Infiltração escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Eu pensei nesta One-shot depois de assistir The Clone Wars (se você ainda não viu, considere isso uma recomendação) e me apaixonar pela amizade da Ahsoka e da Barriss. Espero que goste. Boa leitura. ^^



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Coruscant, provavelmente o planeta mais movimentado da galáxia, nunca pareceu tão quieto para Barriss. O silêncio de um planeta-cidade inteiro só confirmava uma coisa: o presídio de segurança máxima clone cumpria bem o seu papel. Barriss Offee, em sua cela solitária, parecia não pertencer mais àquele mundo.

A última refeição do dia — uma bandeja cinzenta com uma gosma roxa em cima, a qual Barriss jamais ousaria chamar de “jantar” — estava no mesmo lugar onde o guarda havia deixado horas antes. Não comia há dias, usando a Força para se sustentar. Não era lá um grande truque, mas pelo menos a impedia de morrer de fome. Barriss havia emagrecido. Sentia-se fraca e cansada, mas preferia estar assim; depois de ter provado da comida da prisão, jurou nunca mais chegar perto do que seja lá o que fosse aquela gosma. E, no fim, desnutrição era a menor das suas preocupações. Em breve chegaria o dia de sua execução e pensar nela só piorava as coisas.

— A julgar pelas circunstâncias, talvez eu mereça tudo isso — falou consigo.

Depois que a sirene indicou a hora de repouso, Barriss se sentou de pernas cruzadas e começou a meditar, como sempre fazia. Isso a fazia se sentir melhor, tanto mental quanto fisicamente. Foi um hábito que adquiriu desde que havia se tornado Padawan da Mestra Luminara Unduli. Luminara sempre lhe falava dos benefícios da mente calma para um Jedi.

Devagar, sentia cada presença naquele presídio gigantesco e profundo. Os criminosos mais malignos da galáxia que a República havia capturado, cada clone, de soldado a oficial; a Força era sua companheira na solitária. A Força estava com ela.

Então, veio a perturbação. Uma presença. Barriss sentiu alguém que não deveria estar ali. O medo, a cautela, a pressa, a determinação, tudo isso que o estranho sentia Barriss sentia também. Alguém havia acabado de invadir um presídio de segurança máxima clone e, pelo visto, sabia se infiltrar; nenhum alarme havia sido tocado.

Mentalmente, Barriss decidiu acompanhar o estranho; estava curiosa. A presença descia por um dos turboelevadores e, pelo que parecia, não estava só. À medida que o turboelevador se aprofundava na prisão, Barriss conseguia distinguir melhor quem estava dentro dele. Estavam em dois: um deles era clone, Barriss concluiu; o outro era difícil dizer ao certo. Uma sensação de calor e, ao mesmo tempo, de peso tomou Barriss.

— Entendo — murmurou. — Seja lá quem for, pode usar a Força. Então o clone junto dele está sendo manipulado.

O turboelevador chegou ao andar mais profundo, o das solitárias. Àquela altura, já estava claro para Barriss Offee de quem se tratava o invasor. Aquela presença quente só poderia significar uma pessoa, e esta pessoa estava ali para vê-la.

Barriss abriu os olhos e viu, atrás do escudo de energia que a selava, sua velha amiga a observando.

— Ahsoka.                                                              

— Barriss — a outra respondeu com uma frieza atípica para ela. Barriss ergueu os olhos para os da companheira e não encontrou o ar gelado que havia achado na voz. Ahsoka ainda estava confusa com tudo o que acontecera.

— Eu não recebo visitas, Ahsoka. E, ainda que pudesse, está um pouco tarde, não?

— Por que fez tudo aquilo? — Ahsoka foi direta.

— Eu já disse, não? No julgamento no Senado. Eu contei o porquê.

Ahsoka cerrou os punhos.

— Ainda não faz sentido para mim.

— Você é realmente muito parecida com o Mestre Skywalker, Ahsoka — Barriss foi sarcástica. — Demora para entender as coisas.

— Pelo que eu me lembro, você não é do tipo que faz brincadeiras, Barriss — Ahsoka falou séria. — E minha memória nem se compara à sua.

Barriss suprimiu um sorriso. No dia que se conheceram, as duas estavam em Geonosis, em guerra contra os Separatistas. A missão delas era invadir e destruir uma fábrica de dróides de batalha, atravessando as catacumbas abaixo da fábrica. Barriss havia memorizado todas as ramificações das catacumbas e foi uma boa guia em uma batalha que quase as matou dezenas de vezes e resultou em uma explosão, um soterramento e, por fim, um resgate pelo General Anakin Skywalker.

Barriss voltou-se para o presente. Ahsoka ainda a observava, inquieta.

— Por que veio aqui, afinal? — Barriss perguntou. — Para confirmar o que ouviu? Para ter certeza de que tudo não passou de um grande mal-entendido? Me diz, Ahsoka.

Não houve resposta. Barriss suspirou.

— Está vendo? Você já sabe a verdade. Sua mente já assimilou tudo, mas seu coração ainda não.

— Eu quero entender, Barriss... — falou baixo, aumentando gradativamente a voz até que a outra pudesse ouvir. — Você, você, fez o Jackar Bowmani ingerir nano-dróides e o usou como uma bomba para atacar o Templo Jedi. Você foi responsável pela morte de membros da Ordem, de soldados clone e funcionários do Templo. Depois mentiu para todo mundo e me incriminou. Eu, eu confiei em você... e você tentou me matar?!

— Eu sei o que eu fiz, Ahsoka — Barriss rebateu, impaciente. — Como você disse, sua memória nem se compara à minha. Eu me lembro muito bem do que aconteceu. E mais importante: por que eu fiz.

— Os Jedi ainda são os guardiões da paz e da justiça na galáxia, apesar de tudo. O que você fez foi um crime de alta traição contra a Ordem e contra a República. Nada poderia justificar o que você fez.

Barriss meneou a cabeça negativamente. Ahsoka poderia ser a mais valente das duas, mas, aos olhos de Barriss Offee, por trás de toda aquela bravura havia muita ingenuidade.

— Guardiões da paz e da justiça, é? — desdenhou. — Diga-me, Ahsoka, se os Jedi são o que você diz que são, por que nos tornamos soldados nesta guerra? A República tem os clones, tem oficiais treinados, mas os Jedi também tomaram partido nas Guerras Clônicas.

— Não seja ridícula! Os Jedi servem à República há séculos e...

— ... servir à República nunca foi desculpa para termos entrado nesta guerra — Barriss interrompeu, elevando um pouco mais a voz. — Nós deixamos de proteger para destruir, deixamos de usar o sabre de luz para defesa e passamos a usar para atacar. Com a guerra, os Jedi viraram as costas para todos os Sistemas Separatistas e passamos a vê-los como inimigos. E quanto aos Sistemas Neutros? Tsc, tudo que passou a importar foi montar bases neles antes dos Separatistas. Os Jedi passaram a espalhar a guerra e morte na galáxia.

Ahsoka parou e pensou antes de responder.

— Os Separatistas começaram essa guerra — argumentou. —   Eles estavam construindo dróides de batalha desde antes do assalto a Geonosis. Era inevitável.

— A guerra? Pode ser. Mas pouco importa quem atacou primeiro, já que agora, mais do que nunca, vivemos em uma galáxia dividida. E os Jedi foram agentes disso.

— E por isso você decidiu se tornar uma assassina? — perguntou Ahsoka.

Barriss se calou. Pensar no que havia acontecido era estressante, mas, considerando que seu contato com outras pessoas se resumia a ouvir um guarda lhe trazer comida gosmenta periodicamente, discutir com Ahsoka a fazia se sentir melhor. Lembrava os velhos tempos.

— Você não entende. Eu já tinha me tornado uma assassina quando fui para minha primeira batalha. Eu e todo mundo.

— Eram dróides, Barriss. Máquinas.

— Eram Sistemas, Ahsoka. Invasões, ocupações, corte de suprimentos e, é claro, as batalhas. Não destruímos só dróides e você sabe.

Ponto para Barriss, admitiu Ahsoka em pensamentos. Nem todos os guerreiros separatistas eram de metal. Em Geonosis mesmo as duas destruíram milhares de nativos hostis. Ahsoka se lembrou de lutar ao lado de Anakin Skywalker, seu antigo mestre. Cortar os “insetos” geonosianos para vencer uma ou outra batalha parecia o certo a ser feito. Agora, nem tanto.

No curto período de silêncio que se fez entre as duas, Barriss observou Ahsoka com mais atenção. Os olhos dela transmitiam certo incômodo, mas não por estar em um local proibido. Infringir regras era uma das coisas que Ahsoka havia aprendido bem com Anakin Skywalker. A perturbação que sua amiga parecia ter era com algo distante.

Então Barriss, finalmente, percebeu que tinha algo faltando na cabeça de Ahsoka, entre o par de chifres.

— Seu Cordão Padawan... onde está? — A reação de Ahsoka foi intrigante: um olhar surpreso e depois um tanto triste.

— Bom, eu... — uma avalanche de lembranças tomou a mente de Ahsoka. A expulsão da Ordem Jedi, a prisão injusta, a fuga e caçada feita pelos clones, sua captura, o julgamento, a confissão de Barriss, a última troca de olhares com Anakin antes de Ahsoka escolher deixar a Ordem. — Eu fui expulsa, lembra?

— Porque pensaram que você era a responsável por tudo. Depois que eu confessei, tenho certeza de que o Conselho se retratou e pediu para que você voltasse.

— É, eles fizeram isso — disse Ahsoka vagamente. — Mas eu decidi deixar a Ordem Jedi.

Por aquilo Barriss não esperava.

— Eu decidi trilhar meu próprio caminho — Ahsoka prosseguiu antes que Barriss perguntasse. — Longe do Anakin e de tudo. Além disso, eu não conseguia olhar para o Conselho nem para a Ordem da mesma forma depois do que houve. Ninguém acreditou em mim.

— Entendo — disse Barriss. — Os Jedi não são mais o que costumavam ser, não é?

Ahsoka estreitou o olhar, irritada.

— Eu ainda acho errado o que você fez. — Mudou o tom de voz, controlando-se. — Mas quer saber de uma coisa? Eu concordo quando você diz que demos as costas aos Separatistas. Ainda que o líder político deles seja um Lorde Sith. Eu fui a um dos Sistemas deles junto com a senadora Amidala. Nem todos eles eram maus.

Barriss estudou sua companheira e deu um pequeno sorriso.

— Ah, sim. Aquele tal de Lux, não é? — A reação embaraçada de Ahsoka fez Barriss uma leve risada. — Bom, você percebeu. Nem todos os Separatistas são pessoas ruins, Ahsoka. Assim como nem todos na República são bons, nem mesmo entre os Jedi. Você se lembra do Mestre Krell, não?

Ahsoka se lembrava da história contada pelo Capitão Rex. Mestre Pong Krell havia caído para o Lado Negro da Força e, secretamente, se aliado ao Conde Dookan para destruir os clones, usando sua posição como General para enviar soldados em missões suicidas.

— Sim, ele foi seduzido pelo Lado Negro. — Parou. Algo repentino a intrigava. — Barriss, Mestre Yoda disse que o Jedi responsável pelo ataque ao Templo havia caído para o Lado Negro da Força. Então você...?

O sorriso de Barriss desapareceu. Ahsoka sentia muita coisa em Barriss: raiva, frustração e, principalmente, medo. Medo de morrer. Barriss Offee estava um tanto quanto diferente da pacata e sábia Padawan que ela havia conhecido, mas ainda era ela, ainda era Barriss, sua melhor amiga.

— Não, eu não sinto o Lado Negro em você — completou Ahsoka.

A expressão de Barriss se suavizou.

— Não me arrependo de tudo o que fiz, Ahsoka. Mas nunca quis te envolver nisso; somos amigas. Mas eu não tive escolha. Letta Turmond ia acabar me entregando. Matá-la e incriminar você foi a única saída.

— Sempre há outro jeito, Barriss — disse Ahsoka, tentando ignorar a raiva que as lembranças lhe traziam. — Nem sempre a primeira opção que vem à cabeça é a certa.

— Aprendeu isso com Mestre Yoda, é? — Barriss deu um sorriso meio debochado. — Ou Mestre Kenobi, talvez? Porque, para ser sincera, eu não acredito que Mestre Skywalker possa ensina-

— Aprendi com você. — E pela segunda vez, Ahsoka Tano havia surpreendido a Barriss Offee, que ficou sem saber o que dizer. Tinha uma memória ótima, mas não lhe ocorria ter ensinado nada à amiga ou que ela tivesse assimilado qualquer coisa.

Enquanto isso, Ahsoka inclinou um pouco a cabeça e riu da reação confusa de Barriss. Definitivamente, ainda era ela.

— Com a nossa amizade, convivendo com você — explicou. — Nas catacumbas, quando você pareceu se perder e, no fim, pensou em ir para cima e não para a esquerda, lembra? Ou quando você foi controlada por aquele verme e pediu para eu te matar, sendo que eu também podia esperar a ajuda do Mestre Fisto. Mesmo sem querer, eu acabei aprendendo com nossos momentos malucos. — Sorriu.

Barriss, por outro lado, não se sentiu tão nostálgica quanto Ahsoka, principalmente no momento mais dramático das duas: quanto pediu para que a companheira a matasse. Ahsoka tinha um coração gentil e Barriss sabia que ela jamais iria concordar, porém, na cabeça de Barriss, tê-la salvado foi o erro grave de Ahsoka Tano.

— Naquele dia... — Encolheu os ombros, fugindo do olhar de Ahsoka. — Se você tivesse feito o que pedi, o ataque ao Templo jamais teria acontecido. Ninguém teria morrido, você não teria deixado a Ordem e, provavelmente, já teria sido nomeada Cavaleira Jedi.

Ahsoka deu um suspiro pesado. Entendia o raciocínio de Barriss e, nos primeiros dias após a prisão dela, Ahsoka chegou a pensar que se tivesse feito o que a outra havia pedido, teria salvado dezenas de vidas e evitado muitos problemas. Contudo, o assassinato seria uma assombração pela qual ela seria atormentada pelo resto da vida; jamais se perdoaria. E, ali, frente a frente com Barriss, Ahsoka soube que não seria diferente dela, caso tivesse concordado em matá-la. Afinal, ambas teriam tirado vidas em prol do que acreditavam ser o necessário.

Por mais que Barriss negasse não se arrepender, estava claro para Ahsoka o conflito que a atormentava. Ela havia sido tentada pelo Lado Negro, mas ainda havia muito da velha Barriss Offee dentro daquela cela. A presença dela era bastante diferente de estar com Ventress, por exemplo — e a própria Ahsoka também sentira algo mudar na antiga assassina de Dookan.

— Eu teria evitado que você explodisse o Templo, Barriss — disse, gentilmente. — Mas nada impediria que outro Jedi fizesse a mesma coisa. E, no fim das contas, eu sei que se você pudesse voltar atrás, você voltaria para corrigir tudo.

— Como pode ter certeza disso? — perguntou Barriss.

— Porque somos amigas — respondeu Ahsoka. — E não tente de discordar de mim dessa vez. Eu tenho meu sabre de luz aqui, você está desarmada. — As duas acabaram rindo.

Continuaram conversando, como se não se vissem há anos. Ahsoka contou como os efeitos da guerra se repercutiam nas periferias de Coruscant, já que, enquanto Jedi, ela tinha quase nenhuma noção disso, além de como era viver fora da Ordem. Barriss falou da vida dura em uma prisão clone, de não ter direito de receber visitas ou ter contato com os demais encarcerados e, ainda, do sabor horrível da comida gosmenta.

— E eu também soube que a Mestra Luminara viajou direto para Malastare em missão diplomática — contou Ahsoka, já sentada no chão. Barriss também estava. O escudo de energia amarelo não importava nem um pouco naquele momento. — Aqueles Dugs são realmente difíceis de lidar.

— Sim. — A voz de Barriss se tornou distante, Ahsoka havia percebido.

— Ela estaria aqui se pudesse, Barriss. Com certeza.

— Eu sei — disse. — E talvez seja por isso, Ahsoka. Não me imagino encarando o olhar decepcionado da Mestra Luminara. Como Padawan, eu fracassei com ela.

— Mestra Luminara é uma das mulheres mais sábias e compreensivas em toda a Ordem Jedi. Não é à toa que ela é membro do Conselho.

— É, talvez você esteja certa. — Por menos que dissesse, estava feliz por ter Ahsoka ali para conversar e lhe fazer companhia. — E você, o que tem em mente?

— Vou embora de Coruscant — disse. — Ganhei uma partida de Sabacc valendo uma passagem para Lothal. É um planeta pequeno, longe da guerra. Eu não resisti. — Inclinou-se para sussurrar. — Eu descobri quais cartas o outro cara tinha com uma ajudinha da Força.       

Barriss riu e balançou a cabeça em uma falsa reprovação.

— Você é mesmo parecida com Mestre Skywalker. Quando vai partir?

— Ainda não sei — admitiu. — Eu pensei primeiro em vir aqui. Senti que precisávamos conversar antes que eu partisse.

Mas Barriss não disse nada. Virou-se e olhou por sobre os ombros para dentro da cela. Não havia muito para ela admirar ali, já sabia. A cama era uma prancha retangular de metal fixa na parede, e, no chão, a bandeja cinzenta com a gosma. Fora isso, uma cela retangular feita de metal reforçado com um escudo de energia controlado a distância na entrada.

A reação repentina não passou despercebida por Ahsoka que, usando a Força para se conectar às emoções da amiga, não demorou a entender o que estava acontecendo.

— Daqui a dois dias, não é? — falou para Barriss, que se virou de volta. — A sua execução.

Quando havia começado a meditar, procurou acalmar os pensamentos. Mas Ahsoka tinha aparecido para estragar tudo. Agora, Barriss sentia um dilúvio em sua mente. Estava feliz por ver a amiga de novo, mais feliz por ter conversado com alguém familiar, com raiva por se ver impotente dentro da cela, com medo de ver novamente o rosto magro do Almirante Tarkin ou de que o pelotão de fuzilamento finalmente viesse buscá-la, cansada por passar quase um mês naquele estado, frustrada com a Ordem Jedi. Sentiu-se acolhida por Ahsoka — quem ela tentou matar e que, agora, iria partir —, culpada, sozinha de novo, querendo estar longe dali sem poder fazê-lo. Suas emoções nunca estiveram tão confusas. A morte nunca lhe pareceu tão iminente. Tão assustadora.

— Esteja pronta, Barriss. — As palavras de Ahsoka fizeram-na voltar à realidade. Não foi difícil para Barriss compreendê-las.

— Não ouse fazer isso! — repreendeu. — Você me ouviu, Ahsoka? Não tente me salvar.

— Eu não vou ficar parada, esperando a notícia de que você morreu. — Levantou-se. — Além disso, você sabe que eu posso dar conta de alguns clones.

— Não serão só “alguns clones”, Ahsoka. Vai ter um batalhão inteiro, e o próprio Almirante Tarkin fez questão de me dizer que estará presente. Isso sem falar nos Jedi. Eu sou uma criminosa de guerra, julgada e condenada por um tribunal militar por atentar contra a República e contra a Ordem Jedi — enfatizou. — Você já não deveria estar aqui. Se tentar aparecer para me salvar, vão acabar com você. Por favor — advertiu, soltando um suspiro pesado —, não se arrisque por mim.

— Eu não vou te deixar sozinha!

“Mas é preciso”, pensou Barris. Teimosia sempre foi um dos pontos fortes de Ahsoka e isso poderia matá-la. Mesmo sendo uma ótima espadachim, jamais daria conta de enfrentar toda a segurança no dia da execução. Porém, mais do que isso, Barriss se via como um fardo para Ahsoka. O plano de atacar o Templo Jedi lhe causou vários problemas, inclusive, sua saída da Ordem. Novamente, Ahsoka Tano estaria envolvida com coisas grandes demais para ela lidar.

Estava claro para Barriss que Ahsoka não desistiria daquela ideia insana. Consciente disso, não tinha escolha; para protegê-la e impedi-la, teria que esfaquear sua amizade com ela outra vez. Somente assim poderia fazê-la reconsiderar.

Barriss levantou a cabeça e observou a única amiga. O olhar impaciente de Ahsoka exigia uma resposta; o silêncio a estava incomodando.

A resposta de Barriss Offee veio, seguido por um “adeus, Ahsoka” firme e seco. Ela desviou os olhos para o clone usado durante a infiltração, concentrando-se na mente dele. Por meio da Força, Barriss disse:

“Você vai ordenar que soem o alarme e depois cair desacordado. Há um invasor aqui”.

Assim foi feito. O clone repetiu todo o comando mental em voz clara antes de disparar o alarme. Ahsoka, incrédula, virou-se do clone para Barriss.

— O que você fez?! — gritou.

Barriss sorriu satisfeita.

— Você vai ter que correr, Ahsoka. Em cinco minutos, eu acho, este lugar estará completamente lacrado. Em dez minutos, pelo menos dois batalhões-clone estarão cobrindo todas as saídas. Em quinze minutos, haverá pelo menos um Jedi aqui. Depois disso, será impossível escapar — falou tranquila. — Nossa conversa acabou.

Ahsoka queria ficar ali e socar Barriss até cansar, mas ela sabia, por experiência própria, que depois de soado o alarme, cada segundo contava quando se fugia de uma prisão clone. Barriss a tinha traído outra vez, mas o que importava naquele instante era conseguir sair a tempo; Ahsoka precisava se concentrar no ali e no agora.

Ela correu para os turbo-elevadores, puxando o sabre de luz do cinto. Abriu a porta e permitiu-se olhar para trás uma última vez. Barriss estava sentada meditando, exatamente como quando Ahsoka a tinha encontrado. Como se nada tivesse acontecido.

— Barriss... — sussurrou.

Decepcionada e correndo contra o tempo, fechou a porta do turbo-elevador e desapareceu prisão acima.

Dentro da cela, Barriss Offee sentia-se em paz, como se toneladas, de repente, tivessem desaparecido de suas costas. A visita de Ahsoka Tano, apesar de ter tido um final indesejado, a fez saber que ainda era importante para alguém. Mesmo tendo que enxotá-la, a presença de Ahsoka a tinha reanimado, como há muito nenhuma meditação conseguira. Ela poderia, sim, ter uma segunda chance.

— Eu não vou morrer aqui, Ahsoka — falou consigo mesma. — Mas não poderia deixar você me salvar. Não poderia te prejudicar mais. Isso é algo que devo fazer sozinha.

Durante a meditação, Barriss usou a Força para expandir sua sensibilidade. Tateou mentalmente andar por andar a procura de Ahsoka, sem sucesso. Nos primeiros níveis da prisão, ela sentiu o estranhamento de um soldado. Ao que parecia, um dos turbo-elevadores havia subido até a entrada, mas ninguém foi encontrado dentro dele; Ahsoka havia saído do elevador antes de chegar ao nível principal.

Barriss abriu os olhos e sorriu. O clone usado para disparar o alarme parecia estar voltando a si. Pouco importava; ele não se lembraria de nada e, ainda que conseguisse, Ahsoka já deveria estar bem longe.

— Até breve, Ahsoka — disse Barriss.

E voltou a meditar.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler. Se for possível, deixe um feedback, dizendo o que gostou e o que precisa ser melhorado. Isso, além de me ajudar a melhorar a escrita, me deixa bastante feliz (sério mesmo).

Até mais. o/



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