Faltavam 3 dias pro aniversário de Aubree.

3 dias também para eu e Roman completarmos 8 meses de namoro.

A vida tava uma corrida pelos preparativos do aniversário surpresa da Aubree que quase não vimos o mês passar. No trabalho, deixamos tudo claro com nossos supervisores quanto ao nosso relacionamento, mas éramos sempre muito profissionais então isso não nos atrapalhou. Alguns dias Roman tinha que ir pro trabalho mais cedo que eu e isso me dava tempo para preparar um dia especial para nós comemorarmos nossos 8 meses.

Cheguei na porta do orfanato para ver Aubree na escada com um semblante irritado.

— Bom dia, querida. — Disse abraçando-a, tentando animá-la, mas ela seguiu com a cara fechada e respondendo o bom dia com chateação. — Algo aconteceu?

Ela se virou tirando alguns fios de cabelo do rosto e começou a chorar antes de dizer qualquer coisa.

— Eu quero meu pai! — Foi a única coisa que ela disse depois de dois minutos abraçada a mim.

— Seu pai não ta aqui? — Perguntei preocupada e confusa.

— Ele ta lá em cima. — Ela explicou enquanto eu secava suas lágrimas entre seus soluços. — Mas eu quero ta com meu pai no dia do meu aniversário! — Completou e voltou a chorar.

Eu a abracei mais forte e segurei seu rosto, para que ela olhasse para mim.

— Mas claro que ele vai ta com você. Todos nós estaremos. Até o tio Reade vem passar o seu aniversário com você e vai trazer o bebê para conhecermos. Por que você acha que não vamos passar seu dia com você?

— A tia Michelle tava dizendo pro meu pai que ele não vai poder me levar porque não é o final de semana de ficarmos juntos.

Eu não sabia o que dizer.

Michelle era a agente que decidia toda a agenda da Aubree e também quem marcava quem iria acompanhá-la em rotinas de médico ou dentista. Era um acompanhamento que tinha se intensificado nos últimos meses, mas eu achava que isso havia acontecido porque já fazia quase um ano que Roman tentava adotar Aubree e talvez isso significasse que a adoção estava perto de se concretizar. Porém privá-la de ter o aniversário que tínhamos planejado não era um bom sinal.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Roman desceu as escadas, viu meu semblante preocupado e depois olhou para Aubree. A abraçou quando viu que ela estava com cara de choro.

— O que aconteceu?

— Ela ouviu você conversando com Michelle sobre o aniversário dela. — Respondi antes que Aubree tentasse fazer isso de novo e chorasse novamente.

Ele tirou o lenço do bolso e enxugou o rosto da filha.

— Mas isso não quer dizer que você estará sozinha. Eu e tia Tasha e seus outros tios e tias todos virão ficar com você no seu dia.

Ela me olhou com esperança nos olhos.

— Não te disse? — Respondi com um sorriso e ela então encaixou sua cabeça no ombro de seu pai.

— Eu não vejo a hora de ir pra casa de vez com vocês. — Ela suspirou.

Roman a colocou no chão e beijou sua testa.

— Nós também não vemos a hora. Agora vá pra sua sala, ok? Preciso resolver algo com sua tia. — Ele soltou sua mão e ela, relutante, se foi.

Virei-me para ele assim que ela entrou na sala.

— Problemas?

— Só teremos que mudar o lugar do aniversário pra cá.

— Hum. — Resmunguei contrariada

— O que? — Ele perguntou ao ver que eu não aprovei a ideia. — É o que temos, não é? É melhor do que nada.

— Não consigo parar de pensar no que ocasionou essa mudança. Você não tinha combinado isso há 2 meses atrás com ela de que Aubree ficaria conosco no aniversário? O quão mau é privar uma criança disso?

— Sim, eu tinha combinado, mas eu tenho que obedecer os meus superiores se quiser algum dia adotá-la de vez. Eu abriria mão de qualquer coisa pela minha filha. Se tiver que abrir mão de um aniversário em casa, que seja. — Ele finalizou dando de ombros.

Eu apenas o escutei, mas não me dei por satisfeita com aquilo.

O sinal tocou e entramos para trabalhar.

Mandei uma mensagem de texto para Patterson marcando de almoçar com ela.

A manhã passou correndo. Era dia de recreação depois da primeira aula, então era mais fácil de me distrair e distrair as crianças.

O sinal tocando alertava que era quase horário de ir embora. Geralmente eu e Roman esperávamos todo mundo sair para irmos almoçar juntos e eu ir para o FBI. Quando todos saíram, ele me abraçou e me deu um beijo na bochecha.

— Vamos descer?

— Eu vou sair. — Respondi para vê-lo franzindo a testa. — Patterson me chamou para almoçar com ela.

— Ah. — Ele soou não muito feliz, mas sem chateação.

— Não deixe Aubree sozinha, ta? Ela parece ta bem chateada.

— OK. — Ele respondeu e nos beijamos. — Nos vemos mais tarde.

Eu o respondi com mais um beijo. Nos separamos com um sorriso no rosto dele e então desci para encontrar a loira e Roman foi atrás de Aubree.

***

— Tem certeza que quer que eu faça isso? — Patterson perguntou um pouco espantada. — Eu pensei que ele havia dito que não queria que ninguém se metesse nisso.

— Eu sei que ele disse, mas… — Suspirei fundo. — Eu tô com um pressentimento de que algo não está certo. Algumas peças não estão encaixando, sabe? Não estão indo conforme eu penso que deveria estar.

A loira riu, mas não exatamente por achar algo engraçado.

— Posso te dizer algo como sua amiga?

Após minha confirmação com a cabeça, ela continuou.

— Eu sei que você ama o Roman. — Aquela frase me tirou um pouco o ar, mas antes que eu pudesse falar algo, ela continuou. — Mas nem todos enxergam ele como você. Você o enxerga de uma forma que talvez a justiça não enxergue por causa do passado dele. Nós, que convivemos com ele e com Jane, sabemos que ele mudou, mas quem está de fora não enxerga dessa forma. Então pode ser normal o que você acha que é algo.

— Mas entre descobrir se há algo errado ou ficar na dúvida, não é melhor saber?

Ao ver a resposta no fundo de seus olhos, continuei.

— Então... vai me ajudar?

TRÊS DIAS DEPOIS

O dia amanheceu quente em NY, mas talvez pela maneira corrida com o qual tava o dia, o calor ficava ainda pior. No entanto, tudo estava pronto pro aniversário da Aubree. Os enfeites e balões de unicórnio estavam no carro, Jane e Kurt haviam ido na frente com Reade, Sarah, Sawyer e Simon que estavam na cidade e ficaram de ver se tudo estaria ok com as comidas e eu havia ido buscar o bolo com Roman.

Confirmei o pedido na padaria e o moço foi pegar o bolo, deixando eu e Roman a sós.

Ele me olhou com um pouco de malícia e felicidade e eu resolvi provocá-lo.

— Você fica muito bem de camiseta rosa.

Ele se aproximou com uma risada.

— O que não faço pela minha filha, né? Prefiro tons mais escuros.

— Conheço seu guarda roupa e sei que sim.

Ele piscou pra mim e ficou me olhando em silêncio. Sabia que ele pensava algo, mas nem sempre conseguia ler sua mente. Só via em seus olhos que era algo bom então respondi com um pequeno beijo.

O moço chegou com o bolo e fomos em direção ao orfanato.

Todos já estavam dentro da sala e então fomos aos dormitórios buscar ela, que estava jogando videogame com uma amiga.

— Até que enfim vocês chegaram! — Ela disse largando o controle e correu em nossa direção.

Nós tínhamos decidido que iríamos aprontar com ela para levá-la a sala, onde estava a surpresa.

— Onde estão meus presentes?

Roman olhou sério para ela.

— Você talvez irá recebê-los depois que guardar sua lancheira que você deixou na sua sala.

— Eu não deixei não.

— A tia Michelle disse que sim. — Confirmei o que Roman havia falado para que ela fosse em direção a sala.

— Vocês poderiam ser mais legais comigo. Hoje é meu aniversário.

Eu e Roman nos olhamos e quase rimos até que ela abriu a porta da sala, que revelou todos lá dentro com direito a estouro de papéis picados e um parabéns super animado com seus colegas e nós, sua família.

Ela gritou de felicidade e abraçou seu pai aos choros. O que me fez chorar, mas tentei disfarçar o choro de felicidade.

Nada me transbordava mais do que esse amor dos dois para com eles e comigo. Eu poderia viver o resto da vida apenas observando-os.

Eles se desgrudaram e ela então veio até a mim, limpou meu rosto e deu um beijo em meu rosto.

— Obrigada por tudo, tia. Eu te amo.

A olhei e vi a sinceridade e a pureza nos seus olhos infantis.

— Também te amo, minha bebê.

Ao abraçá-la, ela sussurrou.

— Eu tenho 9 anos agora. Sou uma criança, não mais um bebê.

Rimos e eu dei um beijo em seu rosto.

Aubree partiu o bolo, dando seu primeiro pedaço para seu pai e depois para mim.

Ela ficou muito animada ao conhecer Sawyer e Simon, o bebê de Reade e Sarah e foi muito mimada por nossos colegas, principalmente por Patterson e brincou bastante com ela e seus colegas do orfanato.

Todos estavam divididos pela sala comendo e vi Reade com Simon nos braços.

— Olá, garotinho. — Disse animada e Reade segurou sua mão, fingindo um aceno.

— Essa é sua madrinha, Simon. — Ele disse e eu o olhei. — Se você aceitar.

— Claro que sim! — Respondi com felicidade. — Será que a madrinha pode pegar um pouco?

— Claro que sim. — E me passou a criança.

Simon tinha o mesmo tom de pele de Reade, mas quase todos os traços de Sarah. A mandíbula era parecida com a de Kurt, traços da família Weller.Eu acariciei seu rostinho enquanto o observava encantada. Sempre que pegava um bebê nos braços imaginava como ele era antes, como era apenas um conjunto de células e então se tornava uma pessoa com o sopro da vida e do tempo.

Me perdi observando-o até que Roman sussurrou em meu ouvido.

— Já treinando pros nossos?

Me assustei, mas ri com deboche.

— Quer treinar também?

Reade nos observou e acenou que sim quando Roman o olhou, pedindo a aprovação.

— Você não ta grávida não, né? — Perguntou logo que encostei ao lado dele para comer e observava Roman um pouco desengonçado segurando o Simon.

— Não. É apenas uma sacanagem do Roman. Ele quer dois filhos além da Aubree.

— Ele ficou uns bons minutos parados observando vocês.

— Eu senti. — Olhei bem séria para a cara do Reade. — E eu gosto tanto dele que até cogito e quero ter isso um dia.

Corei um pouco e então Reade sorriu.

— É bom te ver pensando em formar uma família, de qualquer modo.

— Não é nada para agora.

— Que seja no tempo que vocês acharem melhor, mas fico feliz pela minha melhor amiga ter substituído o coração de aço dela por um coração de carne mesmo.

Respondi com um sorriso e ele então passou o braço pelo meu ombro, me dando um abraço de lado.

Roman se aproximou quando Simon começou a chorar.

Sarah apareceu e deu de mamar a ele em seguida.

— Oi Roman! — Ela começou bem animada enquanto pegava seu filho. — Fico feliz que você e Tasha estejam juntos. Eu sabia que minhas suspeitas desde o casamento não estavam erradas.

Roman ficou corado, mas respondeu.

— É, vocês estavam certos quanto a mim e a Tasha desde o começo.

— Quer dizer que o próximo casamento é o de vocês, então?

Todos nós rimos e eu então rebati.

— Quem sabe?

Continuamos rindo e Roman aproximou-se de mim e me abraçou

Aubree estava brincando com Sawyer e Patterson; Jane e Kurt os observava sorrindo.

Todos estavam conectados de alguma forma e juntos nós formávamos uma grande família. Sorri ao pensar nos primeiros dias de Quântico, quando conheci Kurt, Patterson e Reade e agora éramos essa grande família.

Abracei o Roman e o beijei, e mesmo sem ele saber, agradeci pela grande graça que era fazer parte daquela grande família com ele.