Até o pôr do sol escrita por Miris


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e aproveitem!!



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Sua casa não era tão longe, mas parecia ser uma eternidade sem fim. Eu me sinto tão confusa... Eu me sinto estranha.
  Desde que eu voltei de viagem, as coisas parecem ter mudado. Eu lhe fiz uma pergunta, uma vez:
“Notou algo de diferente em mim?" – Ele me olhou. Eu estava sorridente.
"Algo mudou em você desde que voltou de viagem, mas eu ainda não sei o que é." – Meu sorriso desapareceu.
  Um tempo depois, ou antes, eu não sei, não faz diferença... Ou será que faz? Eu lhe fiz uma pergunta.
"Você notou?" – Eu lhe perguntei, ele me olhou.
"O quê?" – Eu sorri forçado, mas acho que eu pude esconder.
"Minha pele. Toque." – Dei-lhe o braço. Ele passou a mão.
"O que tem?" – Meu coração ardeu.
"Está mais lisa." – Ele me olhou. Eu não conseguia lê-lo. Não conseguia ver suas emoções. – "Mais do que antes."
"Desculpe, não lembro como era." – Uma facada. Uma enorme facada que me gerou gravemente.
"Tudo bem..." – Forcei um sorriso.
  Lembro de uma vez, em que um amigo me disse algo que marcou. Algo que eu sempre gostei de acreditar. Eu amava aquilo!
"Dá para perceber que está se cuidando mais. Está mais bela e cheirosa. Só um tonto não notaria!"
  Ele parou de perceber as coisas básicas em mim. Atualmente, tenho que lhe mostrar tudo. Senão, ele não nota. 
  Antigamente, ele me olhava por inteiro e sorria, sempre soltando um elogio e percebendo os mínimos detalhes.
"Você fez a unha?" – Ele imediatamente perguntava e eu, sorria.
"Sim, eu fiz. Gostou?" – Me sentia uma princesa.
"Ficou lindo em você." – Ele dizia.
"Obrigada." – Eu sorria radiante.
  E quando eu mexia no cabelo? Ele ficava admirando tudo, hoje, não há mais isso. Isso dói. Dói muito! 
"O que fez no cabelo?" – Ele perguntava olhando meu cabelo e sorrindo.
"Nada demais." – Eu respondia. – "Só hidratado."
"Está linda!" – Eu me sentia especial.
"Obrigada." – Eu corava.
  Eu comecei a entender qual foi o MEU erro. Eu dei TUDO à ele. Meu corpo, minha alma, meus pensamentos, meus segredos, eu dei TUDO de mim. Dei tudo e mais!
  Eu fiz de tudo por aquele homem. Eu lhe dei carinho, atenção, amor, honestidade. Dei a MINHA confiança. Deixei-o fazer o que queria, só pedia respeito. NUNCA pedi satisfação de ONDE ia, com QUEMQUANDO voltava, nem NADA do tipo...
  Esses dias, eu tingi minhas unhas de verde. A cor chamava bastante atenção, mas mesmo assim ele nem sequer notou. Eu fiz de tudo! Gestos, mexi no cabelo "disfarçadamente", peguei na mão dele, fui gentil e nada. Aí tomei iniciativa.
"Eu fiz as unhas. Viu?" – Mostrei e seu olhar se direcionou para minhas mãos.
"Ficou bom." – Ele disse.
  Ele não nota em mim, mas quando alguns garotos mexeram comigo e me olharam, ele ficou nervoso. Queria bater neles e tudo mais! 
  Às vezes, ele não atende minhas ligações. Então, eu não atendo as dele. Sempre com alguma desculpa, que me obrigada dar um sorriso forçado e concordar. É, sorriso forçado. Antigamente ele sabia quando eu estava mal, hoje posso fazer o teatro mais fajuto que ele acredita e não diz nada.
  Ele só se interessa quando estamos em momentos mais íntimos, entende? Tirando isso, não liga. Nem se preocupa, só quer saber disso.
  Às vezes, ele força um pouco a barra e eu fico nervosa. Ele me pergunta se está tudo bem, dou um sorriso forçado e digo que sim. TUDO apenas para não perder esse homem. Ele para e bufa, sei que está decepcionado, mas o que posso fazer? Sou alguém tímida, sem malícia alguma na cabeça. 
  Eu estava bem perto de sua casa, eu já sabia o que eu tinha que dizer, mas o problema era na hora de dizer. Eu vou acabar voltando atrás como da última vez. 
  Da última vez,  eu tinha ido até a casa dele para falar tudo o que tinha que falar, mas fiquei tão nervosa que inventei que estava com saudades dele. Acho que ele acreditou, mas que diferença faz?  Eu estava em minha bicicleta, indo para a casa de meu namorado,  com toda coragem do mundo,  que lá na frente se tornaria coragem nenhuma.
  De repente eu parei. Eu não podia fazer isso, eu iria acabar com tudo. Mas era necessário ter uma conversa com ele. Olhei para meu relógio,  17h00min. O pôr do sol era exatamente às 18h00min,  então eu tinha tempo. Parei na praia e subi numa rocha que ficava mais afastada. E ali eu fiquei. Eu precisava pensar. Pensar sobre tudo.
  O vento batia em meu rosto e eu podia sentir o cheiro do mar. Era tão bom! Eu não pude ver o horário passando, e me surpreendi quando meu celular tocou uma vez.
"Òh Iemanjá, Rainha dos Mares, me ajude. Eu não tenho coragem."  - Eu sussurrei, de olhos fechados. Depois disso eu não escutei mais nada. 
  Um bom tempo depois, quando o sol estava pela metade no mar, meu celular tocou mais uma vez. Eu, relutantemente, peguei ele é tomei um susto. Havia 15 ligações perdidas e 7 mensagens. Parei para ler as mensagens, era de meu amado Ricardo. As mensagens eram de desespero.
"Bry, cadê você?"
"Bry,  atende minhas ligações."
"Bry, o que está acontecendo?"
"Amor, por favor, fale comigo..."
  E as mensagens só pioraram. Ele estava desesperado procurando por mim. Fiquei assustada, ele NUNCA mandava mensagem. E as ligações? Ele quase NUNCA me ligava, quem mais ligava era eu. Sempre com alguma maldita desculpa para vê-lo. Para tê-lo. Para tocá-lo.

  Algo me surpreendeu mais ainda. Uma décima sexta ligação vinda... Dele. Eu tremi um pouco, será que eu atendia? Com mil e um pensamentos negativos, eu atendi.

— Alô? – Atendi.

“Onde você está? Não está em casa.”— Me assustei com seu tom de voz. Estava DESESPERADO. – “Você está bem? Por favor, me diz onde você está que eu vou ai imediatamente.”

— Err... – Gaguejei. – E-estou na p-praia. P-perto da sua casa. – Ele suspirou, parecia mais calmo.

“Estou chegando. FICA AÍ. Me espera!”

— Ok. Eu estou nas pedras. – Eu disse sem esperança dele lembrar.

“Aquela que íamos quando jovens? Onde eu me declarei, não é?”— Engasguei. Ele... lembrava?

— S-sim. – Ele desligou.

  Eu fiquei estática. Como ele se lembrava disso? Ele... não se importava, não é? Não notava, não é? Não me amava, não é? Não olhava para mim, não é? Ele não demorou muito.

— BRY. – Eu olhei para trás. – AH, GRAÇAS À DEUS! – Ele se ajoelhou e me abraçou, logo chorando. – EU PENSEI QUE TINHA ACONTECIDO ALGO DE RUIM COM VOCÊ. – Ele me olhou. – Você estava tão estranha. Sorrisos falsos, estava estranha, não me conta mais nada.

— E... Eu estou bem Ricardo. – Eu dei um sorriso muito bem dado, porém, falso.

— Mentira. – Ele disse na minha cara, o que me assustou. – Eu te conheço. Está fazendo de novo.

— O... O que houve com você? – Perguntei sem entender nada. Por que do nada ele ficou assim?

— Eu tive um sonho terrível... Sonhos n verdade. – Ele olhou no fundo dos meus olhos. – Sonhei que foi embora para sempre, meu bem. Depois, que por falta do meu amor, você se matou. – Ele começou a chorar e me abraçou. – Eu te amo tanto Bry. – Sorri, abraçando ele de volta.

— Eu também te amo Ricardo. – Olhei para o sol. – “Até o pôr do sol... Consegui.”

  Depois disso, eu lhe contei o que estava acontecendo comigo. Depois daquele dia, toda minha insegurança sumiu completamente. Estávamos tão bem e em um relacionamento tão saudável que tudo deu certo para ambos. Nós dois nos casamos seis meses depois, estava tudo perfeito e continuou assim, até o nosso último suspiro, ao pôr do sol.

FIM!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, digam o que acharam!