Quatro caras e Alex escrita por Cellis


Capítulo 8
Quatro caras, Alex e o resfriado


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos. Trouxe um capítulo feito com muito carinho (parcialmente para compensar o atraso), então, espero que gostem.
Boa leitura.



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Durante toda sua vida, foram raros os momentos em que Billy havia se sentido tão nervoso como naquele, especificamente. Bem, sentiu-se assim quando andou de bicicleta pela primeira vez. Quando precisou apresentar seu primeiro seminário, também. Ah, quando precisou extrair um dente siso. E também teve a vez em que... Enfim, talvez esses momentos não fossem tão raros em sua vida, mas como qualquer bom ser humano, ele considerava o mais recente sempre o pior — e, nesse caso, o mais recente também poderia ser chamado pelo nome de pedido de namoro, ou melhor, o primeiro pedido de namoro de sua vida. Sim, ele nunca havia pedido uma garota em namoro. Agora que acabara de perceber tal fato, sentia-se ainda mais nervoso. Ótimo, um ponto a menor para sua masculinidade, dez a mais para a vida.

Descendo as escadas do sobrado apressadamente, ele checava o relógio a cada dois segundos. Por Deus, por que o maldito tempo demorava tanto a passar? Ainda faltava mais de meia hora para seu encontro com Julie e o restaurante no qual se encontrariam ficava há três quadras dali, ou seja, seria um percurso de no máximo dez minutos. Além de, claro, os minutinhos extras que precisaria esperá-la, pois a mulher estava sempre um pouco atrasada. Sorte que ele gostava muito dela, pois achava esperar uma ação extremamente desconfortável.

Ele gostava muito dela. Mais um fato que ele acabara de admitir para si mesmo. Nervosismo, eis aqui o seu próximo ponto, entregue de bandeja.

Secando as mãos na sua calça jeans mais nova, Billy encarou o sofá como se encarasse a infinidade do universo. Por que tinha que ser justamente o oposto de seu irmão, um dos seres humanos mais confiantes que ele conhecia? Bufou, parcialmente frustrado, e jogou-se sobre uma manta colorida embolada no sofá.

— Ai! — exclamou a manta, o assustando.

Finalmente percebendo que sob a coberta havia uma pessoa, ele se levantou. Debaixo da mesma, surgiu uma Alex com os cabelos mais bagunçados da Terra, olheiras nos olhos e uma expressão dolorida de cansaço.

— Alex? Você está bem? — perguntou, confuso.

— Maravilhosa. — respondeu, num resmungo. A voz dela parecia com a de uma transexual que Billy havia conhecido no trabalho.

Reparando bem, ele pode ver pequenas gotículas de suor em sua testa. Considerando o fato de que ela havia surgido debaixo de uma manta mais grossa do que seu melhor casaco de inverno, isso não parecia ser bom.

— Você está com febre? — sua interrogativa era, agora, preocupada.

— Possivelmente. — outro resmungo. — Culpa daquele bastardo roliço que espirrou no meu uniforme, noite passada.

Billy segurou uma risada involuntária e agachou-se próximo à ela, que estava deitada.

— Deixe-me ver se você está quente. — disse, esticando as costas da sua mão direta na direção da testa de Alex.

— Está bem, mãe. — ela respondeu, sorrindo ao implicar com ele.

Billy riu, porém se surpreendeu quando encostou em sua testa.

— Alex, você está fervendo. — constatou, espantado.

— Não é nada de... — de repente, ela se auto interrompeu. Ergueu o indicador, seguido por uma careta.

Quando ele percebeu o que estava por vir, já era tarde demais. Alex espirrara todos os fluídos, germes e gotículas presos em sua garganta diretamente no rosto dele. Atônito, ele se levantou rapidamente, exclamando palavras estranhas e limpando o rosto na manga de sua camisa.

— Meu Deus, Billy, me desculpa. — ela disse, embolando as palavras e tentando inutilmente se sentar. Seus músculos doíam como se ela tivesse sido atropelada. — Foi sem querer, de verdade.

Depois de mais meia dúzia de palavras incompreensíveis, ele a encarou, arregalando os olhos ao ponto de quase colá-los em sua raiz capilar.

— Remédios. — disse, antes de começar a vasculhar cada canto da casa, literalmente. —  Eu preciso de remédios.

Alex o encarou, franzindo o cenho.

— Primeiro, obrigada pela parte que me toca. — disse, sentindo-se ofendida por ele estar procurando remédios para si mesmo e não para ela, a verdadeira doente da história. — Segundo, só porque eu espirrei em você, não quer dizer que você vá ficar doente.

— E como foi que você ficou doente? — durante um segundo, ele pausou sua busca para encará-la, indignado.

Foi a vez dela arregalar os olhos.

— Eu sou roliço que espirrou em você! — exclamou. — Está bem, mas isso também não é motivo para entrar em pânico.

— Eu estou prestes a pedir a Julie em namoro. — confessou, abrindo gaveta atrás de gaveta, na cozinha. — Planejei um encontro perfeito, ela vai dizer sim, nós teremos a noite perfeita e nada disso vai acontecer se eu ficar espirrando na boca dela!

Own, que fofura. — disse, ignorando o fato que ele realmente precisava respirar entre monólogos. — Quero dizer, a parte do pedido, não de espirrar na boca dela.

Percebendo que continuaria sendo ignorada por Billy até que ele encontrasse um maldito remédio, ela suspirou fundo, dando-se por vencida. Remexeu-se no sofá, tirando debaixo de uma das almofadas uma cartela de pílulas amareladas.

— Aqui. — estendeu a cartela na direção dele, que finalmente parou para fitá-la.

— Você estava com isso o tempo todo? — indagou, levemente irritado.

— Você quer a droga do remédio ou não? — rebateu.

— Desculpa. — disse, envergonhado. Pegou calmamente a cartela, em seguida uma garrafa de água e se sentou ao lado dela no sofá, novamente. Com apenas um gole, ele havia engolido a pílula. — Obrigado.

— Bem, eu sou o seu roliço, afinal de contas. — deu de ombros, o fazendo rir.

— Você já tomou o remédio? — perguntou ele, devolvendo-lhe a cartela.

— Sim.

De repente, passos apressados e pesados foram ouvidos na escada, atraindo a atenção dos dois. Um Carter enrolado em um roupão felpudo rosa e de aparência não muito boa surgiu na entrada da sala, com os olhos arregalados.

— Alguém disse remédio?! — perguntou, mais alto do que o necessário.

— Vocês usaram drogas na faculdade? — perguntou Alex, intercalando o olhar entre os dois. — Porque, sinceramente, estão parecendo viciados em meio a uma crise de abstinência.

— Você está doente? — indagou Carter para Alex, soando acusador. Levou apenas alguns segundos para ligar os fatos, sem ao menos dar a ela o direito de resposta. — Então você é a culpada por trazer essa doença para o nosso lar livre de germes!

— Sim, eu sou o maldito roliço! Desculpem-me! — exclamou chateada, voltando para debaixo de sua manta.

— Ela é o que? — sussurrou Carter para Billy, que deu de ombros.

— Longa história.

Quando finalmente percebeu que estava cercado por dois doentes, Billy se levantou num pulo, fazendo com que Alex emergisse de sua coberta com uma careta, novamente.

— Vou indo nessa. — disse, dando passos em direção à porta, mesmo que ainda estivesse de costas para a mesma. — A última coisa que preciso agora é pegar... o que quer que isso seja.

— Boa sorte! — desejou Alex do sofá, com um sorriso que saiu um pouco assustador, devido a sua fraqueza. — E, por favor, não espirre na boca dela.

— O que? — perguntou Carter, ainda confuso, acompanhando Billy com uma cara de nojo.

Preparado para se ver livre daquele antro de germes, Billy virou-se na direção da porta. Surpreendeu-se ao trombar em algo um pouco maior do que ele, porém que parecia furioso. Não precisou olhar duas vezes para saber quem era.

— Você! — exclamou Will (as pessoas estava fazendo muito aquilo hoje), apontando para Alex, que automaticamente se encolheu no sofá. Aquela seria uma boa hora para voltar para baixo de sua manta colorida. — Você me deixou, literalmente, doente!

— Você também? — perguntou Will, encarando a face bagunçada de seu irmão. Aquilo no nariz dele era catarro? Eca. — Mantenha distância de mim.

Desviando rapidamente de Will, Billy só se sentiu seguro o suficiente para respirar quando bateu a porta do sobrado atrás de si, sentindo-se aliviado por se encontrar do lado de fora. Antes de se afastar, pode ouvir Alex pedir, mais uma vez, desculpas por ser o roliço da casa.

Ah, como ele adorava ter amigos normais que realçavam a sua confiança. Agora sim ele se sentia pronto para pedir uma garota em namoro pela primeira vez.

 

***

 

Uma das primeiras perguntas que Alex fez para si mesma, após se mudar para o sobrado, era de onde surgia tanta louça suja naquela casa. Semanas depois, enquanto ouvia sua playlist dançante em seu fone de ouvido rosa e se remexia de um modo levemente constrangedor à beira da pia da cozinha, Alex ainda fazia, mentalmente, a mesma pergunta. Depois de lavar uma pilha de pratos e mais outra de copos, ela acabou deixando as perguntas de lado e se rendendo ao som de Despacito.

Malditas músicas que colam no cérebro como carrapato.

— Ótimo trabalho. — a voz brincalhona atrás dela a fez rir. Não precisava se virar para saber que um Rayan sem camisa, deixando à mostra seus músculos trabalhados, comia feliz uma maçã e a encarava enquanto lavava a louça.

— Alguém tem que fazer, certo? — retrucou Alex, secando as mãos em um pano de prato. Em seguida, tirou os fones e os colocou de lado.

— E é por isso que a gente sentia a sua falta antes mesmo de você se mudar para cá. — disse, sentado à mesa desleixadamente e, como Alex já esperava, comendo uma maçã vistosa que provavelmente era importada.

Naquele momento, antes que ela pudesse rebater, os três outros rapazes entraram pela porta da frente. Billy, o primeiro a pisar na casa, trazia consigo um sorriso de orelha à orelha; Will, logo em seguida, parecia exatamente o oposto e Carter, por sua vez, estava focado demais em suas sacolas de compras para qualquer outra coisa. Foi então que Alex percebeu que não via o mais novo há quase três dias e que, provavelmente, havia estragado o seu encontro.

— Billy! — exclamou quando o mesmo se aproximou. — Como foi? Por favor, diz que foi tudo bem e que eu não fui o seu roliço.

Ele riu.

— Primeiro, você precisa respirar entre as palavras. — disse. — Segundo, sim, você me fez ficar doente e sim, eu acabei contaminando a Julie. Porém... — de repente, pausou.

— Nós perdemos um soldado. — indagou Will, interrompendo a pausa dramática do irmão e recebendo em troca do mesmo um olhar de reprovação.

Alex franziu o cenho, quase encostando uma sobrancelha na outra. O que diabos um soldado tinha haver com a história?

Notando a sua confusão, Rayan pigarreou, chamando a atenção dela para si.

— Alex, ela disse sim. — ele esclareceu, terminando sua maçã.

Finalmente entendendo, o sorriso de Alex copiou o de Billy.

— Sério? — ela perguntou.

— Sério. — respondeu ele, no mesmo tom.

De repente, ela estava exclamando palavras aleatórias e pulando nele, agarrando em seu pescoço para não cair. Mesmo surpreso e levemente sufocado, Billy retribuiu o abraço, apenas feliz por ter uma cupido tão boa. Afinal, nada daquilo — Julie — não teria acontecido se não fosse por ela.

— Obrigado. — sussurrou ele em seu ouvido.

— Ah, eu estou tão feliz por você. — disse, bagunçando o cabelo já bagunçado dele. Soltou-o, deixando com que ele respirasse novamente. — E estou tão feliz que estamos tendo esse momento com todos curados.

Alto lá! — Rayan interrompeu o momento, levantando-se. — Eu não estava doente.

— Como não? — perguntou Alex. — Até Carter, que quase nunca está em casa, eu acabei contaminando.

Dito isso, Carter finalmente largou suas sacolas no chão e decidiu participar da conversa.

— Então foi você?! — indagou, inconformado. — Eu passei dois dias inteiros espirrando na nova coleção de Outono por causa de você!

Droga, ela realmente precisava começar a filtrar as palavras que saiam de sua boca.

— Enfim, — continuou Rayan, salvando a pele de Alex — é isso que você ganha quando se cuida. Uma saúde de ferro.

— Metido. — sussurrou Will, porém alto o suficiente para ser ouvido por todos.

— Invejoso. — rebateu.

— Pessoal. — chamou Billy, apaziguando a situação. — Eu tenho uma namorada e é um lindo dia. O que acham de sairmos para comemorarmos?

Nesse momento, os quatro o encararam, estranhando a situação.

— Você está bem? — perguntou Carter, franzindo o cenho.

— Estou ótimo! Por quê?

— Porque são três da tarde e você quer sair para comemorar. — respondeu Will, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Você sabe que isso precisa envolver bebidas alcoólicas, certo? Se não, não é uma comemoração.

— Vocês que bebam o que quiserem, não me importo. — respondeu, feliz até demais. — Na verdade, podem até escolher para onde vamos.

Mais olhares confusos.

— Você vai pagar? — insistiu o irmão mais velho.

— Não força a barra, cara. — respondeu Billy, mais sério.

— Não custa nada tentar, oras. — deu de ombros, ainda assim satisfeito por estar prestes a sair para beber.

— Eu também posso ir? — perguntou Alex, timidamente.

Sorrindo, Billy se aproximou dela e pousou uma mão sobre seu ombro esquerdo.

— Você é a minha convidada de honra, Alex.

De repente, a mulher parecia criança de frente para uma árvore de natal rodeada por presentes pela primeira vez.

— Então vamos! — exclamou, passando a frente dos rapazes.

— Vamos. — concordaram, em uníssono.

— Só me deixem pegar a minha... — iniciou Rayan, porém, se auto interrompeu logo em seguida, como se lhe faltasse ar. — Minha... — fez uma careta, erguendo os ombros. Alex conhecia aquela cara e sabia o que estava por vir.

Um espirro. Não qualquer um, mas o espirro. Ele havia, provavelmente, assustado metade da vizinhança. Os outros o encararam, segurando suas risadas em respeito ao homem com a saúde de ferro meia boca.

— Você não vai. — indagou Billy, já se afastando do amigo.

— Como assim? — rebateu, injustiçado. — Fala sério, pessoal! Foi só um espirro.

— Nunca é um espirro. — disse Carter, encarando Alex com um olhar acusador.

Antes que pudesse se defender, Rayan viu os amigos correrem pela porta da frente, deixando-o para trás. Quando ia protestar, outro espirro avassalador o interrompeu.

Merda.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Espero opiniões!
Até a próxima :)



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