Rise Of Supergirl escrita por AcheleForever


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Olá você!
Talvez eu tenha atrasado todas as minhas outras histórias, mas foi por uma boa causa.
Espero que gostem na mesma proporção em que gostei de escrever. Relevem os erros de português e curtam esse casal maravilhoso.



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Quando Kara abriu os olhos pela primeira vez na Terra, ela aparentava ter 10 anos terráqueos. Lembrava-se muito pouco de como tudo aconteceu, mas a memória da despedida do seu planeta natal ainda estava fresca.

O primeiro dia no novo planeta foi complicado. Havia perdido os pais, em nenhum momento foi preparada para isso. Zor-El e a filha mantinham um relacionamento muito saudável, Kara sabia do empenho do pai em salvar Kripton. Porém em momento nenhum ele havia dito que caso o contrário acontecesse e seu mundo natal estivesse condenado, ela seria salva sozinha.

Sua cabeça doía, era tudo muito novo e bagunçado. Durante seu sono na zona fantasma, não envelhecera um dia sequer. Sua nave saiu de curso com a explosão de Kripton, mas a nave de Kal-El não. Ele havia aterrissado poucos anos luz após o lançamento emergencial. Não conseguia associar a imagem do homem corpulento á sua frente com o bebê que embalava o sono pouco tempo atrás. Apesar de todos os traços parecidos, de toda a fala mansa e de ostentar o símbolo de sua casa no peito, para Kara aquele não era Kal-El. Pelo menos não por enquanto.

Foi apresentada á Jeremiah e Eliza pelo homem que dizia ser seu primo. O casal de cientistas eram amigos de longa data de Clark, e esse era o nome terráqueo que Kal-El assumiu assim que foi encontrado pelos pais adotivos. Aparentemente, terráqueos não gostavam de nomes compostos por hífen.

Durante algumas horas do primeiro dia, seus futuros pais adotivos tentaram lhe explicar alguns pontos cruciais para sua nova vida na Terra. Seu novo nome era Kara Danvers, ela era uma criança órfã que foi adotada pelos cientistas assim que seus pais morreram em algum acidente que nunca vai ser nomeado. O sol amarelo desse sistema solar lhe concedia alguns poderes sobre humanos que não deveriam ser usados em hipótese nenhuma até que ela tenha certa idade. Clark se mostrou para o mundo aos 16 anos, ela tinha 10. Não que isso fosse uma prioridade.

Era metade do dia (Kara se orientou pelo sol, o relógio terráqueo não fazia sentido nenhum para ela) quando Eliza introduziu um novo assunto na conversa que se estendia por horas. O casal já tinha uma filha de sangue, que agora teria Kara como irmã. Não queria ser a intrusa na família, então pretendia ser no mínimo suportável para a primogênita que se chamava Alexandra.

O sol amarelo já tinha se posto quando finalmente a conversa acabou. O casal conduziu Kara até uma versão primitiva dos carros de Kripton e a levaram para sua nova casa. De acordo com suas aulas em seu planeta, aquele estilo de construção não era utilizada em Argo City á pelo menos 6 gerações de sua família. Mas a casa possuía seu charme, Kara tinha que dar o braço á torcer.

Ficaram longos minutos dentro do carro, seus novos pais observando a figura que aparecia no andar de cima da casa com apreensão. Alguma coisa lhe dizia que a primogênita do casal Danvers não sabia de sua existência até aquele momento. Jeremiah e Eliza trocaram algumas palavras rápidas e tensas, saíram do carro e abriram a porta para que a menor fizesse o mesmo. Ao chegar à porta da casa, os dois colocaram confortavelmente as mãos em suas costas incentivando-a. Alexandra estava na sala, de pé no meio do cômodo. Seus olhos faiscantes fuzilaram Kara, a loira ficando realmente com medo do que poderia acontecer á seguir já que não lhe falaram nada sobre os poderes dos terráqueos.

A kriptoniana encarou o teto durante os longos minutos em que foi deixada na sala sozinha. A conversa seguia acalorada na cozinha entre os membros da família Danvers. Sua audição estava meio bagunçada, mas mesmo sem entender a maioria das palavras ela compreendeu que Alexandra não está muito feliz com a sua chegada apenas pelo seu tom. Ela descobriu que a língua oficial do país que agora pode chamar de casa é o inglês. O casal de cientistas e Clark falaram com ela em um kriptoniano polido, porém na casa ela não entendeu uma palavra até o aquele momento.

Assim que voltou da cozinha Eliza deu um sorriso cansado em sua direção. Aparentemente Kara estava certa, a conversa não foi nada calma. A sua mãe adotiva a guiou até seu novo quarto, que para seu espanto era o mesmo em que Alexandra residia.

— Eliza, Alexandra não me quer aqui.

Kara parou enfrente uma cama improvisada que parecia ter sido confeccionada ás pressas. O colchão tinha aparência boa e o cobertor de pelos parecia tão fofo que a menina apenas queria encostar o seu rosto nele. Ou ela estava tão destruída física e mentalmente que tudo lhe parecia ótimo aos olhos.

— Dê um tempo á ela, Kara. Aconteceu tudo muito rápido para todos nós.

— Por quê não posso ficar com Kal-El?

A menina não queria parecer mal agradecia mediante tudo o que o casal Danvers estava se propondo á fazer. Adotar uma criança alienígena de um dia para o outro não parecia ser a coisa mais fácil desse mundo, mas ela só queria se sentir confortável e no momento, isso só parecia ser possível junto de uma figura já conhecida.

— Clark possui muitas responsabilidades no momento, criança. Prometo que vai se sentir em casa rápido, e todos nós vamos fazer o possível para que não se sinta deslocada por aqui.

Assim que deitou confortavelmente na cama confirmou sua teoria de que tudo ali era muito aconchegante, quase como em Kripton. Antes de apagar de cansaço, Kara chorou por seu mundo e por seus pais, por um estilo de vida que lhe foi tirada muito cedo e por toda a mudança repentina em sua vida.

Foram duas semanas até que Alexandra dirigisse á palavra a Kara. A menor tentou diálogo algumas vezes na primeira semana, mas na segunda ela já sentia um cansaço anormal em suas costas. Foi uma surpresa quando a maior, com 12 anos na época, se apresentou em um kriptonês meio enrolado, porém charmoso junto com as bochechas coradas.

— Bom dia, Kara. Tenho que me desgulpar pelo meu comportamento durante essa primeira seman. — olhou o papel em sua mão

— Bom dia, Alexandra.

— Só Alex, pur favor – ela sorriu abertamente.

— Não tem o que se desculpar, você só estava com medo.

— Eu... — ela recorreu ao papel novamente – Eu...

— Nós podemos falar em inglês, se preferir.

Inglês não era uma língua difícil de aprender, e Kara demorou apenas uma semana para conseguir associar o básico. Mas ao ouvir Alexandra falar kriptoniano, a loira sentiu um calor terno dentro de si que a lembrava de quando era elogiada pelos pais. Era reconfortante saber que não, Alex não tinha mais medo dela como desconfiava. Apenas não sabia como se comunicar e se importou o suficiente para aprender seu idioma nativo. Seria esse o sentido de ter uma irmã? Era essa a função de família aqui na Terra?

Após alguns meses e um inglês mais afiado, ela foi matriculada na mesma escola em que Alex estudava. Ela estava prestes á completar 11 anos, e em seu primeiro dia de aula foi quando Kara sentiu seus poderes pela primeira vez. Era aula de História Americana e quando o professor começou a explicação, tudo ficou complicado. Muitas vozes alternavam entre alto e baixo, sua visão começou a escurecer e foi então que ela desmaiou. Acordou na enfermaria, Alex extremamente preocupada se debruçava sobre ela e ligava para Eliza ao mesmo tempo.

Em Kripton a normalidade era um filho por casal, então nem em seus melhores sonhos ela se imaginava com uma irmã. Mas depois de poucos meses, se Kara pudesse escolher qualquer pessoa em qualquer universo, ela escolheria Alexandra. Todo o sentimento, que na Terra nomeavam de amor, que Alex sentia por ela e mesmo sem necessidade de sentir a fazia imensamente feliz. Sem contar sobre Jeremiah e Eliza, que agora a amavam como se ela fosse sua filha de sangue e em troca Kara os amava como sua verdadeira família. Porque agora eles eram.

Durante um ano completo, ela administrou todos seus poderes da melhor forma que pode. Não existiam palavras na língua inglesa que expressassem sua gratidão para com Alex. Ela foi sua confidente, sua melhor ajudante e a melhor irmã que alguém poderia querer nesse planeta. Durante 365 dias ela ajudou Kara a esconder alguns incidentes de seus pais e do mundo, focou em tudo que conseguia furtar do escritório do pai para aprender mais sobre Kara e seu passado, e acima de tudo foi sua melhor amiga.

Com 12 anos ela viveu seu primeiro dilema na Terra. Era um passeio normal de carro até o shopping com Eliza e Alex, uma quarta-feira ensolarada. Na volta, por volta da metade do caminho até sua casa, elas presenciaram um acidente envolvendo outros dois carros e uma motocicleta. Eliza ligou para a emergência com rapidez, Alex saiu do carro para ajudar a interditar o trânsito e Kara viu dentro de si uma vontade de ajudar crescer mais e mais a cada segundo.

Um carro e a motocicleta não sofreram grandes danos, mas o carro menor e mais frágil não teve tanta sorte. Dentro dele estavam uma mulher desacordada e um bebê preso á cadeirinha no banco de trás. Segurando a mão de Alex com segurança, ela sussurrou que precisava ajudar e que esse era seu dever nesse planeta. Recebendo um beijo na testa da irmã, ela andou decidida até o carro olhando desconfiada em volta para ter certeza de que ninguém veria uma menina de 12 anos arrancando a porta de metal.

Não teve muito trabalho. Arrancou a porta e tirou a mulher desacordada, colocando-a na grama da casa mais perto. Puxou a cadeirinha do banco e colocou-a do lado da mãe, voltando correndo para perto da família. Alex a recepcionou com um abraço, Eliza com um afago no cabelo. Agora Kara sabia sua missão nesse planeta: faria a família que a recebeu com os braços abertos sentir orgulho.

Foi com 13 anos que ela conheceu a pessoa mais importante da sua vida. Era a primeira segunda-feira do ano letivo, e a professora do seu primeiro período anunciou que havia uma aluna nova na sala e introduziu a menina tímida á turma. Ela era menor que Kara, tinha olhos de um azul tão limpo que parecia o mar do Caribe (não que Kara já tivesse ido ao Caribe, mas ela reconhecia a cor dos comerciais de turismo) e um cabelo tão negro quanto a noite. Sorriu um sorriso de dentes perfeitos com a boca de cor vermelho sangue, fazendo assim até mesmo a professora ficar sem fala.

— Lena, Lena Luthor.

Ela se apresentou assim que a professora solicitou e por mais que Kara tinha feito força mentalmente para que acontecesse o contrário, Lena sentou-se do outro lado da sala. Foram duas longas semanas até que ela conseguisse falar com a recém-chegada, porém quando se falaram foi amizade instantânea. Durante todo o ano letivo todos os trabalhos foram feitos em dupla, mas por incrível que pareça essa convivência era restrita somente á escola.

Com 14 anos e mais segura de si, Kara teve coragem de pedir á Eliza para trazer Lena á sua casa depois das aulas. A kriptoniana sabia do peso do sobrenome de sua melhor amiga, mas sabia que a amizade entre elas fazia valer esse risco. Respirou fundo, absorveu toda a falsa coragem que precisava do sol amarelo e entrou em casa pisando firme. Ouviu a mãe na cozinha e quando entrou confiante no cômodo, segurou a maçaneta com tanta força que a quebrou.

Após dois minutos em silêncio Kara teve coragem de olhar nos olhos da mãe. Essa sorria em resposta, aguardando o que de tão importante a filha precisava lhe contar. Sem freio, a menor falou correndo sobre sua vontade de trazer a amiga de sobrenome Luthor (mesmo sabendo o teor das experiências feitas no laboratório da família) para dentro de casa por algumas horas. O silêncio que veio em seguida parecia um mau presságio, porém Eliza achou que não deveria descontar suas desavenças em uma criança que não tinha culpa do sobrenome que herdou. E se ela inflou essa coragem em sua filha menor, não seria ela que ceifaria o bem que essa amizade poderia continuar fazendo.

Aos 15 anos ela viu o amor que sentia pela família Danvers, ao qual fazia parte á 5 maravilhosos anos, aumentar em uma proporção assustadora. Desde que sua amizade com Lena começou, quando Alex tinha 15, ela sentiu a irmã um pouco distante de tudo. Focada como sempre nos estudos, mas afastada da família e amigos. Era mais reservada que o normal, mesmo com Kara, e mais ainda com os pais. Passava a maior parte do tempo com a cara enfiada nos livros com a desculpa de conseguir uma bolsa de estudos na sua faculdade dos sonhos. Nanotecnologia não era dos cursos mais fáceis, mas a família confia que a mais velha conseguiria sem esforço algum. Alexandra já se interessava por ciências em geral desde que se entendia por gente, mas a chegada da irmã mudara tudo. O amor crescente pela irmã adotiva só lhe deu a certeza de que precisava. Tanto por sua própria vontade, como para proteger a menor (mesmo sabendo que de todos os habitantes da Terra, Kara era uma das que menos precisava de cuidados).

Era um dia de tarde ensolarado, céu aberto e brisa leve. Alex havia acordado muito cedo e levou Kara junto consigo assim que saiu de bicicleta em direção ao norte da cidade, onde somente havia fazendas e algumas casas abandonadas. Fizeram o caminho em silêncio, a loira percebendo a vontade mínima da irmã em expor o destino delas. Foi quando Alex parou para descer da bicicleta e abrir o portão de uma casa simples, que Kara achou o momento certo para perguntas.

— Onde estamos indo?

— Você confia em mim? – a morena segurou as mãos de Kara.

— Confio a minha vida á você.

Mais nenhuma palavra foi dita. Elas caminharam em silêncio até a casa e Alex bateu á porta, sendo recepcionada por um sorriso largo de uma morena com olhos encantadores. Elas se abraçaram longamente, as apresentações foram feitas e logo em seguida eram três meninas andando de bicicleta pela estrada que agora era de terra batida. Chegaram rapidamente em um descampado, desceram das bicicletas e andaram um pouco até uma sombra.

Não foi preciso dizer nenhuma palavra para que Kara soubesse o que Alex estava tentando lhe dizer. Os olhos das duas meninas (a morena chamava-se Maggie) entregavam a paixão que uma sentia pela outra, e quando a loira uniu as mãos esguias e sorriu na direção delas a Danvers mais velha sabia que tinha feito à escolha certa em contar para sua irmã. Elas ainda eram melhores amigas para a vida toda.

Nesse mesmo dia á noite, Alex resolveu contar para seus pais. Começou dizendo que não havia poder sobre essa escolha e que já havia nascido assim, porém com um sorriso terno Jeremiah explicou que se ela não tivesse matado alguém e precisasse de ajuda para esconder o corpo, estava tudo bem. Ela era sua filha, o seu amor para com ela seria eterno. As duas filhas se assustaram ao saber que Eliza já sabia disso á tempos e só esperava para que a filha quisesse contar por ela mesma. Ali naquela sala, ela não soube nomear o que estava sentindo. Mas com certeza era maior que amor, se isso fosse possível.

Era sua festa de 16 anos, e como boa habitante da Terra do sexo feminino, ela estava muito empolgada. Pediu para Eliza que sua festa não seguisse o padrão americano de festa de 16 anos. Ela queria uma festa sim, mas sem vestidos e decoração rosa. Ela queria um ambiente agradável onde poderia comer e conversar com os amigos. Ás 8 da noite todos os convidados já se encontravam na pista de dança improvisada nos fundos de sua casa.

Era 10 horas e a festa agora seguia com música lenta e alguns casais na pista de dança. Kara se servia de ponche (devidamente inspecionado pela senhora Danvers para não conter álcool) e quando ouviu a música que ela e Lena não se cansavam de escutar na segurança do seu quarto, resolveu que não ligaria de dançar com a melhor amiga em sua festa. Não ligaria se Lena não ligasse. Bebeu todo o conteúdo do copo e virou-se para achar a morena que estava em um vestido branco que destacava seus olhos, porém a amiga já estava dançando com o garoto de sobrenome Lord. Lena o conhecia, suas famílias eram amigas. Kara já nem tanto, não conseguia simpatizar com ele.

Recostou-se na mesa para esperar a próxima música, afinal eles não ficariam dançando para sempre e ela poderia muito bem pedir para tocarem essa música de novo. Respirou fundo com carinho olhando o outro lado da pista de dança, seu casal favorito (que consistia na irmã e em Maggie, agora possuidora do titulo de namorada) dançando abraçadas e sorrindo uma para outra. Ao sentir o final da música colocou-se á andar em direção á pista de dança, a fim de tomar para si a próxima dança da melhor amiga. Arrumou o vestido verde claro que Lena escolhera e esticou a mão em sua direção.

Lena não a viu de primeira. Seus olhos estavam muito bem fechados enquanto sua boca dançava sincronizada com o do garoto em sua frente. A mão que estava no ar agora repousava ao lado de Kara, os dedos tamborilando na coxa na tentativa de conter dentro de si a raiva crescente em seu peito. Quando a Luthor abriu os olhos conseguiu apenas ver as costas de uma loira que andava em direção á saída da casa.

Havia prometido para seus pais e Alex que não usaria seus poderes até ter 18 anos, mas ali naquele momento, manter a palavra parecia difícil. Seus olhos ardiam como se pedisse passagem para os raios, a terra ao seu redor tremia de leve com a força que seus pés faziam em querer voar, e ela só queria correr para longe dali. Pedindo desculpas mentalmente para sua família, ela flexionou os joelhos e jogou-se no ar depois de andar uns vinte metros.

Antes de alcançar uma altura considerável, escutou seu nome ser chamado por uma voz muito conhecida e até mesmo amada. Lena estava parada na saída dos fundos da casa dos Danvers e encarava Kara como se nunca a tivesse visto. Devagar para não alarmar a melhor amiga, a loira desceu devagar até encostar os pés no chão com um baque surdo, caminhando com as mãos levantadas em direção da morena.

— Lena, não é nada disso que você está pensando.

— Você é a kriptoniana de quem meus pais falam tanto.

A loira tentou formar algumas palavras sem sucesso, teve medo de se aproximar de Lena e estragar ainda mais as coisas. Apoiou a testa na mão soltando o ar que não tinha percebido que estava segurando, e quando firmou a ideia de sair dali antes que fizesse mais besteira, sentiu mãos leves em seus braços. De olhos ainda fechados, ela sentiu sua melhor amiga lhe abraçar com toda a força do seu ser (mesmo que isso parecesse pouco aos olhos kriptonianos) e relaxou toda a musculatura que estava tensa. Abraçou-a de volta, sem pretensão de fazer ou responder pergunta alguma agora. Ironicamente, a morena pretendia deixar o assunto por encerrado hoje.

Um pouco depois de ter completado 17 anos, ela percebeu que gostava de Lena mais do que apenas como amiga. Ela estava namorando Max Lord fazia alguns meses, o casal era meloso demais em qualquer lugar que ia. Isso deixava a loira extremamente irritada e com problemas de autocontrole. Algumas coisas foram quebradas nas primeiras crises de ciúmes, mas agora era tudo muito mais intenso. Kara tinha vontade de bater em alguém sempre que Max chegava perto de Lena. Em razão disso, a loira foi se afastando aos poucos da morena, que não deixou de perceber essa distância entre elas.

Lena agora possuía passe livre na casa dos Danvers, tendo conquistado isso ao fisgar o coração de todos na casa. Alex foi a mais difícil de todos, visto que primogênita da casa sabia muito bem todos os testes que as empresas Luthor faziam em alienígenas. Mas quando ela percebeu que a melhor amiga de sua irmã a fazia tão bem, ela baixou os muros que tinha construído em volta da família.

Foi quando ela chorou pelo terceiro dia seguido, que resolveu contatar Kal-El. Ele mais que todas as outras pessoas que amava, saberia como lhe aconselhar. Voou até a fortaleza da solidão e aguardou que Superman chegasse. Ele sempre sabia quando alguém adentrava seu paraíso particular na Terra. Relutante, e após alguns assuntos diversos, Kara resolver contar sobre seu sentimento para o primo. Contou sobre suas inseguranças, sobre como era difícil lidar com tudo que estava acontecendo dentro de si no momento. Chorou ao contar que a menina que gostava pertencia á outro, e chorou mais ainda quando se deu conta de nunca poderiam ficar juntas.

Clark escutou tudo pacientemente sem dizer uma só palavra. Quando percebeu que sua prima já havia falado tudo que havia dentro de si, resolveu lhe contar a história da sua vida. De como, eu seu primeiro dia de trabalho, conheceu a mulher de sua vida. Contou como era difícil entender os humanos, ainda mais quando eles tinham mais de um parceiro durante toda a vida.

— Nós kriptonianos Kara, amamos diferente. Amamos apenas uma vez em toda nossa existência.

Ali, Kara soube. Poderiam se passar anos, séculos e milênios, o tempo corria diferente passa os de Kripton. Durante toda a sua existência nesse plano, ela amaria Lena e somente ela. Mas jamais poderia desfrutar de um segundo apenas do lado da garota que amava, ela era uma Luthor. Luthors não amam alienígenas, Luthors matam alienígenas. E por mais que o destino lhe sorrisse, ela não poderia viver sabendo que Lena poderia se machucar por sua causa. Seja por força externa ou sua própria, visto que Kara mal sabia controlar os seus poderes na época.

— Talvez Kara, só talvez, essa Luthor não queira destruir a casa de El.

Já se fazia algumas semanas desde que a conversara com Clark e Lena ainda estava com Max. A kriptoniana agora estava mais apaixonada do que nunca, porém sabia o seu lugar. Se a morena escolheu Max como sua felicidade, Kara estaria feliz por ela. Afinal, tudo sempre foi em função da Luthor. E sempre seria.

Lena estava lá quando Kara Zoe-El assumiu o manto de Supergirl aos 18, assim como prometeu aos pais e á irmã. Foi dela o ultimo beijo de boa sorte antes de alçar voo junto de seu primo em direção á Metrópolis. O anel que ostentava no dedo médio da mão direita era um presente, sempre dizia á loira que havia por quem lutar e para quem voltar no final de cada dia. Luta após luta, vilão atrás de vilão, ela se fortaleceu fisicamente. E noite após noite de conversa com a pequena dona do seu coração, ela se fortaleceu mentalmente. Fortaleceu-se ao ponto de contar aos pais sobre sua sexualidade. E a recepção da notícia foi tão calma quanto o amanhecer em uma praia, que Kara ao menos se lembra. Foi tão natural quanto contar sobre uma roupa que comprou em determinada ocasião, ou escolher uma cor de batom. Seu normal era esse e sua família a acolheu de braços abertos.

Sua primeira namorada apareceu quando tinha 19 anos e alguns meses, se conheceram na faculdade. Eram matriculadas no mesmo curso de jornalismo, compartilhavam as mesmas paixões e tinham as mesmas ambições na vida. Alex, agora com 21 e já estabelecida em um emprego com Jeremiah e um relacionamento vindouro com Maggie, disse que eram almas gêmeas. Era uma pena, mas Kara já possuía uma alma gêmea antes mesmo de conhecer Cat.

Seu relacionamento com Lena já não era mais o mesmo desde a escola. Lex, seu irmão, foi preso após tentar matar o primo de Kara. A morena assumiu o controle da LuthorCorp com apenas 19 anos e após uma reviravolta que a loira não acompanhou por motivos óbvios, renomeou seu negócio de LCorp. Pelo pouco que tinha sabido pela própria namorada, Lena e Maxwell agora estavam noivos.

Aquilo a atingiu mais do que imaginava e isso reverberou em seu relacionamento de pouco mais de 7 meses. Um abismo se abriu entre Kara e Cat, e por mais que quisesse não conseguia reagir de uma forma boa à notícia recebida. Sentia-se vazia, incompleta, perdida no mundo. Não via sentido no próprio relacionamento e agindo de acordo com o modo em que foi criada, resolveu não enganar-se ou enganar Cat mais nenhum segundo. Com dificuldade, porém firme, resolveu que deveria expor como se sentia para a namorada. Numa conversa longa, demorada, mas nada pesada, elas resolveram colocar um fim no único relacionamento que a kriptoniana teve na Terra.

Os meses que se passaram foram difíceis. Lena ligou uma vez ou duas no primeiro mês para lhe contar as novidades, mas Kara não pareceu nem um pouco á vontade conversando com a menor. No segundo mês foi apenas uma ligação. No terceiro não houve nenhuma. E assim nos meses que se seguiram. A loira agora passava quase todo o tempo sendo Supergirl, abandonara a faculdade de jornalismo por capricho e não recebia mais tantas visitas de Alex e Maggie. E foi assim sozinha, que ela passou seu aniversário de 20 anos.

Claro, Alexandra deixou um recado em sua secretária eletrônica. Ela e sua esposa estavam passando o final de semana em New York, e ficariam extremamente felizes se ela voasse até lá para que passassem seu dia juntas. Mas a loira sabia que não era justo. Sua irmã trabalhava no mesmo órgão do governo que seus pais, o DEO e Maggie era detetive chefe na polícia de National City. Nenhuma das duas tinha tempo sequer para respirar fora de suas vidas profissionais. Não queria e não tinha o direito de estragar esse momento delas. E foi depois de uma ligação dizendo que não, Kara não voaria até NY para encontra-las que a primeira garrafa de bebida alcoólica foi aberta.

Lá pela terceira e sem efeito algum, diga-se de passagem, que a kriptoniana percebeu as ligações perdidas de Lena. Para que insistisse tanto assim, Kara a conhecia bem o suficiente para saber isso, deveria ser alguma coisa realmente importante. Atendeu no terceiro toque da quinta ligação. A morena parecia tímida, mas lhe felicitou como todos os anos anteriores. Trocaram meia dúzia de frases antigas e o silêncio reinou em seguida. Lena disse que sentia saudades de Kara, Kara apenas ficou em silêncio. O nó na garganta lhe impedia de dizer tudo que sempre quis, e então apenas desligou o telefone. Foi a coisa mais idiota que Kara Zor-El já fez nesse planeta.

Por algum motivo que a loira desconhecia, mas agradecia a Rao todos os dias, Lena não abria mão de uma batalha. Insistiu com as ligações até que Kara atendesse, e ela assim o fez. Não deu tempo para que Kara associasse, apenas disse que a esperava em sua casa. Passou o endereço completo e desligou, como se a kriptoniana não soubesse onde sua alma gêmea morava.

Durante todos esses anos, Kara embalou o sono de Lena todos os dias sem exceções. Vestida de Supergirl ou de Kara Danvers, ela estava do lado de fora da janela observando sua felicidade como uma expectadora. Era verdade que isso a fazia ficar cada dia mais e mais triste, mas prometera a si mesma que jamais deixaria alguma coisa ruim acontecer com a mulher que povoava seus mais lindos sonhos. E como um anjo da guarda, a loira apenas velou e aguardou até o dia em que não conseguiria mais sentir tamanha dor dentro de si.

Kara chegou ao grande tríplex mais tarde do que necessário, não queria ter aquela conversa com Lena. E como em um ritual que foi feito noites e mais noites no passado, ela entrou pela janela já aberta do quarto da menor. A morena estava sentada em sua cama como em tantas e tantas vezes em que a loira a visitara em sua antiga casa, sua antiga vida. Agora parecia uma antiga Kara Danvers. Conversaram sobre os pais, sobre a vida de Kara e em seguida sobre a vida de Lena. Omitiram Lex e Clark, no modo em que falaram bastante sobre Alex e Maggie e Max Lord.

Ao passo que o tempo avançava, Kara sentia-se menos e menos á vontade no apartamento grande. Lena falava, porém ela apenas assimilava algumas palavras. Sentia-se exposta perante a mulher que a conhecia tão bem e que a fazia tão mal estando longe ao mesmo tempo em que não poderia estar perto. Respirando fundo e buscando a coragem que cultivou durante os anos, Kara decidiu que era hora de abrir mão do que não poderia ser verdadeiramente seu.

— Lena eu vou embora.

Surpresa, a menor disse polidamente que deveria voltar outro dia para colocarem os assuntos em dia, e mais surpresa ainda ela escutou Kara Danvers dizer que nunca mais se veriam. Lena Luthor não era nenhuma Supergirl em questão de coragem, mas naquele momento seu peito inflou como se pertencesse á casa de El. Com as mãos tremendo levemente, trouxe o rosto da menina que sempre povoou seus pensamentos para o seu. O beijo foi tão leve quanto um resvalar de lábios, mas fez com que as duas respirações ficarem presas na garganta. Hesitante e com olhos fechados, a kriptoniana trouxe a Luthor para mais perto novamente libertando assim seu amor que á tanto tempo vivia dentro apenas de si.

— Eu tinha que fazer, já que eu esperei desde a nossa adolescência que você o fizesse.

Naquela noite, caminhando e não voando para casa, Kara Zor-El (como Lena gostava de chamá-la) sorria um sorriso que sempre esteve guardado dentro de si. Ela sentia o amor da família e o amor da garota o qual era apaixonada desde os 17 anos. E ela mal poderia esperar a hora de estragar a noite de Alex para contar a novidade.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar aqui, e até a próxima ♥



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