Don't Wanna Know escrita por Queen Jeller


Capítulo 32
Capítulo 32 - Feito pra acabar


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu de volta. Gostaria de dizer que nem acredito que tanta gente aleatória se juntou para ler essa história. Queria que vocês soubessem que todo amor que coloco nessa história brota em meu coração só pelo fato de vocês comentarem ela, mesmo esse casal existindo somente na minha mente doida. Muito obrigada por isso.



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POV Roman

 

Sentir que Tasha não estava bem destroçou meu coração. Eu havia percebido ela um pouco estranha nos últimos dias, mas sabia que ela só se abriria no tempo certo e, como nós sempre fazíamos, optei por esperar o momento certo dela. Sabia que se forçasse não seria legal.

 

Tentei aproveitar a ocasião para mostrá-la como ela era importante para mim. Fazer com que ela se sentisse acolhida, amada, da mesma maneira que ela me fazia sentir quando eu ficava triste.

 

Me questionei se suas reações não eram pelo lance da gravidez, mas desencanei, pois ela não havia mais tocado no assunto. E bem, depois que eu pegasse a aliança no banco e fosse ao encontro dela em casa para um jantar especial, ela saberia que nós teríamos todo o tempo do mundo para tentar formar uma família. 

 

Cheguei no orfanato focado em meus deveres, para que aquele dia acabasse logo e eu pudesse fazer logo a surpresa, mas muitas coisas me distraíram. Uma delas foi a ausência da Aubree na sala. Segundo a outra coordenadora, ela havia alegado dor de cabeça, mas conhecendo-a, sabia que era uma desculpa. Durante o primeiro intervalo de aulas, fui até o dormitório e a encontrei enrolada com o cachecol de unicórnio que ela havia ganhado de Tasha. O estranho era que fazia calor naquele dia.

 

Sentei-me em sua cama esperando sua animosidade ao me ver, mas recebi um sussurro quase inaudível.

— Oi, pai.

Ao vê-la tão recolhida, com o cachecol no calor, chequei sua temperatura, mas ela não parecia estar com febre.

— Oi, bebê. Posso saber por que você não foi para aula?

Ainda sem me olhar, mexendo seus dedos pelos fios do cachecol, ela respondeu.

— Não estou bem.

Fiquei um pouco sem reação ao vê-la tão recolhida. Aubree era uma criança animada, acesa. Apenas o que a desanimava era doença, mas também a deixava manhosa, não distante. Tentando fazer com que ela se abrisse para mim, dei a sentença.

— Você quer me contar o que está acontecendo? 

Ela não esboçou reação, então eu coloquei minha mão sob seu braço.

— Aubree, eu sou seu pai. Preciso saber o que ta acontecendo. Olhe para mim. —  Quando ela olhou, eu prossegui. — Você sabe que eu faço de tudo por você, não sabe? Mas preciso saber o que está acontecendo, filha.

Ao me olhar com seus olhos curiosos, ela finalmente se aproximou, me abraçou e depois deslizou em meu colo, deixando seu corpo na cama e apoiando sua cabeça em meu colo. Não fazia ideia do que estava acontecendo com as mulheres da minha vida. Talvez fosse a lua em alguma coisa, como Tasha sempre dizia. Porém, os astros nada poderiam fazer, diferente de mim.

— Eu só sinto falta de estar em uma casa, pai. Queria estar com você e a tia Tasha, mas não sei quando isso será possível. — Ela confessou de repente.

— Oh, meu amor. Eu imagino, mas em breve você estará conosco. Eu prometo pra você.

— Não me prometa o que não pode cumprir, pai. — Ela disse com firmeza, me olhando no olho.

— Eu vou fazer o que eu puder pra te ter, filha. Você sabe disso.

Quando disse, ela abraçou minha perna.

— Pai, você pode ficar aqui até o final da manhã?

Ao vê-la assim manhosa, não pude negar seu pedido.

 

Como tinha boletins para registrar e fiscalizações anuais para agendar, acabei me distraindo no restante da tarde com o trabalho. Tive que sair correndo no horário do almoço, quando Aubree já estava melhor, para pegar a aliança no banco. Resolvi contá-la sobre o pedido somente depois que Tasha aceitasse. Seria melhor, pois não queria que ela se enchesse de expectativas como eu estava.

 

Eu sentia que Tasha me amava, um amor diferente, tropical, mas avassalador. Vi como isso a assustou no começo da nossa relação, mas agora a conseguia enxergar firme nesse compromisso, assim como eu estava. Porém, não sei se a aliança com diamante cinza a assustaria. Era um dispositivo caro demais, mas uma regalia que herdei de meus pais. A minha aliança, que eu também usaria, também era de ouro, mas o diamante era distribuído como um filete, por ser uma joia masculina. 

 

Tinha medo da sua reação, para falar a verdade. Embora soubesse que ela estava nesse relacionamento tanto quanto eu, talvez usar uma aliança fosse demais para ela. Porém, eu queria confirmar com ela meus sentimentos e propósitos. Se ela demonstrava se sentir em mar aberto, eu seria uma âncora, para lhe dar firmeza. Fui a caminho de casa empolgado, pensando em vestir a blusa verde que ela tanto gostava. Será que ela gostaria de ser pedida após chegar tão cansada do trabalho? Me questionei. Não sabia, não sabia resposta para nada e aquilo me apavorava. Ao mesmo tempo, eu sabia exatamente que queria pedi-la em casamento, independente de como ou se ela iria gostar de utilizar as alianças.

 

Ao descer do táxi em casa, vi que seu carro não estava na frente e agradeci mentalmente por isso. Quando adentrei, porém, encontrei sua chave no lugar. Ela teria esquecido em casa? Ao olhar melhor, vi um papel na mesa de centro da sala. 

 

Iria trabalhar até tarde, talvez? Se sim, por que não mandou uma mensagem pelo celular? Ao pegar o papel na mão, entendi o motivo enquanto o chão faltava sob meus pés. 

 

“Roman,

Dentro de mim, tenho a dimensão do quão grande é o universo. Amor, eu e você somos apenas um grão minúsculo de areia no meio do universo. Porém, mesmo sendo tão pequenos em meio ao que Deus criou, sei que o sentimento que ele me fez sentir por você é algo único em meio a toda essa galáxia. Nunca pensei que diria ou que sentiria algo assim, principalmente por que você que já foi meu inimigo. Como uma pessoa controladora, eu odiei inicialmente me ver em suas mãos, mas logo depois, lembrei do que Nana, uma das minhas cuidadoras no meu orfanato, me falou sobre o amor. “Filha, você é dura, então tenha orgulho da pessoa que tiver seu coração. Com certeza ela merecerá”. Nana estava certa, Roman. Eu tenho muito orgulho de te amar. Orgulho de ter deixado você cuidar de mim quando estive doente, bêbada. De ter vivido com você e com Aubree o meu melhor sorriso. Porém, existe algo que sempre acontece na minha vida, que ainda não tinha lhe contado. Peço perdão por não ter contado antes: nada do que eu vivo na minha vida dura para sempre. Meus sentimentos por você irão durar a eternidade, não tenho dúvidas, mas hoje, te escrevo para contar que nosso relacionamento terá que ser interrompido. Eu não espero que você entenda, mas a única coisa que posso te dizer é que eu te amei por cada momento da minha vida e ainda vou te amar, independentemente de onde eu esteja. Eu espero que você ainda me ame quando eu voltar. Eu vou voltar para continuarmos essa história, ta? Enquanto eu não volto, espero que você lembre das últimas palavras que eu te disse: EU TE AMO. 

Elas foram tão reais quanto o amor que vivemos.

 

Me perdoa,

Tasha Zapata”

 

Será uma pegadinha dela? Foi a primeira coisa que pensei. Não havia motivos para aquilo. Não havia e eu mentalizava isso repetidamente, na esperança de ser verdade. Comecei a procurar na casa sinais dela para além da carta. Era como se ela nunca tivesse vivido ali. Seu iPod que ficava sob o móvel da sala, um caderno de anotações ao lado do telefone, até o coldre que ela deixava abaixo do balcão da cozinha para o caso de alguém invadir a casa enquanto estávamos na cozinha: nada estava lá. Seu perfume ainda estava, o cheiro natural dela que ela havia deixado na casa desde que ela se mudou para lá.

 

Eu sabia onde olhar para confirmar: nosso quarto. Se ela levou cada detalhe dela, com certeza teria levado todas suas roupas. Eu só não estava preparado para enfrentar o pesadelo que do nada me abraçou no dia que eu planejava ser o melhor das nossas vidas. Percebi que estava com as mãos tremendo, como quando tinha minhas crises no orfanato. Enchi um copo com água, não poderia desmaiar ali como desmaiava na infância, pois estava sozinho. Quando fui beber o líquido percebi que meu rosto estava molhado em lágrimas e então me deixei chorar de soluçar. 

 

Fui colocar o copo no balcão, mas bati tão forte que o vidro quebrou em minha mão. Ali estava eu, chorando copiosamente por uma mulher que literalmente havia me abandonado com a aliança na mão e agora com a mão cortada. Coloquei minha mão sob a torneira e deixei na água correndo, mas eu precisava de ajuda. Tirei o telefone do bolso, fui na discagem rápida para minha irmã. 

— Olá, futuro noivo. — Ela disse animada. — Ela já aceitou?

Não tive forças para dizer nada, só chorei.

— Não sou mais nada, sis. Ela foi embora.

— O QUE? —  Jane perguntou de maneira exaltada.

— Ela deixou um bilhete. Eu não tô bem, minha mão tá sangrando. Preciso de você aqui. Vou desligar.

E desliguei, enquanto me debrucei sob a pia e continuei chorando. O sangue parou pouco de jorrar, mas eu tinha que encarar a realidade do quarto sem Tasha quando lá entrasse para pegar um kit de primeiros socorros. 

 

Me sentia pequeno, realmente um grão de areia no meio do nada, e ferido. Mais do que na mão. Aquele corte, embora profundo, não me incomodava tanto quanto a dor no peito que me afligia. Nós tínhamos uma vida, tínhamos conversado sobre enfrentar todos os problemas juntos e o que ela faz? Foge. 

 

Peguei a maleta com o kit. Minhas mãos permaneciam tremendo. Talvez eu precisasse de algum remédio. Não ia conseguir fazer um curativo naquelas condições. Só peguei uma atadura e comecei a circular pela minha mão. A campainha tocou. Achei estranho demais. Jane com certeza teria entrado. Só quando fui atender a porta que vi que havia sujado minha camisa e parte da calça com sangue. 

 

Enxuguei minhas lágrimas e suspirei fundo, tentando engolir mais o choro e abri a porta. Uma senhora na faixa dos 50 anos estava na minha frente, com uma maleta nas mãos e um broche que eu sabia identificar: Serviço Social.

— Roman Kruger? — Perguntou.

— Eu mesmo. O que deseja?

— Sou Lily Mitchell, do Serviço Social.

— Opa. Pode entrar. — Convidei. Teria que me recompor em segundos. Se não por mim, mas por Aubree. Minha vida ainda iria seguir com aquela pequena.

— Eu vim fazer uma visita de rotina, para conhecer sua casa, falar um pouco sobre sua rotina e suas ideias de futuro. Tudo certo? — Ela perguntou enquanto olhava para minha mão.

— Sim senhora. Tudo certo. Peço perdão pelo meu visual e tanto sangue. Acabei quebrando um copo enquanto lavava a louça e doeu, então acabei chorando. — Justifiquei tentando mostrar equilíbrio.

— Você está bem? 

Aquela pergunta me atingiu como um tapa. Lá ia eu mentir. 

— Estou, não foi nada profundo. — E limpei a garganta.

— Acontece. — Ela disse. — Pode me mostrar sua casa?

Mostrei a ela a casa, os quartos, inclusive o de Aubree. Depois, ela me questionou sobre minha rotina, expliquei que trabalhava no orfanato, que pretendia fazer com que Aubree continuasse estudando lá, logo, eu sempre estaria com minha filha. Também perguntou em relação as minhas finanças. Expliquei que mantinha uma poupança para os estudos de Aubree, que tinha plano de saúde e seguro, que já havia mostrado esses dados para a pessoa responsável pela adoção.

— E quanto a sua família?

— Eu tenho uma irmã mais velha. Ela deve estar chegando por aqui em breve. Ela trabalha na Polícia Federal, juntamente com meu cunhado. Nossos pais faleceram quando ainda éramos crianças. Somos só nós dois.

— A minha ficha aponta que você tinha um romance com a policial federal Natasha Zapata. Você confirma?

As lágrimas quase vieram. A mulher olhou para mim e eu desviei o olhar. Não aguentaria enfrentar aquela realidade olhando nos olhos de alguém.

— Ela se foi, senhora. — Respondi em um tom baixo.

A verdade é que nem eu queria escutar aquilo, ter que dar de ouvidos com aquela realidade, mas lá estava ela estampada na minha voz. Eu escutava a velocidade com o qual meu sangue corria em meu corpo. Quase como um super poder. A confusão que tomou não só minha mente, mas meu corpo com toda aquela realidade.

Seria uma vida sem Tasha e eu já não lembrava mais do gosto da minha vida e das coisas sem ela. Me perdi em um devaneio lembrando dela implicando com o doce demais do meu sorvete, com sua pouca habilidade no patins. Em todos esses momentos ela sempre me oferecia um sorriso divertido, daqueles que me fazia sentir um sortudo por tê-la comigo. Agora eu não teria mais aquele sol.

— Senhor? — A assistente interrompeu meus pensamentos.

— Desculpa, senhora. É que lembrei de algo. 

— Ok. Estou indo. Cuide-se, ok? 

— Vou me cuidar.

— Você pode assinar aqui para atestar que eu estive aqui?

Tive sorte de saber escrever com as duas mãos e, enquanto a mulher ia, Jane apareceu. Quando ela entrou em casa, veio direto me abraçar e eu novamente me debrucei em lágrimas, dessa vez abraçando minha irmã.

— Nós tínhamos uma vida inteira juntos, Jane. Você sabe. Eu nunca amei ninguém como amei aquela mulher. Ela me fez tão feliz. Eu tinha certeza que a fazia feliz também. Por que ela fez isso? Por que ela entrou na minha vida? Pra esmagar meu coração?

Jane acariciou meus cabelos enquanto me abraçava. 

— Eu não sei as respostas, irmão. Infelizmente eu não sei. 

E ela então quebrou o abraço.

— Mas deixa eu cuidar desse seu ferimento na sua mão. Tenho algumas coisas para lhe contar. 

Ela tirou a atadura e molhou novamente minha mão com água corrente e eu me deixei voltar a chorar. Não era pela dor na mão, mas no peito. Ela me levou para o sofá e pegou o kit e então começou.

— Algo aconteceu com a Tasha, Roman. Ela entregou o cargo dela. Havia um e-mail programado para Pellington para ser enviado amanhã. Ela também renunciou ter que reportar ao Kurt qualquer coisa que fazia. Kurt está tentando descobrir mais, mas ao que tudo indica, ela segue trabalhando para o Governo. Só não sabemos se ela teve que abraçar uma nova missão, se ela só mudou de agência. Você sabe algo?

— Não. Eu não estaria assim se soubesse. Será que ela estava infeliz? — Questionei, mais a mim que a Jane.

— Não diga jamais isso. Ela te amava. Eu a conhecia antes de você conhecê-la. Você a mudou de uma ótima maneira. Ela se tornou uma mulher mais leve, tinha mais orgulho de quem era. E irmão, sei que vocês pensavam que estavam grávidos e sei que isso mexeu com ela. Patterson percebeu. Ela queria uma família com você e Aubree. Não tenho dúvidas. — E ela então interrompeu o que falava. — Vai arder. — Avisou para aplicar a água oxigenada.

— Não mais do que ta ardendo meu peito.

Depois de aplicar, ela me olhou com sororidade.

— Não fale isso, Roman. Me machuca te ver assim, meu irmão. Tasha é uma pessoa difícil para lidar com problemas, mas ela com certeza fez isso para te proteger de algo, se ela foi em uma missão disfarçada ou algo do tipo. Você não merece essa tristeza. Eu quero que você se deixe chorar, mas não deixa essa tristeza tomar conta da sua vida. Olha tudo que você batalhou por você, por Aubree, pelo orfanato. Eu também acredito que você e Tasha foram feitos um pro outro, mas sempre há dificuldades.

— Essa dificuldade precisava aparecer para levá-la? Levá-la no dia que eu ia pedi-la em casamento? — Eu disse e aproveitei para tirar a caixa da aliança do bolso. 

— Eu sinto tanto por tudo, Roman. — Ela respondeu e me abraçou após terminar o curativo, mas foi um abraço que cessou meu choro. Senti que não poderia ficar nessa. Não quando eu tinha que cuidar da minha filha. Agora meu foco seria fazê-la feliz e eu só me focaria nisso, pelo menos até Kurt me trazer alguma resposta acerca do sumiço da minha morena. 

— Toma. — Eu disse entregando o anel para Jane. — Não quero olhar para isso até essa situação se resolver. Se é que vai se resolver.

Jane me olhou com tanta esperança nos olhos que, por um segundo, invejei seu otimismo.

— Tenho certeza que você ainda vai ter a oportunidade de deslizar essa aliança no dedo dela em algum momento, irmão. 

— Você acha certo que eu alimente essa esperança?

— Acho. Acho que você pode tocar sua vida com Aubree, mas ainda correr atrás da sua felicidade.

Nos abraçamos novamente e então Kurt apareceu. Ele confirmou tudo que Jane sabia, disse que havia identificado que ela seguia trabalhando como agente federal do governo, só havia renunciado o cargo. Havia também refeito com Pellington o acordo que pagava no orfanato, mas o chefe não quis revelar detalhes. A ficha dela estava toda fechada para o FBI de Nova York.

 

Ligaram para Patterson, mas antes que ela atendesse, alguém bateu na porta de Roman. Era ela, com lágrimas nos olhos também, um papel amassado na mão e ela veio de embate a mim. 

— O que você fez com minha amiga?

Todos olharam estranho para ela. O que diabos ela estava falando?

— Patterson, Roman não fez nada. O que ela lhe falou, onde ela está?

Patterson tentou se recompor. Nunca havia a visto tão brava. E olha que já havia visto ela gritando com agentes do FBI quando mexiam no que era dela. Ela por acaso achava que eu havia machucado a melhor amiga dela?

— Ela me deixou esse papel. Ela foi embora. Não consigo descobrir para onde. Ela tirou o rastreador do carro, deixou o celular na antiga casa com a atual condômina. — E ela então me olhou com fúria no olhar. — E ela diz aqui que foi embora pelo bem da sua família, Roman. 

Quando ela disse isso, peguei o papel de sua mão e li o que ela havia escrito para Patterson. 

 

“Patterson, 

Como o segundo amor da minha vida, minha amiga e minha salvadora, percebi que não devia somente uma explicação ao Roman, mas a você também. Tive que deixar Nova York por um tempo. Doeu meu coração fazer isso, não espero que você me entenda agora, mas quero que saiba que eu vou ficar bem. Tive que fazer isso pelo bem da família do Roman. Uma hora eu volto. Quando estiver pronta, contacto você para falar sobre. Agora, o melhor é que fique assim. Saiba que eu te amo muito. Infelizmente, da mesma maneira que nem sempre posso te salvar, você também não pode. Não agora. Essa é uma batalha que preciso travar sozinha. Mas eu ainda voltarei para compartilhar com você a nossa vitória.

Eu te amo, William. Não esqueça disso nunca.

Até breve, Tasha.”

 

Quando percebeu que eu terminei de ler, ela voltou a me atacar.

— Tem certeza que você não tem nada a ver? 

Jane interrompeu antes que eu explodisse.

— Ele ia pedi-la em casamento, Patterson.

Patterson corou, talvez envergonhada pelo descontrole ao me culpar, mas eu não a julgava. Aquilo só provava o que eu sabia há muito tempo. Ela amava Tasha tanto ou mais que eu amava.

— Desculpa, eu não sabia. Ela sabia? — A loira perguntou.

— Não. Eu ia fazer uma surpresa hoje.

 

A sala tomou um silêncio doloroso e constrangedor. Era como se todos tivessem sido deixados com a aliança na mão, não só eu. Kurt cortou a falta de som explicando para Patterson o que sabia, mas antes que alguém começasse uma longa conversa, me senti esgotado. Eu só queria que aquele pesadelo acabasse, queria surtar em silêncio.

— Não temos o que fazer. — Eu disse de repente. — Ela deixou claro que está bem. Eu gostaria de um pouco de solidão agora.

— Tem certeza? — Jane me perguntou preocupada.

— Sim, irmã. Agradeço a vocês por todas as informações, mas eu preciso tomar um banho e trocar de roupa. Vou comer algo também. 

Todos deram passos para sair. Patterson pediu desculpas pela grosseria, Kurt disse que me deixaria a par de tudo e Jane me abraçou antes de atravessar a porta. 

— Qualquer coisa, ligue.

— Ligo sim. — Afirmei querendo dispensá-la.

Quando eles saíram, pude enfim viver minha dor na solitude. Meu peito ardia em fogo, como se uma adaga tivesse sido cravada ali. E foi. De maneira invisível, ela cravou uma faca em meu peito, levou meu coração e deixou ali apenas a ferida aberta, que sangrava e doía como um inferno. A última vez que havia sentido aquilo foi quando meus pais morreram.

Me afoguei numa garrafa de whiskey tentando estancar aquela dor enquanto encarava o guarda-roupa aberto, mostrando seu lado vazio como o vazio que ela havia deixado em minha vida. Não adiantou muito, mas pelo menos consegui dormir.

 

Acordei com a campainha tocando incessantemente. Durante a madrugada havia enviado um e-mail para a outra coordenadora dizendo que estava sem condições de ir trabalhar. Também disse a Jane que estava bem, para que ela não aparecesse. Quem diabos seria?

 

Quando abri a porta, dei de cara com a assistente social Lily, com uma mala na mão e Aubree. 

— Surpresa! — Aubree disse animada. — Tava dormindo, pai? Uma hora dessas?

Aquilo era a única coisa de colocar um sorriso no meu rosto naquele dia. E colocou.

— Que surpresa ótima, filha. — Afirmei abraçando-a. — Papai feriu a mão com um copo e tomou remédio para dor, que deixou papai com sono. 

A assistente social nos interrompeu.

— Vocês dois são adoráveis juntos. Bem vinda a sua nova casa, Aubree.

Minha voz faltou, mas antes que eu perguntasse algo, ela continuou.

— Ela é oficialmente sua filha, Roman. Já pode ficar com você integralmente a partir de hoje. Se certifique que ela não perca aula amanhã, mesmo que você não esteja em condições de ir ao orfanato. As notas dela precisam continuar altas. Ainda há uns trâmites para atravessar até oficializar no registro de nascimento dela, mas isso você resolve quando voltar ao trabalho, ok?

— Obrigada pela boa notícia. — Respondi com lágrimas nos olhos.

Quando a porta fechou, abracei minha filha e foi como se o sangramento do meu coração estancasse.

— Bem vinda a nossa vida, filha. — Falei animado. 

Ela me abraçou forte em agradecimento e eu clamei a Deus que a presença de Aubree fosse o suficiente para que eu reconstituísse minha vida sem Tasha.


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Notas finais do capítulo

Precisamos de momentos tristes para que os felizes sejam ainda mais valorizados. Agradeceria se vocês me deixassem saber o que pensam disso tudo, mesmo que seja para me xingar. Essa história está perto do fim, mas tenho certeza que vocês vão amar o que eu estou planejando.

Muito obrigada mesmo por tudo, leitoras e amigas ♥



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