Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 25
Ana - Uma vida que nunca imaginaria




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/724314/chapter/25

Depois do pedido de Ana, fez-se um breve silêncio, como se Marcelo avaliasse a melhor maneira de começar a falar sobre si mesmo.

— Para mim, não é fácil me abrir assim com alguém, mesmo para uma pessoa que já tenha intimidade como você. Não estou acostumado a falar sobre mim mesmo – revelou, desconfortável — Mas, vou tentar. Meu nome é Marcelo. Meu pai é empresário, dono de alguns de hotéis.

— Alguns hotéis?!

— Isso mesmo — ele respondeu, com certa indiferença – Minha mãe é de uma tradicional família inglesa, daquelas com castelos e títulos de nobreza, eles se conheceram em uma das viagens dela pela Itália.

— Castelos?! Nunca imaginaria que você fosse um nobre — brincou e ele riu.

— Eu não sou um nobre. Mas, alguns antepassados eram nobres e a família da minha mãe tem alguns desses casarões sombrios e até um castelo, com muitos fantasmas arrastando correntes pelos corredores, algumas delas bem pesadas e compridas – ele fez uma pesada pausa e ela o incentivou com o olhar para que continuasse. — Por causa dessa herança, fui criado para ser reservado, não expor meus sentimentos, pois não é de bom tom, como diziam – enfatizou de modo solene e cínico. — Pela tradição, aos onze anos fui estudar em um colégio interno na Inglaterra.

— Colégio interno? Como Harry Potter? – A frase saiu sem querer, já que foi a primeira ideia que lhe veio à cabeça, ficou envergonhada com a indiscrição, sentindo seu rosto queimar, porém ele riu.

— Gosto do jeito como você fica ruborizada, Alice – ele falou com suavidade - E eu não tinha pensado nisso. Sim, era um colégio interno como de Harry Potter, é uma tradição para famílias como a da minha mãe. Contudo, aquele lugar não era Hogwarts, eram muito severos, a disciplina era bastante rígida, mas minha família achou melhor para a minha educação.

— Como era viver em um colégio interno?

— No começo, não foi fácil para uma criança ficar longe de casa e da família, tínhamos muitas regras rígidas e obrigações a cumprir. Eu era muito jovem, sentia falta dos meus pais e da minha irmã, apesar deles não serem nada amorosos, não somos muito unidos. No entanto, com o tempo, você vai se acostumando e fazendo amigos entre os outros alunos do internado, nós nos apoiávamos e nos ajudávamos. Contudo, também, havia brigas, porém, no final, nós nos tornamos quase como uma família — contou com um ar nostálgico.

—Você ainda tem contato com seus amigos do colégio?

— Só de vezes em quando, porque eles estão espalhados pelo mundo todo, cada um em um lugar diferente — Passou uma sombra de tristeza pelo olhar dele. – A vantagem é que eu tenho amigos em muitos lugares para onde viajo, então é divertido conversar sobre o passado e o tempo de colégio.

— Você viaja muito?

— Um pouco.

— Continue!

— Após terminar o colégio, continuei morando e estudando na Inglaterra por alguns anos. Quando me formei na faculdade e fui para Paris, onde morei por cerca de um ano, voltei para casa, trabalho na empresa da família e aqui estou — Marcelo concluiu, de forma bem rápida e resumida.

— Puxa, Marcelo, sua vida bastante interessante perto da minha vida tão comum! — falou, com seriedade. – Morando em tantos lugares diferentes, conhecendo pessoas do mundo todo.

— Você acha mesmo? Não tenho muita certeza disso.

— Acho! Mas, explique-me, Marcelo não é um nome muito inglês, não é?

— Meu pai é descendente de italianos. Marcelo era o nome do meu avô paterno, ele era imigrante, conseguiu algum dinheiro e começou no ramo de hotelaria – Subitamente, ele se calou, pensativo, como se algo o incomodasse.

Então, Ana percebeu que era hora de mudar de assunto e para distraí-lo, quando passavam por uma bela horta, notou que a água que jorrava dos irrigadores, formava pequenos arco-íris à luz do sol, parou admirando o cenário

— Não é lindo?!— Ana disse, respirando fundo para captar os diferentes aromas que emanavam dali.

Marcelo a olhou, admirado, pelo fato, que nunca teria percebido a beleza daquele momento, se não fosse a observação de Ana. Aquela mulher lhe mostrava um mundo novo, descobrindo a beleza e o prazer que ele não percebia e não estava acostumado ver nas pequenas coisas.

— Sim, é lindo como você admira essas pequenas coisas, algo que eu não teria notado — respondeu, com sinceridade e sorriu para Ana, que andou na direção da horta, e parou na frente de um pequeno canteiro.

— Olhe, um canteiro de ervas! Eu adoro tudo isso, esses cheiros, essas cores e texturas! Venha! Sinta o cheiro! – Ela pegou pequenos pedaços de folhas e aproximava do nariz de Marcelo – Sinta, que delícia! Isso é alecrim, eu adoro, esse cheiro! Esse aqui é manjericão. Eu amo o cheiro do tomilho! Sálvia, bom, não é?  Um dia, eu quero ter um canteiro com tudo isso – Ana profetizou.

— É muito bom – ele sentia o aroma de tudo que ela lhe levava o nariz. – Na sua casa com jardim?

— Sim, na minha casa com jardim, que não precisa ser muito grande. Assim poderei colher as ervas que usarei na cozinha.

— Você sabe cozinhar?  

— Sim, eu sei e gosto. Pertenço a umas linhagens de grandes cozinheiras, minha mãe, minha avó, até papai dá palpite na cozinha.

— Isso eu quero ver! – desafiou, de um jeito maroto.

— Você está duvidando? Então, fica combinado, eu vou preparar um jantar para você qualquer noite — ela aceito o desafio, empinando o nariz com altivez.

— Isso é uma promessa? Porque eu vou cobrar! Sabe que eu acho que minha mãe não sabe onde fica a cozinha da nossa casa – riu, achando aquele comentário divertido.

Prosseguiram pelo caminho de terra, o sol já ia alto e céu azul, com somente algumas nuvens felpudas aqui e ali. Por fim, chegaram a um riacho com pedras arredondadas pela correnteza, sentaram-se, na sua margem, sobre uma grande rocha de forma arredondada, ouvindo o suave e constante murmúrio das águas, perdidos em seus pensamentos, aproveitando a paz do lugar e o sol tépido, em silêncio. Ao longe, um bem-te-vi chamava pelo seu próprio nome e libélulas de cores brilhantes davam voos rasantes sobre a água.

— Esse lugar é mágico! Não parece que a qualquer momento, um grupo de fadas vai passar voando pela gente ou um duende vai sair correndo do meio do mato? – Ana fantasiou, lembrando-se das histórias infantis.

Em resposta, ele se virou para beijá-la suavemente.

— Você acha que as fadas e os duendes ficariam chocados se fizéssemos amor sobre essa pedra.

— Eles não, mas acho que seria um pouco desconfortável.

— Principalmente, quando temos uma cama macia nos esperando. Vamos voltar, Ana — Marcelo sussurrou no seu ouvido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Três amigas e o amor." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.