Assim que Harry disse aquela frase, a cabeça de Hermione se transformou em uma completa bagunça. Ela não havia cogitado realmente um feitiço. É claro que tudo estava muito estranho, coloca estranho nisso, mas um feitiço? Como ela deixou isso acontecer?

Fala sério! Ela é um bruxa, normalmente quem é atingido por esses feitiços são troxas que acabam por ver algo que não deviam. Mas ela? Quem seria capaz?

Por que ela deveria ter esquecido aquele ano em particular? E por que só parte dele? O que teria deixado pra trás?

Se lembrava de frequentar todas as aulas exigidas naquele ano (exceto Runas), se lembrava da dor de não ver Snape na classe de Poções. Depois de tudo que Harry disse sobre ele no final da guerra, Hermione se condenou por tê-lo julgado tão rápido. Decidiu que a partir daquele ano acreditaria mais no bem que existe nas pessoas, Snape precisa disso.

Enquanto ela estava perdida em seus pensamentos, Harry convocava os melhores aurores para se reunirem. Não contou o que havia acontecido, preferia que fosse pessoalmente – Hermione acreditava.

Eles rapidamente chegaram a sala de reunião. Hermione conhecida quase todos ali desde os tempos em Hogwarts, a maioria havia participado da batalha com ela.

Eles estavam inquietos, curiosos pelo fato da Ministra tem convocado uma reunião urgente sem contar mais detalhes. Previam o pior. Hermione os observou lentamente.

Algo capturou seu olhar: Malfoy estava entre eles. Raramente o via nesse tipo de reunião, mas hoje agradecia por sua presença, ele estava envolvido nas lembranças que haviam desaparecido, era bom o ter ali para que ela pudesse o observar. Qualquer movimento seu poderia significar alguma coisa.

— Quer começar, Mione? – Perguntou Harry sussurrando para ela – Ou quer que eu fale?

— Pode falar – Hermione disse com o olhar ainda fixado em Malfoy. Ela havia esquecido totalmente dele em Hogwarts naquele ano, ele poderia estar envolvido nisso. Por que havia esquecido dele em particular? Seria ele o bruxo que lhe lançara a maldição? Ele seria capaz? Mas por que?

— Silêncio! – Harry exclamou atraindo a atenção de todos, incluindo o homem de cabelos platinados. Hermione saiu dos seus pensamentos com o grito do amigo, era como se sua mente obedecesse a ordem de Harry. – Nossa Ministra, a Senhora Granger, está intrigada com algo que pode ter acontecido com ela.

— O que aconteceu, ministra? A senhora está bem? – Perguntou Peter Brandon, um dos principais aurores, com os olhos arregalados fixos em Hermione. Parecia intrigado e um tanto – muito- preocupado. Hermione pensou que poderia estar exagerando, mas se deteve quando Harry continuou

— A Senhora Granger acredita ter sido atingida por um Obliviate!- Todos arregalaram os olhos, mas Hermione pode perceber que Malfoy não parecia tão surpreso. Isso a incomodou profundamente. Olhou para Harry se perguntando se ele também havia percebido. Não, ele não prestava tanta atenção no outro homem presente na sala.

Desde o problema envolvendo Alvo e o filho de Draco, Scorpius, Harry e Malfoy deixaram de lado seus problemas. Mas só por alguns minutos, a paz foi tão frágil quanto um copo de vidro na mão do filho mais novo de Hermione, o Hugo.

— Senhora, isso pode ser muito grave! O que queriam tanto te fazer esquecer? – Perguntou um dos aurores que Hermione, infelizmente, não lembrava o nome.  Como ela iria saber o que queriam fazê-la esquecer, se ela não se lembrava?

— Por Merlin! – Exclamou, pela primeira vez, Malfoy. Todos os olhares se voltaram para ele. Os dela não, já estavam nele a muito tempo.

— Faça um favor! Granger só não quer admitir que sua memória não é tão boa quanto ela conta pra todo mundo. É da Ministra que estamos falando! Quem conseguiria chegar até ela e lançar um feitiço? Isso é uma perda de tempo!

Assim que Draco terminou de falar, Hermione revirou os olhos. Harry fez o mesmo.

— Não importa o que pense, Malfoy- Harry respondeu por ela.

— Creio que podemos pedir um exame. – disse um dos aurores. – Pode ser qualquer coisa e precisamos saber se realmente foi um feitiço antes de abrir uma investigação.

— É sério que vão gastar meu precioso tempo, só por que a Granger esqueceu de uma matéria da escola? Faça-me o favor! – Malfoy reclamou novamente. Hermione o encarou, como queria ser capaz de ler suas expressões, mas ele era tão frio que nem se tivesse a capacidade de fazer isso, com ele seria impossível.

O teste foi realizado naquela mesma hora. Hermione andava de um lado para o outro de sua sala enquanto Harry reclamava que a mulher ia abrir um buraco no chão. Ela continuou. Dizia a cada três minutos, que o teste estava demorando muito. Harry apenas assentia com a cabeça enquanto continuava a ler um artigo de quadribol no Profeta Diário, escrito por Gina.

— Ministra – Peter entrou na sala. Hermione prendeu a respiração enquanto observava em câmera lenta: Harry deixava o jornal de lado e se levantada. Caminhava até Peter. Pegava o papel que estava na mão do segundo. Lia com cuidado. Levantava o olhar para encarar Hermione.

— Positivo – disse simplesmente e Hermione caiu em sua cadeira. Agora tudo estava mais real. Alguém a havia enfeitiçado. Alguém não queria que ela soubesse de algo. Mas agora, mais do que tudo, ela precisava daquelas memórias de volta.

Foi marcado para o final do dia, a reversão do feitiço. Como sempre Obliviate era um feitiço muito perigoso, não se sabe o efeito que terá ao seu retirado. Hermione se lembrava muito bem quando levou seus pais para o Ministerio para terem suas memórias de volta. Lembrava que temia o pior, mas, graças a Deus, nada ocorreu com eles.

— Eu sonhava todos os dias com uma menininha correndo pelo nosso jardim. Saiba que nenhum feitiço pode me fazer esquecer do amor que eu sinto por você, filha – disse sua mãe na noite que o feitiço foi retirado.

Será que era isso? Havia algo muito importante em suas memórias apagadas que a deixavam presas e a fazia ter sonhos como o daquela noite?

O que havia esquecido? Como foi exatamente aquele ano em Hogwarts? Ela sabia, sentia, que Draco Malfoy estava envolvido nisso.  Mas como o culpar sem memórias? Droga, ela odiava com todas as forças estar naquela situação.

Ele a encarava enquanto esperava ser chamada, sentia o peso dos seus olhos sobre ela. Queria perguntar se ele sabia de alguma coisa, mas por Merlin, ele era Draco Malfoy, nunca te diria a verdade. O que ele estava fazendo naquele corredor? Só havia os dois, e ela não entendia porque, mas se sentia extremamente desconfortável com sua presença.

— Ministra- Peter a chamou novamente. Hermione se levantou e caminhou rapidamente até a porta, mas travou antes de atravessar. Não conseguia entrar, tinha medo do que se lembraria, deveria ter esquecido por alguma razão. Será que estaria fazendo a escolha certa?

Poxa, sua vida era incrível, não queria mexer em nada. Tinha dois filhos lindos que amava mais do que tudo. Tinha um marido que a apoiava, apesar de tudo. Tinha amigos muito especiais, que ela sempre poderia contar. Tinha o emprego dos sonhos.

E essas lembranças... E se elas acabarem com tudo? Mas ela precisava saber! Deus, por que a fez tão curiosa?

Assim que pôs o primeiro pé, direito, dentro da sala, Draco se levantou bruscamente e saiu do corredor batendo a porta atrás de si. Hermione acompanhou com o olhar, até sacudir a cabeça e entrar de vez na sala.

— Pode se deitar. – Peter disse enquanto prendia um cinto envolta do corpo de Hermione. Ela o olhou assustada. – Para garantir que nada aconteça. As vezes as pessoas ficam tão nervosas com as lembranças que caem da cama.

Hermione respirou fundo enquanto Peter buscava a varinha. Deus, ela realmente deveria estar fazendo isso?

—Pronta? – Peter perguntou apontando sua varinha para ela. Ela respirou mais profundamente e fechou os olhos.

Ele disse algumas palavras que ela não entendeu perfeitamente. Uma luz prata a cegou. Tudo ficou preto. Quando sua visão clareou, não estava mais no ministério, estava em Hogwarts.