate os jovens. Deixe-os ir, pare com suas brincadeiras.— Falou o Grande Mestre em um tom muito bem humorado.

— hahahaha, desculpem crianças, não pude me conter! Vão, vão descansar!— Disse a Amazona de Aquário rindo, junto com os demais.

O trio engoliu seco e então deixou o salão. Não se olharam, muito menos abriram a boca até que tivessem deixado as Doze casas.

Sulinon se agachou e abraçou seus joelhos, apertando-os, repetindo "por Atena", algumas vezes sem parar. Yamir não pensou duas vezes ao ver um lago, correu e se jogou dentro dele, precisava acalmar seu coração. Já Kena, sempre a mais fria do grupo, simplesmente retira sua máscara.

— Já deu pra mim.. — Falou tirando a máscara e jogando-a no chão. — Meu coração quase parou! — Ela terminou de falar secando o suor da testa. Ela não notou, mas os dois cavaleiros a encaravam incisivamente, afinal, era a primeira vez em mais de sete anos que viam a face da amazona. E nossa, como ela era linda.


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Notas finais do capítulo

Com nota final digo que tentarei desenhar o trio de Bronze, mas não tenho lá grandes habilidades. No entanto, realmente adorei faze-los, todos da mesma forma. Acho que foi por ter conseguido criar algo mais real, do que é desenvolver um cavaleiro de ouro, que é sempre alguém distante do mundo real, muito Mais divino do que humano.

Espero que vocês tenham curtido os três, eles com certeza aparecerão novamente em outros contos ~ não que sejam protagonistas, tipo o Assur, que não é o protagonista, mas nesse e no primeiro estevem bem presente na história.



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