Ontem eu chorei.

Chorei pela minha mãe, pelo meu irmão, pela minha amiga, pelo meu colega, pelo meu professor, pelo garoto de rua no semáforo, por mim, pelo os sussurros do passado e suas chicotadas de lembranças.

Chorei por todos aqueles que se deram conta que estão sozinhos e o calor que estavam sentindo eram eles mesmos, abraçando-se para não caírem, como os fracos fazem.

Chorei pelos que sofrem calados por não confiarem nas paredes que convocam e não são convocadas. Pelo vento que sussurrava continuamente e desesperadamente. Agora ele grita. Pelo cão que uiva e não recebe resposta.

Chorei por todas as almas penadas que perambulam buscando perdão nunca dado, nunca pronunciado. Pelos anjos fiéis e pelos traidores.

Chorei pelo mundo, que é um misto de choros, inclusive o meu.

Chorei pelo simples ato de chorar, pois os nós de segredos entalados na minha garganta agonizam em dor e imploram liberdade.

O choro continua. A dor também.

Hoje eu chorei.

E amanhã também chorarei.

E depois de amanhã. E depois. Até o mar dentro de mim evaporar.