Enquanto existir o amor... escrita por Mayfair


Capítulo 2
Viagem de Trem


Notas iniciais do capítulo

Ninguém comentou ainda, mas tudo bem, afinal eu postei a história ontem! kkk
Resolvi postar logo o segundo capítulo antes que eu mude de ideia ou resolva mudar alguma coisa.
Capítulo não betado, qualquer erro me avisem!
Espero que gostem!



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A manhã do regresso à Hogwarts era sempre corrida naquela casa. Dois ruivos e dois morenos corriam de um lado para o outro buscando objetos perdidos pela casa, enquanto o casal mais velho tentava acomodar as malas no carro e alimentá-los. Nem mesmo Hermione havia conseguido deixar tudo pronto. As discussões com seu antigo professor realmente a deixou abalada. Tentava em vão se lembrar de onde havia deixado todos os seus livros, mas se não fosse por Rony a ajudando a arrumar suas coisas, tinha certeza de que nunca encontraria tudo a tempo. Harry estava com cara de quem não havia dormido a noite, mas a correria era tanta que nem se lembrou de comentar o ocorrido da madrugada com os amigos.

Conseguiram chegar à plataforma faltando poucos minutos para as 11:00. O trem já estava praticamente lotado, mas conseguiram encontrar uma cabine apenas para os quatro. No entanto, logo Harry e Gina foram deixados as sós, pois Hermione e Rony tinham que ir para a cabine dos monitores.

Assim que ficaram sozinhos, o silêncio se instaurou na cabine. Harry havia pensado que talvez Gina fosse preferir ficar em outra cabine, com os alunos da turma dela, como fazia todos os anos. Mas ela passou por eles sem nem olhar para o lado, apesar de alguns a terem cumprimentado. Havia um boato de que ela estava namorando com Dino Thomas no ano anterior, mas ela não falou sobre isso durante as férias e nem fez menção alguma de procurá-lo. Harry não pôde evitar sorrir satisfeito com a ideia. Não gostava de pensar na ruiva com alguém. Talvez fosse pior do que o Rony. Sempre havia pensado que esse sentimento protetor havia surgido por causa do que passaram na Câmara Secreta no seu segundo ano, mas depois dos últimos dias, achava que não era só isso, mas estava sem cabeça para pensar sobre esse tipo de coisa, além do mais, tinha certeza de que a raiva do melhor amigo sobre a ideia de alguém namorando sua irmã caçula também se estenderia a ele, e nesse momento, precisava do ruivo mais do que nunca.

—Você parece pensativo. – Gina tentou quebrar o silêncio.

—Apenas pensando sobre o ano letivo. – ainda não sabia como reagir com ela depois do ocorrido na sala dos seus pais.

—Eu estava pensando em algumas táticas novas para o quadribol esse ano... – ela percebeu o quanto o moreno relaxou com essa frase. Desde que o beijara a duas noites atrás, em um impulso, ele estava mais contido perto dela, quase constrangido. Sabia que era por causa do seu irmão, mas isso ainda a irritava. A única coisa sobre a qual ele conversava com ela naturalmente era sobre os jogos e estratégias. Mas se era para ser assim, ainda era melhor do que o relacionamento que eles tinham antes.

—Eu estive pensando sobre isso também. – ele respondeu de forma animada. Era bom ter algo seguro para poder conversar com ela, para distrair sua mente do brilho que o sol produzia em seus cabelos, ou em como seu olhos cintilavam quando ela virava um pouco para a esquerda, ou em como suas sardas a deixavam mais jovem contrapondo com a sua postura madura... – Perdemos dois bons jogadores com a saída de Fred e Jorge, e teremos algum trabalho para repô-los, assim como precisaremos de um novo goleiro...

Conversaram pelo que pareceram horas, decidindo as táticas para o campeonato das casas e pensando em futuros substitutos para os jogadores que haviam perdido durante os anos que passaram. Estavam tão concentrados que mal notaram quando Rony e Hermione voltaram para a cabine. Perceberam de imediato que algo estava errado. O ruivo estava com as orelhas pegando fogo, enquanto a jovem estava tentando esconder o rosto, mas parecia que havia chorado.

—O que aconteceu? – Gina foi a primeira a perguntar.

—Esse é o problema! – Rony respondeu exaltado, sentando-se ao lado de Harry e mirando Hermione, que havia sentado na janela próxima a sua irmã, mas que fugia do seu olhar – Ela não quer me contar!

Sentindo três pares de olhares preocupados grudados em si, a castanha não viu outra alternativa a não ser encará-los.

—Já disse que não aconteceu nada! – disse bufando e cruzando os braços numa postura de defesa.

—Uma ova que não aconteceu! – o ruivo ainda estava alterado – Você chegou toda transtornada na ronda com aquela doninha!

—Espera, por que o Malfoy está metido nessa história? – Harry estava preocupado com a amiga, mas seu olhar estava no ruivo ao seu lado.

—Ele foi sorteado como parceiro de ronda da Hermione. – Rony respondeu a contra gosto – Eles fazem esses sorteios para forçar os monitores de casas diferentes a interagir, como se isso fosse resolver alguma coisa.

Percebendo que Hermione não queria dar mais detalhes do ocorrido, Gina resolveu mudar o foco da conversa.

—Harry, você não acha que meu irmão deveria fazer o teste para goleiro? – disse com falsa animação, atraindo a atenção dos meninos para si.

—Bem... – a mudança brusca de assunto pegou o moreno desprevenido. – Claro, seria ótimo! – emendou ao notar o olhar penetrante que a ruiva lhe lançava.

—Eu não sei... – Rony respondeu ainda amuado – Não acho que sou bom o suficiente.

—Claro que é! – a ruiva agora estava verdadeiramente animada – Espere até escutar os planos que Harry e eu estivemos discutindo.

Os três reengataram a conversa dobre o esporte, motivo pelo qual Hermione ficou aliviada. Olhou de forma agradecida para a amiga, que sorriu com o canto dos lábios em resposta. Aquilo garantiria que ela pudesse ficar a sós com os seus pensamentos até chegar à escola.

Do outro lado do trem, Draco Malfoy também está pensativo, deliberadamente ignorando todos ao seu redor. Sua cabeça está cheia e sua paciência esgotada. Repreende-se mentalmente por estar pensando no ocorrido mais cedo, quando na verdade tem coisas muito mais importantes com o que se preocupar. Mas por mais que tentasse, as lembranças não queriam deixá-lo.

 

Estava entediado. Por mais que gostasse do seu papel como monitor e estivesse realmente orgulhoso por ter sido escolhido como Monitor Chefe naquele ano, tinha coisas mais importantes para se preocupar do que ficar separando casais e contendo crianças.

Praticamente bufou quando Hermione insistiu em manter a tradição de fazer o sorteio das duplas e dos horários em que fariam as rondas. Mas não podia discutir com ela, ao menos não abertamente, já que ela também era Monitora Chefe. Precisou conter a irritação quando foi sorteado para fazer a primeira ronda com ela. Pelo menos ficaria livre para passar o restante do dia em paz.

Quando saíram da cabine, ela parecia tão empolgada quanto ele, ou seja, parecia estar a caminho do funeral do seu gato. Mas o clima pesado não durou muito tempo, já que ela parecia muito distante para se preocupar em estar andando ao seu lado.

O trem estava tranquilo. Parecia que ninguém, nem mesmo os alunos do primeiro ano, estavam com disposição para criar confusão. Por isso se surpreenderam ao escutar murmúrios raivosos atrás de uma porta. Entreolharam-se e com um aceno se cabeça decidiram que era melhor verificar.

Por estar mais perto, ele acabou abrindo a porta da cabine, dando de cara com dois alunos da Sonserina, que reconheceu de imediato como Tompson e Malec Silverstorn, acuando um aluno do segundo ano da Lufa-Lufa. Imediatamente tentou bloquear o acesso de Hermione, parando em frente a porta.

—Temos algum problema aqui? – perguntou com a sua voz arrastada, dirigindo-se aos meninos mais velhos.

—Nada que não possamos resolver, Draco. – respondeu Tompson, que era o irmão mais velho.

—O que está acontecendo aí? – Hermione perguntou, de forma incomodada, tentando passar pela barreira que ele havia formado.

—Quem é esse menino? – ele apontou para o aluno mais novo. Tinha que resolver a situação rapidamente. Conhecia bem os irmãos Silverstorn, e sabia que não hesitariam em arrumar problemas com Hermione, mesmo ela sendo Monitora Chefe, caso tentasse se meter onde não era chamada.

—Apenas um pivete que não quer pagar o que nos deve. – Dessa vez foi Malec que respondeu, ainda apontando sua varinha para o menino, que estava com a face molhada pelas lágrimas.

—Devo insistir que vocês resolvam seus problemas quando chegarem ao castelo. – ele disse, levando uma mão lentamente até o bolso de trás das vestes, onde estava a sua varinha. Torceu internamente para que a morena atrás de si, que ainda tentava forçar a passagem fazendo forca para empurrá-lo, entendesse o que estava acontecendo e se afastasse.

—E nós devemos insistir que você não se meta nos nossos assuntos, Malfoy. – Tompson desviou a varinha do menino e a apontou para o seu peito – Não está em posição de nos ameaçar.

Antes que pudesse responder, Malec se levantou e olhou pelo seu ombro.

—Essa que está com você é a Granger? – seu tom era ácido – Traga-a para dentro, Draco, vamos brincar juntos.

Sentiu Hermione enrijecer com essas palavras. Bom. Finalmente ela estava entendendo o quão delicada era a situação. Apertou ainda mais a varinha, embora ainda não a retirasse do bolso. Aproveitou para dar um pequeno passo para o lado, empurrando a garota um pouco para trás e ocultando-a completamente com seu corpo.

—Infelizmente não temos tempo para isso. – seu tom era firme – Como monitores chefes, temos que terminar a ronda. Então se vocês puderem deixar a criança ir, podemos agilizar para todos. Não quero começar o ano aplicando duas detenções para alunos da minha própria casa. Escrever relatórios é cansativo.

Antes que os irmãos pudessem pensar no que havia dito, com um movimento rápido desarmou os dois, entregando suas varinhas para Hermione, que estava nas suas costas, também com a varinha em punhos.

—Poderão reavê-las com o professor Snape após o banquete. – sorriu de lado.

—Isso não vai ficar assim, Malfoy. – Tompson disse passando por ele, enquanto puxava o irmão – Não se esqueça da fragilidade da sua posição.

Enquanto eles passavam, manteve-se na frente de Hermione, evitando qualquer contato entre ela e os irmãos.

Assim que eles se afastaram, ela praticamente correu para dentro da cabine, ajoelhando-se na frente do menino.

—Você está bem? – sua voz soou com um misto te raiva e medo.

—E-estou. – o menino fazia força para não chorar.

—Precisa que eu te leve para junto dos seus amigos? – ela perguntou mais suavemente.

—Não, não precisa. – ele estava envergonhado – Posso ir sozinho.

—Nos avise se eles continuarem no seu pé. – ela falou se levantando, dando espaço para o menino sair.

Ele não respondeu, saindo correndo da cabine.

—Não precisa agradecer. – sua voz saiu mais arrastada do que desejava. Conseguia entender a vergonha do menino em precisar ser salvo.

—Agora, Malfoy... – a voz dela o tirou de seus pensamentos – Você vai me explicar exatamente que droga foi essa!

—Não sei do que você está falando. – tentou desconversar. A última coisa da qual precisava era ficar dando satisfação para ela.

—Não sabe, é? – ele percebeu como ela lutava para conter a raiva – Quem eram aqueles idiotas? E como você ousa me tratar daquela forma na frente deles?

O tom acusatório dela o fez perder a paciência. Será que ela era tão estúpida assim?

—Como eu ouso? – sua voz também era raivosa. Ele se aproximava dela lentamente enquanto falava – Você deveria estar me agradecendo de joelhos por salvar a sua pele!

—Agradecer? – ela riu com desprezo, não se intimidando pela sua aproximação – Não seja ridículo. Não sou uma donzela indefesa!

—Pode não ser indefesa, mas é bem estúpida! – tentou não gritar, mas ela conseguia tirá-lo do sério.

—Quem você pensa que é para me chamar de estúpida? – agora era ela quem gritava.

—Se você não percebeu, aqueles eram os irmãos Silverstorn. – sua voz estava mais baixa agora – São filhos de uma família tradicional de puros – sangues. Não que eu espere que você entenda o que isso significa.

—Entendo bem o suficiente, Malfoy. – os olhos dela estreitaram e ela o olhou com ódio – São filhos de malditos Comensais, não é? Por isso pareciam se conhecer tão bem.

—Não tente julgar algo que você não entende! – agora estava tão próximo dela que podia sentir sua respiração contra o seu rosto. Era mais alto, mas ela o olhava de forma astuta como se isso não fizesse diferença.

—Eu posso dizer que entendo alguma coisa sim! – a voz dela estava baixa, e ela não desviava o olhar do seu nem por um segundo.

—Então pode imaginar o que eles fariam com você caso os tivesse afrontado abertamente? – por que ela não podia simplesmente se calar?

—Claro que posso. – por um momento ele pensou ter visto um pouco de medo nos olhos dela – Mas não é como se eu não pudesse lidar com a situação! – ah, a maldita coragem Grifinória!

—Claro que podia! – estava realmente com raiva agora – Você podia afrontá-los na frente de um companheiro de casa e comprar uma briga maior do que imagina! Sonserinos podem não ter essa autoconfiança estúpidas que vocês têm, mas somos orgulhosos. Eles poderiam não te enfrentar abertamente no trem, mas são pacientes. Iriam ficar na espreita, esperando uma oportunidade. Ou em uma opção completamente estúpida, iniciariam uma briga aqui mesmo. O que me colocaria em uma situação realmente chata. Não é do meu feitio ter que defender uma sabe-tudo dos meus colegas.

—E você quer que eu acredite que você estava preocupado comigo? – ela o olhou de forma desconfiada.

—Não me importo com o que você acredita ou deixa de acreditar! – por que ela não podia simplesmente deixar para lá?

—Eu preciso entender... – ela praticamente sussurrou. Seus olhos transbordavam confusão.

—Olha, é bem simples. – tentou soar indiferente – Se eu deixasse você se meter, eles arrumariam confusão. Em uma das hipóteses, começaríamos uma briga no meio do trem. Seria muita dor de cabeça explicar porque dois monitores se envolveram em uma confusão, coisa que eu não tenho paciência para fazer. Na outra hipótese, eles iriam acabar de atacando na escola, e não, eu não me importo, mas me causaria dor de cabeça também. Então a forma mais simples era encerrar o assunto aqui.

Ela se afastou dele, com o olhar ferido. Ele não conseguia entender o que passava pela cabeça dela. Estavam tão concentrados que quando o trem balançou, fechando com força a porta da cabine, não tiveram tempo de se segurar em nada. Por reflexo, quando a viu se desequilibrar, ele tentou segurá-la, mas acabou  caindo de costas com ela sobre si.

Ficaram algum tempo se olhando, inconscientes da situação em que estavam. Acabou se perdendo nos olhos dela, marrons, como duas canecas fumegantes de chocolate quente. Sentiu algo diferente, uma palpitação, que não sabia como explicar. Mas tudo isso levou apenas alguns segundos, antes que ela levantasse rapidamente, completamente vermelha, tentando abrir a porta.

Enquanto saía do chão, mais lentamente, percebeu que ela não conseguia abrir a porta.

—Droga! – ela resmungou – Está emperrada!

—Eu abro. – tentou soar mais firme do que realmente estava. O que diabos estava acontecendo com ele?

Se aproximou da porta, passando por ela. Puxou várias vezes, mas realmente estava emperrada. Decidiu que o mais fácil a fazer era estourar a tranca, mas para isso precisava de espaço. Virou-se na direção da jovem e começou a andar. Percebeu que ela se afastava à medida que ele se aproximava. Estranhou. Até minutos antes ela não se importava em estar deitada em cima dele, então por que agora o olhava com receio?

Acabou se afastando da porta mais do que o necessário para lançar o feitiço. Queria ver qual a reação dela ao aproximar-se ao máximo. Sorriu de lado ao perceber que ela havia recuado tanto ao ponto de bater com as costas na janela. Chegou perto o bastante para suas vestes se tocarem. Não sabia o que o impulsionava, mas sentia a estranha necessidade de provocá-la, de testar o seu limite, de ver até onde ela chegaria antes de surtar.

—O que pensa que está fazendo? – ele percebeu que ela tentou manter firmeza na voz, mas falhou miseravelmente.

—O que acha que estou fazendo? – devolveu a pergunta, sorrindo de lado de forma provocativa. Nunca entendeu de onde vinha essa necessidade de provocá-la. Quando mais novos, insistia em ofendê-la, agora, mais velho, gostava de provocá-la até o limite.

—E-eu não sei... – ela estava corada. O que será que ela achava que ele faria? Olhou para seus olhos, perdido em pensamentos, antes de descer até os seus lábios. Eram rosados e carnudos, tão convidativos... Provavelmente de forma inconsciente, ela passou a língua pelos lábios, umedecendo-os. Precisou morder os próprios lábios para conter o gemido que sabia que sairia deles. Uma mecha do cabelo dela estava caída em seus olhos. Levantou a mão para tocá-la. Parecia tão macia...

—O que diabos você acha que está fazendo? – a voz assustada da jovem quebrou o seu estado de transe. Sua mão baixou imediatamente.

—Para alguém que se julga tão esperta, você é meio redundante em seus questionamentos, Granger. – provocá-la e depois ofendê-la. Esse era o ciclo vicioso em que se encontrava desde o quarto ano. Era como um mecanismo de defesa – Estou fazendo o óbvio senhorita sabe-tudo, me afastando da porta para poder estourar a fechadura.

—Não parecia que era isso o que pretendia. – viu o esforço que ela fez para assumir a postura forte de sempre. Claro que não parecia que era isso, porque ele, como o estúpido que era, se perdeu no meio do seu propósito. Mas não deixaria transparecer de forma alguma.

—Por favor, não misture suas ideias e imaginação com a realidade. – ergueu a varinha – Eu não sou o Potter ou o Weasley, não ficaria tão perto de você se tivesse outra escolha.

Pronto, deveria estar orgulhoso. Quando olhou nos seus olhos, viu lágrimas se formando, como se algo tivesse quebrado dentro dela. Era palpável o quanto havia magoado-a. Mas, se sabia que não deveria se importar, por que sentiu que os cacos da alma dela estavam perfurando o seu peito. Antes que pudesse tomar mais alguma atitude estúpida, ouviu um barulho oco e seu rosto começou a arder. Havia levado um tapa, muito bem dado por sinal.

—Então faça um favor a nós dois e não se aproxime mais de mim! – ouviu-a gritar enquanto o empurrava para o lado, lançava um feitiço na porta e sair pelo corredor.

 

De volta à cabine percebeu que não sabia quanto tempo ficou ali parado depois que ela o deixou. Sabia que deveria estar com raiva pelo tapa, orgulhoso por tirá-la do sério ou estupefato pela sua ousadia. Mas a única coisa que seu cérebro maldito processava era o fato de que essa havia sido a primeira vez que ela o tocava desde o terceiro ano.

 

Quando o trem finalmente chegou à estação, Hermione saiu rapidamente da cabine, aproveitando a algazarra causada pelos alunos do primeiro ano para sair “à francesa”*, entrando na primeira carruagem vazia que encontrou. Teria sido um plano fantástico, se Gina não tivesse seguido-a de perto.

—Então, Hermione Granger e Draco Malfoy... – a voz da ruiva se fez presente, assustando a mais velha enquanto sentava-se ao seu lado – Parece uma piada de mau gosto.

—Você nem faz ideia... – a morena suspirou, para só depois perceber que havia mordido a isca. Olhou de forma acusatória para a amiga.

—Bem, agora os meninos não estão aqui, então comece a me contar exatamente o que aconteceu! – a ruiva sabia ser impositiva quando queria.

—Eu já disse, não aconteceu nada! – estava cansada de pensar sobre o tempo naquela cabine. Afinal, nada aconteceu de fato.

—Se nada aconteceu, por que você está com essa cara de destruída? – se tinha uma coisa que Gina Weasley sabia identificar, era um coração partido. Por mais inusitado que fosse, sabia que a amiga estava magoada.

Hermione limitou-se a dar de ombros, enquanto mais uma vez revivia internamente o que havia passado. Havia tudo acontecido tão rápido e de forma tão confusa. Em um momento estavam discutindo e no outro.., Bem, no outro ela estava em cima dele, olhando naqueles olhos cinzentos, tão profundos quanto uma tempestade de inverno. Sentia-se sugada por aquelas duas esferas, como se pudesse mergulhar nelas. Ainda sentia-se corar pelos seus pensamentos naquele momento. Havia sido ridículo! Tão ridículo quanto o fato de ter-se deixado magoar por ele. O que ela havia pensado, que ele iria beijá-la? Isso era tão razoável quanto pensar que Dolores Umbridge era uma boa diretora. Mas a grande questão era: havia sido tudo tão confuso que, para ser honesta consigo mesma, tinha que admitir que não havia repudiado a ideia no momento, o que ia contra tudo o que acreditava nos últimos anos.

Quando deu por si, já estavam sentados na mesa do banquete. Aparentemente a seleção dos alunos novos já havia terminado e o diretor estava começando o seu discurso de boas-vindas.

— Sejam todos bem–vindos! – começou Dumbledore, quando a seleção terminou, atraindo finalmente a atenção de todos os alunos – Quero lembrar a todos que há uma lista com todos os 876 itens proibidos no castelo, fixada na sala do zelador Filch, para caso alguém tenha interesse em saber. O nosso zelador pede também para avisar que todos os produtos da Gemialidades Weasley, estão proibidos. – sua voz ficou um pouco mais séria – Também é bom que os alunos novos saibam, e também não faria mal há algum que mais velhos que também se recordassem, que a floresta da propriedade é proibida para todos. Haverá também um toque de recolher às 20:00 horas, e não é seguro para nenhum de vocês andar nos terrenos da escola depois desse horário. Os monitores serão os únicos com autorização para andarem nos corredores após o toque de recolher. Nesses tempos sombrios, é essencial que nos mantenhamos unidos, pois afinal, nesse instante, as forças das trevas tentam invadir nossa escola, e vocês, meus amados alunos, é que são suas ferramentas. Não percam a fé! Não deixem de acreditar que dias melhores virão! Tenham esperança! – fez uma pausa, dando tempo para que os alunos absorvessem suas palavras, e depois continuou, num tom mais alegre – Agora, gostaria de convidá-los para receber uma nova aluna, que cursará o 6º ano com vocês. Sei que isso é algo incomum, e que alunos de transferência são raros, mas ela é uma pessoa muito especial, que está vindo de uma escola avançada de magia do sul da Rússia. Espero que vocês a acolham com tanto carinho como fariam com um velho amigo. Seu nome é Angélica Angel!

As portas se abriram, e por elas passaram a mesma jovem que Harry havia visto na noite anterior. Não usava a capa preta, e sim o uniforme da escola. Os longos cabelos ruivos eram ondulados, e seus cachos balançavam de forma natural enquanto ela andava, de forma imponente, até o lugar onde a Profa Minerva esperava com o banquinho de três pernas e o Chapéu Seletor. Mesmo à distância, era possível perceber seus olhos verdes vivos, faiscando à luz das velas.

Depois de tanto tempo, esconder o nervosismo se tornou uma de suas melhores habilidades, afinal, Angélica já havia passado por muita coisa. Aprendeu a esconder as pernas trêmulas com passos fortes e determinados, a intimidar as pessoas com o olhar, para evitar que a tocassem e notassem como suas mãos estavam frias e pegajosas pela ansiedade. E aprendeu a ser bem observadora também, principalmente quando ninguém percebia. No tempo que levou para atravessar o salão, reconheceu algumas pessoas que já havia visto por fotos ou apenas por conhecer suas histórias. Seu olhar se demorou um pouco na mesa da Sonserina, enquanto sorria de canto ao passar em frente a um rapaz que já havia conhecido. Mas quase imediatamente, virou-se discretamente para a mesa da Grifinória, onde viu o famoso Harry Potter. Ficava se perguntando como ele seria pessoalmente, e teve um vislumbre na noite anterior, quando chegou à casa dos Weasleys, para passar a noite. Viu que ele estava escondido na escada, apesar de ter certeza de que ninguém mais percebeu. Quando passou perto dele e seus amigos, pôde vê-lo sussurrar alguma coisa para o ruivo e a menina bonita de cabelos cacheados que estavam ao seu lado. Quando finalmente se sentou no banquinho, teve uma visão mais ampla do salão. Sabia como funcionavam as coisas por ali, pois tivera longas conversar com o diretor durante as férias, e ao contrário dos demais alunos, ela havia chegado na hora do almoço, o que lhe deu bastante tempo livre para conhecer o castelo.

Quando o Chapéu Seletor foi colocado em sua cabeça, todos ficaram em silêncio. Não demorou muito para ele se decidir e gritar:

—GRIFINÓRIA!

As mesas da Lufa-Lufa e Corvinal também se juntaram ao coro de aplausos que explodiu da mesa da Grifinória. Todos eles, muito contentes por ela não ter ido para a Sonserina, que eram os únicos que estavam em silêncio.

Angélica se dirigiu para o único lugar vazio na mesa, que era ao lado de Hermione, tentando ao máximo esconder sua timidez, já que não gostava muito de multidões ou pessoas olhando-a daquela maneira. Sorriu para a morena, que retribui o sorriso de forma sincera, chegando para o lado para que ela pudesse se acomodar melhor.

Ao final do banquete, as duas já haviam criado um certo tipo de amizade, já que compartilhavam do amor pelos livros e estudo. Angélica havia contado para Hermione algumas coisas sobre sua antiga escola, enquanto esta, contava para a ruiva sobre as maravilhas de se estudar em Hogwarts.

Harry e Rony haviam cochichado o tempo todo, tentando ver se descobriam o que a nova colega tinha de tão importante para ter sido escoltada até A Toca, fato que o moreno já havia comentado com os amigos no momento em que a reconheceu, enquanto ela passava pelo corredor.

—Estou te falando, Harry, tem alguma coisa aí! – Rony disse ainda com a boca cheia de pastelão de carne – Tenho ouvido papai e mamãe conversarem. A Ordem anda muito ocupada, sabe. Muitas pessoas com quem falar, tentando trazer o máximo de bruxos para o nosso lado. E se eles largaram tudo isso para buscar e escoltar uma menina, é porque tem mais coisa envolvida.

Harry não teve muita chance de pensar nas palavras do amigo, pois logo em seguida Hermione estava chamando-o para levar os alunos do primeiro ano. Rony saiu ainda mastigando, resmungando sobre a pressa da amiga.

Ele já estava pronto para ir quando olhou para o lado e viu que Angélica o olhava.

—Você conhece o caminho para a torre? – perguntou de forma gentil, vendo a expressão perdida da ruiva.

—Bem, na verdade, não... – ela respondeu um pouco constrangida. Havia propositalmente não aprendido o caminho das casas comunais, já que mesmo com toda a preparação era impossível saber com antecedência para qual delas iria, e não queria quebrar a tradição de que apenas os alunos das próprias casas conhecem os caminhos para seus dormitórios – Ia perguntar para Hermione, mas ela saiu apressada...

—Tudo bem, vem comigo. – ele sorriu bondosamente, enquanto ela também se levantava, sorrindo agradecida. Nesse momento Harry percebeu o quanto ela devia estar tensa. Ele sabia exatamente como era ser o centro das atenções e imaginou o quanto ela estaria perdida. Guiou a outra ruiva até o Salão Comunal da Grifinória, onde lhe explicou como funcionava o esquema das senhas.

Lá dentro, Rony e Hermione já os aguardavam. Conversaram por muito tempo, sentados perto da lareira, sobre coisas alegres e fúteis. Estavam empanturrados e aquecidos com o fogo. Quando finalmente foram se deitar, as camas estavam quentinhas, cheirosas, e naquele momento, para todos eles, os problemas pareciam sombras distantes, que eram barradas pelas cobertas fofas que os elfos tão carinhosamente haviam preparado para eles.


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Notas finais do capítulo

*Sair à francesa = sair de fininho.

Bem, nos vemos no próximo capítulo...



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