Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 33
Ana - Como se o seu coração estivesse partido em mil pedaços




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O restaurante escolhido por Raquel para o seu almoço com Ana era especializado em salada do tipo orgânica e exóticas e estava na moda, por isso, encontrava-se lotado àquela hora do dia. Sua decoração tentava passar um certo ar falsamente rústico, com madeira de demolição e caixotes de frutas e legumes, os atendentes com avental xadrez de imitavam fazendeiros chiques.

Como sempre, Ana chegou primeiro, conseguiu uma mesa e ficou esperando, ansiosa e distraída, imaginando como contaria a amiga toda a sua história com Marcelo e, principalmente, que mentiu para ela, tinha certeza que ela ficaria furiosa, mas. Por fim a perdoaria.

Raquel surgiu esbaforida e desculpando-se pelo atraso, parecia ansiosa e agitada, atirando-se no seu lugar e pedindo imediatamente uma água à garçonete.

— Algo errado, Raquel? – Ana perguntou, abismada, pois aquela não era a Raquel alegre e despreocupada de sempre.

— Não, só problemas com um vizinho. Um chato! – Raquel respondeu, encolhendo os ombros. – O que vamos comer? – Mudou de assunto, examinando o cardápio, com interesse.

Os cardápios de papel reciclados exibiam saladas com ingredientes desconhecidos para Ana e sucos de frutas diferentes e exóticas, tudo com a promessa de ser orgânico e saudável e muito caro, fizeram os seus pedidos. Quando as saladas chegaram e começaram a comer, fofocando sobre pessoas conhecidas e falando sobre assuntos banais como se quisesse adiar ao máximo o real motivo do encontro. No entanto, Ana estava aflita para começar a perguntar sobre Marcelo, estava ganhando coragem, pois tinha certeza que Raquel ficaria furiosa, quando soubesse a verdade, que ela escondera.

— Afinal, o que é que você quer conversar comigo? - Raquel perguntou, cheia de curiosidade, fincando algumas folhas com o garfo, de modo displicente. – Espero que não seja nada de grave.

Ana deu um longo suspiro e fez um breve silêncio antes de prosseguir.

— Não é nada de grave. Bem, na verdade são só algumas perguntas, que, talvez, você possa responder. Eu só queria saber... – Ana começou, sem jeito, olhando direto para amiga, atenta a sua reação, porém parou de falar, pois Raquel desviou o seu olhar para além dela.

— Só um minutinho, Ana – Raquel pediu, desatenta, e acenou para alguém, que Ana não podia ver quem era, mas tinha medo de perder a coragem de se abrir com amiga devido à interrupção.

Sentindo uma pessoa se aproximar pelas suas costas, Ana se virou um pouco, curiosa para ver a mulher que estava atrás dela.  Ela era alta e magra, com a pele perfeita e muito clara, com o cabelo curto bem cortado e com uma maravilhosa coloração loura, parecia ter saído direto das páginas de uma revista de modas europeia, essa impressão era mais acentuada pelo leve vestido da cor salmão de corte reto e um fino cardigã de tricô creme que usava, Ana achou que deveria ser alguma modelo, conhecida de Raquel, que se levantou para cumprimentá-la, com entusiasmo. Sem nenhum interesse no que acontecia na sua proximidade, Ana se perdeu nos seus pensamentos, planejando como recomeçaria a conversa, louca para a recém-chegada ir logo embora.

— Mariane! Quando voltou? Você está tão linda! Como vai, Marcelo? - Raquel a cumprimentou, animada. O último nome dito atraiu a atenção de Ana.

Sua mente trabalhou rápido, Marcelo conhecido de Raquel, qual seria a possibilidade de ser o seu Marcelo? Havia muitos Marcelos por aí, pelo mundo, no entanto, seria muita coincidência. Curiosa, virou o corpo lentamente, estava com medo do que poderia descobrir, contudo, o homem estava fora do seu campo de visão e ela sem coragem para averiguar, ainda esperançosa que fosse apenas um homônimo.  

— Há dois dias. Estas temporadas de lançamentos de coleções são muito desgastantes. Uma hora, em Milão, depois Paris, Londres. Às vezes, nem me lembrava em que cidade estava – a outra mulher se queixava, ao mesmo tempo, que Ana pressentia quem estaria atrás dela.

Foi quando Raquel se lembrou da boa educação.

— Ana, essa é Mariane, ela é estilista e sócia de Robert, lembra daquela festa? Mariane, esta é Ana, uma grande amiga. Ana, você se lembra de Marcelo? – Raquel disse de modo casual.

Nesse instante, o mundo tremeu sob os pés de Ana, que não podia acreditar, era mesmo o seu Marcelo, contudo tinha que ver com seus próprios olhos. Ela levantou, rápido, girou o corpo e os seus olhos se encontraram, Mariane estava pendurada no braço dele, de uma maneira muito intima.

— Sim – respondeu, em um murmúrio.

Cheia de esperanças, primeiro, imaginou, que o casal poderia ser só amigos, entretanto, ela pressentiu a verdade. Podia ver nos olhos perdidos deles, na sua ausência de palavras. Ela o fitava desiludida, ele a encarava de desnorteado. Os dois permaneceram calados.

— E como vão os preparativos do casamento? Deve estar próximo agora? – Alheias ao drama que acontecia ao lado delas, Raquel indagou a Mariane.

Ana ouviu a palavra casamento. Que casamento? Sua cabeça rodava, seu coração parecia que iria explodir, teve que se apoiar na mesa para não cair. Marcelo continuava a encará-la com seu olhar desesperado, pálido, entretanto, não abria a boca, joelhos de Ana vacilaram, sua boca estava seca e o coração aos pulos, enquanto, as duas mulheres continuaram a falar.

— Marcelo e Mariane irão se casar em alguns meses. Vai ser o casamento do ano - Raquel explicou, de maneira casual, para Ana que pensava que aquilo era um pesadelo e iria acordar em breve.

Mariane sorriu aceitando o elogio, Marcelo arregalou os olhos, Ana juntava todas as suas forças para permanecer parada ali de pé, pois suas pernas tremiam, tinha vontade de desaparecer.

— E então. Como vão os preparativos? - Raquel insistia no assunto.

— Uma loucura! A cerimônia será grandiosa. A parte da família de Marcelo virá da Inglaterra e da Itália. Nossas mães estão quase reproduzindo a Guerra dos Cem Anos discordando de todos os detalhes, tenho que bancar o juiz sempre. Não é mesmo, Marcelo? - Mariane disse, com entusiasmo, sem esperar a resposta do noivo – Raquel, é sempre divino encontrar com você!  Mas, precisamos nos preparar para o meu jantar de boas-vindas na casa dos pais de Marcelo, essa noite. Ana, foi um prazer conhecê-la – trocaram beijinhos superficiais e Ana apenas assentiu com a cabeça. Ela saiu, puxando Marcelo pela mão, que murmurou uma despedida quase inaudível.

Ana desabou na cadeira, enquanto Raquel se sentava e continuava a falar.

— Eles não são uns fofos? Tão lindos! – Foi nesse momento que ela percebeu o estado alterado em que Ana se encontrava, assustando-se ao ver a amiga pálida, com os lábios brancos e a respiração ofegante. Raquel pegou as mãos de Ana, que estavam frias e suadas.

— O que houve, Ana? Você está doente? Suas mãos estão tão geladas. Você está tremendo – Raquel perguntou, preocupada com a amiga. Ana tomou um gole de suco, para se acalmar e poder falar.

— Raquel, você se lembra daquele encontro que eu falei há algum tempo atrás? -  falou, reticente, engoliu seco.

— Sim, lembro, com o cara do trabalho? - Raquel recordou a mentira de Ana.

— Bem, não era um cara do trabalho. Era Marcelo - Ana admitiu, cheia de vergonha por ter mentido para a amiga.

— Aquele Marcelo! Ana, você está tendo um caso com aquele Marcelo? - Raquel questionou em voz baixa, assustada, apontado para a porta, por onde o casal acabara de sair.

— Não, eu não. Eu não sabia que ele era noivo! Para mim, era um namoro! - Ana rebateu, com firmeza.

— Cafajeste! Eu nunca esperaria uma atitude dessa dele! – Raquel exclamou, irada. - Mas, agora que você sabe do noivado, o que vai fazer, Ana?

— O que você acha? Nunca mais quero vê-lo! - Ana respondeu, com certeza.

— Acho melhor assim, Ana. É uma situação delicada. O casamento está próximo. As famílias deles são ricas e poderosas. Você poderia se machucar ainda mais - Raquel argumentou, tentando poupar a amiga de desilusões.

— Seria difícil eu ficar pior que estou agora, Raquel. Podemos ir embora? - Só Ana podia saber a dor que sentia nesse momento, era como se seu coração estivesse partido em mil pedaços.

— Eu a levarei para casa, Ana – Solidária com a dor da amiga, Raquel pagou a conta e saíram do restaurante.

Por sorte, seu carro estava estacionado a alguns metros do restaurante. Ana não estava com a fim de falar e Raquel respeitou a vontade da amiga, até chegarem na casa dela.

— Ana, você quer que em fique com você?

— Obrigada, não precisa. Eu quero ficar sozinha - Ana respondeu, não queria falar com ninguém, naquele momento, só queria ficar só, tentar curar suas feridas, que doíam muito.

— Você tem certeza?! – Raquel estava hesitante de deixar a amiga sozinha, naquele estado.

— Não se preocupe, não vou fazer nenhuma besteira – Ana deu-lhe um sorriso triste - Raquel, qual é o sobrenome de Marcelo? - perguntou, antes de sair do carro.

— MontReggio - Raquel respondeu.

— MontReggio? Da rede de hotéis? - Ana ficou surpresa, pois não esperava um sobrenome assim tão importante.

— Sim. Lamento tanto, Ana! - Raquel falou com sinceridade – Se precisar de um ombro amigo para chorar ou alguém para tomar um porre junto ou simplesmente segurar sua mão, pode me ligar a qualquer hora.

— Obrigada. Eu vou ficar bem – Ana mentiu, porque não ficou, quando chegou em casa, trancou a porta e jogou-se na cama, ainda de roupa, sentindo-se traída e humilhada, sem saber, como podia ter sido tão idiota ou como se deixou levar por todas aquelas desculpas e histórias de trabalho, viagem e os sumiços. Assim, chorou até adormecer, um sono pesado e profundo, cheio de sonhos confusos e perturbadores com Marcelo.


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