As Crônicas de Reddie Hunter escrita por HunterPotterhead


Capítulo 12
O melhor amigo do mundo




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Abri os olhos me surpreendendo por ainda estar um pouco escuro, o que indica que eram menos que seis da manhã. Olhei o relógio confirmando o palpite que meu sono é meio desregulado. Tentei voltar a dormir, mas já estava acesa. Então fiquei pensando o que poderia fazer de diferente no dia. Bom, eu não conheço Seattle direito. Poderia dar uma volta pela cidade, ir a alguns museus. A ideia me animou e eu tomei um banho, escovei os dentes, coloquei uma roupa quentinha porque vi a neve caindo do lado de fora.

Pensei em chamar Guilherme para ir comigo, mas acabei desistindo. Eu até gosto dele, mas preferi ir sozinha. Quando terminei de me arrumar percebi que já podia ir tomar café da manhã.

Desci o elevador, aparentemente fui a primeira a acordar fora os funcionários. Enchi meu prato com tudo que haviam acabado de fazer. Queria encher bem o estômago pra não ter que parar pra comer. Espera. Quem eu tô tentando enganar? Provavelmente quando eu sair do hotel já vou parar pra comer.

Assim que saí do hotel chamei o Sr. Borisvaldo. O taxista era bom pra bater papo. Ele me deixou primeiro num museu e disse que assim que eu terminasse minha volta era só chamá-lo. Eu só tinha ido a um museu uma vez, e porque tinha implorado a Patrick. Nem tive tempo de apreciar direito com ele me puxando e dizendo que estávamos sem tempo. Agora eu tinha todo o tempo do mundo. Observei atentamente cada escultura e pintura.

Uma coisa que eu acho incrível da arte antiga: Eles não tinha praticamente nada a seu favor. Não tinham internet. Querer ser artista era o mesmo que nada. Ou você tinha um talento incrível ou era desprezado e jogado na sarjeta. Eles lutaram, se dedicaram, praticaram e se tornaram os maiores pintores da história. Pena que morreram cedo com as doenças de época. Me permiti ter esperanças que um dia poderia ser uma artista cujo trabalho fosse apreciado tanto quanto é apreciado as pinturas de Van Gogh.

Não vi o tempo passar. Olhei para o relógio e eu já tinha passado quatro horas no museu. Chamei Borisvaldo e durante o passeio de carro vi o parque, algumas esculturas espalhadas pela cidade, admirei os prédios. Nunca entendi direito de construção. Imagino que deve dar muito trabalho, mas não tenho uma noção muito detalhada de materiais. Sou boa pra perceber isso em relação a arte. Aí eu sei até a marca da tinta que a pessoa usou.

Após a volta, resolvi ir para o shopping. Dessa vez não comprei roupas, mas sim uns acessórios da feirinha de artesanato. Fiquei explorando por lá até que vi um cinema. Não sei o que é cinema. Como vi que estava cheio de gente, fiquei com vergonha de perguntar. Discretamente entrei e percebi que era pra assistir filmes. Fiquei curiosa e resolvi comprar um ingresso para qualquer um.

Comprei uma pipoca grande (impressão minha ou a pipoca desse cinema custa os olhos da cara? O milho é de ouro por acaso?) e um Milk shake de chocolate. Esperei dar o horário e entrei na sala que estava no papel do ingresso. Me deram um óculos com uma lente vermelha e outra azul. Tomei um susto ao perceber o tamanho da tela e a quantidade de poltronas. Por isso que tanta gente vem aqui. Depois de um século achei minha poltrona.

Comecei a comer a pipoca enquanto passavam os créditos e fiquei com raiva porque quando o filme começou eu já tinha comido um terço do pacote. Okay né. Eu tinha escolhido Frozen. Coloquei os óculos 3D. Acho que é esse o nome. Primeiro tomei um susto. Parecia que um monte de neve tava voando na minha cara.

Me encantei com a magia do cinema. Tá certo que o ingresso e a pipoca tem um preço absurdo, mas até que vale a pena. Xinguei Anna por ser tão trouxa a ponto de se apaixonar por um rapaz em uma noite. Tipo, tá maluca guria? Amei a Elsa. A criatura é foda. Gostei do Kristoff e quis dar um chute nas áreas baixas do Hans. Cheguei até a me emocionar com o fim. Amo reviravoltas, sempre tornam a história mais interessante. Saí completamente satisfeita da sala. Caramba, eu acho que agora eu vou todo dia nesse troço. Se bem que se isso rolar nem uns 20 cartões fraudados aguentam. E olha que com um eu pago um hotel quatro estrelas.

A pipoca tinha acabado no meio do filme. Meu estômago roncou o que não era bom sinal. Eu estava prestes a fazer um estrago. Comprei duas pizzas grandes e um funcionário ficou de olhos arregalados ao me ver comendo tudo sozinha até o fim. Uma coisa boa da genética de Patrick: Não importa o quanto eu coma, eu não engordo. Se quiserem quando minha lombriga der cria eu dou algumas pra vocês.

Dei mais algumas voltas pelo shopping, comprei a saga de jogos vorazes, até que me cansei de ficar olhando vitrines. Voltei para o hotel e agradeci a Borisvaldo por ser meu motorista particular por um dia. Eu estava de barriga cheia, mas estava a fim de uma sobremesa e fui para o salão de jantar e peguei um sorvete de creme. Dei uma olhada no salão, Guilherme não estava por perto, mas vi Lisa e acenei pra ela que retribuiu energeticamente e sorrindo.

Terminei o sorvete e fui para o quarto, com o cansaço finalmente me atingindo. Meu quarto fora organizado e a cama estava forrada me aguardando com um cheiroso edredom. Tomei um banho, coloquei um confortável pijama e fui dormir.

De manhã acordei com preguiça de novo. Resolvi ficar no quarto e peguei meus novos livros. Só parei no horário de almoço quando minha barriga roncou. Mas minha cama estava confortável, meu pijama estava confortável, Katniss tinha acabado de ficar surda explodindo um acampamento e eu realmente não queria sair.

Liguei para a recepção e pedi que o almoço fosse entregue no meu quarto. Logo uma criada trouxe tudo que pedi num carrinho. Sorri quando tirei as tampas de alumínio. Provavelmente faria isso mais vezes. Comi e continuei lendo. De tarde caiu uma chuva forte e eu percebi a oportunidade perfeita para meu hobby. Liguei novamente pedindo uma jarra de chocolate quente e fiquei tomando debaixo do edredom enquanto lia. Cacete, isso é bom demais.

Peguei no sono na última xícara fumegante.

Acordei e dessa vez, estava animada pra sair daquela cama. Assim que tomei banho fui tomar café e desta vez Guilherme estava lá. Ele estava lendo uma revista e não me notou, mas assim que peguei meu prato e me sentei na cadeira à sua frente ele levantou a cabeça.

— Você está me devendo.

— O quê? – Perguntei confusa.

— Tente lembrar.

Então me toquei de nosso acordo que se eu fosse com a cara de Martina e Guilherme a gente iria assistir um filme de Harry Potter. Bom, é meio óbvio que adorei conhecer os dois.

— Aaaah, foi mal, anteontem eu sai pra conhecer a cidade e ontem tava com tanta preguiça que nem sai do quarto – Dei de ombros – Que dia você quer assistir?

— Não sei. – Ele ficou pensativo. – Uma hora talvez surja oportunidade. Hoje tenho que ajudar meu pai com a empresa pra variar.

Revirei os olhos.

— Não quer ir pra algum lugar comigo, não? Diz pro coroa que tá ocupado – Pisquei pra ele sorrindo.

— Tentador, mas já escapei umas três vezes, acho que dessa vez ele não engole.

Bufei e comecei a comer, notei que no prato de Guilherme só tinha um pequeno cacho de uvas. Coloquei um muffin e um misto quente no seu prato, ele arqueou a sobrancelha pra mim.

— Saco vazio não aguenta em pé – Dei de ombros – Enche o bucho que faz bem.

— Eu não agüento comer isso.

— Pra mim isso é a entrada! Vamos, só paro de encher seu saco quando acabar de comer de verdade.

Ele fez uma careta, mas deixou a revista de lado e começou a comer o misto e quando acabou franziu o cenho para o muffin.

— Eu já tô cheio.

— Então dê pelo menos uma mordida.

Ele mordeu o bolinho e depois o largou.

— Cara, eu acho que vou vomitar.

— Você tem algum distúrbio alimentar?

— Não. É que eu nunca gostei de comer muito. Parece que meu estômago é do tamanho de uma passa.

— Pois eu vou fazer você se acostumar a comer de verdade.

Ele suspirou, mas sorriu. Enfiou os dedos entre o cabelo que lhe caía na testa o puxando para trás. Por uns momentos o achei o garoto mais lindo que já vi na vida. Balancei a cabeça dispersando os pensamentos

— Eu não tenho escolha, certo?

— Exato! – Sorri satisfeita. – Caraca, já são 10:30.

Guilherme arregalou os olhos e se levantou abruptamente.

— Estou atrasado, desculpa! A gente se vê! – E saiu correndo.

Fiz uma careta ao perceber que estava sozinha. Droga, hoje eu queria conversar com alguém. Fiquei comendo ali me sentindo frustrada por não ter anotado os números de telefone de Adam e Martina. Lisa eu também não via por perto.

Então começou a merda. Senti uma forte dor no pé da barriga junto com dor de cabeça. Cólica. Ninguém merece. Dei um tapa na minha cara quando notei que tanta coisa eu comprei, mas esqueci do absorvente. Fui comprar logo porque eu sabia reconhecer quando já estava chegando a época infernal.

Assim que comprei e cheguei no quarto agradeci aos céus por ter dado tempo, e ao mesmo tempo porque não estava agüentando correr com a cólica forte feito o Hulk. Coloquei a porra do absorvente e fiquei lá deitada na minha cama na sofrência. Poxa, eu tava querendo sair hoje. Enquanto reclamava peguei no sono e dormi o dia inteiro. De noite acordei, pedi comida no quarto e depois de jantar, dormi de novo.

Quando acordei de verdade, eram 08:00 da manhã. Mas assim que abri os olhos, senti vontade mandar o mundo pra puta que pariu. Bufei. TPM ainda por cima veio de brinde. Eu já sou uma amostra grátis do demônio normalmente, de TPM pareço o próprio Satanás.

 Por volta das 10, comigo xingando alto pelas cólicas, ouvi uma batida suave na porta. Meu sangue ferveu pelo simples fato de ter que me levantar.

— O QUE FOI? – Gritei ao abrir a porta e Guilherme me encarou assustado. Já era a segunda vez que eu o tratava assim quando ele vinha no meu apartamento.

— Cheguei em má hora?

— Eu tô de TPM. Foi mal. Aliás não foi mal nada, eu tive que me levantar por sua causa! Não tô bem. Tô morrendo de cólica e já escrevendo meu testamento – Fui dramática – Por favor, compareça ao meu enterro.

Ele fez uma careta.

— Sinto muito. Eu volto mais tarde então. – Ele coçou a cabeça e saiu. O que me deixou indignada.

A criatura não tinha dito que era meu amigo? E me deixou aqui nessa situação? Ignorando tão fácil? Senti vontade de chorar, mas aquilo já era demais, bati a porta com força e me tranquei no quarto, estava entediada passando de canal em canal pra TV e parei numa novela mexicana xingando a guria que tinha engravidado de jumenta sem cérebro. Fiquei assim até de tarde.

Ouvi mais uma batida na porta e revirei os olhos. Quem era o infeliz agora? Fui atender.

— O que tá fazendo...? – Comecei a perguntar, mas Guilherme foi entrando com algumas sacolas.

— Vim te ajudar. Eu trouxe um pen drive com todos os filmes de Harry Potter, doce de leite já que me disse que era seu favorito, pipoca, sorvete, umas barras de chocolate e comprei pra você remédio pra cólica. Ah, e também vim com paciência de sobra.

Ele sorriu todo prestativo e eu não me agüentei, dei um forte abraço nele. Era a coisa mais linda que alguém já tinha feito por mim.

— Obrigadaaa! Que fofo! Valeu mesmo! Eu não acredito que você fez tudo isso! – Revirei as sacolas e ele ainda tinha comprado o meu sabor de sorvete favorito, de creme. Dei um gritinho de empolgação – Você é o melhor amigo do mundo!

Ele sorriu mais ainda e me abraçou de novo enquanto eu ria. Colocou o pen drive na televisão e nos jogamos na cama enquanto assistíamos Harry Potter e a Pedra Filosofal comendo pipoca e sorvete. Eu tomei o remédio pra cólica e me senti melhor de imediato. Eu quis dar o dinheiro, mas ele negou dizendo que não se importava de pagar. Adivinha pra quem vai o prêmio de melhor amigo do ano?

Eu chorei praticamente em cada morte que rolava nos filmes, tacava pipoca na televisão quando ficava com raiva e xinguei o Pedro Pettigrew tantas vezes que perdi a conta. Guilherme dava risada das minhas reações e eu percebi que com tanta coisa que ele poderia estar fazendo, ele estava ali do meu lado, me aturando com uma TPM do caralho.

— Hey, obrigada. – Eu disse enquanto assistia Severo Snape reclamando com Harry, pra variar. – Por estar aqui.

— Não é nada. Isso que amigos fazem – Ele me deu um beijo na bochecha e eu sorri sentindo um leve formigamento no local que seus lábios tocaram. Mais uma vez dispersei os sentimentos. É hormônio. É a porra do hormônio adolescente.

— Puta que pariu, o lobo Greyback é um dos maiores vilões do livro e diminuíram ele a isso no filme!

— Pior é a Gina. Ela é incrível nos livros! Mas fizeram dela uma marionete sem sal.

Até dei pausa no filme e começamos a discutir as diferenças dos livros para os filmes, comigo amaldiçoando o diretor do filme. Ficamos rindo e eu devorei um pote de doce de leite. Até havia esquecido a TPM. Guilherme cumpriu sua missão de me ajudar.

Sorri mais uma vez e a gente continuou assistindo, fazendo uma maratona até terminar todos os filmes e depois ele me deu a senha da Netflix. Sei lá o que é Netflix. Mas pelo visto era pra assistir séries e filmes. Como era pago, mais uma vez Guilherme tocou meu coração a dar sua senha. Ficamos assistindo séries a noite inteira, e mesmo que ás vezes eu desse uma patada ou tacasse um travesseiro, ele cumpria sua palavra de paciência de sobra e não se importava.

Ele acabou passando a noite no meu quarto, era meu vizinho mesmo, não tinha tanta diferença. Fizemos guerra de pipoca e nos devoramos as barras de chocolate. O remédio era excelente e durou por umas 12 horas. O que eu agradeci muito até porque vinha umas 5 cartelas na caixinha cada uma com uns vinte comprimidos então deve durar um ano se é que não mais.

Assistimos temporadas e mais temporadas até que realmente não dava mais para Guilherme ficar, seu pai estava lhe chamando. E quando ele desligou o telefone, Lisa veio bater na porta dizendo que ele tinha mesmo que ir.

Fiquei meio triste. Ele estava se saindo excelentemente bem como meu acompanhante de TPM. Paramos de assistir The Vampire Diaries com um bufo em uníssono.

— Muito obrigada por me aturar!

— Não foi nada – Ele sorriu – Desculpe por ter que ir embora, fica com os doces e boa sorte.

Eu sorri de volta e quando ele deixou o quarto, voltei a ficar entediada. Assistir séries sozinha não é a mesma coisa.


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Notas finais do capítulo

Eu seeei que as meninas que leram adorariam ter um amigo desse shaushaushua ♥



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