As Crônicas de Reddie Hunter escrita por HunterPotterhead


Capítulo 26
Cupidos são detestáveis


Notas iniciais do capítulo

Olha o capítulo grandinho aeee



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— Vamos, acorda.

— Me deixa dormir. – Resmunguei, me agarrando mais ao travesseiro.

— Tem doce de leite lá embaixo.

— Não tente aumentar meu colesterol pela manhã. – Ela bufou e me sacudiu mais. Fingi que não era comigo.

— Vamos tomar café, bora! ACORDA VEGETAL VERMELHO! – Ela berrou no meu ouvido me fazendo tomar um susto e caí da cama.

— Puta que pariu, Selena!

— Já falei pra não me chamar assim.

— Então também não me chame de vegetal vermelho, merda. – Resmunguei, meu traseiro estava doendo.

Melhor jeito de acordar. Estou amando minha estadia aqui. Vou dar 5 estrelinhas no Google.

— Acorda a Luna que eu vou tomar banho. – Ela riu e eu respirei fundo. Mereço.

Revirei os olhos e fui acordar Luna. Ela resmungou, abriu os olhos e foi ver o celular e aí direcionou o olhar pra mim.

— São seis e meia da manhã. Você quer morrer? – Ela me deu o dedo do meio e colocou a cara no travesseiro.

Parece que alguém perde a simpatia de manhã cedo.

— Acorda logo – A sacudi e ela se debateu.

— ME DEIXA DORMIR PORRA!

— Caralho, será que todo mundo resolveu berrar essa manhã? Cala a boca – Tampei os ouvidos rangendo os dentes. Aquela gritaria estava me dando dor de cabeça.

— Me obrigue a sair dessa cama.

— Desafio aceito. – A puxei pelo pé e Luna se agarrou na cabeceira – Caramba Luna, não seja criança!

Ela não iria ceder. Bom, eu não caí, mas talvez Luna caísse no truque de Selena.

— Ei, tem chocolate quente e nutella lá em baixo.

Ela bufou.

— Estou levantando – Resmungou e colocou os pés para fora da cama, seus cabelos bagunçados como os de um espantalho e esfregou os olhos. – Que vida de merda.

— Pensei que você era simpática o tempo todo.

— Não antes das oito da manhã. Ou quando eu vou dormir três da manhã. Ou em qualquer dia que eu não tenha tido oito horas de sono.

— Já tomei banho, podem ir. – Deixei Luna usar o banheiro do quarto de Selena, peguei minha mochila e fui para o do andar de baixo.

Tomei um banho e averigüei o ferimento no meu estômago. Ainda estava péssimo. Novamente lavei a ferida, passei mais remédio e cobri com curativos. O ideal seria descansar e não me mexer muito, mas não tem como isso rolar, então...

Coloquei uma camiseta de manga longa vermelha, uma calça jeans e coturnos pretos.

Quando eu ia saindo do banheiro, Selena subiu a escada com uma panela e uma colher de pau. Começou a batucar na aparentemente porta do quarto dos garotos gritando ACORDEM PREGUIÇOSOS. Me enganei. Tem jeito pior de acordar sim. Revirei os olhos.

Ela desceu as escadas ao som de resmungos dos meninos. Jack foi o primeiro a descer e ele e Sel trocaram olhares cúmplices.

Sinto cheiro de merda vindo por aí. Aos poucos geral foi descendo, com a cara amassada de sono e indo tomar café.

Bryan foi o último a chegar, ele estava sem óculos e deve ser por isso que estava olhando para a gente como se fôssemos um monte de borrões.

— Eu vou ficar aqui. E continuar dormindo. Só queria avisar isso. – Ele acenou pro quarto e já ia se virando quando Sel o chamou.

— Ah, não. Você vai com a gente.

— Moça, tá frio pra caralho. Eu quero dormir. – Ele gesticulou como se a ideia de sair às sete da manhã fosse insana.

— Te pago um lanche. – Ela revirou os olhos.

— Então penso no caso. – Ele se sentou na mesa e pegou os donuts com cobertura rosa e decoração de gatinho que tínhamos de café da manhã.

Só para ressaltar, dá pena de comer eles, mas Bryan, pra variar, estava com fome e comeu uns três enquanto tomava uma xícara de chocolate quente.

Eu tomava silenciosamente uma excelente xícara de café. Eles conversavam e interagiam, mas eu só falava quando Nicho me perguntava algo. Não estava a fim de fazer amizades. Até agora eu só queria saber o que eles acordaram tão cedo pra fazer, mas nada foi comentado além dos olhares trocados por Sel e Jack.

— Vocês vão? – Sel perguntou.

— Pra onde? – Pergunta de volta Ethan.

— Surpresa – Ela abriu um sorriso sapeca e se levantou.

Selena subiu nas costas de Jack e eles correram para fora da casa. Todos se levantaram e seguiram eles. Fiquei dois segundos na cadeira refletindo porque iria seguir uma dupla de malucos, e aí me levantei.

Na verdade Nicho que me puxou pelo braço e eu não tive escolha se não abandonar o dedinho de café que ainda iria tomar.

Selena distribuiu balões de água gelada e máscaras de personagens de Star Wars entre nós. Nos escondemos atrás de moitas. Eu estava boiando até que Selena arremessou um balão em um homem engravatado que estava indo ao trabalho.

Ah, entendi. Estavam jogando água gelada no inverno de Londres às sete da manhã em trabalhadores honestos que provavelmente vão chegar atrasados no trabalho e serão demitidos. Tadinhos.

Coloquei a máscara e sai atirando em geral. Foi mals ae povo. Se estavam esperando que eu fosse a racional, lembrem que minha cabeça não funciona muito bem. Bryan me dava cobertura, mas depois de jogar uns cinco balões, ele cansou e sentou debaixo de uma árvore congelada, se abraçando e reclamando do frio, aí pegou um Toddynho e um sanduíche do bolso do casaco e começou a comer.

Como é que essa praga ainda tá magra?

A gente continuou atirando com a trilha sonora dos xingamentos dos trabalhadores até que Selena fez a burrice de atirar num policial que vinha saber o motivo da confusão. E eu sou trouxa? Não sou, óbvio.

Pulei na hora numa moita gigante me escondendo e acabei caindo em cima de Ethan que soltou um gemido de dor.

— Cuidado onde sai pulando, caralho.

— É que você é tão insignificante que nem notei sua presença aí. Estava focando em não cair em cima da formiga ali.

— Mas se eu morrer você se importa.

— Só eu posso ter o prazer de te matar, Ross.

— Só falta a coragem.

— Falta tempo mesmo. – Vi Selena sumir na velocidade da luz e num segundo depois só haviam trabalhadores encharcados praguejando e nenhum mascarado na rua.

Isso rola todo dia cara?

O policial vasculhou tudo e quando estava chegando da moita em que eu e Ethan estávamos, tirei a máscara. Agarrei Ethan pelo colarinho e me levantei puxando ele junto. Ele ainda estava com a máscara. O policial nos avistou e eu peguei minha falsa, porém muito realista, carteira do FBI mostrando para o homem.

— Quenga desalmada – Sibila Ethan e pelos furos da máscara dava pra ver seu desespero em ser preso.

— Com licença senhor... – Fiz uma voz séria e com tom de repreensão, li o crachá dele – Bittencourt, mas sou do FBI e peguei esse meliante perturbando a ordem. Será possível que não conseguem prender um único vândalo?

— Eu... – Ele começou hesitante após ler minha carteira – Estava vasculhando a área.

— Pelo visto sequer é levado a sério – Apontei com a mão livre para a mancha de água enquanto a outra segurava um Ethan se debatendo achando que eu iria entregá-lo para a polícia. - Eu vou levar esse espertinho pra cela. Espero que esse erro não se repita, Bittencourt. Não se pode permitir a desordem numa manhã de segunda feira. É seu dia de sorte. Não irei falar de sua incompetência para o delegado.

Bryan ainda comia de boas seu sanduíche e seu Toddynho debaixo da árvore. O policial engoliu em seco e assentiu, saindo de perto da gente.

— Você sempre anda com uma carteira do FBI?

— Bom, a quenga desalmada aqui estava somente tentando salvar nossa pele.

— Eu pensei que ia me entregar!

— Não sou tão ruim, Ross. Você que é uma vadia.

Assim que o policial sumiu de nossas vistas, Selena desceu de uma árvore.

— Hora do Rafa! – Ela gritou e gesticulou para que a gente a acompanhasse.

— Rafa aqui, Rafa ali. – Nicho resmungou revirando os olhos.

Bryan se levantou limpando as mãos e limpando seus óculos com a camiseta preta que usava, nos seguindo de boas um pouco atrás do grupo e eu preferi ficar no mesmo ritmo que ele porque Bryan não fazia questão de me irritar ou puxar conversa, ele só era o Bryan, na dele, sempre com fome.

Sel e Rafa entraram num carrinho perto de uma ladeira.

Vai dar merda esta porra.

Revirei os olhos já imaginando a cena.

— Quem vai mais? A gente só tem um carrinho – Todos negaram. É, tô de boas aqui, moça. Não sou tão doente mental assim.

Nicho deu impulso e eles desceram ladeira abaixo gritando, perto do fim o carrinho bateu numa pedra, eles capotaram e suas caras foram raladas no asfalto. Eles começaram a rir e eu franzi os lábios para não rir também. Bryan não se segurou e engasgou com seu Toddynho enquanto ria da desgraça alheia.

Deixa eu explicar o motivo de não estar sendo normal pra vocês não acharem que eu tô de cu doce. Seguinte: Eu não quero que gostem de mim. Assim como não quero gostar deles. Não quero criar relações, vínculos, nada. Não é como se eu estivesse destinada a ficar sozinha, por mais que o destino pareça tentar esfregar isso na minha cara, mas é que se alguém aqui sofrer um arranhão por minha causa, só por me conhecer, eu sei que ficarei com o coração de chumbo.

Se não? Eu sei que conversaria com Ethan e tentaria ver se ele tem um lado menos irritante. Sei que puxaria algum papo nerd com Luna e Bryan. Ficaria falando de doces e armas com Selena. Conversaria sobre tudo com Nicho. Até tentaria conversar com Aaron, Jack e Rafa. Porque eles parecem legais.

E justamente por serem legais eu não quero que coisas injustas aconteçam com eles. Já basta a vida que ama ser injusta com pessoas legais, não precisa de mim colaborando. Só não quero machucar ninguém.

Eles começaram a descer a ladeira e eu vi um corrimão congelado, logo desci por ali, me arrependendo assim que cheguei ao fim. Porque minha bunda estava congelada. Sério. Meu traseiro tá muito frio. Comecei a bater os dentes.

— Parece que você fez xixi – Ethan começou a rir e eu olhei a parte de trás da minha calça, vendo que ainda por cima tinha molhado um pouco e parecia mesmo que eu tinha feito xixi, revirei os olhos – Aqui, toma.

Ele tirou sua jaqueta e me estendeu, franzi o cenho pra ele.

— Obrigada, mas você vai ficar com frio só pra eu não congelar minha bunda? – Vi que ele estava apenas com uma camiseta por baixo, e a neve estava caindo. Ele riu e deu de ombros.

— Não me importo. – Peguei o casaco e o coloquei, ficava tão grande em mim que disfarçava a mancha, era muito mais quentinho e confortável que minha camiseta – Pena que atrapalha a paisagem, mas é bom que assim ninguém mais vai olhar.

— ATA, Ethan. – Não resisti e sorri um pouco, afinal ele estava tremendo um pouco por causa do frio.

— Ah, qual é? Eu mereço um sorriso um pouco maior que esse.

— Nem venha. Mas eu considero ficar com a jaqueta. Ela é confortável.

— Nem vem você. É minha favorita. – Ele sorriu.

É. Talvez esse seja o lado menos irritante de Ethan. Olhei para o carrinho capotado no chão, os arranhões de Selena estavam cicatrizando enquanto Rafa ainda estava com a cara fodida, mas ele murmurou algo sobre depois passar um remédio.

— Hora do Nicho! – Sel gritou e eu fiquei tentada a me dar um tapa na testa.

Isso é a rotina deles?

Dessa vez fomos para um parque e quando eu percebi o que queriam fazer, bufei. Guerra de bola de neve. Se eu pegar infecção de xixi de cachorro nesta merda, meto processo nessa porra. Selena e Nicho ficaram lado a lado.

— Eu vou ser líder de um grupo e a Sel de outro, igual a toda vez.

— Eu começo, meu time vai ter... Reddie – Sel disse e Nicho a olhou bravo. Fiz uma cara de “Não foi dessa vez, amigo”.

— Ethan. – Fiquei tentada a sorrir só porque poderia arremessar meio mundo de neve em Ethan.

Ele sim tem que pegar infecção de xixi de cachorro.

— Jack.

— Aaron.

— Rafa.

— Luna.

— Bryan – Eles falavam em tom competitivo e Bryan, que estava tomando outro toddynho olhando para belos nadas, direcionou o olhar pra gente na citação do seu nome.

— Quê que tá acontecendo?

— Guerra de bola de neve. – Respondi dando de ombros.

— Moça, eu sou velho demais pra isso – Ele colocou a mão no peito se fingindo de cansado.

— Quê isso, cara? Você vai participar também. – Sel reclamou, até porque Bryan estaria no time dela.

— Eu não sou obrigado – Bryan deu de ombros e sentou novamente debaixo de uma árvore.

— Ele é muito sedentário. – Selena bufou.

Já que Bryan havia saído, as equipes ficaram iguais em quantidade. Sel acenou com a mão iniciando a guerra.

Pra quê guerra? Vamos assistir Netflix na paz, povo.

Quando eu estava tomando um pouco de coragem pra pegar na neve senti um impacto gelado no pescoço que arrepiou meu corpo inteiro. Olhei na direção e Ethan ria da minha cara.

— Já começou perdendo, Hunter. – Ele debocha.

Foda-se a porra da neve e do frio. Fiz uma bola nas mãos e a acertei com força na cara de Ethan.

— Vai se ferrar. – Revirei os olhos e atirei mais uma bola nele e outra em Nicho, desviando uma de Luna que estava atrás de uma árvore.

A guerra durou bastante tempo. Eu tentando desviar de todas as bolas inimigas. Bryan estava quieto debaixo da árvore observando a bagunça. Várias pessoas eram atingidas sem querer (Ou nem tão sem querer). Luna arremessou uma bola na cara de Bryan.

— Hey! – Ele reclamou balançando o rosto e limpando os óculos.

Luna riu e continuou lançando bolas atrás de bolas em Bryan até que ele levantou e arremessou uma bola de neve em seu rosto, depois a cercou num abraço de urso enquanto ela reclamava da neve em seu nariz.

Eu me distraí vendo os dois e Ethan aproveitou a deixa para me lançar uma bola na bochecha.

— Eu comecei, eu vou terminar.

— Isso é o que veremos, Ross. – Bufei e nós dois atiramos ao mesmo tempo.

Desviei de sua bola enquanto a minha o acertou em cheio no peito, o fazendo cambalear e tropeçar numa raiz. Ethan caiu e bateu suas costas de encontro ao tronco de uma árvore fazendo um monte de neve despencar em cima dele.

Eu ri de sua cara, inevitavelmente, era hilário ver ele batendo os dentes (Deveria estar morrendo de frio sem sua jaqueta) rosnando enquanto balançava a cabeça tirando o montinho de neve do seu cabelo. Ele tentou se levantar, e uma estaca de gelo afiada balançou no galho. Arregalei os olhos parando de rir e corri em sua direção o puxando pelo braço a tempo da estaca cair e cravar na neve fofa.

Falei que gelo era uma coisinha perigosa, mas ninguém escuta.

— Vou começar a anotar as vezes que salva a minha vida – Ethan sorri olhando para o lugar que poderia estar com um pedaço de gelo na barriga – Obrigado, moça.

— Não foi nada. – Dei de ombros.

Olhei ao redor. Nicho estava fazendo anjos de neve no chão com Selena. Bryan estava rindo e correndo milagrosamente atrás de Luna numa pista de gelo. Os outros disputavam ainda com bolas mirando uns nos outros.

— Puta merda. – Fiz uma careta ao sentir uma pontada na base da coluna, arquejei, parecia que alguém havia me enfiado uma flecha ali.

Senti uma tontura e acabei caindo desorientada, minha visão virou um borrão somente a tempo de eu conseguir enxergar um velho cambaleando pra longe dali com uma garrafa de bebida na mão. Ethan se agachou perto de mim e me encarou. Pelo menos eu acho que era ele.

— Hey, você tá bem? – Sim, era Ethan, só ele tinha aquela voz tão linda, suave e meio rouca. – O que aconteceu?

Ele pegou na minha mão e eu senti meu coração disparar e meu rosto esquentar. Não acreditava que ele realmente estava segurando a minha mão, minha visão ficou nítida nele, havia um grupinho ao nosso redor, mas eu só enxergava Ethan, seus olhos azuis hipnotizantes e seus lábios perfeitos. Até o nome dele é perfeito, dava vontade de falar o tempo todo.

— Reddie, me responde. – Ah, meu Deus, ele parece estar preocupado comigo. Que fofo!

— Eu... Estou ótima. – Consegui responder, eu devia estar com cara de drogada - Foi só uma tontura.

— Por quê tá me olhando assim? – Ele franziu o cenho.

— Assim como? – Perguntei, sentindo minhas bochechas ficarem cada vez mais vermelhas. Ele estava tão próximo. – Caramba, Ethan, você é muito lindo.

— Gente, eu acho que ela realmente não tá bem – Ele olhou para os outros e colocou uma mão na minha testa – Não tá com febre. Red, quê que você tem?

— Eu te amo. – Sorri e o abracei sentindo seu maravilhoso perfume.

ETHAN

Sabe aqueles acontecimentos que você sabe que foi bruxaria?

Cara, esse é um deles. Eu ficaria feliz só de ela pelo menos não me responder com patadas. Agora ela estar me abraçando e dizendo que me ama com essa cara de drogada já é obra de macumba das brabas.

A afastei e a chacoalhei um pouco, tentando ver algum sinal que ela havia cheirado pó ou algo do tipo. Quê que tinha naquela neve? Cadê o sal grosso? Olhei para o pessoal e todo mundo estava olhando para Reddie com uma cara tipo “Ela se drogou?”.

— Reddie, antes da tontura o que você sentiu?

— Uma pontada na base da coluna. Quer ver? – Ela murmurou sorrindo.

A fiz se virar e levantei um pouco a camiseta, onde dava para ver uma tatuagem com forma de coração.

— Essa tatuagem já estava aí?

— Eu não tenho uma tatuagem aí. – Ela disse confusa. E aí tornou a sorrir – Mas se quiser eu faço uma.

— Não, não quero. Eu acho que você precisa de um médico.

— Tinha um velho bêbado na hora que eu caí. Ele foi naquela direção – Apontou para fora do parque.

— Então vamos ver se achamos ele. A Reddie tá me assustando – Selena arregalou os olhos.

Também né, qualquer um que conviva cinco minutos já dá pra saber que a garota tem uma uva passa de coração.

— Desde que eu não precise me afastar de você... – Reddie trilhou seus dedos pelo meu peito.

Estou me sentindo assediado aqui. Tirei gentilmente sua mão de perto de mim e ela fez uma cara de decepcionada. Nossa. Isso tá muito bizarro.

Alguém me informa quando foi que eu fui para um universo paralelo onde a Reddie gosta de mim? Um pombo correio serve, eu só quero um aviso mesmo.

Nós saímos do parque e Reddie estava praticamente grudada em mim, andando ao meu lado. Certo. Quem não quer a atenção da crush? Mas eu sei que ela não está normal então prefiro nem fazer nada.

Depois de uns dez minutos de procura, nós avistamos um velho sendo enxotado para fora de um bar. Pelo jeito que xingou grogue e caiu de bunda no chão incapaz de se manter em pé, devia ser o velho bêbado que Reddie falou.

— É ele. – A cerejinha apontou.

O velho começou a chorar e quando nos aproximamos, deu pra sentir o fedor de bebibas que ele emanava. Parecia o odor de Harold, mas Harold conseguia ser mais porco.

— Hã... Senhor? – Luna chamou e eu tive vontade de puxá-la dali para não pegar nenhuma doença.

O homem usava roupas esfarrapadas, um chapéu torto e tinha uma barbicha no queixo.

— Ah, me deixe! Ela me largou! Aquela sem coração me deixou! - Ele gritou desesperado - Porque, meu Deus? Eu era um ótimo partido! Aquela mulher não tem um pingo de piedade! Me largou por mensagem! Quem termina por mensagem?

Todo mundo. Já até tomei fora de uma namorada desse jeito. Foi triste.

— Na realidade a gente queria saber o que você fez com a nossa amiga – Ela continuou sem se importar com os lamentos do homem.

— Quem? – Ele franziu o cenho, o nariz largo escorrendo.

— Ela – Luna apontou para Reddie, que agora havia entrelaçado seu braço ao meu.

— Aaah, sim, eu gastei minha última flecha com ela.

— Flecha? – Sel perguntou.

— Onde estão meus modos? – Ele riu fracamente e se levantou ainda cambaleante, limpando as mãos no paletó imundo com manchas de vômito. Bêbado é uma coisa horrorosa mesmo. Mas eu nunca fiquei desse jeito.

Caramba, tudo por causa de uma mulher? Aff.

— Prazer senhores, eu sou o Cupido, filho e servo de Afrodite. – Ele fez uma exagerada reverência.

Agora eu já vi de tudo mesmo.

— Que ironia – Bryan riu pelo nariz – O cupido levou um fora. Bem feito. Só fez merda na minha vida.

— Eu não faço merda. As pessoas complicam o que trago pra elas. A não ser quando estou de mau humor, aí eu só atiro em uma pessoa – Ele deu uma risada possivelmente imaginando milhares de vidas adolescentes que arruinou quando acordou com o pé esquerdo e coçou a barbicha. – Devem querer saber o que aconteceu com sua amiga. Simples, eu atirei uma flecha nela, sem querer, na realidade, foi um acidente, eu não estava muito bem, nem continuo - Ele fungou - Seja o que for, após a tontura, quem foi o primeiro que ela viu?

— Eu.

— Então ela está apaixonada por você, caro rapaz, aproveite, talvez nunca mais uma mulher demonstre sentimentos por você. Que mulher tem sentimentos nessa vida amarga? Eu não sei de nenhuma.

ATA.

— Quê? – Perguntei, com um tique nervoso no olho.

— Sempre tem o lerdo que não entende a coisa mais simples existente – Sel revirou os olhos e eu ignorei a gentileza em pessoa.

— Minha cara, eu lhe conheço? – O cupido direcionou seu olhar para Sel.

— Nunca te vi não cara...

— Ah sim, sim, te flechei quando estava de um excelente humor, se deu bem garota.

Sel corou feito um pimentão e Nicho também. Sempre soube. Cupido se virou pra mim.

— Sou o cupido, atirei minha flecha nela, ou seja, ela se apaixonaria pela primeira pessoa que visse. Que. É. Você. Entendeu ou quer que eu desenhe? - Ele revirou os olhos e eu ignorei que o fato que o Cupido me chamou de lerdo.

— E quando isso vai passar? – Indaguei e Reddie soltou um muxoxo.

— Até parece que não gosta de mim desse jeito. – Reddie sussurrou no meu ouvido e eu engoli em seco.

— Não se preocupa, ela vai voltar ao normal ao por do sol. O poder da flecha não é permanente.

— Ela vai se lembrar disso?

— De tudo. Agora me deixem em paz.

Aí sim.

— Quem te deu o fora? – Indaguei e ele fez um bico como se fosse voltar a chorar.

— Ella. A fada do dente. Trocou-me por um duende! UM DUENDE! Quem troca o cupido por um duende?

— Ella pelo visto - Aaron deu de ombros. – Vai que os dentes dele eram mais limpos.

— Eu vou encontrar outro bar. - Ele choramingou e desapareceu numa fumaça cor de rosa.

É, agora eu tenho uma Reddie apaixonada e agarrada em mim. Que linda manhã, não? Tem um pombo ali perto.

— Que horas são? – Indaguei e Bryan olhou o relógio.

— 10:30 – Ele disse. – O sol se põe umas 17:30.

Reddie me olhou. Seus olhos vermelhos estavam mais escuros e suas pupilas dilatadas. Eu me sentia um pote de doce sendo devorado pelo olhar de uma pessoa de dieta.

Só que Reddie não parecia muito a fim de seguir a dieta. Triste isso.

O pessoal começou a andar como se nada estivesse acontecendo e eu tratei de largar do braço de Reddie. Eu não vou ser chamado de aproveitador. Mas vou esfregar cada palavra que ela disse quando voltar ao normal.

— Ei. – Ela reclamou ao ser afastada.

— Nem vem.

— Mas eu não era sua crush?

— Entenda. Isso é magia. Prefiro que goste de mim do jeito normal.

— Isso não muda o fato que vou fazer desse dia um dos melhores da sua vida. – Ela sorriu maliciosamente e seguiu em frente com o pessoal, então me olhou por cima do ombro – Você não vem?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^-^



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