Nos próximos dias, Haru continuava a voltar para casa no mesmo horário após sua corrida, mas, à sua rotina, foi acrescentado um hábito diferente: Ver o menino cabisbaixo esperá-lo na varanda de sua casa.

Naquele dia, Haru desacelerou antes de se aproximar demais. Rin possuía algo diferente de uma criança normal. Parecia triste. O moreno havia percebido isso há tempos, mas nunca chegou a tocar no assunto com ele. Algo estava acontecendo de ruim, Rin emanava solidão. Haru se perguntou se sua escola era tão ruim assim.

Ao perceber o mais velho, Rin sorriu largo, erguendo-se.

— Eu trouxe água pra você, olha. – Rin lhe entregou. Também já era um hábito, mas o garoto nunca se cansava de se gabar pela eficiência.

Haru bebeu praticamente toda a garrafa. Gotas chegaram a escapar de sua boca e escorrer pelo pescoço.

— Obrigado. – Devolveu a garrafa a Rin, que se sentiu orgulhoso.

Haru abriu a porta e Rin correu para dentro sem cerimônia. Mas, antes de entrar, Haru viu duas senhoras atravessarem a rua com seus olhares e cochichos voltados para ele. Fofocas. Haru entrou em sua casa.

A sala e cozinha estavam vazias. Rin já devia estar mergulhado na banheira. O moreno caminhou até as persianas da janela e deslocou uma pequena fresta, apenas para olhar as duas senhoras se afastando. Será que era só impressão sua ou elas estavam mesmo falando sobre ele? As vindas diárias de Rin de fato começavam a preocupá-lo.

O que os pais dele iriam achar se descobrissem que seu filho todo dia visita a casa de um estranho mais velho?

Num universo paralelo,

a mesma situação,

respostas diferentes.

Rin chegou na entrada de sua casa, pegando Haru de surpresa quando subiu os degraus. Haru ergueu-se, ficando ao lado do rapaz enquanto esperava-o abrir a porta.

— E aí, como foi o dia hoje?

Haru pensou um pouco enquanto Rin pegava as chaves do arbusto.

— Normal.

— Normal, normal. Todo dia é normal. – Rin entrelaçou os dedos em seus cabelos, empurrando-o para dentro da casa. – Entra aí.

Não viu porque o rosto de Haru estava mergulhado no cachecol, mas o garoto corou com o toque de afeto. Estava prestes a entrar quando duas senhoras passaram pela rua, cochichando algo que Rin não identificou. No entanto, ficou incomodado por estarem olhando para si enquanto falavam.

— O que foi? É sobre mim fala na cara. É meu primo esse aqui, se é isso que estão fofocando.

As mulheres aceleraram o passo, fingindo que o aviso não fora para elas.

— Era só o que me faltava...

Rin entrou, trancando a porta atrás de si. Haru havia sumido. Já devia estar naquela banheira, que era tão viciado.