No Way Back escrita por Mille Evans


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

História baseada na música "No Way Back", do Foo Fighters. Espero que gostem, pessoal :)



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No Way Back

“Lately, I've been

Livin' in my head

The rest of me is dead

I dying for truth…

(Ultimamente, eu tenho passado muito

tempo na minha cabeça

O resto de mim está morto,

eu estou morto de verdade…)

(Foo Fighters – No Way Back)

x x x

— Ed, você já parou para pensar que deveria arrumar uma namorada?

Edward Elric virou-se lentamente para o irmão, Alphonse Elric, perguntando-se intimamente o que diabos é que ele tinha na cabeça para iniciar aquele assunto do nada. Era uma quinta-feira infernalmente quente, eles estavam presos no trânsito e atrasados para o compromisso daquela noite. De onde Al havia tirado aquela ideia?

Decidido a ignorar a pergunta, o loiro limitou-se a girar os olhos, aborrecido. Os dedos tamborilaram sobre o volante do Jaguar e-type enquanto ele reprimia um suspiro.

— Al, não sei de onde você tira essas ideias. – Limitou-se a responder, birrento.

Alphonse deu ombros, completamente relaxado sobre o banco de couro preto do veículo antigo. Os anos haviam lhe conferido uma beleza incontestável que começava nos olhos dourados, passava pelo rosto jovial e terminava nos cabelos loiros jogados para o lado, o que de maneira maneira usual lhe conferia um charme encantador.

— Depois que comecei a sair com May mudei um pouco minha concepção sobre relacionamentos. Pode ser algo muito positivo. – Alphonse comentou, se espreguiçando no banco. Um sorriso tranquilo estampava a boca masculina.

— Lá vem você com essa conversa de novo. Não tenho tempo para namoradas, você sabe. – Edward passou a mão pelos cabelos, que costumeiramente estavam presos num rabo de cavalo. – O laboratório me consome tempo demais.

Al fitou o irmão com ares de tédio. Sempre escutava aquele argumento vindo do mais velho quando tocava no assunto de relacionamento, era impressionante. Edward sempre sustentava a mesma história: ser químico nos laboratórios do exército era desgastante e não lhe restava tempo para nada e blá blá blá…

— Você tem uma vida fora daquele laboratório, sabe. – Al tentou mais uma vez, gesticulando com a mãos pacientemente. – E existem garotas bonitas por aí. Mais perto do que você pensa, aliás. – O caçula dos Elric finalizou, dando ombros.

Foi a vez dos olhos dourados de Edward percrustarem o rosto do irmão caçula, que agora observava o trânsito começar a fluir lentamente. Desconfiado, o mais velho dos Elric entreabriu os lábios, pronto para falar:

— O que você quis diz…

— O trânsito andou. Melhor acelerar ou vamos nos atrasar.

Edward voltou a estudar o irmão, tão risonho e relaxado, e por um segundo cogitou que ele estava planejando alguma coisa para aquela noite. Mas o que poderia ser? Era apenas uma das várias reuniões esporádicas que eles faziam vez ou outra em companhia de Winry Rockbell, a melhor amiga de infância deles, e May Chang, a atual  namorada de Alphonse. Não era como se houvesse algo para acontecer em algo tão previsível.

Girando os olhos, Edward apenas concordou silenciosamente com o irmão e acelerou, desejando ardentemente que o trânsito melhorasse. Mal via a hora de finalmente chegar em casa e dormir. Somente Winry e Alphonse tinham aquela absurda capacidade de fazê-lo rejeitar sua cama para se sentar num bar em pleno dia de semana sem nenhum motivo relevante para isso. Cansado como ele estava, em um dia normal estaria provavelmente com os pés esticados sobre a mesa de centro da sua casa, relaxando para a maratona do dia seguinte acompanhado de uma boa xícara de café.

Felizmente, suas preces foram atendidas em relação ao trânsito. O loiro teve a linha de pensamentos interrompida quando acelerou ininterruptamente pelos instantes seguintes. Quinze minutos depois ele e o irmão estavam chegando a um ambiente agitado, onde se podiam ver mesas e cadeiras de madeira dispostas aleatoriamente na calçada. Pessoas riam e conversavam, acompanhadas de grandes canecas de cerveja, e uma música agradável vinha de dentro do estabelecimento, que nada mais era do que um pub famoso da capital. As paredes eram repletas de capas de discos de vinil antigos, havia um telão exibindo algum clipe famoso e o único som que se sobressaía além da melodia animada ao fundo era o burburinho de vozes animadas.

— As meninas estão lá em cima. – Alphonse anunciou, fazendo um gesto para o irmão segui-lo.

Edward seguiu o caçula sem objeções. O segundo andar do pub era mais silencioso e também mais vazio. Duas compridas fileiras de mesas e cadeiras de madeira tinham sido dispostas de forma organizada, e não foi preciso que os irmãos Elric olhassem mais de duas vezes para reconhecer as duas garotas que os aguardavam.

Uma delas tinha os cabelos modelados num par de tranças boxer adorável. Os olhos castanhos eram puxados e ela tinha um largo e belo sorriso nos lábios rosados quando Alphonse se aproximou e lhe selou a boca com um rápido selinho. Já a outra garota era loira e possuía um par de olhos sensacionalmente azuis semi cobertos por uma farta franja loira. Al inclinou-se para dar um beijo na bochecha dela, fazendo-a rir.

— Boa noite meninas. - Alphonse disse, sentando-se ao lado da namorada.

— Boa noite. – Edward fez coro ao irmão, porém diferente dele, apenas largou-se ao lado de Winry, suspirante, enquanto afrouxava a gravata.

Habituados a esse comportamento, os outros três presentes à mesa não manifestaram qualquer reação negativa.

— Dia difícil? – Winry questionou, aconchegando as costas contra a cadeira enquanto observava o amigo de infância, Edward, desfazer o nó da gravata.

— Dia cansativo. – Edward respondeu sem maiores emoções, fitando a garota rapidamente pouco antes de suspirar. – Então, o que vamos pedir? – O loiro perguntou, olhando o irmão e a cunhada.

— O de sempre, acho. – Alphonse quem respondeu, o braço em torno dos ombros frágeis de May.

— O de sempre então. – Winry fez coro ao rapaz.

A noite transcorreu sem muitas novidades em vista dos habituais encontros deles. Sentados em volta da mesa, eles conversavam sobre todos os assuntos possíveis aproveitando a comida da casa, bem como o som ambiente do local e as bebidas, que no geral se resumiam à cerveja artesanal da região. Era naqueles breves instantes que Edward Elric entendia porque fazia exceção para as pessoas sentadas àquela mesa, posto que era muito mais convidativo ir para casa descansar e “ser o jovem idoso rabugento de sempre”, como Alphonse costumava dizer às vezes. O motivo daquela concessão era simples e óbvio: eles eram seus amigos a ponto dele se esquecer do cansaço e das horas nos momentos em que estavam juntos. Não ligava para o horário ou mesmo as circunstâncias desde que estivesse com eles.

O loiro sorriu, ainda com aqueles pensamentos, e pelas duas horas seguintes permitiu-se rir e conversar sem pensar em trabalho ou na rotina sufocante que tanto o deixava cansado. Ainda sim, apesar do clima leve e descontraído, quando o relógio marcou onze horas em ponto eles decidiram que era melhor ir para casa.

E foi aí que as coisas mudaram um pouco.

— Winry, você quer que eu a deixe em casa? – May perguntou, quando eles alcançaram a calçada do estabelecimento.

— Winry não está de carro? – Edward perguntou, agora já sem gravata. O terno estava pendurado em um dos ombros enquanto ele fitava a amiga, que tinha os ombros encolhidos em decorrência da brisa noturna.

— Está no conserto, não tive tempo de ir buscar ainda. – A loira deu ombros, passando a mão pelos longos fios dourados. Parecia aborrecida. – Não posso continuar pegando carona, preciso ir amanhã à oficina, sem falta.

— Eu posso te dar uma carona. – O mais velho dos Elric fez um sinal de displicência com uma das mãos, impaciente. – Al pode ir com May. – O loiro fitou o casal. – Certo?

— Claro. – Alphonse sorria de uma maneira estranhamente feliz.

Edward arqueou uma sobrancelha ao ver a reação do irmão, mas não disse nada.

Despediram-se e seguiram para o carro. Quando se viu a sós com Winry dentro do veículo, o loiro não evitou o comentário guardado anteriormente:

— Juro que o Al sorri de um jeito muito maníaco às vezes.

Winry gargalhou, esfregando os próprios braços para afastar o frio.

— Ele está apaixonado, Ed.

— Paixão deixa as pessoas maníacas, então?

Winry observou o amigo de perfil, notando alguns poucos fios loiros soltos esvoaçando ao sabor do vento. Ele tinha os cantos da boca flexionados num sorriso e um delicioso perfumado amadeirado se desprendia do corpo do loiro, que tinha as mangas da camisa social dobradas até o cotovelo.

De repente ela estava muito grata pelas janelas estarem abertas.

— Você ficaria surpreso em saber o que a paixão faz com as pessoas. – A loira limitou-se a responder, voltando a olhar para frente.

Edward a fitou rapidamente, arqueando uma sobrancelha.

— Nunca esperaria ouvir algo assim de você. – O químico comentou, risonho. – Está apaixonada e não me contou?

Winry girou os olhos azuis, descansando a cabeça no banco de couro preto do veículo.

— Deixe de ser intrometido.

— Então você está apaixonada! – Edward bateu de leve no volante, animado. – Me conte, Winry!

— Se eu tivesse uma chave inglesa aqui, eu a jogaria na sua cabeça.

— Já passamos dessa fase violenta Winry, agora me conte quem é o sujeito.

— Isso é ridículo, como chegamos a esse assunto? – A loira passou a mão pelos cabelos, corrigindo a postura. – Não vou falar da minha vida amorosa com você.

Edward soltou a mão do volante para cutucar a perna da amiga rapidamente.

— Vamos, me conte.

— Não. – A loira encarou o amigo mais uma vez, antes de olhar para frente. – Você tem um emocional equivalente ao de uma rocha.

— Não sou uma rocha.

— Não, mas tem o emocional de uma.

— Isso não é verdade, sou plenamente capaz de me abrir.

— Ed, você mal gosta de sair com pessoas, quem dirá se abrir com alguma. – Winry gargalhou.

— Você está mudando o foco da conversa, isso não é justo. – Edward relaxou no banco, e aproveitando o tráfego tranquilo, fixou os orbes dourados no rosto da amiga de infância. Foi então que percebeu as mãos dela esfregando os braços. – Pega minha blusa, você tá congelando.

— Já estamos quase chegando, não precisa. – Winry fez um gesto de displicência, encarando-o rapidamente antes de voltar a olhar para frente.

Edward girou os olhos dourados, pouco antes de flexionar o braço para o banco de trás, agarrando o tecido grosso do casaco. Jogou-o no colo da amiga, que o encarou surpresa, mas vestiu a peça sem fazer mais objeções.

— E então, vai me contar? – Ele voltou a perguntar, entrando na rua da casa da loira.

— Não.

— Você é incrivelmente orgulhosa. – Edward parou diante de um prédio, fitando a loira  demoradamente. – Vocês reclamam de mim, mas não se abrem também. – Ele reclamou, rabugento.

Winry encarou Edward por alguns segundos, os orbes azuis passando pelos olhos dourados, pelo nariz simétrico, pelos lábios desenhados e pelos fios dourados ainda esvoaçando ao sabor do vento.

As bochechas da loira tornaram-se levemente rubras.

— Se você não fosse essa rocha… - Winry murmurou, parecendo indecisa.

— Se eu não fosse uma roch…

E então o acontecimento que mudou a noite aconteceu. Num impulso breve e rápido, Winry inclinou-se e selou os lábios de Edward num beijo rápido que não durou mais do que segundos. Tudo que pôde ser registrado naquele momento foi a maciez dos lábios de ambos.

— Se você não tivesse o emocional de uma rocha, talvez pudesse entender o que a paixão faz com as pessoas. – Winry murmurou, o rosto ainda incrivelmente próximo ao do rapaz.

Edward não sabia o que dizer e muito menos o que pensar. Observou Winry descer do carro, observou os cabelos longos e loiros esvoaçando com o vento, observou-a até vê-la sumir na portaria do prédio, mas ainda não conseguia sequer entender o que havia acabado de acontecer.

Ainda não conseguia raciocinar o fato de Winry Rockbell, sua melhor amiga de infância, estivesse apaixonada por ele.


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