Turma 301 escrita por BatMax


Capítulo 3
Capítulo 3 - Mágoas


Notas iniciais do capítulo

Voltei povo!!!! Desculpa o sumiço! No capítulo de hoje, as coisas começam a ficar tensas!



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16 de Fevereiro de 2006 - Quinta Feira

“Oi... Eu sei que eu não escrevi nos últimos dias, mas, cá estou eu. E preciso dizer, caro diário, que eu havia me enganado. Antes de viajar para o Rio, eu tinha certeza de que viveria o verdadeiro inferno aqui. Mas, até que tem sido divertido. Amanhã é o fim da primeira semana de aula, e, olha só: Eu sobrevivi. Pelo menos, até agora. E ainda fiz amigos... Bom, na verdade... Só um: O Lucas. Ontem, nós dois fomos à uma sorveteria que fica perto do colégio. Passamos a tarde toda rindo e conversando. Mas não ouse pensar besteira, diário dos infernos. Nós somos amigos. Só amigos! Mas, não serei injusta: Mesmo que eu só tenha saído com ele, as outras pessoas são legais. Com exceção daquela Victoria, que não para de me encarar com aqueles olhos marrons e cheios de maquiagem. Me pergunto como alguém tão doce e tão simpático como o João possa estar namorando com uma pessoa tão esquisita e intimidadora quanto ela. Enfim... Isso era o que você precisava saber, diário! Eu tenho que ir agora! Boa noite!”.

17 de Fevereiro - Sexta Feira - 06:45 da manhã

— E então? Tem alguma ideia do que vai fazer no Carnaval? - Max e Lucas estavam sentados na mureta do colégio. Os dois esperavam o sinal bater para entrarem na sala. - Eu não faço ideia. É capaz dos meus pais quererem viajar pra Santa Catarina. Meus avós moram lá e já faz um tempinho que não vamos na casa deles. - Max deu uma risada tímida. - Você tem uma família grande! - - Ei... - Disse o garoto, colocando o braço sobre o ombro da amiga. - Eu sei que nós já conversamos sobre isso, mas... Eu tenho certeza de que sua mãe está sempre cuidando de você, aonde quer que ela esteja. - Max balançou positivamente a cabeça e deu uma leve suspirada. - Mas, e você? Vai passar o Carnaval aqui mesmo? - Lucas perguntou a ela. Antes que pudesse responder, Max foi interrompida por João, que passava no corredor naquele instante e cumprimentou os dois amigos. Lucas percebeu o olhar de Max e como ela ficou corada ao falar com João e deu uma leve risada. - Extra! Extra! Realeza do Santa Clara se importando com a plebeia recém chegada. Boatos de que a rainha não está nem um pouco satisfeita! - Disse ele, em tom de deboche. Os dois riram e Max bateu no braço do amigo. - Ridículo! Nada a ver isso aí! O João... - Ela pausou e suspirou, o que fez com que Lucas risse ainda mais. - Para, monstro dos infernos! Eu e ele somos só amigos! Só isso! - O sinal tocou e os dois amigos começaram a caminhar no corredor.

Aos poucos, os outros alunos da Turma 301 começaram a entrar. O professor do primeiro tempo entrou e cumprimentou os alunos. Aproveitando que ele havia saído rapidamente da sala para buscar uma pasta, Victoria, que estava em sua mesa, se levantou e foi para a frente da sala. - Bom dia, queridos colegas, Tânia! - Tânia, ficou sem graça, enquanto Bruna ria da situação, o que irritou Simone. - Como a maioria aqui sabe, não teremos aula na semana que vem por causa do Carnaval, portanto, é de extrema importância que eu distribua esses panfletos hoje mesmo! Dia 03 de Março, uma sexta-feira à noite, é o dia do meu aniversário. E, como eu sou uma excelente anfitriã, mais uma vez, será dada, na minha casa, uma festa para celebrar este dia que é tão especial pra mim. Estarei entregando o convite para cada um de vocês! - Disse ela, enquanto passava de mesa em mesa entregando os convites que estavam dentro de um envelope branco com detalhes em vinho. Ao chegar em frente às mesas de Simone, Tânia e Marcela, Victoria olhou para os envelopes e encarou as garotas. - Opa, acho que aconteceu um engano. Não tem convite pra vocês três! Também, por que diabos teria? Eu não iria colocar em risco a minha reputação convidando uma favelada, uma piranha e uma... - Victoria parou de falar e começou a rir, o que fez com que Tânia ficasse com mais vergonha ainda. Simone se levantou e encarou a garota, que não tirou o olhar intimidador e o sorriso provocador do rosto. - Uma o quê, Victoria? - Victoria riu novamente e encarou Simone. - Uma sapata que vai dar em cima de todas as outras garotas. Eu não vou colocar em risco a segurança das minhas convidadas. Eu tenho uma piscina e terão pessoas de biquíni. Imagina o quão constrangedor seria para as minhas convidadas terem que aturar uma sapatona que não sabe se conter. - João se levantou e foi pro lado de Victoria. - Vic, chega! Já deu! - Simone estava extremamente irritada e começou a avançar na direção de Victoria, que se mantinha intacta. Tânia segurou o braço da amiga. - Simone, para! Deixa essa idiota falar o que quiser! Ela não me machuca mais! - Simone olhou para a amiga e recuou, o que fez com que Victoria levantasse suas sobrancelhas e continuasse a distribuir os convites. - Enfim, continuando... A festa vai ser incrível, vai ter DJ, tem a piscina e vai ter bebida, que é basicamente o que importa e.... - Victoria é interrompida por alguém. - Será que você não percebeu que não tem ninguém interessado na merda da sua festa? - Victoria parou e o sorriso que estava em seu rosto se desfez. Ela olhou diretamente para André. - O que você disse? - Ela estava séria. - Eu disse que ninguém liga pra essa merda de festa! - Disse o garoto. André encarava a própria mesa com os óculos. - Victoria riu. - Não se preocupe, querido. Eu não te chamei. A festa é à noite, por isso eu não te chamei, pra você não perder o seu horário fixo de masturbação enquanto vê animação japonesa, sem ofensas, Carol, Alex. - Algumas pessoas riram baixo. João, Max e Lucas encaravam Victoria. - Eu só acho engraçado você dizer que não dá a mínima, quando, ano passado, seus pais tiveram que te prender dentro de casa para que o meu advogado não acabasse com você, já que você insistia em invadir o terreno da minha casa pra espiar a minha janela. Volta pra frente do computador e dos seus desenhinhos pornográficos, porque, com certeza, a única coisa boa que você faz pra sociedade é gastar toda a quantidade de esperma que você tem, assim, pelo menos, evita de gerar seres humanos pervertidos e doentes e insignificantes como você! - João puxou a garota pelo braço pra fora da sala. Todos estavam em silêncio. André continuava a própria mesa. Seus óculos estavam molhados, já que ele só conseguia tremer e derramar lágrimas enquanto ouvia as barbaridades que Victoria havia lhe falado. Max se levantou e foi até a mesa do garoto. - A-André?! T-Tá tudo bem? - Disse ela, gaguejando, pois não fazia ideia de como chegar no colega de classe. Ele se manteve em silêncio, mas continuava a tremer e a chorar. Ele já estava vermelho. De repente, ele socou forte a mesa e, num rápido impulso, saiu da sala, o que assustou quem estava ali dentro.

Do lado de fora, João encarava Victoria, que respirava ofegante. - Escuta, tá calma agora? - Ele estava visivelmente perturbado com as coisas que sua namorada havia falado. - João, eu... - Ele a interrompeu. - Olha o que fez, cara. Olha o caos que você gerou. Você e a Simone quase se bateram, a Tânia ficou super sem graça. E que merda foi essa agora? Victoria... - A garota respirou fundo e encarou o namorado. - Você tá certo, eu exagerei. Eu não devia ter falado aquelas coisas... - João riu, ironicamente. - Ah, pelo menos isso você enxerga. Victoria... Cadê aquela garota doce e divertida e carismática com quem eu passei toda a minha infância e comecei a namorar há alguns anos atrás? Hein, cadê?! - A garota derramou algumas lágrimas. - Eu sei... Eu tenho andado muito nervosa ultimamente, tenho sido arrogante com as pessoas... Mas você tem que me entender, João. Eu tô surtando... Eu tô no meio de uma seleção lá na agência, tem trocentas outras garotas, todas mais magras e mais bonitas e mais ricas e mais populares e mais carismáticas do que eu. Aquele diretor desgraçado só sabe gritar comigo e dizer que eu tô gorda, que eu tô ficando velha, que eu não sirvo pra isso... E ainda tem essa porra desse vestibular... Eu não aguento toda essa pressão, João. Eu não aguento sozinha! - João respirou fundo e abraçou a namorada. - Escuta, Vic... Tem outras 12 pessoas além de você naquela sala. 12 pessoas que têm seus problemas, suas inseguranças, seus defeitos, suas qualidades, seus surtos, paranoias... Mas, o principal, são 12 pessoas que, daqui alguns meses, vão passar pela mesma coisa que você. Tá todo mundo mal, tá todo mundo com o emocional na merda! E é justo por isso que você não pode sair por aí brigando e descontando seu estresse em todo mundo. - A garota chorava. - Eu sei! - Disse ela, com uma voz abafada.

O sinal do recreio tocou. Max e Lucas estavam na fila da cantina, conversando. - O clima tá pesado até agora... - - Também, depois que ela surtou... - O negócio foi bem feio... Eu nunca pensei que iria ver o André naquele estado. Eu não toquei nele, mas pude sentir que ele estava queimando, de tão tenso que ele estava. -. Os dois continuaram conversando na fila, quando a bolinha de pingue-pongue caiu aos pés de Lucas. O garoto abaixou-se para pegar e, ao levantar, deu de cara com Pedro. - Toma! -  Lucas forçou um sorriso, mas ficou meio sem graça. Ele tentou disfarçar, mas Max percebeu. Os dois andaram até o corredor e sentaram-se na mureta.

— Posso te perguntar uma coisa? - Disse a garota para o amigo. - Claro! - Ele respondeu, enquanto mastigava o salgado que havia comprado. - Você e o Pedro... - Lucas ficou sério. - O quê? - - Não sei... É que, quando você entregou a bolinha pra ele, sei lá... - O garoto respirou fundo e olhou pra amiga. - É uma longa história, mas, pra resumir... Eu estudei num outro colégio antes de vir pra cá. O Pedro e o Alex eram da minha turma na época, nós éramos mais novos. Eu não falava muito com o Alex, mas, o Pedro era quase que o meu melhor amigo. Até que... - Lucas parou de falar. - Até que?! - - Até que ele disse que não confiava em mim... Ele tinha uma namorada na época, não lembro o nome dela agora. Eles acabaram brigando e ela começou a sair com um outro moleque lá da sala. Esse moleque era meu vizinho e nós passamos toda a infância juntos. Mas eu sabia que ela tinha traído o Pedro com ele e me afastei dele, mas o Pedro nunca acreditou. Ele achava que eu tinha me aproximado dele só pra fazer com que a namorada dele o abandonasse e ficasse com o meu vizinho. Ele disse que não confiava em mim e que ele não se sentia à vontade comigo. Eu ainda tentei, algumas vezes, reatar essa amizade, mas... Ele nunca mais falou comigo, só me ignora e me encara com aquele olhar que você viu. - Max abraçou o amigo. - E-Eu sinto muito... Eu não fazia ideia que isso tinha acontecido... Ele é um babaca e perdeu um grande amigo. - Os dois riram.

Perto de onde estava Max e Lucas, estavam Simone, Tânia e Marcela. As duas tentavam confortar Tânia, que ainda estava mal com o que Victoria havia falado. - Aquela vaca... Se acha a dona desse colégio, mas não passa de uma vadia básica que vai tentar dar o golpe no primeiro velho rico que encontrar! - Simone e Marcela discutiam, enquanto Tânia mantinha-se em silêncio. - Não exagera, Simone. Ela é esperta, tem notas boas... E ela não é uma vadia. E se fosse, também, foda-se. O problema é que ela é arrogante e escrota. Ela pisa e humilha os outros e se sente bem com isso. O que ela falou da Tânia... - Marcela foi interrompida pela amiga. - Ela tá certa... - Simone e Marcela encararam Tânia. - Ela tá certa! Eu errei... - Marcela colocou as mãos nos ombros da amiga e começou a fazer carinho em seu cabelo. - Tânia, você tinha 14 anos. Você tava se descobrindo... Imagina o quão assustador é pra uma jovem da sua idade perceber que se sente atraída somente por garotas, e pior, no caso, pela melhor amiga. - - Mas isso não me dá o direito de fazer o que eu fiz... Mah, eu beijei a Victoria quase que à força. Ela não esperava por aquilo e ficou puta comigo. - - É, tudo bem. Você errou. Mas isso também não dá o direito de ela ficar te expondo e ficar te humilhando até hoje com isso! - Tânia suspirou.

De noite, já em sua cama, Max escrevia em seu diário.

“Estou aqui de novo... Hoje o dia foi tenso. A semana encerrou num clima estranho e pesado... Eles têm muita mágoa entre si, todos eles. O Lucas com o Pedro, as garotas com a Victoria.... O próprio André, que parecia ser o nerd certinho, mostrou-se instável e perseguidor... Eu recebi o convite pra essa festa, mas tenho medo do que pode acontecer lá. Se na sala de aula já é esse caos, imagina num lugar onde tem música alta, piscina e álcool liberado... Mas, vou confessar uma coisa só pra você, diário... Ver a Victoria surtar daquele jeito... Eu tenho que tomar mais cuidado. Se até o Lucas já percebeu a forma com que eu olho pro João, qualquer outra pessoa também pode. E isso pode ser o que falta pra explodir a 3ª Guerra Mundial naquela sala. Tenho que ir agora! Boa noite!”.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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