Instantes antes de sair de casa, Raquel se admirou no espelho e estava muito linda, com aquele vestido branco, bem colado, de uma famosa marca francesa, que só ficaria tão bem em uma pessoa com seu corpo e sua altura, seus sapatos de saltos tão altos, nos quais só alguns poucos e habilidosos seres humanos poderiam se equilibrar. Eles a deixariam mais alta que Vitor, mas não tinha importância, gostava de ver o mundo por cima, sentia-se poderosa assim. Os cabelos louros, lisos e brilhantes, caindo sobre seus ombros, e maquiagem profissional, destacavam seus olhos intensos verdes, sabia que ele ficaria orgulhoso dela naquela noite. Para completar um conjunto de brincos e cordão com um pingente de safiras, um presente que Vitor lhe trouxe da sua última viagem.  Era sempre assim, a cada regresso, ele sempre trazia presentes caros, para compensar sua ausência. Estava animada, para ir aquela festa, na companhia das suas amigas de infância, apesar de todo trabalho para convencê-las, principalmente, Sílvia, que não gostava de sair à noite, já que, estava cansada de chegar sozinha nos eventos e festas.

O porteiro avisou que o táxi solicitado acabara de chegar. Já estava tudo combinado, primeiro, se encontraria com Sílvia, na casa dela, depois, com Ana e, juntas, iriam à festa de Roberto, um estilista em ascensão, sócio de uma rica herdeira de uma rede de lojas de roupa. Seu trabalho como editora de uma importante revista de moda era uma porta aberta para os lugares e festas mais sofisticados da cidade e contato com pessoas famosas e poderosas. No entanto, o que mais a interessava nessa noite era que estaria próxima a Vitor, mesmo que não pudesse demonstrar nenhum gesto de intimidade e afeto. Ele era um dos diretores da editora, bonito e charmoso, estava sempre nos círculos da moda. O único problema era que não estaria sozinho, mas com a sua esposa, Vera, que era uma das sócias da editora em que trabalhavam e pertencia a família dela.

A caminho da casa de Sílvia, Raquel pensava como tudo havia começado, como sentiu-se atraída por Vitor, desde a primeira vez que o viu, um belo homem por volta dos 40 anos, cabelos escuros bem cortados, com alguns poucos fios grisalhos, olhos azuis penetrantes com pequenas rugas ao seu redor, queixo quadrado e lábios finos, usava ternos bem cortados e feitos sob medida, era elegante e sedutor. Raquel percebeu que ele também se interessou por ela. Por várias vezes, notou o olhar cheio de cobiça de Vitor, contudo fazia-se de dissimulada, instigando o jogo da sedução. Essa ousada situação durou alguns meses, como um joguinho velado de sedução, quase uma brincadeira, com umas cruzadas de pernas insinuantes, um debruçar mais audacioso para que ele sentisse o perfume dela, no entanto, Raquel nunca imaginou que passaria disso. Até que um dia, depois, que a revista em que trabalhava, conseguir um grande contrato comercial com uma influente empresa de cosméticos internacional, houve uma enorme comemoração na redação, brindaram com champanhe, daí em diante, Raquel ainda não sabe direito, como foi parar no escritório de Vitor, onde tudo aconteceu, ali mesmo no banheiro exclusivo dele, os dois se beijando, loucamente, o desejo explodindo, ele levando a sua saia, tirando a sua calcinha, a empurrando contra a parede e transaram ali, mesmo de pé, selvagemente, em seguida voltaram para a comemoração, como se nada tivesse acontecido. Daí para frente, a situação evoluiu, mesmo Raquel já tendo o seu próprio apartamento, Vitor achou melhor, que ela se mudasse para um da empresa, em uma rua pouco movimentada e mais discreta, onde ele poderia visitá-la algumas noites na semana, sem chamar a atenção, apesar de nunca ficar por muito tempo. Ninguém na empresa jamais desconfiou ou, pelo menos, fingia não desconfiar da relação entre eles.

Raquel estava perdida nas suas lembranças, quando chegou à casa de Sílvia, que já estava esperando e seguiram juntas ao encontro de Ana.

Na linda e sofisticada cobertura de Roberto, a festa estava bem divertida, com muita gente conhecida e bonita, música animada, porém o que Raquel queria era encontrar Vitor, mesmo que não pudesse ficar juntos, só a presença dele ao seu lado a deixava feliz, mas não o avistou em nenhum lugar. Foi uma surpresa, no momento, que ouviu a voz grave e profunda dele atrás dela, que sempre fez seu coração bater mais forte.

— Olá, Raquel, não me apresenta as suas amigas? – perguntou, do seu jeito galanteador. Raquel se voltou na sua direção, com um sorriso radiante.

— Claro, Vitor – Raquel fingiu indiferença. - Essas são Ana e Silvia, minhas amigas. Garotas, esse é Vitor, meu chefe – Manteve o tom formal, já que suas amigas não sabiam da sua relação amorosa com ele.

— Moças, posso roubar sua amiga um minutinho? Preciso apresentá-las a algumas pessoas - Depois de educadas trocas de cumprimentos, Vitor pediu a elas, gentilmente, esbanjando seu charme.

—Claro! – Ana respondeu, sem escolha.

— Desculpe-me, mas preciso ir. Ele é meu chefe, volto quando puder - Raquel segredou, baixinho, para elas, sentindo-se um pouco culpada por deixar as amigas sozinhas ali, sem conhecerem mais ninguém.

Com um sorriso encantador, Vitor segurou Raquel pelo braço, afastaram-se.

—Você está maravilhosa! É a mulher mais linda dessa festa! – Vitor a elogiou, sem disfarçar a excitação. - Venha! Quero apresentá-la a algumas pessoas importantes – sussurrou no ouvido dela, um arrepio percorreu seu corpo, satisfeita, por surpreendê-lo.

— Onde está a sua esposa? -  quis saber, desconfiada.

— Em casa, com enxaqueca - Ao ouvir isso, Raquel ficou exultante, pois poderia ter Vitor só para ela durante toda esta noite, apesar de não poderem demonstrar nenhum tipo de intimidade.

Assim, Vitor a levou para diferentes grupos de pessoas, apresentando a um ator famoso, um político importante e a uma modelo de sucesso. Eles conversavam e Raquel usava todo os seus charme e sensualidade, para deixar todos encantados e Vitor, cada vez, mais orgulhoso. Ela também estava feliz, porque, sabia que, no fim da noite, eles poderiam ir juntos para a sua casa.

No momento em que Ana comunicou que ela e Sílvia iriam embora, Raquel se desesperou, dividida em ficar com Vitor ou ir com as amigas. Até, que como por milagre, uma voz de um anjo se ouviu oferecendo uma carona para elas.