Arabella escrita por Lua Reyna


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey! Essa one vai ajudar vocês a entenderem um pouco mais sobre a família do Noah (um dos protagonistas da minha long fic original, Contramão). Caso se interessem pela história, vou deixar o link nas notas finais.
Espero que gostem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/723871/chapter/1

Arabella encarou a parede, confusa. Não conseguia distinguir se o que estava sentindo era algo real, ou apenas coisa da sua cabeça. Tudo parecia ter se misturado dentro dela, formando um grande rodamoinho. Não sabia como havia se deixado chegar a aquele ponto. Não havia motivos para continuar, a vida havia pregado peças o suficiente nela para fazê-la entender isso.

Olhou para a fotografia da família, que guardava na cabeceira da cama desde o dia do acidente. O que sua mãe pensaria vendo a filha nessas condições? Com certeza, se sentiria envergonhada. Deveria ter sido forte, deveria ter ajudado seu pai a se restabelecer depois de tudo, deveria ficado ao lado de seu irmão, Noah, que tinha apenas oito anos. Ele não merecia passar por tudo aquilo, não merecia ver sua família desmoronar na sua frente, sabendo que não podia fazer nada.

Ela apenas chorava, dia e noite, enquanto seu pai se afundava em um poço de tristeza e bebida. Chegava tarde da noite, completamente desnorteado, quebrando tudo que via pela frente, e Arabella se escondia no quarto, sofrendo em silêncio.

Não queria demonstrar fraqueza, ainda tinha uma mísera esperança de que seu pai conseguisse seguir em frente, e conseguisse planejar um futuro, apesar de saber que não faria mais parte dele. Levantou-se, decidida. Não faria mais parte do futuro nem da vida de ninguém, nem ao menos teria uma.

Pegou o porta retrato e desceu as escadas, tentando não se desequilibrar. Fazia tempo que não comia nada que realmente ficasse em seu estômago. A sensação de tontura desfocava sua visão, fazendo-a ignorar todos os detalhes da pequena casa que havia passado toda a sua vida. O máximo que conseguia focalizar eram partes borradas do papel de parede florido que sua mãe havia espalhado por todos os cantos.

Encontrou seu pai na cozinha, tomando um café, com os olhos vermelhos e o remédio para dor de cabeça em uma das mãos. Arabella sorriu para ele, que ignorou completamente a presença da filha. A ressaca da noite anterior era visível em seu físico. Ele afastou a caneca, indicando que estava vazia.

Arabella a encheu sem que ele pedisse. Apertando o copo quente com força entre as mãos, com medo de deixá-lo cair, inalou o cheiro gostoso do café, e entregou-o ao seu pai, que pareceu surpreso com a atitude da filha. Ele pareceu pensar por um segundo no que fazer, então suspirou, pegando o café e levando-o aos lábios. Ele fechou os olhos por alguns segundos, enquanto Arabella o encarava com curiosidade.

— Filha, eu... – Parou. Como se pensasse no que deveria dizer a seguir, então continuou. – Não mereço... - Arabella sabia que ele não falava do café.

— Merece sim... É um bom pai, e ele precisa de você. — os olhos do pai estavam cheios d'agua, mas Arabella mantinha o sorriso no rosto, como uma máscara. — Eu te amo. — disse, depositando um beijo na testa do pai. Pela primeira vez nos últimos três meses, Arabella o viu sorrir. — Vai ficar tudo bem. — estava tentando convencer a si mesma mais do que ao pai. — Você e Noah vão ficar bem.

A menina deixou-o sozinho na cozinha, andando em direção ao quintal, enquanto o homem a encarava pelas costas. Quando ela havia crescido tanto? E onde ele estava parar não perceber isso, afinal? Suspirou, já sabendo a resposta.

Ainda com o porta retrato nas mãos, Arabella encontrou Noah sentado no balanço, contando um número a cada ida e vinda do mesmo. Ele comentou algo sobre seu desenho favorito, perguntou quanto tempo levaria para o jantar ficar pronto e a convidou para assistir à peça que faria na escola no dia seguinte. Arabella sentiu uma vontade absurda de desaparecer quando teve que dizer a ele que talvez não pudesse ir, porque talvez não estivesse em casa amanhã. A pior parte era o talvez era uma mentira.

Noah não estava satisfeito com aquela explicação, mas a menina apenas o abraçou e pediu para que tomasse conta da fotografia por ela. Ela caminhou por várias e várias ruas, tentando mudar de ideia. Tentando se convencer de que não precisava fazer isso, mas cada segundo que se passava ela se sentia mais fora de si, completamente absorta de qualquer pensamento.

Arabella subiu até o último andar de um dos maiores prédios da cidade, passando por todas aquelas pessoas de terno que provavelmente não viam sentido nenhum na própria existência. Observou tudo de cima, provando para si mesma que ela era algo insignificante, apenas uma poeira do cosmos, um ponto em meio ao universo.

Seus cabelos balançavam com o vento, suas mãos tremiam, lágrimas desciam descontroladas pelo seu rosto. Ela não conseguir controlar os próprios impulsos.

Em algum momento, se perguntou o motivo de estar fazendo aquilo. Todos iriam mesmo morrer, então porque adiantar o processo? Talvez justo pelo fato de se sentir com o processo nas mãos, quando na verdade, ela era quem estava nas mãos dele.

Era uma auto destruição racional. Era o desmoronamento de si mesma. Era a queda da sua consciência junto com a matéria. Era a única chance de provar que ela tinha o controle de sua própria ruína, mesmo que mundo fosse quem havia causado tudo aquilo.

Arabella virou notícia nacional. Seu corpo havia caído 23 andares até atingir o chão. No seu pulso, a palavra "liberdade", junto com cicatrizes antigas. Por um momento ela finalmente havia sido notada. Seu nome circulava em todos os jornais, com a grande incógnita que todos queriam saber. "Por que?"

 

Nós sempre fomos prisioneiros, mas a morte é livre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Se vocês quiserem saber o que aconteceu com Noah tantos anos depois, leia essa história:https://fanfiction.com.br/historia/718642/Contramao/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Arabella" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.