Flor do campo escrita por Triz Quintal Dos Anjos


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Aqui estou eu novamente. Caso tenha algum leitor meu se perguntando o que raios estou fazendo postando outra história ao invés de terminar as que já comecei, aqui vai uma explicação plausível: BLOQUEIO CRIATIVO.
Sim, todo esse tempo sem postar foi por isso e esse conto, além de uma degustação de uma futura história, é uma tentativa de me livrar dessa praguinha que nós escritores temos que aguentar de vez em quando.
Olha, eu acho que funcionou, mas só vou saber depois que postar isso aqui, tomar meu café e ir tentar terminar meus capítulos.
AOS LEITORES NOVOS: SEJAM MUITO BEM-VINDOS!
Espero que eu não os decepcione! Mas vamos logo com isso, boa leitura!



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“Colhe a alegria das flores da primavera e brinca feliz enquanto é tempo. Sempre haverá os dias em que chegará o inverno e não terás o perfume das flores, nem o sol, nem a vivacidade das cores.” - Augusto Branco

                                       

Áurea Rosabella Beaumont, a filha de Amélie Beaumont, era, sem dúvidas uma flor de menina. Tão única quanto a rosa com a qual um cavalheiro presenteia uma dama, tão bela quanto uma dália e tão delicada quanto uma orquídea.

  Nascida na primavera, a mocinha era tão bela quanto a estação. Seus grandes e brilhantes olhos castanhos carregavam sempre um quê de curiosidade, tinha os lábios avermelhados pequenos e carnudos, sua pele era branca como o leite, os fios de um loiro escuro caíam em cascatas sobre os ombros; lisos até cerca de dois palmos abaixo do queixo, onde começavam a ondular-se para, nas pontas, formar grossos e lindos cachos.

  Contudo, imagine só o azar da jovenzinha, ao ser filha de mãe solteira.

  Felizmente o bondoso duque de Devonshire havia acolhido a ela e á sua querida mãe em sua enorme casa, onde viviam bem, na medida do possível.

  Amélie trabalhava para a família McCabot desde o nascimento de sua pequena Áurea. Era a governanta e, desde os primeiros dias em Berks, teve de aguentar a pequena Elizabeth McCabot, a única filha do duque e de sua esposa, a duquesa Katherine McCabot.

 A questão é que Elizabeth estava longe de ser um anjo. Com os cabelos afogueados, mais parecia uma diabinha, e isso não se devia só á sua aparência. Na verdade ela era a criança mais terrivelmente cruel que alguém poderia conhecer. O completo oposto de Áurea, que nem sempre entendia quando Elizabeth a tratava mal.

  Por vezes Amélie teve que consolar a filha, que pensava que a única amiga que tinha não gostava dela, o que era uma meia verdade.

—Não se preocupe, chéri! Lembre-se do que a mamãe lhe contou, as estações influenciam na personalidade das pessoas. Elizabeth nasceu no outono, é normal que ela seja assim, mon  amour. – Dizia Amélie, que ainda não havia perdido totalmente seu sotaque francês.

  A mulher nunca havia acreditado totalmente naquela história que seu pai costumava lhe contar, mas após o nascimento de Áurea e, alguns meses mais tarde, o de Elizabeth, ela não poderia negar que aquela crença estava corretíssima.

  Enquanto sua filha era meiga e transmitia sua felicidade de uma forma impressionante, Elizabeth era muitas vezes seca, fria e melancólica. É claro que o tom alaranjado dos fios da menina McCabot só faziam Amélie ter mais convicção de que havia, sim, um pouco da essência do outono naquela criança, assim como havia um pouco da essência da primavera em Áurea.

  Porém o mais impressionante, sem dúvidas, era que, na maior parte do tempo, as meninas costumavam se dar bem. Eram muito próximas e nunca se desgrudavam, a não ser, como foi citado anteriormente, quando Elizabeth não estava em um dia muito bom e acabava por brigar com a amiga.

  O duque, William McCabot, acreditava ser ciúmes da atenção dada á Áurea, pois todos que conheciam a menina Beaumont se encantavam com tamanha amabilidade. Até mesmo a Sra. McCabot nutria alguma afeição pela jovenzinha, que era estranhamente parecida com William. Por esse motivo Áurea era tratada como parte daquela família e era imensamente feliz por ter sido agraciada com tamanha oportunidade, mesmo que não compreendesse muito bem o quanto havia sido sortuda.

  Gostaria de poder contar que Áurea cresceu como uma McCabot, que foi muito amada pelos moradores daquele lugar e que fora feliz por toda a sua infância.

  Todavia não foi assim que aconteceu.

  Em uma tarde fria de outono, após ter brigado mais uma vez com Áurea, Elizabeth McCabot pôs-se a procurar a governanta.

  Ninguém me dá atenção, ela se queixava mentalmente, enquanto andava com os bracinhos cruzados e a cara amarrada. Elizabeth não conseguia suportar o quanto Áurea sempre era o centro das atenções. Era como se ela não existisse! Como se Áurea, sim, fosse a filha dos McCabot e não ela.

   Mas ela era muito mais bonita que a menina Beaumont, pensou, isso ninguém poderia negar. Ela tinha cabelos ruivos, enquanto os de Áurea eram de um loiro estranho; ela tinha olhos azuis, enquanto a outra tinha olhos terrosos, comuns demais. Sim, sem dúvida, ela era muito melhor que Áurea, ela era mais bonita e mais inteligente. Além de que era a filha de um duque, enquanto a outra era a filha de uma mãe sem marido.

  Com o tempo todos enjoariam de Áurea, assim como ela enjoava de suas bonecas. E quando isso acontecesse perceberiam que Elizabeth era quem deveria ser paparicada.

  Ao passar pela biblioteca, a menina ouviu vozes e abaixou-se para ouvir a conversa através da pequena fresta aberta. Logo viu que era seu pai e a Srta. Beaumont que discutiam. Elizabeth ficou com medo que seu pai a mandasse embora, gostava muito de Amélie e, apesar da briga recente, de Áurea também.

—Will, eu não posso sustentar essa mentira! Áurea se parece mais com você a cada dia! As pessoas estão desconfiadas. – Disse a Srta. Beaumont, inconsolável.

  Elizabeth não entendeu. Qual era o problema de Áurea se parecer com o pai dela? Duas das amigas de sua mãe também se pareciam muito e ninguém achava estranho!

  O duque negou, ele também parecia preocupado. A pequena voltou a prestar atenção nos dois.

—Eu prometi que daria a ela uma boa educação, mélie, e eu darei. Nossa Áurea crescerá como uma nobre e conseguirá um ótimo casamento quando chegar a hora, eu prometo.

  Nossa? A menina ficou confusa, mas preferiu continuar ouvindo.

—Will, me escute, é arriscado demais...

  Elizabeth só vira uma pessoa chamar seu pai de Will, e essa pessoa era sua mãe. Por que a Srta. Beaumont o chamava da mesma forma?

— NÃO! – Seu pai gritou, antes que Amélie pudesse terminar.

  Elizabeth se assustou e, enquanto seu coração pulava amedrontado, ela inclinou-se um pouco mais para a frente.

—Eu não poderia me acostumar a viver longe dela, mélie, longe de você. –  Continuou o duque.

   Pela forma como a voz de seu pai tremia, Elizabeth deduziu que ele estava chorando. Ela nunca vira seu pai chorar, na verdade, achava que os adultos nunca choravam. Ela chegara a pensar que eles não tinham motivo para fazê-lo. Nunca havia visto um adulto com um joelho ralado, e nunca tinha ouvido falar de um adulto que perdera seu brinquedo favorito. Então por que ele chorava? Talvez, pensou Elizabeth, ele tivesse brigado com seu melhor amigo. Ou melhor amiga, afinal era com Amélie Beaumont, a governanta,  que ele conversava.

  Algo estranho aconteceu em seguida, algo que fez a menina abrir a boca numa exclamação. Seu pai aproximou-se da Srta. Beaumont e beijou-a. Elizabeth não entendeu, mas antes que pudesse pensar muita coisa ouviu passos atrás de si e então viu a mãe, ao seu lado, estática vendo aquela cena.

  Naquele instante, a menina teve absoluta certeza de que algo estava muito errado.

  Enquanto isso, sentada na varanda daquela mansão, Áurea observava as nuvens no céu. Elas estavam escuras e isso a deixava ainda mais triste.

  Ela sempre se sentia feliz ao ver o sol quando levantava pela manhã, era como se tudo estivesse certo. Áurea sempre conversava com ele, o sol. Ele era seu melhor amigo. E quando ela não podia conversar com Elizabeth, era com ele que ela falava. No entanto, agora que a menina Beaumont precisava tanto dele, seu amigo a havia abandonado. E lá estavam suas grandes cortinas cinzentas, impedindo-a de vê-lo.

  Áurea suspirou e abraçou Mary, sua boneca, mais forte. Mary fora um presente de sua mãe. Tratava-se de uma simples boneca de pano, que a própria Amélie havia feito, mas para a pequena era um conforto. Uma forma de ela sempre estar acompanhada.

  E era esse o maior medo de Áurea: a solidão.

  As meninas tinham brigado por um motivo plausível, pelo menos para o tipo de discussões que crianças costumam ter.

   Áurea havia repreendido Elizabeth por ser tão desleixada com seus brinquedos. Era tão injusto, pensava a menina aloirada, que alguns tivessem tanto e outros tão pouco. Talvez se os mais ricos dessem um pouco de sua riqueza aos mais pobres, todos pudessem viver bem.

  Ela se lembrava da quantidade de presentes que a amiga costumava ganhar, todos muito caros e bonitos. Áurea guardaria aquelas preciosidades com sua vida, e ficava muito triste ao ver como a menina McCabot as desdenhava.

  Havia tantas meninas como elas que dariam tudo para ter algo tão básico quanto um prato de comida, quiçá uma das bonecas que Elizabeth jogava num canto sem qualquer cuidado.

  Por isso ela cuidava muito bem de Mary. Dava muito valor a tudo o que tinha. Até ao mais simples grão de arroz em seu prato.

  Áurea suspirou, talvez devesse ter guardado aquele pensamento pra si, ao invés de compartilhá-lo com Elizabeth. Ela sempre tivera tudo, Áurea pensou, nunca tinha visto ou ouvido sobre como as pessoas pobres sofriam. Não iria compreender.

  Logo o barulho de apressados passos chegou aos ouvidos de Áurea, que se levantou num pulo. Sua mãe a repreenderia por estar sentada no chão da varanda. Tenha modos, Áurea já podia ouvi-la ralhando.

  No entanto não se tratava de sua mãe.

  Em pouco tempo o corpinho franzino de Elizabeth surgiu numa confusão de babados e fitas que até seria engraçado, se aquele não fosse um dia difícil para as meninas.

  Finalmente Elizabeth tinha vindo fazer as pazes, pensou Áurea, mesmo achando esquisito, já que a amiga nunca dava o braço a torcer.

  Assim que recuperou o fôlego Elizabeth estufou o peito e caminhou até a mais velha com uma elegância e altivez desnecessárias. Seus olhos azuis cristalinos não pareciam mais tão amigáveis quanto costumavam ser.

  Áurea teve medo de que discutissem novamente, ela não queria perder sua única amiga e estava prestes a pedir desculpas, quando Elizabeth começou a falar.

—Você sabia que meu pai é seu pai também? – Indagou, com um tom de asco.

  A menina Beaumont ficou confusa. Ela entendera corretamente? Elizabeth estava falando que elas tinham o mesmo pai? Seria isso possível?

—Mamãe descobriu tudo. – Continuou, olhando-a como se Áurea não passasse de um inseto asqueroso. – Você não é apenas uma filha de mãe solteira, é uma filha ilegítima. Eu tenho vergonha de você! –Cuspiu.

  Áurea não compreendia o que Elizabeth queria lhe dizer. Ela nem conseguia manter a postura ereta, quanto mais saber o que significava ilegítima! Pela forma como a mais nova falava, não lhe parecia que fosse algo bom.

—Do que está falando? – Perguntou ingenuamente. – Você não quer mais ser minha amiga?

  Elizabeth revirou os olhos, dirigindo-lhe um olhar de desprezo. Em seguida pôs-se a rodear Áurea, analisando-a meticulosamente.

—Olhe para si mesma! – Exclamou com uma risada de escárnio. – Eu sou muito melhor que você, amiguinha. Olhe o meu cabelo ruivo, é muito mais bonito que o seu, com essa cor esquisita!

  A menina Beaumont apertou ainda mais a boneca contra si, ela estava triste, não gostava da forma como Elizabeth falava com ela. Onde estava sua amiga? Não era possível que aquela fosse a sua Elizabeth!

—E esses seus olhos sem graça? – Ela fingiu riso mais uma vez e Áurea se encolheu, querendo que aquilo acabasse logo. – Nunca chegarão perto da beleza dos meus! Eu sou a filha de verdade! Entende agora? – Debochou. – Eu jamais poderia ser amiga de alguém tão patética como você.

  E, com estas palavras, a ruiva arrancou a boneca das mãos da ex-amiga e jogou-a na terra, longe demais para que a estática garotinha loira pudesse reavê-la antes que a chuva começasse a cair.

  Foi naquele fatídico dia que, ao ver sua boneca sendo suja pela lama e sua única amiga entrando naquela mansão a qual um dia ela chamara de lar, que Áurea viu, pela primeira vez, a Elizabeth que todos temiam e detestavam.

  Foi também naquele dia que um certo rapazinho a viu pela primeira vez. O filho do duque de Sussex não conseguia acreditar no que havia acabado de ver. Como alguém poderia ser tão cruel?

  Ele teve pena da menininha loira. Queria ir até lá e falar com ela, mas nem a conhecia, nem sabia seu nome. Era melhor deixar aquilo de lado.

  Porém o rapazinho não pôde evitar correr até onde a boneca estava caída. Ele pegou o brinquedo, mas quando ia devolvê-lo para a dona, ela já não estava mais lá.

  Colin Underwood correu, antes que ficasse completamente ensopado com aquela chuva. Ele iria devolver a boneca para a dona. Não importava o quanto isso pudesse demorar.

  Mais tarde, naquele mesmo dia, Áurea recebeu a notícia de que ela e a mãe se mudariam para um condado distante dali e também foi quando descobriu que, realmente, era a filha do duque de Devonshire. Ou melhor, a filha ilegítima dele.

                                           


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Notas finais do capítulo

E então seus lindos, o que acharam? Essa foi só uma introdução básica pra vocês entrarem um pouquinho na vida da Áurea. Aliás eu queria deixar aqui o motivo de eu ter escolhido esse nome pra ela, se não quiser ler pule para o "ENTÃO":
"Áurea é o substantivo ou adjetivo feminino de áureo que descreve uma coisa feita de ouro, dourada, que brilha ou resplandece.
Em sentido figurado, áurea representa uma coisa magnífica, valiosa, brilhante."
ENTÃO, se preparem que no cap um acontece umas coisinhas... não vou contar vdbfvbdvdb Enfim, até o próximo cap!