Banhos Solares escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Manchinhas

 

— Me explique, mais uma vez, por que estamos fazendo isso. — Nico resmungou, colocando o braço sobre o rosto para evitar a luz do sol que começava a colorir o céu.

— Ordens médicas, Menino das Sombras. — Will replicou sorrindo, ignorando a carranca do amigo deitado ao seu lado.

— Mas por que tinha que ser tão cedo?! — O Filho de Hades questionou novamente, virando o corpo para deitar de barriga pra baixo. — E eu já disse pra parar de me chamar de Menino das Sombras!

— Porque ninguém toma banho de sol no nascente. — Will suspirou serenamente, aspirando o ar puro da manhã e aproveitando o raro silêncio no Acampamento Meio-Sangue. — Você quem reclamou que ficavam te observando.

Nico, no seu gesto dramático favorito de revirar os olhos, apenas bufou, desejando poder voltar para sua cama quentinha. Cada vez que Will o acordava de madrugada para os banhos solares diários, mais ele tinha certeza que deveria ser um vampiro.

— O que está fazendo? — O Di Angelo questionou, vendo o amigo sentado se espreguiçar como um gato, antes de tirar a camiseta alaranjada e enrolá-la para servir como um travesseiro.

— Meio óbvio, não?! — O Filho de Apolo respondeu com sua calma característica, deitando-se de lado para encarar o outro menino. — Já viu como marcas de camiseta são horríveis? Além do mais, está calor!

Nico escondeu a cabeça entre os braços, onde poderia refugiar-se da visão do tórax nu e bronzeado de Will ao mesmo tempo que disfarçava a vermelhidão do seu rosto.

— Se sairmos do sol, — O Di Angelo resmungou. — não teremos esse problema.

— Por que está tão incomodado com isso? — Will questionou, ainda encarando o amigo, alheio ao seu constrangimento. — Tira logo a sua também!

— Pode parecer normal para você, Solace, mas na minha época não era. — Nico resmungou, lembrando-se que em 1940, época que cresceu, seria um enorme vergonha se alguém visse seus mamilos. Ele ainda estava tentando se adaptar aos tempos modernos e seus costumes.

— Na minha época isso... na minha época aquilo… — Will remedou brincalhão, deixando claro por seu sorriso aberto que não era uma chacota maldosa. Felizmente, eles estavam avançando naquela amizade, estavam no nível suficiente para Nico apenas rir e não levar na ofensiva, o que já havia acontecido algumas vezes. —Tudo bem, vovô. Cozinhe nessa camiseta preta.

O Di Angelo revirou os olhos novamente, irritado pelo desafio. Não se dando por vencido, ergueu o corpo e, com movimentos rápidos — e constrangidos —, retirou a camiseta.

— Feliz agora? — Questionou, olhando para o céu límpido tentando controlar a vermelhidão do rosto e evitando olhar para o amigo.

— Você é muito pálido! — Will exclamou realmente surpreso, vendo como o torso pálido de Nico constratava drasticamente com o rosto um pouco mais bronzeado.

— Ah, sério? — Nico reclamou, voltando-se irritado para o outro menino. — Será porque sou filho do Senhor das Trevas?!

— Não é uma ofensa! — O filho de Apolo se defendeu exasperado. — Pelos deuses! Você é muito dramático!

— Não sou!

— Ah, ok. — Will replicou, usando o máximo do sarcasmo que possuía. — E eu não sou incrivelmente quente, além de maravilhoso!

— Não vejo aonde é maravilhoso. — Nico resmungou mau humorado, revirando os olhos, mas havia um leve sorriso no canto dos seus lábios que indicava para Will que ele não estava magoado. Os dois semideuses ficaram em silêncio por vários minutos, algo que era até confortável entre eles, o Di Angelo encarando o sol e sendo encarado pelo filho do Sol; — Você se importa de parar de me encarar?!

— Você tem pintinhas legais! — Will explicou sorridente, debruçando-se sobre o corpo de Nico para tocar cada uma das manchas no peito do garoto.

— Pare, Solace! — Nico ordenou constrangido, contorcendo-se para esquivar dos toques.

— Você tem cosquinha?! — O Solace questionou feliz, percebendo que agora tinha uma grande arma para usar contra Nico, que tentava se esquivar.

— Claro que não!

— Ah é?! — Will perguntou retoricamente com um sorriso malicioso antes de passar os dedos por todo o peito e barriga de Nico, movendo-os rapidamente enquanto o garoto ria e se contorcia;

— Will! Para! — O Di Angelo pediu exasperado, completamente vermelho de tanto gargalhar.

— O que você disse sobre eu não ser maravilhoso? — Will perguntou, rindo também, mas sem ter piedade do amigo.

— Eu estou ficando sem ar!

— Admita que você é dramático e eu sou maravilhoso.

— Will, eu não consigo res-respirar! Para! — Nico arfou, ainda se contorcendo em cócegas, ficando em um tom vermelho preocupante.

— Dramático! —  O filho de Apolo revirou os olhos sorrindo, libertando o amigo e se deitando ao seu lado.

— Isso foi mui… — “muita maldade”, era o que Nico ia dizer, mas Will o cortou antes disso:

— Muito gay?! — Questionou, erguendo a sobrancelha, sem abalar seu sorriso. — Vou te contar um segredo, Menino das Sombras: Eu sou gay!

 

(...)

 

— Cadê o Will? — Nico questionou no dia seguinte, a cara amassada pelo sono, os cabelos negros compridos jogados em todas as direções.

— Sabe que horas são?! — Alexia, uma filha de Apolo, respondeu, olhando irritada para o céu ainda escuro enquanto segurava a porta entreaberta, ouvindo seus demais irmãos reclamarem que queriam dormir. Aparentemente, acordar radiante na aurora não era pré-requisisto para ser filho do Sol.

— Will está atrasado. — Nico respondeu simplesmente, ignorando a pergunta da menina. Ela apenas suspirou irritada e gritou por sobre o ombro:

— Will! Sua sombra está aqui!

Nico estava sonolento demais para refletir a forma como fora mencionado: um apelido que alguns irmãos e amigos próximos de Will haviam inventado devido ao filho de Hades sempre segui-lo, quase inconscientemente, pelo acampamento. Eles sempre o chamavam assim quando Nico não podia escutar — a maioria deles ainda tinha receio do mau humorado e poderosos filho de Hades —, mas Alexia estava irritada o suficiente para não só chamá-lo assim, como também transformá-lo, de fato, em uma sombra, caso fosse acordada novamente.

Segundos depois o Solace aparecia na porta, os cabelos loiros bagunçados, mas não tinha uma expressão sonolenta, provavelmente porque estava acostumado a acordar naquele horário e já devia estar desperto há um bom tempo.

— O que está fazendo aqui? — Will questionou confuso, enquanto a irmã xingava em grego e voltava pra cama.

— Você está atrasado. — Nico respondeu simplesmente, dando as costas ao Solace. — Vamos.

— Espera, o que?!

— Meu banho de sol: Ordens médicas, lembra? Vamos! — O Di Angelo replicou e sem esperar resposta, vagou quase rastejando de sono até o local onde sempre ficavam.

— Tem certeza de que quer continuar com isso? — Will perguntou depois de alguns minutos em silêncio deitados na grama.

Eles não haviam conversado sobre a revelação do dia anterior, sequer tiveram chance: a corrida de bigas aconteceu de manhã e bateram o recorde de campistas machucados, enchendo a enfermaria o suficiente para deixar Will ocupado o dia todo.

— Ordens médicas, Solace. — Nico respondeu no seu falso tom mau humorado, um leve sorriso no canto dos seus lábios. — Quem sou eu para desobedecer meu médico?!

 

(...)

 

— Dá pra parar de me encarar? — Nico suspirou mais uma vez, se acostumando com os olhos azuis sempre lhe perscrutando.

— Não estou te encarando. — Will se defendeu com um sorriso cínico. — Apenas observando: sou seu médico ué. Preciso te analisar!

— Sério, Solace? — Nico não conseguiu esconder o sorriso, sentindo as bochechas queimarem. Ultimamente estava começando a se sentir um tomatinho perto de Will. — Essa é a pior a desculpa de todas.

— Tudo bem, tudo bem. — O filho de Apolo riu, agradecendo ao bronzeado que não mostrava como também estava corado. — É só porque eu gosto da sua cor.

— Da minha cor? — Nico questionou, automaticamente olhando para seu tórax nu que havia adquirido o tom moreno característico de quando morava na Itália.

— Quando não está tão pálido como o Conde Drácula, pelo menos. — Will deu um sorriso de lado que acabou fazendo com que Nico risse. — Você fica bonito assim.

O Di Angelo sentiu o rosto esquentar ainda mais e acabou colocando o braço sobre o rosto, com a desculpa de tapar os olhos da claridade da aurora.

— O que está fazendo agora, Will? — Nico perguntou depois de alguns minutos em silêncio, quando sentiu a sombra de Will o encobrir, denunciando que o Solace estava prostrado sobre ele.

— Só vendo se ainda tem as manchinhas! — O Solace respondeu casualmente, fazendo Nico abrir os olhos e encontrar uma cabeleira loira sobre si, perto até demais.

— Eu não sou manchado! — Nico resmungou, como de costume, sentindo o rosto esquentar, e não era por causa do sol.

— São bonitinhas! — Will exclamou, passando os dedos por toda as pintas, como se estivesse brincando de “ligue os pontos” ou desenhando as constelações.

— Quantas vezes eu tenho que dizer que não gosto que me toquem?! — Nico reclamou, mas não impediu que Will continuasse, sentindo seu coração acelerar e arrepios pelo corpo a cada toque.

— Posso contar quantas tem? — O Solace perguntou quase em um sussurro, como se estivesse hipnotizado.

— Hã… O que?  — Nico murmurou, atordoado pela proximidade de Will, antes de entender a pergunta do amigo. — Não!

— Ah, é mesmo: — Will riu, erguendo o rosto na altura do rosto do Di Angelo, próximos o suficiente para sentirem a respiração um do outro. — Esqueci que você tem cosquinha!

— Não tenho! — O filho de Hades mentiu, arregalando os olhos ao entender, tarde demais, o plano do outro garoto.

— Não?! Acho que já passamos por isso antes, não?!

— Will, não! — Suplicou, mas já era tarde: os dedos de Will lhe tocavam na barriga com rapidez, arrancando gargalhadas do garoto que se debatia. — Para! Will! Eu estou ficando sem ar.

— Você é muito chato! — Will riu, mas continuou, sem piedade.

Nico tentou respirar fundo e girou o corpo, invertendo as posições. Com certa dificuldade, o Di Angelo conseguiu segurar as mãos de Will sobre a cabeça dele, que continuava a se debater e protestar com os pulsos presos.

— De onde tirou tanta força? — Will resmungou, ainda se contorcendo pra se soltar. Olhou para cima e notou os ossos envolvendo seu braço, aprisionando-o. — O que eu disse sobre usar seus poderes, Menino das Sombras?!

— Eu avisei que devia parar. — Nico arfou, mas pouquíssimo da sua atenção estava nas palavras de Will, a maior parte estava era nos lábios finos.

Will parou de se debater, sabendo que era inútil, e fixou os olhos em Nico com uma expressão emburrada, expressão esta que não durou muito ao ver o sorriso presunçoso do filho de Hades.

Eles estavam muito perto, Nico podia sentir a respiração com cheiro de menta do outro garoto, podia sentir o calor que irradiava dele e tinha que admitir para si que aqueles olhos azuis eram realmente maravilhosos; O Di Angelo se aproximou mais, atraído pelo azul, hipnotizado pelos lábios finos e entreabertos que sempre mostrava um sorriso confortante e não conteve seus instintos de passar os dedos pelas face bronzeada de Will, um leve carinho nas bochechas até os lábios.

Logo, não era mais os dedos de Nico que acariciava ali, e sim sua boca, curiosa ao sentir o gosto refrescante de menta que combinava perfeitamente com a alta temperatura de Will. O Di Angelo não se impediu de fechar os olhos e aproveitar a maciez dos lábios do filho de Apolo, e nem o suspiro quando teve o beijo retribuído, com menos sutileza que o esperado, quando Will o mordiscou nos lábios, provocando-o.

Era como se tudo ali tivesse parado, era apenas os dois, apenas aquele beijo tão ansiado e sonhado, era apenas o carinho entre os dois garotos que florescia cada vez mais, tudo o que importava para Nico era a segurança que Will lhe trazia, ele queria que aquilo nunca acabasse.

Quando seus lábios se separaram, o coração do filho de Hades não se aquietou, ou o formigamento em seus lábios e, tampouco as borboletas no seu estômago.

— Me importune de novo, Solace — Nico sussurrou, já sentindo o rubor lhe queimar as bochechas e ainda atraído pelo azul dos olhos de Will. — e terá mais disso.

Ele rolou o corpo para o lado, libertando Will; Continuou deitado de olhos fechados, tentando controlar o rubor, sua respiração e seus batimentos, ou o medo da reação de Will, sem sucesso nenhum.

— Nico? — O filho de Apolo sussurrou.— Te beijar seria importunar novamente?

Nico abriu os olhos e encarou o sorriso doce nos lábios de Will e não pode evitar lhe retribuir, sentindo uma súbita vontade de rir e abraçar o garoto ao seu lado, até que seu coração se aquietasse.

— Com certeza. — Tentou soar o mais mau humorado possível, mas era impossível, principalmente quando Will lhe segurou a mão trêmula e a apertou suavemente, sorrindo o mais radiante possível.

— É muito bom saber disso...

 


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Notas finais do capítulo

Hey pessoinhas,
Essa é minha primeira fanfiction Yaoi.
Pelo menos, é o primeiro relacionamento homossexual que descrevo em protagonismo. Por isto, cada dica e crítica será bem-vinda!
Se você gostou da minha forma de escrever, dê uma olhada no meu perfil, estou escrevendo de tudo um pouco.
Enfim, obrigada pela atenção,
Beijinhoskisskiss ♥
[Para quem é Team Pipopinha: Não me matem!]