Como um gatinho escrita por Jack O Frost


Capítulo 1
Um gato assustado




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Estava cansado. Estava morrendo de cansaço. Queria esticar as costas em qualquer coisa macia ou dura, desde que esticasse. Me jogava no estofado branco do estúdio, meu olhar percorria as costas de Khan e me perguntava o que ele tanto conversava com a equipe. Ele parecia tão focado, ele sorria e assentia, as vezes ele levava a mão ao queixo e parecia pensar. Logo começava a sorrir, sorrir daquele modo que derretia o coração de todo mundo, e assentia. Ele se virava em minha direção, o estúdio começava a se esvaziar e ele caminhava em minha direção.

Ele me olhava.

O encarava.

Ele se jogava por cima de mim, rindo que nem uma criança.

Khan era uma criança...

— Gyeom... - A voz fina de gatinho ecoava pelo estúdio. Embora não visse o rosto do mais velho, sabia que ele sorria. — Estou tão - Ele arrastava a palavra — cansado!

Embora estivesse cansado, tinha a plena noção de que Khan estava vinte vezes mais cansado. Ele sempre trabalhava por toda a equipe. Esticava a mão e lhe afagava o topo da cabeça, onde ele começava a se esfregar como um gatinho.

— Quer ir para casa?

Ele negava, rindo.

— Você vai estar lá? - Ele erguia o rosto de onde havia escondido, me encarava.

Negava.

Ele fazia um beicinho e se erguia. Caminhava até a poltrona onde havia jogado sua carteira e casaco. O vestia. Jogava o capuz felpudo sobre os cabelos escuros e marchava para fora do estúdio.

Quando Khan realmente pegava sua carteira e saía do estúdio, entendia que ele estava bravo. O que raramente acontecia. Pulava do estofado, pegando o casaco azul e correndo porta afora. Olhava para os lados e nada de ver o rapaz emburrado. Rosnava baixo e quando começava caminhar, o via de longe. As mãos nos bolsos, o rosto baixo e parado, escorado no prédio ao lado do estúdio. Suspirava baixo e caminhava até Khan. Parava em frente a ele, tão perto que sentia sua respiração bater em meu rosto. Os olhos pequenos, carismáticos, pareciam tristonhos. Olhava em volta, querendo ver se havia alguém que pudesse no julgar e como estava deserto, o puxava para perto, o abraçando forte.

— Não diga nada. - Ele não retribuía o abraço, mas fungava.

Outra fungada.

Os braços de Khan começavam a circular minha cintura. Mais uma fungada. Ele me apertava contra seu corpo. Seu rosto sendo enterrado no casaco azul.

— Gyeom... - Não era mais a voz de gatinho que usará no estúdio, era a voz chorosa... Conhecia aquela voz.

O empurrava contra a parede, o olhava nos olhos. Alguns flocos de neve haviam se grudado contra as felpas de seu capuz. Os olhos pequenos se arregalavam, de curiosidade e talvez medo.

— O que pensa que esta fazendo? Na verdade, você sabe o que esta fazendo? - Ele me olhava, baixava o olhar e suspirava. Seu corpo ficava tenso.

Ele me empurrava. Quando voltava a me olhar, não me lembrava nada de um gatinho manso, mas sim de um gato totalmente assustado, apavorado. E gatos assustados podem machucar.

— Quer saber? Não vou perder meu tempo falando com você, Gyeom. - Ele apontava o dedo no meu rosto, um esgar saia de sua garganta. — Você não tem o direito!

Novamente era empurrado pelo mais velho. Tentava o segurar pelo pulso, mas era repelido pelo mesmo. Ele me desferia um tapa na mão e se desvencilhava do meu toque, novamente. Olhava para a mão que tentou segurar o mais velho, mas não adiantou. Olhava para as costas de Khan enquanto ele praticamente corria pela rua.

Ele fugia.

Começava a caminhar atrás dele. Queria puxar aquele pequeno gato assustado e lhe dar carinho, lhe mostrar que não precisava ser assim. Quando me aproximava dele, Khan parecia ter freado e ficava lá, parado. Ele cambeleava nos pés, se movimentava, como se estivesse ansioso.

Um passo.

Dois passos.

Três passos.

No quinto passo, Khan virava e me encarava.

Parava, pensava estar em uma distância segura de sua raiva.

Desviava o olhar do dele. Se não mostrar medo, ele não atacará... Ah, isso era para caninos... E ele me lembrava um gato. Voltava a olhar para ele.

Quando ele dava um passo, erguia as mãos em defesa.

— Eu me rendo, ok?

Ele ria, se aproximava e tocava na mão que havia batido. O olhar voltava a ficar magoado.

Khan não era uma pessoa agressiva. As vezes desferia tapas nas pessoas... Na verdade, nunca havia visto Khan desferir algum tapa em outras pessoas, além de mim. Ele me olhava, aquele modo de olhar, querendo sorrir e pedir algo.

— Me desculpa, Gyeom... - Ele mordia o lábio inferior, que já estava inchado de tanto ser mordiscado.

Me aproximava dele, olhando na volta e tendo a certeza de que ninguém nos observava. O puxava pela cintura e deixava meus lábios roubarem um beijo dos lábios de Khan. Dessa vez, ele não tentava me empurrar e nem me estapear. Ele circulava minha cintura e retribuía. O beijo permanecia no suave. Khan me puxava para mais perto, gemia baixo para ele.

Com algum custo, me afastava do mais velho e o encarava. Ele fazia um beicinho e apontava até seu apartamento. Olhava para o prédio branco e caminhava até ele. Ouvia Khan rir e pular logo atrás.

Ele era realmente um gatinho.


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