Caminhávamos lentamente pela cidade deserta, os poucos errantes que vinham nos estressar acabavam mortos. O garoto ao meu lado mantinha-se com as mãos nos bolsos da calça suja e rasgada. Já estávamos perambulando pelas cidades há dias, não encontrávamos nada além de mortos pelo chão ensanguentado, algumas sobras de outros sobreviventes e malditos errantes nojentos mortos de fome - Assim como nós - 

— Lucas, não podemos ficar andando sem rumo, Giovanni está ficando desidratado. Nossas condições físicas não estão lá essas coisas...Precisamos parar em algum lugar 

Passei por alguns carros quebrados enquanto suspirava. Realmente, minhas pernas doíam feito o inferno, meus braços já estavam vermelhos por conta do sol quente e meu estômago não recebia algo decente a dias. Parei de andar ao mesmo tempo que soltava outro suspiro cansado 

— E quer fazer isso onde ? No meio das ruas ? Não podemos parar, precisamos continuar andando, lembra da nossa promessa ? Precisamos chegar ao CCD

Ângelo revirou os olhos lentamente enquanto me encarava. Ele era o tipo de garoto que não acreditava muito nas coisas, ele era assim desde antes do apocalipse. Esse cara é meu meu melhor amigo, sempre estávamos juntos na escola ou em casa...Jogávamos video-game todo santo dia...Era sempre ele quem me tirava das brigas ou me impedia de fazer alguma besteira 

— Luck, aquilo foi apenas uma transmissão perdida. Encare os fatos, a humanidade acabou, não existe mais CCD ou qualquer tipo de instituição....Somos apenas nós, precisa acordar pra realidade 

— Não posso simplesmente esquecer a esperança. A humanidade pode ter morrido, mas eu não,  eu continuo vivo e vou fazer de tudo para manter meus irmãos e meu melhor amigo vivos. 

O azulado apenas suspirou negativamente levando as mãos ao bolso novamente. Daniel puxou meu cinto gentilmente chamando-me a atenção. O garoto não era de falar muito, mas já era um guerreiro....Já sabe usar uma faca sem se cortar, só falta aprender a atirar, mas deixarei essa tarefa para Ângelo - Não tenho muita paciência com crianças - 

Olhei para onde o pequeno garoto apontava, alguns errantes se aproximavam com metade da mandíbula caída, uma gosma verde nojenta pingava no chão. Ângelo logo sacou sua faca, porém, o impedi, acabaria com eles sozinho 

— São apenas dois, deixe comigo 

— Tome cuidado 

Assenti enquanto andava ate os nojentos com a faca armada na mão direita. A praga começou a alguns meses, 2 ou talvez 3, parei de contar na terceira semana....O primeiro errante veio pra cima cambaleante com seus braços estendidos. O cheiro podre invadiu minhas narinas assim que o mesmo se jogou em cima de mim

— Você precisa de um banho

Minha voz saiu um sussurro, girei para o lado desviando do nojento, o errante passou reto quase caindo no chão. Já estava acostumado com eles, eles sozinhos ou em pequenos grupos não são problema, o duro é quando são uma horda inteira...Quando é assim você corre ou morre, não tem como lutar

Finquei minha faca na nuca do maldito fazendo-o desfalecer no chão. Pude ouvir o som de seu corpo mole chocando-se contra o asfalto duro, o resto de seus órgãos escorreram para a rua agora ensanguentada. Me virei para o outro desgraçado, mas para minha surpresa ele já estava morto no chão, minha primeira reação foi sacar minha arma, mas logo relaxei ao ouvir os passos de Ângelo 

— Vamos logo, não temos tempo para seus showzinhos de horror 

— Muito engraçado você 

O azulado era um mestre no arco e flecha. Não conheci ninguém melhor que ele, tanto em mira quanto nesse negócio de arco. Tenho sorte de ter encontrado ele, na verdade, quem me encontrou foi ele...Fui salvo novamente pelo meu melhor amigo....Merda, preciso parar com isso...Guardamos nossas armas enquanto voltávamos a andar pela cidade vazia 

Lucas Povs Off 

Samantha Povs On 

     Não sei como vim parar nessa cidade esquisita e fétida, aliás, não sei como vim parar nesse inferno. Caminhava pelas calçadas sujas com meus dois cabos de vassouras em mãos, sou bastante cautelosa, ainda mais agora, preciso sobreviver custe o que custar - Mesmo não sabendo tal coisa - 

— Droga, preciso encontrar alguém o mais rápido possível 

Não que eu não fosse capaz de sobreviver sozinha, mas sabem como é...Não tenho a miníma ideia de como lidarei com vários errantes sozinha. Posso correr pra longe, ou sair escalando feito uma macaca, mas alguma hora vou cansar...Balancei a cabeça expulsando os pensamentos negativos. Virei uma esquina dando de cara com uma loja de roupas, meus olhos brilharam no mesmo instante, minhas roupas já estavam todas imundas e rasgadas...Já estava me sentindo mal com esses panos sujos no corpo 

Peguei duas pedras de tamanho médio, os andarilhos reagem ao som, posso ver se tem alguns perdidos dentro da loja antes de entrar. Jogue ambas as pedras, a primeira bateu em um pequeno pedaço de ferro fazendo barulho o suficiente para me assustar 

— Puta que pariu

Merda, desse jeito iria atrair andarilhos para cá....Tratei de sair correndo para dentro da loja. Assim que entrei dei de cara com um rapaz morto pendurado no lugar do manequim. Minha primeira reação foi soltar um grito, mas logo tapei minha boca abafando o mesmo. Passei de fininho pelo horrendo garoto morto adentrando ainda mais a loja escura

O local não estava muito bagunçado, haviam apenas algumas roupas jogadas pelo chão um tanto quanto ensanguentado. Comecei a andar pelo lugar driblando alguns mortos pelo chão, o cheiro era bem nojento, mas pelo menos estava segura dos andarilhos lá fora - Logo vou sair, então não adianta muita coisa -. Depois de algum tempo consegui chegar a sessão feminina, as roupas por algum milagre estavam inteiras, algumas sujas por conta da destruição, mas nada que uma boa passa de água não resolva 

— Finalmente...

Peguei uma blusinha preta do meu tamanho e um shorts de malha bem leve, não da pra ficar usando calças justas nessa merda toda, então prefiro um shorts leve. Minha pele razoavelmente clara continham algumas manchas de sangue, minha vontade era de tomar um banho, mas isso é pedir demais...Já me satisfaço com essas roupas. Peguei as peças que havia escolhido e segui para um canto escondido, ainda tinha medo de algumas pessoas...Ainda mais agora

Quando ia tirar a camisa toda amarrotada escutei passos pela loja, os mesmos eram '' organizados '' demais para serem de andarilhos...Prendi a respiração e peguei o cabo da vassoura, as vozes pareciam ser de dois garotos...Me apertei entre os dois balcões estreitos. Forcei a audição para conseguir escuta-los 

— Como viemos parar em uma loja feminina ? Estamos querendo comida, não roupas, mas que porra! 

— Calma lá garotão, aqui não tem só roupas femininas. Já tínhamos passado por aqui antes, mas como sempre você não notou 

— Que seja, o que quer fazer aqui ? Vestir algum vestidinho ? 

— Muito engraçadinho. Vamos pegar algumas coisas para seus irmãos, eles precisam mais do que nós

— Tem razão...Depois vamos para o CCD, certo ? 

— Okay, okay 

CCD ? Centro de controles de doenças ? Eles estão indo mesmo para lá ?  Sai do meu esconderijo com o cabo em mãos, não queria falar com eles, eles poderiam ser saqueadores...Calma Sam, você precisa de um grupo, cedo ou tarde vai ter que confiar em alguém.

Com muito cuidado andei ate eles, os mesmos pareciam não estar me vendo, mas logo o garoto de cabelos azuis se virou com seu arco apontado para mim. O outro garoto de cabelos morenos e bagunçados parecia meio bobão, mas ao mesmo tempo sentia algo ameaçador vindo dele. O garoto azulado pigarreou chamando a atenção do parceiro 

— Lucas...Temos companhia 

— An ? Porra...

O rapaz sacou sua pistola apontando-a para mim logo em seguida. Meu rifle estava na mochila, e pra completar tinha deixado a mochila perto das roupas que peguei para colocar. Estava em plena desvantagem no momento 

— Quem é você ? 

O garoto da pistola perguntou. Parecia ter outro garoto atrás deles, o pequeno parecia estar segurando uma criança, não conseguia ver direito por conta dos dois postes na frente. Suspirei pesadamente enquanto largava o cabo no chão 

— Samantha Burmam. 16 anos, e não estou em nenhum grupo 

Os dois garotos pareciam ter ficado surpresos. É...Respondi mais coisas que o necessário....

— A quanto tempo esta nessa cidade ? 

— Algumas semanas....Estou procurando pela minha mãe. E vocês ? O que fazem nessa cidade totalmente nojenta e deserta ? 

— Procurando suprimentos....

Ambos abaixaram suas armas depois de um tempo, o pequeno garotinho finalmente saiu de trás deles segurando um bebe em seu colo. Não pude conter o sorriso, era muito bom poder ver dois anjinhos depois de muito tempo...Confesso, estou surpresa deles terem sobrevivido ate aqui com essas duas crianças

— Estão em algum grupo ?

Perguntei na tentativa de fazer alguma amizade. Era raro ver pessoas hoje em dia, e como sou um tanto quanto hiperativa....Os dois rapazes balançaram a cabeça negativamente 

— Apenas nos quatro 

— Estão interessados em mais uma ? 

E mais uma vez eles se olharam, dava para ver a confiança que tinham pelo outro...Eles conversavam apenas com o olhar, isso me deixava feliz, eu tinha essa mesma relação com a Brianna....Depois de alguns minutos o garoto da pistola veio ate mim com o olhar sério. Confesso, ele era mais atraente de perto...Fiquei meio corada quando ele começou a me apalpar 

— Avise quando for fazer isso, Lucas 

O azulado suspirou enquanto pedia desculpas. Não demorou muito para o moreno se levantar com o olhar sobre mim

— Se ferir algum dos três...Eu juro que te entrego pros errantes sem um membro do corpo 

Congelei na hora, esse garoto era sombrio....

— O-okay....

— Sou Lucas, o garoto de cabelos azuis é o Ângelo,  os dois pitocos lá atras são meus irmãos, Daniel e Giovanni. Somos uma família, machuque um de nós e vera a fúria de um sobrevivente 

— Digo o mesmo pra você...Posso ser uma garota sozinha...Mas não me subestime. 

O mesmo se virou com as mãos nos bolsos. Então finalmente consegui entrar em um grupo, agora as coisas ficariam mais fáceis, eles poderiam me ajudar a encontrar minha mãe...Dei um pequeno sorriso antes de ir ate eles 

— Não seria melhor nos trocarmos ? 

— Tem razão...Bom, vocês três podem ir, estarei lá fora de vigia. Vocês tem 15 minutos

— Quer que eu trague uma roupa pra você ? 

— O Ângelo já vai fazer isso, agora vão logo. Precisamos chegar na CCD o mais rápido possível 

Saímos andando pela loja para nos trocarmos. A verdadeira batalha começaria agora...E eu sabia o que viria pela frente, algo me dizia que os problemas ainda estão por vir.... 

 CONTINUA........