As Crônicas de Reddie Hunter escrita por HunterPotterhead


Capítulo 14
Caos


Notas iniciais do capítulo

Eu não sei se vocês perceberam, mas infelizmente um dos gêneros dessa história é tragédia.



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Eu havia desenhado uma foto minha e de Guilherme, nós estávamos num banco do parque, abraçados e sorrindo para a câmera, (ás vezes eu parava para trocar mensagens com Martina e Adam, cada um me perguntando se o outro tinha falado algo a respeito deles, então cansei uma hora e escrevi; Por favor, se beijem, eu já perdi minha paciência).

Estava ansiosa para mostrar o desenho a ele. Eu tinha até resistido a tentação de desenhar um bigodinho na cara dele. Estou orgulhosa de mim mesma.

Caminhei até a casa dos Jordan, sentindo até falta do cheiro de biscoitos, talvez Elizabeth tivesse feito outra coisa. O vento era frio e a calçada estava cheia de neve. Não gosto de neve. Pessoas se deitam ali e nem pensam se um cachorro fez xixi no lugar.

Me abracei, por algum motivo eu sentia um mal pressentimento, mas estava tudo bem, talvez fosse só a ansiedade ou o frio mesmo. Parei em frente a casa, era rústica, e com duas janelas na frente, com cortinas brancas esvoaçando e logo abaixo canteiros de flores que Lisa havia cultivado. A porta era de madeira escura, e lá dentro eu sabia que não existiria o frio.

Coloquei a mão na maçaneta, abri a porta e me deparei com uma cena que fez meu coração desabar em pedaços. Arthur e Elizabeth Jordan, os que considerei meus segundos pais, residiam mortos na sala de estar.

Meu cérebro mal processava a imagem. Meus joelhos cederam e meu coração estava se apertando com uma dor intensa. As lágrimas pingavam no meu queixo. Seus corpos estavam numa poça de sangue, em ângulos estranhos. As faces demonstravam horror, os olhos ainda arregalados como se não acreditassem no que os matou.

O rosto de Elizabeth, antes emoldurado com seus cabelos loiros, com olhos brilhantes e dóceis, as bochechas coradas e um sorriso radiante, agora estava retratado de medo, sua bochecha esquerda parecia ter sido rasgada por três garras, em seu peito havia um buraco, e eu soube que seu coração foi arrancado, mas sequer o via. A lareira estava apagada, deixou a casa cinzenta e fria. Notei que mesmo na morte, a mão de Elizabeth estava entrelaçada a de Arthur. As mãos das alianças.

Arthur estava ainda pior se é que era possível, seu corpo estava coberto de sangue, no seu peito também faltava o órgão vital. Cortes de garras haviam sido feitos várias vezes, como se ele tivesse tentado lutar, mas não houve chance.

Eu não consegui me levantar. O cheiro dos corpos apodrecendo estava dando-me náusea. Nunca tinha visto ninguém morto na minha frente. E pensar que queriam me preparar pra encarar isso friamente. Mas eu amava os Jordan.

“- Reddie! Fiz esses cookies com gotas de doce de leite especialmente pra você, Guilherme me falou que gosta!
Elizabeth, que mesmo sendo rica usava um simples vestido floral com um avental cor de rosa, me estendeu uma bandeja cheia de biscoitos e eu sorri agradecida e ela pareceu contente quando fechei os olhos ao morder o cookie quentinho, desmanchava na boca. Contive um gemido de alegria.
— Estão deliciosos, Sra. Jordan.
— Quê isso! Me chame de Eliza, você é tão doce! Meu filho fez bem em te escolher como namorada.
— Ei, também gosto de cookies! – Arthur estendeu a mão, mas recebeu um tapa de Eliza. – Que foi?
— O médico te proibiu de doces! – Sr. Jordan ficou emburrado e surgiu um cheiro de queimado – Oh, céus! Esqueci o restante no forno!
Assim que Elizabeth se virou para salvar os outros cookies, Arthur pegou alguns e fez uma cara suplicante pra mim, e eu apenas pisquei e sorri pra ele, escondendo seu segredo.”

Mais uma onda de náusea veio junto com a lembrança. Me virei, não dava pra ver mais. Minha mente se recusava a processar direito. Não poderia ser. O que eu iria falar a Guilherme e Lisa?

Guilherme. Lisa.

Meus lábios se entreabriram e eu murmurei seus nomes. Onde estavam? Estariam mortos? Meu corpo estremeceu como se eu estivesse tendo uma convulsão com a possibilidade. Eu precisava saber se estavam bem. Será que ainda passeavam pela cidade e não sabiam que seus pais foram assassinados?

Eu não conseguia enxergar mais nada. Minha mente estava turva, mas sabia que precisava achar Guilherme e Lisa. Passei as palmas das mãos sobre os olhos. Eu tinha que ser forte. E qualquer que fosse o responsável iria pagar. Eu iria fazê-lo pagar com minhas próprias mãos.

O responsável... Fui tomada pelo ódio. E preferia esse sentimento ao do luto, da dor de ter perdido Eliza e Arthur. Minhas pernas estavam bambas, sabia que não tinha condição de me levantar sozinha, então me apoiei numa poltrona. Me virei, pisquei para conseguir enxergar, embora a cena me transtornasse.

Enxerguei um papel dobrado sobre o corpo de Eliza. Quem seria o doente que ainda deixaria um bilhete? Me agachei prendendo a respiração. Tinha veias no rosto da mulher que eu chamava por vezes de mãe. Meus dedos tremiam, mas consegui abrir o papel com respingos de sangue.

No beco atrás do Yakima Regional Medical & Cardiac Center.

19:00.

Estão conosco. Venha se quiser vê-los vivos, Hunter.

Guilherme e Lisa foram seqüestrados. Então eles são a isca.

Eliza e Arthur são provas de que não estão de brincadeira.

E tudo por culpa da porra do meu sobrenome? Eu só matei um monstro na minha vida e eu sabia que para me castigar desse jeito a coisa era com minha família.

O ódio aumentou se é que era possível. Olhei os corpos mais uma última vez.

— Eu juro que terão um enterro decente. Amo vocês. – Murmurei, mais lágrimas escorrendo pelo meu rosto, entretanto as limpei mais uma vez. Fui ao quarto que estava, peguei todo o dinheiro que eu tinha.

Liguei para a polícia. Não podia deixar os corpos ao relento. Falar em voz alta fez a situação ficar mais real. Falar que Elizabeth e Arthur estavam mortos me fez perceber que aquilo tudo não era um pesadelo. E eu nunca teria criatividade para um pesadelo desses.

Saí da casa onde ainda no dia anterior estava tendo um dos meus momentos mais felizes. Eles estão achando que podem brincar com minha vida. Com meu namorado e minha melhor amiga.

Coração faltando e marca de garras. Eu tinha perdido meus segundos pais para lobisomens. Mesmo tão longe essa merda me persegue. Chutei uma lata de lixo com tanta força que ficou a marca da minha bota. A raiva me preenchia de modo que eu sabia que os mataria. Gritei de ódio e dei mais chutes na cerca de madeira branca que achei tão bonita a quebrando. E ainda assim queria desabar e chorar cada vez mais.

Era uma maldita armadilha. E eu iria direto pela chance de tentar ao menos salvar Guilherme e Lisa. E depois cair fora da vida deles. Se estou causando perigo pra eles, é por amá-los que irei me afastar. Mas eu tinha que ter essa chance. Era minha única esperança;

Havia uma moto na vizinhança. Desculpa seja lá quem for o dono. Fiz ligação direta e pilotei, graças a Deus eu sabia andar de moto. Só depois de dois quilômetros que um cara começou a gritar que alguém o havia roubado. Fui para a loja de armas mais próxima e entrei.

Um homem que aparentava ter 40 anos me dirigiu um sorriso de escárnio.

— Está perdida menina?

— Preciso de armas.

— Oh sério? Seu namorado te traiu por acaso? Eu não vou...

— Ah sério? Olha aqui seu arrombado pau no cu. Não estou com cabeça para piadas. Eu quero duas adagas de prata, uma Pistola Taurus 809C e no mínimo 20 balas de prata para agora, porra! – Eu gritei e sabia que minha voz tinha saído doentia e histérica, como alguém que acabou de sair do hospício.

— Olhe o respeito menina!

— Não demonstrarei o que não tenho, caralho!

— Eu não vendo armas para menores de idade!

— Esse é o problema? Tenho quinze mil. – Coloquei o dinheiro sobre o balcão.

Ele entreabriu os lábios, mas ninguém nega suborno. Me deu as armas.

— Eu tenho que te avisar sobre as conseqüências e...

— Vai se foder. Já peguei em mais armas do que você na sua vida toda. – Rosnei e peguei as armas. O peso e o frio metálico ainda me eram familiares.

Voltei para a moto, repassava cada regra, cada conselho de Patrick sobre a caça. Era melhor que pensar em Arthur e Elizabeth mortos. Mas a cada dois segundos a imagem preenchia minha mente e eu não conseguia me concentrar. Já estava anoitecendo. Olhei no relógio, 18:06. O hospital ficava meio distante.

Acelerei, o vento estava forte e eu sentia frio como nunca, meus dentes chegavam a bater. Eu estava preocupada com Lisa e Guilherme. Meu peito pesava de culpa. Estão sendo usados para me atrair. Mas segui em frente e cheguei antes do horário no tal beco. Era a lixeira. Dois grandes baldes de lixo cheios de utensílios médicos usados e contaminados. Eram 18:51.

— Você não sabia que é deselegante chegar antes do horário? – Uma voz falou.

Saquei uma adaga da jaqueta, mas nada vi nem ouvi mais.

— Aparece covarde. Eu não tenho medo de você.

— E de nós?

Chegaram do nada, entretanto em segundos tinha pelo menos uma dúzia de homens de cabeça baixa me cercando.

— Ainda os acho um bando de cachorros sem cérebro. Onde eles estão?

— Estão vivos ainda. É o que importa. – Um deles se pronunciou, mas ainda estava de cabeça baixa.

Senti uma minúscula parte da minha agonia se esvair, mas percebi o seu ainda.

— O que quer de mim?

— De você eu não quero nada. Mas o chefe quer de você muitas coisas. Eu sou só o que faz o trabalho sujo.

— Ah entendi. Todos são uns paus mandados, não é? Não estou com muita paciência hoje.

Todos levantaram as cabeças. Confirmei minha suspeita, lobisomens. Presas enormes amareladas, pelos olhos azuis brilhantes, betas que já mataram inocentes. Avançaram com as mãos levantadas mostrando garras podres e sujas de sangue. Eu estava enferrujada, mas a adrenalina e a raiva me moviam. Enfiei a adaga na virilha de um, arranquei e atravessei seu peito. Um já foi. Vi o corpo cair e isso me deixou minimamente satisfeita.

Lutei com todos os meus esforços, dividi um ao meio, outro cortei a garganta, atirei balas de prata com uma mira impecável, mas não fui tão perfeita na defesa. Minha bochecha fora arranhada e meu braço também, eu não sentia a dor, mas meu sangue escorria. Ainda havia metade deles e eu agradeci por ter comprado tantas balas. Um fincou as garras na minha barriga e aproveitei a deixa pra enfiar a adaga onde provavelmente era seu pâncreas, cortando até o coração.

— Posso morrer. Mas não morro sem lutar, desgraçado.

Dei mais uma rajada de tiros, a tontura começou a me atingir. Eu sabia que havia matado mais três, mas onde estavam os dois últimos? Não fui tão rápida, senti a presença atrás de mim, ouvi o rosnado, mas quando me virei, tomei uma pancada na cabeça, acho que foi com uma tampa de lixo. Torci para que não fosse isso. Sério? Não posso ter no meu atestado de óbito que faleci com uma pancada de uma tampa de lixo, não depois de ter lutado tanto.

Minhas pernas cederam, finalmente sentindo a dor que as garras causaram, minha bochecha, meu braço e minha barriga latejavam e escorria sangue dos ferimentos.

— Levem-na.

Foram as últimas palavras que ouvi antes de mergulhar na inconsciência.


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