007 Contra o Fim do Mundo escrita por Junovic


Capítulo 10
Paisagens solitárias


Notas iniciais do capítulo

James Bond cruza o mediterrâneo em busca de Samir Azad, líder do grupo revolucionário que o fará entrar na Síria. Entre paisagens solitárias em um mundo completamente diferente, ele terá uma grande surpresa em seu encontro.



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O plano era simples. Bond embarcaria com documentos falsos para Roma, na Itália e por lá ficaria alguns dias apenas para garantir que não estava sendo vigiado ou seguido. Nesse período, ele seria o turista exemplar, visitando todos os pontos mais conhecidos da cidade.

Quando Bond cansou-se de visitar museus lotados e monumentos tomados por pessoas apontando seus celulares para todos os lados, ele decidira que naquela noite ficaria no bar do hotel, ouvindo a banda de jazz ao vivo e tomando Martini.

Em seu terceiro ou quarto drinque, passou a flertar com uma jornalista da ITV, que fazia sua última reportagem na cidade antes de embarcar para Berlim, onde seria correspondente internacional. Ela, dizia, decidiu lhe dar uma noite de folga para comemorar o feito tão almejado.

Bond a fizera rir inúmeras vezes, mas ela não parecia querer ceder ao seu charme, pensou. Depois de lhe pagar mais uma bebida, James Bond reconheceu sua derrota e recolheu-se de volta ao seu quarto.

Ele tomava banho quando alguém bateu na porta do número 96. Saíra enrolado na toalha e estremeceu quando a jornalista surgiu no corredor vazio. Completamente nua. Ela puxara a toalha de sua cintura e os dois passaram a noite juntos.

Dois dias depois, Bond pegaria um ônibus com destino a Catania, ao sul do país. Era uma viagem longa e cansativa, mas M recomendou não fazer o trajeto de avião, agora que a Monitor Air tinha em seu poder o espaço aéreo de meia Europa e não hesitaria em usar as ferramentas a sua disposição ou limitar sua vigilância aos céus do Reino Unido.

Ao aproximar-se da ilha siciliana, Bond ainda pegaria um barco para acessá-la. Uma vez na região, não pôde deixar de acreditar que Catania era muito mais histórica e interessante do que a superestimada Roma, principalmente pelo clima tranquilo e o pouco falatório.

Ele deixaria a ilha na noite seguinte, onde voltaria a alto-mar de madrugada através de um navio cargueiro, que ele embarcaria ilegalmente.

O navio tinha como destino o litoral malaguenho, na Espanha, porém, ele passaria a menos de meio quilômetro de Valletta, Malta. Uma vez visualizando a baia maltesa, Bond nadaria até a costa e seu destino, a partir dali, ficaria indefinido.

Valletta era um eterno poente, tão tranquila quanto o mar mediterrâneo que a circundava. Sua arquitetura barroca dava-lhe um tom árido, com uma constante sensação de que a qualquer momento grandes navios de antigas civilizações atracariam em seu porto.

Bond atribuía a melancolia que sentira no tempo que ali ficou à gritante diferença na sua realidade comparada a dos habitantes daquela simpática ilhazinha. Não foram poucas as vezes que pegou-se imaginando criar laços com aquelas pessoas e recomeçar uma nova vida naquele que lhe parecia ser um mundo à parte.

Assim, acabara por conhecer um senhor que lhe contou a respeito de seu bimotor e de seu fascínio por modelos antigos de aviões. Bond, lentamente, fora sondando-o de maneira a descobrir se seu modelo seria capaz de voar por uma longa distância sem precisar abastecer. Perguntado a que distância ele se referia, Bond foi enfático: Ilha de Creta, Grécia.

O senhor lhe dera as costas e apenas sinalizou para que ele o seguisse. Balançando a cabeça e achando graça comentou: “Eu fui torturado pela KGB na segunda guerra. Vi espiões, conheço um à distância. Você não engana ninguém”.

O bimotor alçou voo na tarde seguinte e a verdade é que não houve nenhum problema aparente no decorrer da viagem. Exceto que ao pousar em uma pista particular em Chania, um dos motores morrera, impossibilitando o generoso senhor de voltar de imediato para sua cidade.

Ele falara para o espião não se incomodar, o avião precisava mesmo de uma última missão. Disse que ficaria alguns dias e daria um jeito de consertá-lo, apenas perguntou o seu verdadeiro nome: “Meu nome é James”, respondera Bond, com simplicidade.

Sabia que não encontraria outra pessoa que lhe desse carona até Nicósia, Chipre, local onde encontraria com o líder do grupo revolucionário sírio. Bond se apresentaria como o responsável de uma ONG que enviava alimentos para as vítimas da guerra. Porém, pela dimensão que o conflito alcançara, a ONU acabara por suspender a entrada de qualquer tipo de ajuda que vinha além das fronteiras até que o confronto reassumisse sua “normalidade”, o que não era invenção.

Dessa forma a única maneira de não interromper a chegada de alimentos primordiais para a sobrevivência de civis, era apelando para meios ilícitos. Alguém que lutava pela libertação de seu país não se negaria a ajudá-lo.

Para chegar até o encontro, mais uma vez Bond embarcou como penetra. Dessa vez o navio iria para norte da África, fazendo escala no porto de Beirute, no Líbano, passando, antes, a pouco por Chipre, ponto final para Bond.

***

Os morros repletos de ruas e casas à beira-mar não diferenciavam Nicósia das demais cidades do Mediterrâneo. Seu centro, por outro lado, não perdia em nada ante as principais capitais financeiras da Europa, além de igrejas ortodoxas espalhadas por toda a cidade.

Bond deveria esperar por Samir Azad, o líder do grupo, na cidade velha, ao leste da capital, onde casarões antigos e grandes mercados confundiam-se em suas ruas monocromáticas.

Ao entrar em um desses mercados, Bond deparou-se com uma variedade quase infinita de comida, frutas, animais exóticos domesticados, roupas coloridas e música por toda a parte. Ele andou mantendo certo estranhamento, como se o mercado fosse um mundo paralelo ao que ele acabara de sair.

— Chipre para inglês ver — falou uma voz feminina, em suas costas. O seu inglês era carregado com um sotaque oriental.

Bond virou-se e revelou-se em sua frente uma mulher com pele escura, com traços árabes. Mas o que chamava mais atenção não era o fato dela usar calça climatic impermeável, botas e revelando seus braços finos através de sua camiseta regata branca, mas por usar um hijab, revelando apenas uma mecha de cabelo que caia de sua testa.

— Não sou inglês, sou de Gales — replicou Bond, fixo em seus olhos muito grandes e claros, que lhe dava uma aparência fascinante.

— Esse lugar está longe de ser o verdadeiro Chipre, mas se quiser me acompanhar, poderei lhe apresentar algo de verdade nesse faz de conta mediterrâneo.

— Eu bem que gostaria, mas estou esperando alguém — disse Bond, guardando consigo sua frustração.

— Samir Azad — ela estendeu sua mão direita.

Bond hesitou, mas logo um sorrisinho surgiu no canto de sua boca.

— Você o conhece?

— Eu sou Samir Azad. Sou a pessoa que você procura.


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