Eu havia gostado do que havia visto nos olhos de Roman.

Ciúmes.

Esse não era o favorito dos meus sentimentos porque geralmente ele vinha acompanhado de coisas abusivas, mas o ciúme de Roman era diferente. Ele havia ficado triste por me ver conversando com Hernández, um ex colega de trabalho, mas ele não havia me pressionado nem nada do tipo. Ele só havia ficado triste por me ver com outro homem, o que confirmava o que eu havia visto em seu olhar nos últimos dias, mas não estava querendo enxergar: havia um desejo por algo mais que amizade da parte dele.

Ri ao pensar nisso porque eu havia cansada de me negar isso também. Eu também desejava algo mais. Lembrei-me do sonho e voltei a rir. As complicações de começar qualquer coisa com ele também vinham em minhas lembranças.

“Você gosta de correr riscos, talvez você tenha que fazer isso dessa vez também.” - Meu pensamento me disse.

“Mas o risco aqui é perder a ligação com uma garotinha que eu amo, e uma amizade maravilhosa com o pai dela”

“Ou virar mais do que qualquer tia pra ela. Você gosta de arriscar alto sempre. Por que está com medo agora?”

“Porque agora vale mais do que qualquer coisa que apostei antes.”

Me livrei dos meus pensamentos quando entrei no orfanato. Eu tinha que ser rápida pois Roman não poderia me ver já que ele me obrigou a não voltar para o orfanato até depois do casamento de Jane e Weller, mas eu queria entregar o presente de Aubree. Entrei e fui super rápida. Aproveitei que era hora do Roman tecnicamente ir protocolar umas coisas na coordenação. Ela ficou extremamente feliz e me deu muitos abraços, o que aqueceu totalmente meu coração para a ideia de que eu realmente não poderia perder minha ligação com ela. Fui embora extremamente feliz porque ver Aubree assim me fazia ficar imediatamente assim.

Era final de noite e eu já estava deitada quando meu celular vibrou. Me estiquei para pegar. Era Roman.

“Obrigada” - Ele disse, e eu sabia exatamente do que ele estava falando

“Ela merece. Assim que vi, imediatamente me lembrei dela.”

“Eu não estou agradecendo pelo presente somente, mas também por você cuidar e se preocupar tanto com minha filha. Isso vale muito para mim.”

Mandei um emoji sorrindo, mas o sorriso não estava somente na tela, mas também em meu rosto.

“Ela disse que você veio entregar. Gostaria de ter te visto.”

“Você provavelmente iria brigar comigo por eu ter ido até o orfanato enquanto estou de licença médica”

“Também…

Mas estou sentindo sua falta aqui.”

“Eu também estou sentindo falta de vocês

E de você”

Ele mandou aquele mesmo emoji de sempre com boneco sorrindo timidamente e eu respondi até que peguei no sono. Novamente com um sorriso não só em meu celular, mas também em meu rosto. Acordei com alguém batendo a porta.

— Reade? — Eu disse assim que abri a porta e vi meu amigo na minha frente.

— Eu não acredito que você sabia que eu viria e tava dormindo. — Ele disse com humor e eu o abracei.

— Entra. — Eu disse dando passagem e ele entrou. — Onde está Sarah?

— Está na casa de Jane e Weller. Não queria deixar ela só, mas queria vir te ver. Estava com saudades da minha amiga.

— Eu também estava com saudades de você.

— Essas drogas que te deram por causa do tiro estão te fazendo bem. Você demonstrando sentimento. — Ele disse rindo.

Empurrei seu ombro.

— Cale a boca. Eu disse que estava com saudades de você antes de tomar esse tiro. — Eu disse enquanto arrumava a mesa para tomarmos café.

— Você está bem? — Ele perguntou.

— Sim. Eu tive que tomar remédio só por três dias e acabou ontem.

— Eu trouxe algo que vai fazer você se sentir ainda melhor. — Ele disse tirando dois papéis do casaco que ainda vestia.

— Eu não acredito. Quanto tempo eu estava querendo ir a um jogo! — Eu disse empolgada.

Eram dois ingressos para NY Giants contra o Saints.

— Podemos fazer como nos tempos antigos. — Ele disse feliz e sentamos para comer.

— Sarah vai ficar bem? — Perguntei por conta da gravidez.

— Sim. Ela ta super empolgada com o casamento do irmão dela. Na verdade foi ela quem sugeriu.

Terminamos de comer e eu me despedi de Reade. Fui buscar meu vestido pro casamento de Jane com Patterson que me trouxe de volta pra casa. Fui pro jogo com Reade e vi o Saints dar uma virada maravilhosa para cima dos Giants, o que me animou ainda mais. Reade foi me deixar em casa. Foi um bom dia, afinal, e o próximo dia prometia ainda mais, afinal: era a despedida de solteiro de Jeller.

***

Era noite quando chegamos no hotel. Weller havia reservado estadia começando na quinta-feira a noite para seus convidados mais íntimos que ficariam no hotel até a sexta. Sábado seria o casamento. Eu e Patterson organizamos secretamente uma despedida de solteiro para os dois que aconteceria esta noite. Reade acabou sendo obrigado a nos ajudar. Tudo estava preparado no bar e levamos Weller para uma parte e Jane para outra. Eles riram quando viram do que se tratava e se divertiram.

Jane ganhou várias lingeries, o que a deixou extremamente corada, mas não deixamos de rir e nos divertir, afinal estávamos ali para aquilo - além de beber, mas eu estava consumindo cerveja sem alcool por conta da ferida da bala.

Weller havia ganhado várias bebidas novas, o que ele adorava pois complementava o bar que ele tinha em casa. No final da noite finalmente deixamos os convidados se misturarem. Jane foi instantaneamente para os braços de Kurt. Eu amava observá-los em seus momentos juntos, mesmo em meio a todos, parecia que só existia eles. Eles se amavam e isso era nítido. Nítido e bom de se ver. Meu pensamento foi cortado quando vi Roman. Ele estava tão bonito. Estava com uma camisa cinza de manga longa e uma calça preta. Ele sorriu pra mim e eu retribui, indo em sua direção.

— Se divertindo? — Perguntei chegando perto dele.

Seu sorriso me matava.

— Um pouco. Você é boa em dar festa. — Ele disse e nos fitamos intensamente.

— É porque você não viu o casamento que estamos organizando. — Patterson disse aparecendo atrás de Roman rindo. Ela já havia bebido bastante.

— Estou ansioso por isso. — Ele disse com simpatia.

— Vamos dançar. — Patterson disse puxando minha mão e a dele.

Eu ri, mas ele recuou.

— O que? — Perguntei com humor quando ele recuou.

— Eu… uh… eu não sei dançar. — Ele respondeu com a mão no pescoço, claramente envergonhado.

Patterson começou a rir e me puxou para dançar. Troquei alguns olhares com Roman enquanto fazia isso, ele estava apenas tímido no canto dele no bar. Patterson tinha bebido demais pra perceber e eu agradeci mentalmente por isso. Assumir meus sentimentos para mim era uma coisa já difícil, mas assumi-los pros outros era ainda mais. Me distraí com o humor de Patterson até que já era madrugada. A maioria das pessoas já haviam ido quando eu decidi ir deixá-la no quarto dela.

Estava indo pro meu quarto que era ao lado quando percebi que o primeiro quarto do corredor estava com a porta entreaberta. Fui fechar, mas antes olhei para dentro. Era o quarto de Roman. Ele estava sentado na ponta da cama concentradíssimo vendo algo no celular. Tentei abrir a porta devagar, mas assim que abri ele olhou.

— As pessoas podem entrar com você deixando a porta entreaberta. — Eu disse com humor.

Ele riu também.

— Tô vendo. — Ele apontou me vendo.

Entrei e vi que seu celular estava tocando algo.

— O que você estava fazendo? — Perguntei de repente curiosa.

— Ah… — Ele disse escondendo o celular atrás de si. — Nada.

Comecei a rir e me lancei em cima dele, tentando tomar o celular. O que foi em vão, pois ele era forte e me derrubou na cama. Eu consegui pegar o celular, mas ele me fez cócegas, o que me fez rir bastante e soltar o celular, mas não sem antes ver que ele estava vendo vídeo de valsa no youtube.

Ele estava mais próximo do que nunca de mim. O que nos trazia uma certa tensão, principalmente porque estávamos em uma cama. Na cama dele, mais diretamente dizendo.

— Por que você estava vendo isso? — Perguntei olhando-o.

— Amanhã eu terei que dançar com minha irmã em algum momento. É um dia especial pra ela então é um dia especial pra mim e não quero fazer feio.

Ri, mas logo depois fiquei séria.

— Será um grande dia para todos nós. — Eu disse sorrindo e o olhando profundamente.

Eu amava cada vez mais me perder em seu olhar. Dessa vez olhei pra sua boca, quase perdida no meio da sua volumosa barba.

Ele deve ter percebido que eu estava fitando seus lábios pois logo suas bochechas ficaram coradas. Eu olhei em seus olhos.

— Eu sei que não é da minha conta, mas você estava bebendo mais cedo? Você ainda ta com ferimento e…

— Era sem alcool. — Eu disse sorrindo. — Weller providenciou pra mim e pro casamento depois do que aconteceu.

— Ah ta. — Ele disse satisfeito.

— Eu não preciso de alcool para me divertir. — Eu disse colocando meu rosto na altura do seu. — E nem pra fazer o que eu quero.

Fechei meus olhos e colei seus lábios com os meus. Nossos lábios se roçaram e sua barba tocou minha pele. Percebi que ele se enrijeceu, mas logo sua boca pediu espaço dentro da minha e eu deixei. Passando minha mão pela sua barba, encostei ela em seu pescoço enquanto uma de suas mãos passava pelo meu braço e me segurou pela cintura. Sua língua explorava de modo quente e terno cada pedaço da minha boca. Era um beijo tão agressivo, tão cheio de desejo e como eu havia amado. Seus lábios tinham gosto de bebida, mas seu beijo tinha um gosto novo. Um gosto que eu havia adorado.

Estávamos ofegantes quando nos separamos. Encostei minha testa a dele e abri meus olhos lentamente. O fitei sorrindo e ele estava me olhando. Ele também sorria, mas seu olhar estava confuso. Por que seu olhar estava confuso?

Para não quebrar a magia daquele momento, me levantei.

— Preciso ir. — Disse sem fôlego.

Ele acenou com a cabeça, mas não soltou minhas mãos e foi me deixar até a porta do seu quarto. Ao chegar lá, ele colocou seus lábios mais uma vez ao meu. Seu sabor era embriagante. Fechei a porta depois do beijo e fui sorrindo para o meu quarto. Eu beijei Roman. Eu havia arriscado alto, mas tinha valido a pena porque depois Roman também me beijou.