As Crônicas de Reddie Hunter escrita por HunterPotterhead


Capítulo 36
Tretas? Todo mundo aqui é hippie




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— Você quer ver o meu caderno? – Sel perguntou olhando pra mim e eu assenti. Ela foi até seu quarto e eu me sentei no sofá de um jeito super feminino (só que não) e a Cupcake Blue desceu correndo com seu caderno e me entregou.

Sim, foi um apelido que pensei pra Sel. Ela amava cupcakes e tinha cabelo azul. Sei lá, só pensei.

Tão cedo não falo esse apelido em voz alta.

Era muito fofo, eu tinha de admitir. No fundo era preto e tinha um papel colado com fita adesiva escrito “wreck this journal”, várias estrelas coloridas foram coladas, um pisca-pisca preso, tinha também um adesivo de floco de neve de pedras brilhantes, um adesivo de sapo e estava amarrado com um barbante.

Era aquela decoração exagerada de criança que todo mundo achava adorável.

Dei uma folheada, com uma caligrafia de garrancho, mas dava para ler os nomes que Sel dava às estrelas, com eles, várias manchas de lágrimas. Suspirei, ela tinha um fardo tão grande dado pela vida, mas continua assim, tão bem humorada.

Talvez eu tivesse inveja de Sel. Eu não tive a mesma sorte dela de ter gente pra me apoiar.

As pessoas que me apoiavam que se foram.

Eu sabia que eu tinha mudado. Sabia que aquela garota que sempre sorria, bem humorada, apaixonada e que adorava fazer tudo quanto é loucura rindo havia desaparecido, toda aquela felicidade havia sumido. No lugar ficou um enorme vazio. E, bom, quem continuaria o mesmo depois de tudo que passei? Sel tinha Nicho como sua âncora. Mas eu não tinha mais a minha para resgatar meu antigo eu. Eu sou o que sou agora. Sarcástica, irônica, fria, eu não ligo para os sentimentos alheios, ignoro os meus, talvez isso seja o que acontece com pessoas quando elas não tem mais amor.

Dei mais uma folheada, tinha alguns desenhos mal feitos também. Sel disse que ia pegar um chocolate quente pra gente e eu continuei concentrada no caderno. Até que Jack resolveu se engraçar pro meu lado, sentando-se próximo demais de mim. Revirei os olhos.

— Espaço pessoal existe, sabia? Você está violando o meu.

— Hey Red, de 0 a 10, quais são as chances de você ficar comigo? – Ele perguntou sorrindo galanteador. Olhei pra ver se não era brincadeira.

Não, não era. Jesus amado. Mais um carrapato da vida pra me atazanar. Ser solteira tá ficando perigoso, viu? Suspirei. Um dia desses falo que virei lésbica.

— 11.

— Sério?

— Sério. Porque na escala de 0 a 10, 11 não existe e estas são as chances de você ficar comigo, agora vai cuidar da tua vida, infeliz.

Jack bufou e revirou os olhos. Senti vontade de encher seu saco. Bom, ele veio encher o meu primeiro, então por quê não, certo?

Ai, ai, por que é mesmo que eu tô querendo encher o saco de um cara que brigou com a Sel 30 minutos atrás?

— Que foi? Tá de TPM por acaso? Ah, já sei, te deixei triste, o pobrezinho não consegue levar um não? Ai que dó.

— Não me provoque.

— Por quê? O que acontece? Vai me explodir? Ui, que medo.

Ele se levantou já respirando pesado. Está aí uma pessoa com pouco auto controle. Mas se ele quer briga, briga ele terá. Não sou eu quem vai dizer não. Me levantei também e tirei minhas pantufas (Dicas da Sel). Avaliei minhas chances. Se fosse um combate corpo a corpo, eu não teria lá essas chances, mas eu estava armada como sempre. Sorri de canto ao constatar o fato, sentindo a adaga presa na minha cintura.

— Sua paciência é bem curta. – Zombei, eu mal havia me recuperado de uma luta e já estava arranjando outra. É. É meu jeito de ser.

— Me provocou? Agora aguenta.

— Acredite, eu aguento. Você não é nada demais – Ele ia responder, mas a primeira coisa que pensei foi “Ataque primeiro”. E eu sempre sigo minha intuição.

 Sem aviso prévio dei um chute com força em sua cabeça, seguido de um murro no queixo que logo Jack quis retribuir, mas antes dele acertar meu rosto, num movimento rápido enfiei a adaga em sua barriga. Ele se regenera. Tanto faz. Ele ofegou e eu enfiei mais fundo olhando bem em seus olhos com um pequeno sorriso.

— Eu durmo armada. Só pra você saber.

Tirei a adaga dele e me virei, mas senti um forte chute me minha costela que me fez cambalear um pouco. Me virei e Jack me acertou um murro, ao avançar novamente seu punho, me agachei e dei um chute no local que a adaga cortara que provavelmente ainda não teve tempo de se regenerar completamente. Jack me deu mais um murro no rosto me fazendo cuspir um pouco de sangue.

— Não usa super força, seu maluco! – Sel gritou. Eu nem tinha notado ela lá com cara de cu com duas xícaras de chocolate quente.

— Eu já lutei com coisas piores – Dei de ombros e avancei para lhe dar um soco, porém ele segurou meu punho, mas assim que ele fez o movimento, soquei seu queixo com a mão livre, dei um salto e o chutei com as duas pernas na barriga fazendo Jack cair de costas no chão. Peguei minha adaga e com a ponta cortei desde a base de seu pescoço até a base de sua barriga.

— Me provocou? Agora agüenta. – Eu disse e ele rosnou.

— Você não é mais forte que eu! – Ele impulsionou suas pernas e me deu um chute no estômago me expulsando de cima dele.

— É aí que você se engana, eu não preciso ser mais forte, só mais esperta.

Me levantei e Jack também, havia ódio em seus olhos. Ele me deu dois murros seguidos, quando ia dar o terceiro segurei seu punho, ele ia usar o outro, mas também o segurei, levei toda minha força para as mãos para conseguir puxá-las para baixo fazendo seu corpo se inclinar e dei uma joelhada com tudo em seu rosto, pelo som, provavelmente quebrei seu nariz. Aproveitei e dei um chute no meio de suas pernas que o fez ofegar.

— Isso é golpe baixo.

— Não. Eu diria que isso é um golpe nos países baixos. – Dei mais um chute e seus joelhos fraquejaram um pouco. Jack me olhou meio psicótico e dei um sorriso de canto para ele.

Ele ia avançar com tudo, porém Sel interrompeu seu acesso de fúria o puxando pelo colarinho.

— Cara, por favor, colabora, porque se você tentar matar ela, eu vou te matar.

Dei uma risada enquanto Jack me olhava feito um demônio. Esse garoto tem sérios problemas de raiva. Ele foi pro outro banheiro, sua camiseta estava rasgada e ele ainda estava se regenerando.

É isso que dá dar em cima de mim

Fui ao banheiro e dei uma olhada em meu rosto. Tinha umas marcas roxas e meu lábio estava partido, além de um pouco de sangue escorrendo pelo canto do mesmo. Lavei minha boca finalmente me livrando do gosto metálico do sangue. Assim que sai do banheiro a porta de entrada se escancarou e uma Luna louca da vida e coberta de neve entrou gritando e sorrindo.

— E aí, meu povo?!

— Beleza? – Bryan entrou coberto de neve gritando e rindo também.

— Vocês estavam onde o dia inteiro? – Sel perguntou.

— Longa história, muito legal inclusive – Luna deu uma gargalhada.

Eu fui pra cozinha colocar um pouco de gelo no meu rosto para essas marcas não ficarem nele por muito tempo. Coloquei gelo no meu maxilar e soltei um suspiro de alívio, gelo sempre ajudava.

Tretas nessa casa? Imagine rapaz. Todo mundo é hippie good vibes. Já marcamos de ir vender miçanga na praia. 

— Está doendo? – Sel perguntou se aproximando – Eu posso...

— Não, não precisa, não dói mais, acho que de tanto levar murro minha cara amorteceu. Deixe pra lá. Impressão minha ou o Jack tem problemas de agressividade?

— Tem, mas quase sempre ele se arrepende depois.

Ela mal falou isso e Jack entrou na cozinha, seu nariz um pouco inchado voltando ao normal, (Yeah! Eu quebrei o nariz dele mesmo!) ele tinha trocado de camisa e tomado banho, já que aquela estava suja de sangue. Ele coçou a nuca um pouco constrangido. É pra estar mesmo, viado.

— Desculpa, eu me descontrolei um pouco.

— Nem, tá de boas, mas vê se não faz isso cada vez que uma garota te dá o fora.

— Você foi uma única exceção. Não tem uma garota nesse mundo que resista ao meu charme.

Jack? Folgado? Se achando o rei da cocada preta? Imagina. Que onda.

— Eu resisto numa boa. – Sel disse.

— Eu ignoro numa boa também – Luna colocou a cabeça para dentro da cozinha e entrou.

— Vocês estão de palhaçada com a minha cara – Jack revirou os olhos.

— Quer comer alguma coisa? – Sel perguntou a Luna e me entregou uma xícara de chocolate quente.

— Não, eu tô cheia. Eu e o Bryan ficamos presos dentro de uma padaria e enchemos a pança.

Arqueei a sobrancelha.

— Que porra...? – Perguntei.

— Depois que a gente saiu daqui, fomos pegar um trem para ir ao centro da cidade, só que aí, caiu uma nevasca da braba e nós... – Luna foi interrompida.

— A senhorita sem paciência aí! Porque eu tava de boas em esperar! – Bryan gritou e eu e Sel rimos.

— Tá, tá, eu fiquei sem paciência e decidi que a gente ia andando mesmo. Só que o cara que tava na porta não tava deixando, então eu dei um golpe ninja nele e ele meio que desmaiou. Saímos do trem e assim que chegamos ao centro ANDANDO, o trem chegou. Então descobrimos que era feriado lá e tudo tava se fechando e eu fiquei furiosa. Tipo. Eu andei até lá. Sabe como é difícil que eu ande pra algum lugar? – Ela disse indignada e rimos de novo. – Bryan, continue, preciso de água.

Bryan deu uma tossida fingida e continuou a história.

— Nós fomos pra uma padaria, só que não tinha ninguém lá. A gente deu uma olhada na loja e tal, mas quando voltamos a entrada... Tava fechada. A gente gritou, mas as outras lojas também estavam fechadas, tava meio que rolando um festival lá. Primeiro a gente ficou com medo, depois percebemos que estávamos numa padaria, e aí começamos a comer tudo porque a fome bateu. A gente tava quase tendo uma overdose de fermento quando o padeiro finalmente abriu a loja. Ele disse que ia processar a gente por levar ele a falência e eu disse que o erro foi dele por não verificar o estabelecimento antes de fechar e o chamei de incompetente e Luna deu um golpe ninja nele também e aí fugimos. Mas antes eu quebrei a câmera de segurança dele. Aí fomos para o centro de patinação, mas tava cheio demais, então a gente encontrou uma poça de água congelada e ficamos escorregando ali mesmo, mas aí o padeiro apareceu com a polícia e a gente teve que se esconder num monte de neve, depois disso desistimos e voltamos pra cá. – Ele finalizou dando de ombros.

— Resumindo vocês estão sendo procurados pela polícia de Londres. – Eu disse tomando mais um gole de chocolate quente.

— Ei, você resumiu de forma muito negativa nossa jornada emocionante.

— Para, Red – Ela me deu um tapa no braço de brincadeira e eu cuspi o chocolate. Que mão pesada da porra é essa? Isso doeu pra merda.

— Quê isso garota? – Olhei pro meu braço. Franzi o cenho. Tava o formato da mão de Luna afundado na minha pele. – Favor não me bater de novo.

— Que exagero – Luna olhou para suas mãos corando. – Foi fraco.

— Fraco? Me diga o nome da sua academia pelo amor de Deus.

— Deixa eu ver, Luna me dá um tapa forte. – Sel disse e estendeu o braço. Luna deu de ombros e deu um tapa forte no braço dela. Sel arregalou os olhos. Estava o formato vermelho da mão de Luna. E não tava voltando ao normal rápido como deveria. – Tu é uma mutante garota!

Eu acariciei meu braço que ainda estava vermelho, caramba, tava latejando essa merda.

— Luna, você quer explicar isso? – Eu apontei para o braço de Selena cuja mancha estava saindo bem devagar.

— Na academia ninja eu aprendi a concentrar toda a força do meu corpo em minhas mãos e pés. Só isso. Uma voadora minha é mortal. – Ela riu e eu arregalei os olhos.

— Hey, Nicho me falou que vocês vão fazer uma noite das garotas. – Bryan entrou na cozinha endireitando os óculos de armação preta. Eu nem tinha visto ele sair.

— Nós vamos? – Luna perguntou com os olhos brilhando.

— Sim, nós vamos. – Sel concordou sorrindo e elas ficaram dando pulinhos.

Que retardadas.

— Olha, eu sei o que acontece quando se contraria a Sel, mas... A gente pode pedir umas pizzas antes? Eu e os meninos estamos morrendo de fome.

— VOCÊ COMEU PRATICAMENTE METADE DAQUELE ESTOQUE SEU MALUCO! – Luna gritou indignada.

— Isso lá é motivo pra eu não estar com fome agora?

— Você tem uma lombriga no estômago, criatura. – Luna deu um tapa em sua testa e balançou a cabeça negativamente.

— Então, Sel... Podemos pedir umas pizzas, se não for incomodar? – Bryan olhou para Sel com cara de cachorrinho que caiu da mudança e uniu as mãos em gesto de suplica.

— Ok, eu não vou deixar vocês morrerem de fome.

Um sorriso brotou nos lábios de Bryan.

— Valeu – Ele correu para o telefone.

— Ele é tão educadinho. – Sel murmurou.

— É o jeito dele, mesmo vivendo uns dois anos comigo e Luna, ele ainda não ficou contaminado com a nossa loucura. – Ethan entrou na cozinha. Acho que ele estava no banho, seu cabelo estava molhado.

Me perguntei o quanto viria a conta de energia e água de Selena. Um monte de gente tomando banho demorado porque pelo amor de Deus toda hora a gente se suja de sangue.

— Já pedi. – Bryan anunciou e foi para a sala. Eu e Luna também fomos, eu queria assistir séries. O irritante da bagaça foi que assim que eu sentei no sofá, Jack começou a paquerar Luna descaradamente com cantadas baratas.

Mereço. Esse cara não desiste.

Olhei para o povo, Nicho estava indiferente (Se fosse a Sel eu queria ver se essa indiferença continuava), Aaron jogava no celular, Rafa lia um livro de feitiços, Ethan encarava rabugento a cena, mas dava um sorriso de canto ao ver que sua irmã só ignorava, mesmo ficando vermelho ás vezes, agora Bryan...

Bom, Bryan estava encarando furiosamente a cena como se quisesse estrangular Jack. Sua pálpebra estava tremendo um pouco. “Alguém está com ciúmes...” cantarolei mentalmente.

Bryan tinha uma coisa impressionante. Ele, mesmo com o piercing na orelha, cabelo bagunçado, conseguia ser fofo e adorável, mas com a cara que ele estava fazendo agora, conseguia mudar totalmente, parecia ser um bad boy de 19 anos. Qualquer um, nunca se chuta que o garoto tem 17.

Sel encarava de forma reprovadora Jack. Até que ela o puxou pelo pulso para seu quarto.

— Vem aqui, Jack querido... – Porque eu tenho quase certeza que esses dois vão descer rolando a escada se esmurrando? Ah é, é porque é óbvio. Eu nem estava perto de Bryan, mas ouvi seu profundo suspiro de alívio.

POV do Bryan

Sabe quando você sente que quer torturar lentamente a pessoa, e melhor ainda, ser o torturador dela no inferno pela eternidade? É o que eu estou sentindo agora. Será que desconfiariam de mim se Jack acordasse morto? Sabe, com um garfo na garganta?

Ei, não ia ser nada demais. E provavelmente também não iam desconfiar de mim porque tenho preguiça de tudo imagine matar alguém.

Até EU sei que tenho preguiça, nem levo fé de ir matar Jack, eu vou desistir na metade do caminho e ir dormir.

Balancei a cabeça tentando livrar ela dos meus pensamentos assassinos e a culpa me invadiu. Passei o dia inteiro com Luna e mesmo assim não falei do que sinto por ela.

E O PRÊMIO DE LERDO DO ANO VAI PARAAAAAA: SIM SENHORAS E SENHORES BRYAN WRIGHT! Dei um tapa na minha testa. A gente se divertiu tanto hoje. Meu dia estava sendo perfeito. Luna era tão divertida e determinada. Até agora. Agora tem um babaca paquerando a garota que eu gosto na cara de pau. Pelo menos ela ignora. Se correspondesse eu ia cavar um buraco, entrar lá dentro e não sair por uns bons tempos. Ou cometer uns assassinatos aí. Nada de mais.

Minha vontade era de levantar e esmurrar Jack. Mas eu sei que ele é bem mais forte que eu (embora eu ache que se eu o cortasse ao meio com meu sabre de luz ele não ia se regenerar tão rápido) e ia ser meio estranho eu atacar ele do nada.

Nem a pau que eu admito que tô morrendo de ciúmes. A culpa é minha. Eu que sou lerdo e até agora nem convidei ela pra nada.

Foi Luna que teve a ideia de passearmos pelo centro da cidade. Talvez eu devesse parar de pesquisar tanto sobre monstros e ir procurar um jeito de chamar uma garota pra sair. Tem 1001 tutoriais no Youtube pra me ajudar.

Se eu acho que serei retribuído? Claro que não. Luna me trata como seu melhor amigo. Era uma friendzone total. Se eu falar, é só por falar, é só por ser sincero e estou completamente de boas por ser rejeitado. Até porque não vou obrigar ela a gostar de mim.

E eu até tinha uma teoria do motivo dela não gostar de mim, mas não era nada confirmado. Ela sempre desmentia quando eu perguntava. Mas minha intuição dizia que era verdade.

Afundei os dedos nos cabelos aproveitando que Sel levou Jack para seu quarto. Eu sorri abertamente quando Sel e Jack desceram as escadas rolando e um esmurrando a cara do outro, sorri ainda mais ao ver a cara de Jack toda ensangüentada. OBRIGADO SELENA COOK! EU TE ADORO GAROTA! TE DEVO UMA!

Eu realmente não pude conter um sorriso ao ver ele naquele estado. Pensando bem, pra quê tentar conter? Vou é mostrar que tô mais que feliz de ver a cara dele toda arrebentada. Até ri da situação. Reddie arqueou uma sobrancelha, talvez ela nunca tenha me visto tão contente com a desgraça alheia. Mas é a desgraça alheia do cara que tava paquerando a minha bebê.

É um lance complicado. Eu sei que Luna não ia rir da minha cara, ela não é desse tipo, mas eu tenho medo que ela possa dizer “Desculpa, mas eu gosto de você como amigo”. E as palavras, ah, as palavras tornam tudo tão definitivo. Isso, meu amigo, seria fatal demais. Ser colocado na friendzone oficialmente seria tão triste. Tipo, seria o cúmulo da bagaça toda. Iria ferrar de vez pra mim. Ia ser tipo esfregar na minha cara um papel escrito “VOCÊ PERDEU ESSA SOLDADO”.

Balancei minha cabeça e fixei meu olhar em Sel ainda esmurrando Jack, isso me dava tanta satisfação, amo essa maluca a partir de hoje. É melhor eu olhar antes que a cara dele volte ao normal. Se bem que eu acho que ele fica bem melhor assim.

Ethan me contou que Sel é uma deusa nórdica, mas pra mim tanto faz, eu sempre acreditei e lidei bem com a existência de seres bizarros. Minha única reação depois que ele contou tudo foi dar de ombros. Meu lamento era não ter visto Sel arrebentando Jack desse jeito.  Por que tudo acontece quando eu saio? Mas beleza, perdi a treta, mas ganhei um dia com a garota que eu gosto. Tá ok. TÁ ÓTIMO! MUITO OBRIGADO SENHOR!

— Se considere avisado – Sel disse e saiu de cima dele. Que triste. Agora dá uns cinco, dez minutos e a cara dele volta ao porre normal. Revirei os olhos com isso.

Foi dito e certo. Depois de 15 minutos o infeliz voltou com a cara horrivelmente normal de novo. E o pior, continuou a paquerar Luna. Rangi os dentes para não atacar o desgraçado. A campainha tocou, deve ser a pizza. MINHA DEIXA DE NÃO COMETER UM ASSASSINATO! Meus olhos já estão sangrando com essa merda.

— Deixa que eu atendo – Dei um pulo do sofá nem parecendo o sedentário da vida que eu sou.

Abri a porta e cumprimentei o entregador pegando as quatro caixas de pizza.

— Deixa eu ver se tô com toda a grana... – Meti a mão no bolso e conferi o dinheiro, porém engasguei quando vi os olhos do entregador. Completamente negros.

Oh.

Acho que me fodi.

— Sério que não tem gorjeta? – O demônio indagou sorrindo – Que pena.

Dou um grito pra alguém me acudir? Saio correndo? Deito e rolo no chão? Sou corajoso uma vez na vida e dou um chute no miserável? Eu estava tentando decidir, mas meu tempo acabou quando uma fumaça negra saiu da boca do cara e foi entrando pela minha garganta. O cheiro de enxofre me deixou tonto. Eu não tinha mais controle do meu corpo.

Tem limites de lerdeza.

Eu superei agora os meus ao me deixar ser possuído tão fácil.

 O entregador arregalou os olhos voltando a si e saiu correndo e gritando. Senti o demônio sorrir maliciosamente ao ouvir a voz de Sel.

— Bryan! Que grito foi esse? – “Então o nome do magrelo é Bryan” eu ouvia seus pensamentos. Isso me deu um tique nervoso. Eu estava compartilhando minha mente com um demônio. Eu tinha que dar um jeito de avisar o pessoal.

Por mais que eu não quisesse, minhas pernas começaram a se mexer em direção a sala.


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