Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 7
Ana – O improvável




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Há algum tempo, Ana morava sozinha, no mesmo bairro onde nasceu e cresceu, em um pequeno apartamento em um prédio antigo, que pertencia a sua avó, que agora vivia com os pais delas, a poucas quadras dali.

Na madrugada da festa, ao entrar pela porta, jogou os sapatos de lado, libertando seus pés doloridos e massacrados, desejando um bom banho morno para relaxar, dormir e, quem sabe, sonhar, deu de ombros, pois o que mais poderia fazer. No final, aquela festa chata que Raquel a arrastou, teve um saldo positivo, pois, apesar de não ter nenhuma esperança que um dia, Marcelo ligasse para ela, só em conhecê-lo já foi muito bom, pois um homem como aquele não vivia no seu mundo real.

Durante o banho, sentindo água morna cair sobre ela, não conseguia de parar de pensar naquele homem, na sua boca, imaginando como seria os seus beijos. O seu cheiro que ainda estava impregnado na sua memória, sonhando com aquelas mãos passeando no seu corpo, acariciando a sua pele, quase podia sentir o seu toque. Um arrepio percorrer seu corpo, mas era bom parar com aqueles pensamentos, senão não conseguiria dormir tão cedo.

Já fazia um bom tempo, que Ana não tinha ninguém sério na sua vida, sentia-se um pouco carente. Seu último namorado foi Alberto, na época da faculdade. Eles se davam bem, sem grandes rompantes de paixão, além de terem planos de vidas diferentes, assim as coisas foram ficando difíceis com as aulas, trabalhos e estágios, foram se distanciando até terminarem “numa boa”. De vez em quando, ainda, se falavam como amigos, a ponto de ela ter ido ao casamento dele, no ano passado. Daí para frente, Ana apenas tinha ficado com um ou outro cara em algumas festas e teve um ou outro encontro ocasional, mas nada que foi em frente.

Sua mãe vivia falando, que ela era muito exigente e procurava a perfeição nos relacionamentos, entretanto, Ana achava que, somente, não tinha encontrado o homem certo para ela. Apesar de muitas vezes, sentir-se sozinha, seria bom ter alguém para partilhar alguns momentos juntos, já que, suas amigas tinham a própria vida, Sílvia com aquele eterno namorado e Raquel sempre com seus segredinhos e namorados complicados, quase nunca estavam disponíveis.

Pensando assim, Ana se deitou, apagou a luz do abajur ao lado da sua cama, aconchegou-se ao travesseiro e adormeceu.

Assim, o resto da semana passou como sempre, situações corriqueiras e habituais, nada de interessante acontecia na vida de Ana, continuava sua rotina usual, com processos para serem lidos, analisados, escritos, levados e recebidos, porém ela gostava do trabalho no escritório e dos seus colegas.

Até aquela quarta-feira, no final de tarde sonolento, quando seu telefone tocou e um número desconhecido apareceu na tela. Atendeu sem muito interesse, imaginando quem poderia ser, e teve uma agradável surpresa, ao ouvir a voz do outro lado.

— Oi, Ana. Aqui é Marcelo da festa. Lembra-se de mim? - Era claro, que ela se lembrava daquela voz e daquele homem, que povoou os seus sonhos mais secretos e ardentes, na última semana. - Tudo bem?

— Oi! Sim, tudo bem. E você? - Ana respondeu, ainda sem acreditar, que ele ligou.

— Estou bem. Eu estive pensando, se você gostaria de sair comigo, qualquer noite dessa? – Marcelo quis saber, cheio de cuidados. Ana parou de respirar, não respondeu, mas ele continuou – Talvez, um cinema e, depois, poderíamos jantar. O que você acha?

— O que eu acho? – Ana não conseguia pensar direito, não estava preparada, nunca esperaria por isso. – Ah! Claro, acho que seria ótimo. Quando? - respondeu, finalmente.

— Amanhã, está bom para você? - Ela novamente se surpreendeu. Amanhã?! Cinema, jantar, um encontro, Ana pensou, aturdida, ainda sem acreditar, imaginando se ele tinha se enganado e ligado para Ana errada.

— Amanhã está ótimo, para mim – ela concordou, depois de uma pequena pausa.

— Então, escolha o filme e me mande uma mensagem com o horário e seu endereço. Eu pego você na sua casa, uma hora antes. Eu escolho o restaurante. Combinado? -  quis saber, parecendo entusiasmado com a ideia.

— Claro. Então, até amanhã, Marcelo.

— Até amanhã, Ana - E desligou.

Ainda, pasma com aquele convite tão improvável, Ana pensou no que faria agora, refletindo como aquele homem mexia com ela, de uma maneira que nunca aconteceu antes.

Daí para frente, agitada Ana não conseguiu mais se concentrar direito no trabalho, ficou pensando que tipo de filme assistiriam, desejava fosse um especial para impressioná-lo com seu bom gosto. Primeiro, cogitou uma comédia romântica, mas achou que ele poderia pensar que era uma boba sonhadora. Talvez, um filme “cult” ou de arte, daqueles bem complicados e pretenciosos, que ninguém entendia o final, porém, ele poderia achar que ela era meio metida e convencida. Imaginando que tipo de filme que ele gostaria, acabou-se decidindo-se por um filme francês fora dos grandes circuitos, que há muito tempo queria assistir, então procurou os horários na internet e mandou-lhe uma mensagem.

E agora, o próximo passo, era o que ela iria vestir.  Naquela festa, Ana viu o tipo de mulheres com que Marcelo convivia, belas e elegantes com suas roupas de marcas famosas, ela não tinha como competir. Por isso, depois do trabalho, correu para casa, abriu o armário e estava certa agora, não tinha nada para usar para uma ocasião como essa, para impressionar aquele homem. Desistiu de comprar uma roupa nova, porque o dinheiro andava muito curto. Era hora de usar a saída de emergência, então fez uma ligação.

— Oi, Raquel. Tudo bem? Você pode falar? – Começou em tom casual.

— Oi. Ana. Eu estou no carro, falando pelo viva voz. Queria ligar, a semana toda, para conversarmos. E aí gostou da festa? Vocês saíram cedo – A voz de Raquel parecia um tanto desanimada.

— Sim, gostei, mas estava cansada naquele dia – Ana se justificou. - Raquel, preciso de sua ajuda.

— Algo grave? – A amiga perguntou, alerta.

— Não nada demais, só eu que tenho um encontro, mas não tenho roupa, nem dinheiro para comprar uma nova – revelou, com fingida indiferença.

Raquel era uma espécie de fada madrinha das amigas. Ela adorava comprar, por isso, tinha um closet abarrotado de roupas novas, além de gastar uma boa parte do seu salário com isso, ela tinha descontos em várias lojas de marcas importantes.

— Um encontro? Até que enfim! Com quem? Eu conheço? - Raquel a interrogou, empolgada e curiosa com a novidade.

— Quem fala?! – Ana replicou, na defensiva. – E não, você não o conhece – mentiu, pois não queria criar expectativas demais com algo, que poderia dar em nada. – Você me ajuda? Já gastei uma grana com o vestido e os sapatos para festa da semana passada.

— Claro! Passa lá em casa daqui uma hora, que eu já estou chegando. Estarei esperando. Beijos.

Ana se sentiu mal por mentir para sua amiga, entretanto, se desse certo ou não, logo contaria a verdade para Raquel, era só dar um tempinho para ver o que aconteceria entre ela e Marcelo, não querendo se empolgar demais, criando falsas esperanças e se decepcionar depois.

Na hora combinada, Ana chegou na casa de Raquel, um apartamento grande e bem decorado, ela não conseguia entender como a amiga podia bancar tudo aquilo. Raquel abriu a porta, ainda com roupa de trabalho, sem sapatos e com uma taça de vinho branco na mão, abraçou a amiga, entregou-lhe a taça e foi até a cozinha pegar uma outra para ela.

— Eu não posso beber! Amanhã tenho que acordar cedo - Ana protestou, mesmo sabendo que era inútil.

— Nada disso! Temos que comemorar, depois de tanto tempo, você vai ter um encontro! Fale me sobre ele - Raquel insistiu, feliz pela amiga.

— É só um cara que conheci outro dia, me chamou para ir ao cinema, mas acho que não vai dar em nada - Ana falou, omitindo certos detalhes da história. No entanto, acreditava, realmente, que aquele encontro não daria em nada, não via esperança ali. Talvez, a negativa fosse uma forma de se proteger de uma futura decepção, uma atitude comum para ela, que nunca se envolvia com ninguém para não ficar vulnerável, por isso, acabava sempre sozinha.

— Nunca se sabe o que pode acontecer. De repente, quando menos se espera, dá tudo certo para vocês - Raquel profetizou. - Então, vamos lá. Vejamos o que sua fada madrinha pode fazer por você, Cinderela – Virou-se e indo em direção ao seu quarto, Ana a seguiu.

O closet de Raquel tinha armários e prateleiras abarrotados de roupas, sapatos e acessórios, e, com certeza, ela não havia usada tudo aquilo.

E apesar de Raquel ser quase 10 cm mais alta e mais magra que Ana, sempre havia algo que servia. Depois de um monte troca de roupas, escolheram uma calça jeans preta, uma blusa preta e branca e uma jaqueta, um sapato de salto alto e uma bolsa bem grande, Ana dispensou os colares e brincos enormes. Mesmo assim, Ana não se reconheceu no espelho, aquela imagem não combinava com ela, mas Raquel insistiu para ela levasse tudo.  Por fim, chegou carregada de sacolas na sua casa. Largou tudo no chão do seu quarto e se preparou para dormir.  Insegura, teve um sonho muito estranho, em que ela esperava sozinha no restaurante, toda arrumada e aflita, e Marcelo não aparecia, enquanto, todos riam dela às gargalhadas, por ter feito papel de boba.


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